sábado, 24 de maio de 2008

Um passeio até a cachoeira de Itiquira



Uma amiga convidou e achamos que seria bom para as crianças. Uma das melhores coisas de se ter filhos é que você pode usar as crianças como desculpa para o que você quer fazer. E também para o que você não quer fazer. A Patroa fez piquenique com a família naquela área ainda antes de usar o primeiro sutiã. Eu não ia para a cachoeira de Itiquira desde os tempos da universidade.

Da última vez que fui, um mosquito grande me picou na batata da perna. Fiquei com uma dor profunda vários dias. Até descobrir que uma larva de mosca, chamada berne, é que estava provocando aquelas pontadas doloridas. Tirei a larva colocando um pouco de cola branca na ferida. A cola secou e agarrada a ela ficou a tal larva. Depois disso, só vou para o mato com meio quilo de repelente ao alcance das mãos.

Então, como só tínhamos boas lembranças, queríamos ver a bela cachoeira agora, com os nossos olhos de adultos crescidos e responsáveis. E também com os olhos das crianças. Queríamos ver a cara de espanto e admiração delas na frente da queda dágua.

Combinamos sair às nove e meia e conseguimos ser bem pontuais. O feriado aliviou o trânsito e conseguimos chegar em quinze minutos no ponto de encontro, no posto da saída norte da cidade. Ali, um carro com o restante do grupo de amigos nos aguardava. Esta cidade fica a uma hora e meia de Itiquira.

Foi um passeio bem tranqüilo e agradável. A estrada está razoável e não aconteceu nenhum imprevisto. Descemos do planalto e começamos a subir uma serra. Depois descemos de novo e percorremos um largo trecho de planície até chegarmos de frente a um novo planalto.De repente, numa reta de pista, como se os engenheiros tivesse planejado oferecer a todos aquela mesma visão, nós vimos a cachoeira lá na frente. Um risco branco numa parede de pedra. As crianças gritaram no carro, mas sem muito entusiasmo. Acho que não viram a cachoeira.

Às onze horas estávamos à frente da entrada do parque onde fica a cachoeira. Deu tempo de fazer um lanche rapidíssimo. E entramos no parque. As trilhas estão todas calçadas com pedra e cimento, não é mais o barro e cascalho que eu tinha na memória. Tudo estava limpo e bem cuidado. Não havia o mar de mosquitos imaginado, mas, mesmo assim, cobrimos as crianças de repelente. Entramos no parque e um homem, educado, perguntou se estávamos levando algum alimento ou bebida em embalagem descartável. Eu menti que não. Sempre levamos bolachas nas mochilas. Eu carrego o lixo de volta para casa, na mesma mochila. Mas não abro mão das bolachas. O homem percebeu que eu estava mentindo, mas não falou nada e nós entramos.

Segurei a mão do meu filho. E a mão da minha filha. Em dez minutos de caminhada leve, despreocupada, já estávamos bem próximos da nuvem da queda dágua. As crianças olhavam para cima, boquiabertas, deslumbradas. Mas o encanto rapidamente se foi. Elas só queriam entrar na água o mais rapidamente possível. A Patroa entrou na água gelada com as crianças. Eu fiquei de fora, ocupado com a logística. Toalhas. Chinelos. Meu bloquinho de anotações. Na verdade, a única razão para que eu não entrasse na água era a ausência de calção de banho. Eu simplesmente me esqueci de levar o calção de banho.

Foi bom. Fiquei quase uma hora exercitando a arte de observar meus filhos com outros adultos, em lugar cheio de perigos, sem gritar, sem espernear, sem dar palpites e com aparente tranqüilidade. É extraordinário o número de vezes em que tive vontade de gritar “cuidado!”, de dizer “olha essa pedra!”, “isso escorrega”, “olha aí, olha aí”. Contei 86 traços no meu bloquinho de anotações. Caramba, caramba, caramba. Mesmo assim, fiquei calado quase o tempo todo. E depois que as crianças saíram da água, estavam morrendo de fome. E foi muito bom eu estar com as bolachas ali, dentro da mochila.

Foi super - legal. Ninguém se machucou. E eu só levei umas trinta picadas de mosquito na nuca. Na pressa, deve ter sido o único lugar que não passei o repelente. Agora, enquanto escrevo isso aqui, estou com a sensação estranha de que minha coluna vertebral está iniciando um processo de bifurcação. Estou com medo de ser berne.

6 comentários:

Anônimo disse...

tirar berne com cola?? já vi com toucinho de porco.você pressiona um pedacinho de toucinho do local,prende tudo com uma fita ou plástico, e o berne, sem ar, vai ficar doidinho e querer sair. é nojento mas, na roça,é uma opção. eu odeio berne!
nas poucas vezes fazendo downhill, meio quilo de repelente é pouco, é uma tonelada mesmo!!!odeio berne! tem um pasto básico perto da trilha! essa de natureza comigo só de repelente.
abraço

Anônimo disse...

minha nossa, eu nunca tinha visto tanta piscina por bairro como tem aí em brasília. nossa, perto do lago, praticamente toda casa tem piscina? (google earth). já pensou o musquitinho dengoso aí?

Careca disse...

Uai, é a mesma coisa com a cola branca. Derrama a cola e cobre com durex. Quando secar vem com o bicho. É nojento mesmo.

Careca disse...

Uai, tem muita piscina e muito mosquito. Mas todo mundo corre para se vacinar contra a febre amarela, gripe, o que tiver...

Mwho disse...

Careca,
Eu também esqueceria o meu calção de banho: detesto água fria!
Cachoeira é legal pela televisão - pelo menos enquanto não usarem aquecimento solar (ecológico, é claro!) e repelentes ambientais para mosquitos.
Um abraço,

Careca disse...

Mwho, você lê mentes!

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