sábado, 31 de maio de 2008

Outra reunião na escola alternativa



Ontem teve reunião na escola alternativa das crianças. O assunto era super importante. Eu não havia escrito aqui, mas no início do ano, logo antes do início das aulas, a moça que seria a professora da minha filha sofreu um acidente. Capotagem dupla com rolê. Ela se machucou. Tem que usar um colete até hoje. E por conta do acidente, os pais foram convidados a discutir a solução encontrada pela escola. Professor alternativo tampão durante um mês, depois nova professora até o final do ano. Ok? Ok.

E, no início, foi complicado. As crianças tiveram que se adaptar. Foi uma luta, menino chorando todo dia. Minha filha inventando um ritual novo, o de beber água do filtro comigo, antes de entrar na sala. E depois do professor tampão, veio a nova professora e, novamente, menino chorando todo dia. Minha filha sacramentando o ritual de beber água comigo. Aí, um belo dia, todos os choros acabam. As crianças estão felizes, começam a aprender coisas novas, evoluem, cantam. Até Alecrim Dourado elas cantam para os pais. E o ser humano aqui e a Patroa ficam super contentes.

Aí, anteontem, avisaram que ia ter reunião para discutir a situação da volta da professora capotada. A Patroa empalideceu. Eu fiquei afônico. E a Patroa disse assim: vai lá e diz que a professora substituta fica e pronto! Eu, afônico de tudo, concordei. Eu concordo muito com a Patroa! E obedeço.

Shaylalane. Esse é o nome da professora alternativa, da escola alternativa. A reunião havia sido marcada para as oito horas e quinze minutos. Como eu levei as crianças para a escola, fui mais que pontual, cheguei adiantado. Levei a minha filha para beber água comigo. A Shaylalane estava lá, do lado do filtro, de colete.Bebemos água. Coloquei minha filha dentro de sala. Dou de cara com a coordenadora pedagógica da escola alternativa. Como é o nome dessa figura? Ela me avisou que a reunião começaria pontualmente. Voltei pro carro. Enrolei um pouco, escutei o comentário do Jabor sobre a decisão do STF e as células tronco embrionárias. Aí deu oito e quinze e eu voltei para a escola alternativa.

Os pais já estavam em volta de uma mesa, junto com a coordenadora pedagógica e a Shaylalane. Todo mundo com cara de medo. Frio. Ninguém falava nada.

Aí eu viro para a moça de colete e falo assim:
_Você que é a Shaylalane, né? Ó, não leva a mal não, sei de ouvir falar que você é uma baita professora, mas nessa altura do campeonato, vamos deixar como está, tudo bem? Assim, estou me precipitando, nem abriram inscrição para falar, nem ouvi ninguém ainda, mas eu já tenho posição firme, concreto e acrílico sobre o assunto. As crianças estão super felizes, acabou a choração, estão aprendendo coisas novas, então seria ótimo ter você como professora dessa turma no ano que vem, falou?

E a Shaylalane vira para mim e fala:
_Tudo bem. Entendo perfeitamente a posição do senhor. Eu também coloco a evolução do aprendizado das crianças em primeiro lugar. Acredito que uma nova troca de professoras poderia trazer prejuízos à formação das crianças. Além disso, tendo em vista que a professora da sala ao lado sairá de licença maternidade nas próximas semanas, tenho certeza de que o meu trabalho teria um melhor aproveitamento se eu atuasse como professora substituta naquela turma ...

Superfina e elegante. E eu me lembrei de quando eu tinha cinco anos e fui apaixonado por uma freira professora do Grupo Escolar Frei André de Oliveira Quinn. Deve ter sido aquele tom de voz, o jeito de falar, o brilho entusiasmado nos olhos.


Eu me desliguei do presente e lembrei da freira. Do êxtase de aprender a ler e a escrever. De como a gente se sente iluminado e a luz começa a entrar pelos olhos e pelos ouvidos, como disse o Elias Canetti.

Como era o nome dela? Era bem mais simples que Shailalane...

Em seguida, depois de outras mães dizerem o que eu disse com mais coerência, delicadeza e assertividade(que diabos é isso?), a reunião foi encerrada pela coordenadora pedagógica. E eu nem lembrei o nome da freira.

Lá fora, quase no carro, encontro um outro pai, esbaforido.
_Mas já acabou a reunião? São só nove horas e quinze minutos!

2 comentários:

Anônimo disse...

no meu Grupo Escolar, houve uma reunião sobre mudança de uniforme. era uma sainha vermelha cheia daquelas pregas e blusinha de xadrez vermelhinho. trocar? como assim? vocês duas ganharam os uniformes, minha mãe disse. pois é, ela não poderia ir na reunião e falou pra minha irmã e eu irmos lá na reunião e pedir pra deixarem como estava, por favor. lembro bem, que a professora M. perguntou pra gente se as crianças gostavam daquele. depois de um tempo, saímos contentes. foi nossa primeira reunião (minha e da minha irmã). a gente só contou pra mãe que tava tudo bem e pra ela não esquentar a cabeça. (7 anos e 6 anos de idade).
ela (mãe) sempre foi assim: vão lá sozinhas e peçam com educação.às vezes ela reclamava que a gente era muito independente dela.coisa de mãe doida. e você, Careca, faz a gente lembrar de cada coisa! ô tempinho bão. abração

Careca disse...

Uai, a sua lembrança é uma bela e instigante história. Um abração,

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