quarta-feira, 29 de abril de 2009

Para não dizer que eu não falei de suínos

É, há um clima de bacon no ar.

Lendo a prestigiosa New Yorker fiquei sabendo do que aconteceu nos EUA, em 1976, quando o governo e a mídia propagandearam um certo pânico em torno de uma provável epidemia de uma gripe dos toucinhos.
Na época foi assim. Um soldado morreu de gripe. A mídia e os sábios da época trombetearam. O governo Ford optou pela vacinação em massa, mandou produzir um catatau de vacinas e gastou bilhões em propaganda. Não deu em nada. A epidemia não ocorreu.

Os críticos apareceram para dizer que o governo não fez o que precisava e gastou demais no que não era necessário. Desde então, o “swine flu of 1976” é um “case” de referência nos EUA.

2009. O quadro de hoje é de uma pandemia. A doença já se manifesta em várias partes do planeta. Todo mundo fica de olho na maior potência do mundo para ver o que é que os gringos vão fazer. Inclusive nós.

No Egito, a turma não quis nem saber. O governo mandou erradicar a população de rabicós.

Hoje em dia, no meio desse mundo de especialistas, eu fico meio sem jeito de dar a minha opinião simples, elegante e sincera. Ainda mais com assunto tão sério.

Mas aqui vai.

Caldo de galinha é sempre muito bom. Eu não fico bem de máscara cirúrgica. Mas vou usar. E sempre que alguém espirrar do meu lado eu vou soprar, soprar e soprar. Disfarçadamente, é claro.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Mensagem na garrafa

O filhote dormiu cedo, o carro do Batman vai ficar para outro dia.

Tentei entregar o imposto de renda desde que cheguei, mas não consegui. Aí fiquei olhando os links antigos que gravei em favoritos. Eu vivo salvando links para ver uma outra hora, com mais tempo e paciência. O único problema é que raramente tenho paciência e tempo para ficar navegando. Então a pasta de favoritos vai ficando quilométrica. Quando está insuportavelmente quilométrica eu crio uma pasta, entulho todos os links dentro e pronto. Estou pronto para começar de novo.

Nessas reexaminadas de links salvos, encontro pérolas e porcos. Encontrei, por exemplo, o link http://www.sketchtravel.com/, que conta a sensacional história do sketch book que há mais de dois anos viaja pelo planeta, recolhendo desenhos dos melhores ilustradores do mundo. Existem desenhos sensacionais. E as fotos dos caras recebendo o caderno de ilustrações também são do balacobaco. A idéia é um barato. Uma espécie de “message in a bottle” com o registro de náufragos bem especiais.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Domingo de molho

Choveu um dilúvio no domingo. As crianças estavam convalescendo de uma virose e eu e minha mulher resolvemos ficar em casa. Quebramos a tradição do domingo na casa dos avós. Achei que daria tempo de arrumar umas coisas, ler umas outras, mas o meu filho chegou com uma caixa enorme de Lego do Batman, que ele ganhou no Natal. Mais de cinqüenta flashes de adiamentos de montagem passaram atrás dos meus olhos.

Meu filho sorriu. Dessa vez, não consegui escapar pela direita. Não seria justo. Na caixa havia 15 pacotes de peças. Quinze. Gastamos mais de uma hora só para organizar as peças por tipos, tamanhos e cores.

Então, com as peças separadas, encaramos a montagem. Ficamos a tarde toda e o início da noite envolvidos com a montagem. Meu filho dormiu sentado, ao meu lado. Ainda estamos no início do Livro 2 de Instruções de Montagem. O fantástico carro do Batman é um emaranhado de peças encaixadas. Está ficando bonito. Hoje, de manhã, brinquei com meu filho que parecia que os ladrões haviam depenado o carro do cavaleiro das trevas. Tinham levado até as rodas.

_Pai, hoje à noite a gente termina.

Minhas costas doeram por antecipação. Mas adoro ver aquele rosto alegre.

Acabo de chegar em casa. Mas ele já vai dormir. Amanhã continuaremos.

Para a minha princesa, conto a fantástica história do Nó na Língua do Tamanduá.

Ando sem inspiração. Pra falar a verdade, sonhei com encaixes de Lego.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Os monstros lógicos da fantasia

_Como é? Existem monstros nas linhas das calçadas?

_Claro. Se você pisa na linha, os monstros te pegam.

_Que monstros?

_Tigres, ursos e leões do mal.

_E dói?

_É lógico que não, né, paiê! Não é de verdade. É de fantasia!

_Ufa!

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Igualdade não tem idade

Eu fico observando os dois conversando.

_A Vó do Pai é velha, né, irmã?

A Vó do Pai é como eles chamam a minha mãe.

_A Vó da Mãe também é, né, irmão?

_E qual é a Vó mais velha?

A menina pensa e logo em seguida abre o sorriso de quem encontrou a melhor resposta.

_As duas são iguais de velha.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

A noite do cometa Haley

Eu tinha quantos anos? Vinte? Vinte. Eu já podia dirigir e estava namorando uma moça que era mais sabida do que eu. Altamente versada em Carlos Castañeda. Nos mistérios egípcios. Na cultura maia e inca. Na iconografia dos astronautas na cultura ocidental.

Nós resolvemos ver o cometa Haley passar pelos céus de Brasília, numa madrugada longínqua em que todo mundo da cidade parou para fazer a mesma coisa. Afinal de contas, o Haley só passaria novamente daí a 76 anos, com a pontualidade de um relógio suíço espaço-cósmico. Por isso, escolhemos o bucólico terraço de uma amiga como o local mais adequado para a observação das estrelas e do Haley em 1986.

Não sei mais dizer nem o mês em que isso aconteceu. Mas de fato, nessa noite que era “a” noite para ver o Haley, milhares de pessoas foram para as ruas da cidade, para a beira do lago, para as coberturas dos prédios e olharam para cima. Super legal.

E lá estava eu, naquele terraço, olhando para cima tentando ver o Haley. Nos dias que antecederam aquele dia, em todo lugar se lembrava do que havia acontecido em maio de 1910, quando o Haley passou pertinho e as pessoas acharam que era o fim do mundo.

Em 1986, o clima era diferente. Era positivo, pra cima. Os canais de TV, os jornais, as revistas, os astrônomos, o Papa, os cientistas e todo mundo que tinha um mínimo de credibilidade já havia jurado que dessa vez o espetáculo seria belíssimo. Colorido. Único. Nós acreditamos. Aliás, nós acreditamos e também alugamos um telescópio para ver melhor o cometa.

Mas vimos muito pouco. Eu deveria ter feito, como muitos fizeram, um cursinho rápido de astronomia para ao menos localizar a área de passagem do cometa. Qual nada. Fiquei mirando no rumo, que era perto das Três Marias, do Cruzeiro do Sul, já não lembro. Havia umas vinte pessoas naquele terraço. Havia churrasquinho. Havia cervejinhas.

Eu devaneava. Para mim e a tal namorada, era perceptível um sentimento comum de compartilhamento. Todos queríamos ver a mesma coisa linda passar brilhando pelo espaço, como se fosse um sinal de redenção cósmico. O Haley, na minha cabeça cheia de cerveja, era uma evidência de que algo maior estava programado para a humanidade. Era o sinaleiro dos céus, o fenômeno celeste que fazia parte das mensagens grafadas nos desertos da cordilheira dos Andes, dos hieróglifos egípcios, do alfabeto maia de amarração de nós, das iluminuras dos manuscritos medievais.

Mas do alto daquele terraço de uma casa no lago, tudo o que eu contemplei foi um céu meio nublado, com estrelas pingadas. Foi chegando perto da hora em que o cometa seria mais visível no céu da cidade e nada. A cada minuto, cada uma das muitas pessoas ali reunidas tirava o olho do telescópio e balançava a cabeça, desanimada. Um gaiato ou outro dizia que estava vendo alguma coisa, mas, no instante seguinte falava a verdade. Os minutos se passaram. A tal namorada passou, rindo com o irmão da dona da casa. A hora “h” passou. E no final, todas as pessoas ali reunidas confessaram que não viram nada.

Eu não vi nem sombra de poeira da cauda do cometa. Aliás, também não vi mais a tal namorada. Foi uma das minhas primeiras decepções cósmicas. Depois disso, é claro, parei de ler Carlos Castañeda.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Feliz aniversário, Brasília

Gosto muito dessa cidade. Vivo aqui desde menino e me acostumei com a secura e a aridez do planalto central. Isso acaba entranhando na gente também. Cresci na cidade que nasceu do sonho-visão de uma terra de leite e mel. Ainda estamos bem longe disso. Mas gosto muito dessa cidade. Aqui estão todas ou quase todas as pessoas que me fazem querer estar numa cidade. Lar é sempre alguém, como já disse muito bem o Tibor Fischer. E esta cidade reúne um monte de alguéns.

Feliz aniversário, Brasília!

segunda-feira, 20 de abril de 2009

As técnicas de navegação do Careca

Ninguém me perguntou, mas decidi descrever aqui o meu singular método de navegação na Internet. Em primeiro lugar, eu não uso caixa de buscas, a não ser que eu saiba o que estou procurando. Isso raramente acontece. Em geral, eu não sei o que estou procurando. E isso explica porque encontro poucas coisas no mar de informações da Internet. Mas só parcialmente.

Como qualquer ser humano, não tenho a menor idéia do que está acontecendo “lá fora” a partir do momento em que estou no meu cubículo, de frente para a minha tela de LCD. Falo sério. Pouca gente sabe ou sequer se importa com o que está acontecendo “lá fora”, a não ser que o ar-condicionado esteja com defeito.
Não vou dizer que é uma regra, mas a maioria das pessoas é como eu. Trabalha para ficar o maior tempo possível sem fazer nada.

Nos domingos eu acordo mais cedo, junto com as crianças, exatamente para não ter nada que fazer durante o maior tempo possível. Durante a semana, eu fico contando o tempo para saltar fora antes que sobre mais trabalho para mim. E eu nem me considero preguiçoso. Mas devo ser um tipo lento, sem o novo difusor da F-1, e sempre sobra trabalho para mim. O que é bom, mas tem o lado ruim de me manter ocupado mesmo quando não quero fazer nada.

A segunda parte do meu método de navegação é o meu extraordinário faro navegador para assuntos interessantes. Eu desenvolvi a habilidade para encontrar temas fantásticos e super-maneiros quando a Internet ainda engatinhava em pixels contados a dedo. Depois de muitos anos, a experiência mostra, descobri que é possível achar um monte de assuntos bacanas na rede desde que você saiba fazer a pergunta certa. Mas o fundamental mesmo é ter sorte. E também gostar de bobagem.

O terceiro e mais importante ponto da minha técnica de navegação em rede é a perseverança. É muito importante não desistir logo na primeira bobagem que você encontrar. Nem na segunda. Nem na terceira. Aliás, se for desistir por causa de bobagem então é melhor nem navegar.

Em duas palavras, o meu principal e exclusivo método consiste em seguir a onda, no melhor estilo “yak shaving”.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Comprando badulaques

Entrei outro dia numa loja de badulaques. Foi por causa de um belo estojo de caneta, feito de alumínio. Sempre passo na porta dessa loja, que fica no shopping onde almoço de vez em quando. Em geral, evito entrar. Aliás, evito olhar a vitrine.

É uma loja de utilidades domésticas e de escritório que vende uma porção de coisas ...inúteis. Cinco minutos depois de entrar, comprei uma mini-lanterna que também tem um apontador laser, daqueles que parece mira de arma de filme americano. Também comprei um chaveiro novo, com corda de couro trançado. E também comprei uma ferramenta de bolso que lembra um canivete suíço, só que ao invés de lâminas possui um bico de alicate e um encaixe para colocar uma série de ponteiras.

A vendedora não podia acreditar. As três coisas que ela me sugeriu, eu comprei. Um indice de 100 por cento de aproveitamento. Ela olhou para mim e sugeriu um último item: o porta-canetas de alumínio que havia me atraído para dentro da loja. Comprei também. É tão simplesmente absurdo fazer um ser humano feliz. Basta estar sob o domínio das sugestões dele.


Dez segundos depois de sair da loja eu olhei para a sacola com esses bagulhos e percebi que a síndrome da aquisição de porcarias inúteis havia vencido novamente. Fazia bem uns três meses que ela não dava as caras. Isso já tem umas duas semanas. Agora quando almoço no shopping troco o caminho. Não passo nem perto da loja de badulaques.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Eu, meu próprio horóscopo

Já escrevi sobre a Keri Smith várias vezes aqui, neste blog que os pixels hão de tragar. Ela é supercriativa e um estímulo à criatividade das outras pessoas. É lógico que a criatividade, como quase tudo na vida, exige um mínimo de boa vontade e humildade. Não me lembro como cheguei ao blog dela, mas todas as vezes que vou lá eu aprendo alguma coisa nova. Ou lembro de alguma coisa velha e boa. Ou as duas coisas acontecem e eu resolvo inverter tudo. Pois hoje foi mais ou menos isso que aconteceu.
Fui lá e encontrei aquela boa idéia, a de escrever uma carta para mim mesmo no futuro. Já fiz isso aqui há muito tempo. Escrevi uma carta para ser lida daqui a muitos anos, em 2018. Ainda é muito cedo para reler a carta. Tenho que esperar pelo menos mais uns nove anos. Então resolvi usar a mesma idéia ao contrário. Ou seja, escrever uma carta para mim mesmo no passado. O objetivo seria procurar passar uma idéia de quem eu sou, em 2009, para quem eu era, em 1999. Obviamente, aquele idiota que fui em 1999 jamais lerá essa carta. Mas o que é que uma pessoa pode dizer para si mesma que ela já não saiba?
Mesmo assim, resolvi escrever para aquele velho Careca.
“Prezado Careca, você, que sou eu mesmo há muito tempo atrás, ainda possui algo parecido com cabelo no topo do cocoruto. Preste atenção, isso vai acabar. E nada do que você faça poderá interromper o inevitável. Você vai ficar mais descabelado que uma maçaneta. E nos próximos dez anos ninguém vai conseguir inventar uma cura para isso. Mas não é para economizar a grana do shampoo que eu escrevo. Também não é para dizer que vem crise braba pela frente. O futuro é sempre uma incógnita e é assim que deve ser. O tédio é o pesadelo de quem tem todas as certezas do que virá. Por isso, posso lhe garantir que você não se sentirá nem um pouco entediado nos próximos dez anos.
Também posso garantir que muitas alegrias e tristezas virão. E você vai precisar ser forte. Felizmente, um monte de gente lhe estenderá a mão. Cuidado com uns babacas que aparecerão pelo caminho, fazendo o mal. Você é do bem, do time dos justos, mas também não precisa engolir sapos demais. Alguns boçais devem ser mandados de volta para as malditas máquinas que os chocaram.
Eu escrevo para dizer que você vai mudar, Careca. Sua empáfia vai diminuir. E você vai começar a fazer balanços diários. E check lists. E até uma lista de coisas para vender no site de leilões. Sua admiração por Dostoievsky não arrefecerá. Por outro lado, até hoje você ainda não terminou de ler a trilogia do Henry Miller : Sexus, Nexus e Plexus. Convém fazer um esforço maior para ler mais. Siga o seu instinto. Use fio dental. Faça mais flexões. Pule corda. Coma uma maçã por dia.”
Foi só então que eu percebi que estava falando comigo mesmo como se fosse um horóscopo de revista, um cartomante sem bola de cristal. Eu, Paulo Coelho de mim mesmo, rá, rá!!

terça-feira, 14 de abril de 2009

O toca-fitas/CDs de bandeja obsoleta

Estou usando o carro que estava com a minha mulher. O carro tem um toca-cds de bandeja, daqueles bem antigos, que ficam no porta-molas. Foi o primeiro CD-player de carro que eu comprei. Era super-avançado. Hoje é bandeja obsoleta, sucata, lixo tecnológico.
Eu acho ótimo. E ainda tem um toca-fitas. Deve haver algum problema com o toca-fitas, mas não tem importância, o CD toca muito bem. Cabem dez CDs. E quase todos os CDs são da minha mulher. Encontrei dois CDs meus, que gosto muito. Um é a trilha sonora do filme “O reencontro”. O outro é uma coletânea do Paul Simon que ganhei de presente do meu amigo Maurício há um tempão. Coisa boa. Os outros discos são de artistas nacionais. Coisa boa. Tom Jobim, Tom Jobim, Marisa Monte, Marisa Monte, Maria Rita, Maria Rita, um que não está tocando, acho que é do Tim Maia, e uma coletânea de músicas da Marina.
Minha mulher gosta muito do Tom Jobim e mais ainda das citadas cantoras, daí a repetição. Também gosto muito dos discos repetidos, especialmente de um dos CDs da Marisa Monte. Numa das músicas, Marisa Monte fala de um canto do coração decorado de saudade. E é com essa música que estou voltando para casa nesta semana.
Com a reforma, lá em casa, encontrei um monte de fita-cassete do tempo em que eu gravava fita-cassete. Também encontrei meu walkman. Vários episódios da minha vida têm estreita relação com as fitas-cassetes que eu gravava. Gravei fitas para uma porção de eventos especiais, inclusive para festas de casamento. Tudo bem, foi para as festas de casamento das minhas irmãs e do meu irmão, mas todos dançaram para valer. Acho que todos nós já fomos menos sofisticados e já nos divertimos muito mais.
Fiquei olhando um tempão para a caixa de fitas e o meu velho walkman. Uma avalanche de lembranças me atacou antes que eu encontrasse pilhas. Depois não tive coragem de ligar o aparelho.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

O fim da reforma do Careca

Domingo. Páscoa. É hora de dormir e estamos todos muito aliviados. O dia foi exaustivo em doces e corre-corres, mas estamos todos bem e em casa. Acabou a reforma. A última parte da tranqueira e do lixo saiu de casa antes que as crianças e a minha mulher voltassem. Deu tempo de passar um pano úmido para tirar uns cantos de poeira. Deu tempo de arrumar umas coisas de trabalho. Achei os papéis para a declaração de renda, que eu havia separado mas não encontrava.
O piso ficou jóia. As paredes e o teto também. Só falta o rodapé. Depois nos arrumamos. O canto do escritório também terá que esperar a chegada dos móveis novos.: uma mesinha, um armário alto, com porta e uma cadeira linda, giratória. Parcelado em cinco vezes. Vou buscar e montar em casa, como a maioria dos móveis daqui de casa. A cadeira eu trouxe no sábado. Foi ótimo, porque o sofá ainda não voltou da troca do forro.
As cadeiras antigas também estão sendo reformadas. Preciso dar um jeito na mesa de refeições, que está meio bamba. As crianças amaram a cadeira giratória nova. O menino e a menina sentaram juntos. Depois se revezaram na giração.
_Agora chega. Agora é hora de dormir! – eu digo, fingindo que estou bravo.
E as crianças querem que eu conte uma história. Já faz tempo que não conto uma história antes que eles durmam. A menina está de quarto cor-de-rosa, com um armário novo que montei na tarde de sábado. Mas ela quer dormir no quarto do irmão. O quarto do menino está todo reorganizado. Tento entender porque a menina não quer ficar no quarto novo, mas é impossível entender tudo. Vai ver que é só hoje. E também estou cansado.
Faz frio e eu quero que os dois se cubram. A primeira história é sobre o dinossauro Bocão, que morde os pés dos meninos e das meninas que não cobrem os pés na hora de dormir. O Bocão também morde o dedão dos meninos e das meninas que demoram a dormir. O Bocão é um sucesso, mas as crianças ficam provocando mordidas o tempo todo. Sou obrigado a colocar o Bocão de volta na máquina do tempo. Depois vou pegar água para os dois.
Aí começam os pedidos para a segunda história. Começo a contar uma versão careca da Branca-de-Neve.
Era uma vez uma linda princesinha chamada Branca de Neve que morava com a sua Madrasta, chamada Malvada. Todos os dias, a Madrasta Malvada olhava para o espelho mágico e perguntava:
_Espelho, espelho meu, existe alguém mais bonita do que eu?
_Ó Madrasta Malvada, você é bonita pra dedéu. Mais linda do que você só existe no céu.
_Espelho, espelho meu, me diga agora, por que em rimas você se demora?
_Foi você que começou, ó Majestosa!
Mas um dia, o espelho respondeu:
_Existe sim, ó Rainha das Malvadezas, uma entre vós, que a supera em beleza. O nome dela é Branca de Neve, e mora aí, no mesmo CEP deste castelo.
Furiosa, a Rainha só não quebrou o espelho porque não queria ter sete anos de má sorte. Chamou o Caçador e falou para ele matar Branca de Neve e levar a ela o coração da mocinha, como prova. O Caçador, que conhecia Branca de Neve desde que a Rainha ainda era viva, deixou a mocinha escapar. Mas ele tinha um problema. Como fazer para enganar a Majestade Malvada? O Caçador pensou, pensou, pensou e viu um bezerrinho que estava passando por ali, sozinho, sozinho...
Nessa parte, minha filha me fez mudar a história.
Ao invés de coração de bicho, o Caçador inventou um coração de madeira achado no mato.
Nosso Caçador fez uma longa perigranação atrás de uma pedaço de pau parecido com um coração. Esse serve? Não. Esse parece uma perna. Esse parece um pé. Uma orelha. Um joelho. Um braço. E esse? Ah, esse parece um coração.
E o sangue? Bom, eu espetei o dedo do Caçador e ele teve que ordenhar o próprio dedo até conseguir um efeito legal. Pronto, finalmente o Caçador poderia enganar a Rainha das Maldades.
E aí... bom, eles dormiram.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Vic maluca

Foi difícil dormir na noite de ontem, meus caríssimos leitores e leitoras dessa Kombi de leitores. Por causa da primeira mão de pintura, fomos dormir na casa da minha sogra (calma, ela viajou com o sogrão - estão em São Paulo).

O cheiro de tinta é ruim para asmáticos, já havíamos planejado essa dormida fora.
O problema todo foi a gata.

Vic é o nome dela. É Vic de Victória. É uma angorá que a irmã da minha mulher ganhou de presente de um namorado. O pobre animal já tem mais de dez anos, já fez cirurgia e tudo. Mas o desejo não é uma coisa capaz de ser removida pelo bisturi.

Ontem à noite Vic miou de hora em hora. Minha mulher teve ganas de chutá-la. Eu pensei em produzir um tamborim. Mas tudo passa.

Até o sono.

Espero retomar a minha existência blogal na próxima semana. Bom feriado para quem fica.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

A música vencedora do Careca

Mais uma crônica muito legal da Franka, link ao lado, me fez lembrar da música vencedora do Berimbau de Prata (ou seria Ouro?) no Festival da Canção da Escola Parque 307/308 Sul, lá no meio dos anos setenta. Fui apresentador do Festival porque dava conta de ler sem gaguejar na frente de uma platéia. A letra foi produzida coletivamente pelos meninos e meninas da sala. Defendemos a música com uma coreografia ousada e super-radical, com direito a sapateado solo de uma das meninas, chamada Flávia Tatiana.
Nem preciso dizer que eu era apaixonado pela Flávia Tatiana. Nem preciso dizer também que a Flávia Tatiana nem olhava para mim. Também não preciso dizer que todos os meninos da sala eram apaixonados pela Flávia Tatiana. E todas as meninas da sala queriam ser como a Flávia Tatiana.

A infância é uma época cheia de unanimidades.

E na época só se falava do que passava na TV. Segue o mega-hit:

Aparelho intrometido
Que a gente sem sentir
Aperta o botão
É um clic vicioso
Que mesmo sem querer
Você é levado a ver
São anúncios, mais anúncios
De produtos impolutos
(Aqui tinha uma estrofe que eu esqueci completamente)
Se o sabão é em pó
A dúvida é atroz
Não sei se Omo, ODD, Véu ou Viva
O melhor é ter todos numa caixa só
E o João com Fúria, limpando o escadão
Cuidado com os pinheiros
E com o branco Furacão
Isso é que é!

terça-feira, 7 de abril de 2009

Aquela minha gravata de Natal

Os dias andam chuvosos e nublados aqui nessa cidade. E todo mundo acaba meio sombrio, desanimado. Isso inclui até eu mesmo. Por isso, para acabar com o desânimo das minhas próprias fuças, resolvi usar o meu trunfo escondido no fundo do armário: a minha famosa gravata de Natal.

Já falei dela num dezembro desses, neste blog. Faixas douradas e vermelhas se alternam nessa gravata. As faixas vermelhas são mais largas. As listas douradas têm pequenas franjas em degradê sobre o vermelho.

Não dá para dizer que é bonita, mas é engraçada. E isso a torna bonita.

Toda vez que uso essa gravata tenho vontade de rir de mim mesmo.

Descobri que esse é o único jeito de rir de outras coisas. O bom humor e a boa vontade começam dentro do peito.

Este é o meu post número 530.

Mas quem é que está contando?

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Um vírus e a substituição do Careca

Eu sei, uma boa parte da minha Kombi de leitores acha que eu reclamo de barriga cheia. É a mais pura verdade! Bastou eu inserir uma foto da sala em reformas para receber uma dezena de e-mails de gente dizendo que a minha sala é enorme e esplendorosa. Obrigado pelos elogios. É mesmo uma grande e boa sala! E a minha reclamação é devida ao fato de que os móveis e coiserada da sala e da extinta varanda estão entulhando os quartos daqui de casa.
As crianças, sempre elas, é que ajudam a manter o astral sempre positivo, pois fazem de qualquer bagunça motivo para brincadeira. No domingo mesmo, com o gesso do teto terminado, elas brincaram de boliche, futebol e de uma brincadeira sem nome que consistia em fazer barulhos estranhos para chamar a minha atenção.”Créc-teléc”!
Eu estava tentando teclar alguma coisa para livrar o laptop de mais de mil e quinhentos diferentes tipos de vírus. As crianças estavam fazendo os tais barulhos esquisitos. Bastava eu virar de costas e elas faziam os barulhinhos. Costas, barulho. Costas, barulho. Costas, costas. Barulho.
_Peguei vocês, seus meninos!
E as crianças e eu rimos tanto que eu nem vi o que é que estava fazendo aquele barulho esquisito. Aí eu fiz mais uma edição do monstro do cabide e depois brincamos de desenhar na poeira sobre o piso novo, com a ponta dos dedos. Parei porque comecei a espirrar feito louco. Em seguida, tentamos fazer eco mas não deu muito certo. Depois, exterminado o penúltimo vírus do laptop, esqueci o que é que eu queria tanto teclar.
Guardei a coiserada de computador e quando estava carregando tudo para o quarto pisei num negócio que fez o barulho esquisito e “créc-teléc-créc”!, bem alto. Quando voltei para ver era um brinquedinho de lanchonete dos meninos, que havia se espatifado. Escondi os destroços rapidamente no bolso da calça. Como saímos para almoçar na sequência, as crianças nem se lembraram do brinquedinho.
E hoje, rá,rá, eu já passei na lanchonete e peguei um brinquedo igual. Elas nem vão perceber a substituição. O único problema é aquele vírus restante no laptop.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

E eu dizia ainda é cedo

O fim está próximo.
Nos quadrinhos, havia sempre um personagem apocalíptico portando o cartaz. Se tudo der certo, pinta-se neste final de semana. Atendendo a pedidos, postarei amanhã uma foto do apê em obras. Não perca!

Frase do dia