quarta-feira, 21 de maio de 2008

Curtas do Humberto




O Humberto gostava de fazer pergunta escrota. E gostava de ser diferente, original.
_Careca, qual é a sua maior fantasia sexual?
_Qualé, Humberto? Que papo é esse?
_A minha tem a ver com gêmeas.
_Gêmeas? Fantasia mais comum, Humberto.
_Siamesas. Trigêmeas siamesas.

O Humberto gostava de tirar sarro das pessoas. Ele implicava com o motorista da TV. Ele fazia assim:
_Ô Manuel? Ô Manuel? Ô Manuel?
_Fala Humberto. Fala Humberto. Fala Humberto.
_Quando você descobriu que é viado?
_Eu não sou viado.
_Tá bom, você não é viado. Você só gosta de homem, né?
_Eu não gosto de homem.
_Nem do seu pai?
_Do meu pai eu gosto. É o único homem que eu gosto.
_Você chama o namorado de papai?
_Vou chamar é uma porrada nessa tua orelha.
_Você ou o seu namorado? Podem vir os dois juntos.
_Humberto, não me provoca.
_Senão você solta a franga, né?
_Você está passando do limite, cara.
_É, daqui a pouco você vai virar Cinderela.
_Eu vou é quebrar a sua cara.
_E eu vou cortar a sua cabeça e colocar na minha sala, seu bambi.

Era só provocação. Só uma aporrinhação mútua para espantar o tédio. Os dois eram chapas.Mas um dia os dois realmente brigaram. E ouvi dizer que o Manuel apanhou um bocado. E ainda por cima foi demitido. Aí eu perguntei para o Humberto o que tinha acontecido.

_Aquele babaca vivia me sacaneando – ele respondeu.
_Mas Humberto, você vivia chamando o cara de viado...
_E quem disse que o mundo é justo?
_Humberto, você é doido.
_Careca, você não sabe de nada.

O Humberto gostava de fazer piada com todo mundo. Então um dia ele pediu meu telefone celular emprestado. Eu detesto emprestar o telefone. Eu detesto emprestar qualquer coisa. Livro, por exemplo, só empresto para o Cabeça. Ele cuida direito. Não amassa, não marca. Ele não devolve alguns, mas tudo bem. Sei que está com ele, bem guardado. Os que ele devolve são os que ele não gosta. Já percebi. Mas acabei por emprestar o celular para o Humberto. Ele colocou o dia do aniversário no meu telefone. E programou um lembrete para eu ligar para o número dele. Já faz uns cinco anos que não vejo o Humberto. Mas todos os anos, por causa do lembrete, eu ligo para ele pelo menos uma vez.

_Careca, é você, seu viado?
_Tá boa, santa?

Ele está bem, o canalha.

16 comentários:

Rodrigo Carreiro disse...

Conheço muitos "Humbertos". Eles são chatos pra caralho, mas as vezes divertem...

Paulo Bono disse...

Cara, concordo com o Rodrigo. Aliás, o que não falta aqui em Salvador são Humbertos. Mas o seu humberto é um mito, um herói.

abraço, carecone.

Careca disse...

Rodrigo e Paulo, obrigado pelos comentários. Hoje esse computador está enrolado, tudo saindo truncado e incompleto. Um abraço

Anônimo disse...

ficar sempre infernizando alguém é = a carência, né? talvez. só mudam os alvos. mas têm uma certa graça, quem sabe? abração

Mwho disse...

Careca,
Esse Humberto, não queria conhecer, pois deve ser um chato.
Quanto ao seu amigo Cabeça, tem uma qualidade que muito aprecio: não risca os livros emprestados!
Um abraço.

Careca disse...

Mwho, é uma grande qualidade. Tem gente que faz até orelha na página!

anna disse...

ô careca, acho que no próximo aniversário do mui amigo, dê a ele a chave do armário.

é bom que ele saia logo dele, porque senão dá bereba na pele.

Anônimo disse...

ah, sobre livros...se eu empresto, se, né, é como emprestar um braço, uma perna minha...risos. é sério!

Careca disse...

Anna, o armário é dele. Eu não tenho chave não!

Careca disse...

Uai, e eu que pensava que era radical!

Anônimo disse...

imagina, tenho um que meu avô herdou. ainda bem que não tenho nada de rinite alérgica...risos.

Careca disse...

Uai, como chama, o livro herdado?

Anônimo disse...

"Os Fios de Ouro do Cabelo do Diabo". ele ganhou da minha tia avó N. ela era mais velha que ele. vixi, é história, hein. minha mãe adora contar como os livros passaram de mãos na família. O livro tem uns letrões...

Anônimo disse...

ops, Os 3 Fios, né...

Anônimo disse...

neste livro tem mais "estorinhas". hoje sei que são contos.

Careca disse...

Uai, deve ser interessante. Morro de curiosidade com livro velho. Um abraço,

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