Domingo. Páscoa. É hora de dormir e estamos todos muito aliviados. O dia foi exaustivo em doces e corre-corres, mas estamos todos bem e em casa. Acabou a reforma. A última parte da tranqueira e do lixo saiu de casa antes que as crianças e a minha mulher voltassem. Deu tempo de passar um pano úmido para tirar uns cantos de poeira. Deu tempo de arrumar umas coisas de trabalho. Achei os papéis para a declaração de renda, que eu havia separado mas não encontrava.
O piso ficou jóia. As paredes e o teto também. Só falta o rodapé. Depois nos arrumamos. O canto do escritório também terá que esperar a chegada dos móveis novos.: uma mesinha, um armário alto, com porta e uma cadeira linda, giratória. Parcelado em cinco vezes. Vou buscar e montar em casa, como a maioria dos móveis daqui de casa. A cadeira eu trouxe no sábado. Foi ótimo, porque o sofá ainda não voltou da troca do forro.
As cadeiras antigas também estão sendo reformadas. Preciso dar um jeito na mesa de refeições, que está meio bamba. As crianças amaram a cadeira giratória nova. O menino e a menina sentaram juntos. Depois se revezaram na giração.
_Agora chega. Agora é hora de dormir! – eu digo, fingindo que estou bravo.
E as crianças querem que eu conte uma história. Já faz tempo que não conto uma história antes que eles durmam. A menina está de quarto cor-de-rosa, com um armário novo que montei na tarde de sábado. Mas ela quer dormir no quarto do irmão. O quarto do menino está todo reorganizado. Tento entender porque a menina não quer ficar no quarto novo, mas é impossível entender tudo. Vai ver que é só hoje. E também estou cansado.
Faz frio e eu quero que os dois se cubram. A primeira história é sobre o dinossauro Bocão, que morde os pés dos meninos e das meninas que não cobrem os pés na hora de dormir. O Bocão também morde o dedão dos meninos e das meninas que demoram a dormir. O Bocão é um sucesso, mas as crianças ficam provocando mordidas o tempo todo. Sou obrigado a colocar o Bocão de volta na máquina do tempo. Depois vou pegar água para os dois.
Aí começam os pedidos para a segunda história. Começo a contar uma versão careca da Branca-de-Neve.
Era uma vez uma linda princesinha chamada Branca de Neve que morava com a sua Madrasta, chamada Malvada. Todos os dias, a Madrasta Malvada olhava para o espelho mágico e perguntava:
_Espelho, espelho meu, existe alguém mais bonita do que eu?
_Ó Madrasta Malvada, você é bonita pra dedéu. Mais linda do que você só existe no céu.
_Espelho, espelho meu, me diga agora, por que em rimas você se demora?
_Foi você que começou, ó Majestosa!
Mas um dia, o espelho respondeu:
_Existe sim, ó Rainha das Malvadezas, uma entre vós, que a supera em beleza. O nome dela é Branca de Neve, e mora aí, no mesmo CEP deste castelo.
Furiosa, a Rainha só não quebrou o espelho porque não queria ter sete anos de má sorte. Chamou o Caçador e falou para ele matar Branca de Neve e levar a ela o coração da mocinha, como prova. O Caçador, que conhecia Branca de Neve desde que a Rainha ainda era viva, deixou a mocinha escapar. Mas ele tinha um problema. Como fazer para enganar a Majestade Malvada? O Caçador pensou, pensou, pensou e viu um bezerrinho que estava passando por ali, sozinho, sozinho...
Nessa parte, minha filha me fez mudar a história.
Ao invés de coração de bicho, o Caçador inventou um coração de madeira achado no mato.
Nosso Caçador fez uma longa perigranação atrás de uma pedaço de pau parecido com um coração. Esse serve? Não. Esse parece uma perna. Esse parece um pé. Uma orelha. Um joelho. Um braço. E esse? Ah, esse parece um coração.
E o sangue? Bom, eu espetei o dedo do Caçador e ele teve que ordenhar o próprio dedo até conseguir um efeito legal. Pronto, finalmente o Caçador poderia enganar a Rainha das Maldades.
E aí... bom, eles dormiram.
7 comentários:
fim de reforma é mesmo um delícia. mas cuidado ao deixar o rodapé pra depois, porque depois é quase sempre nunca (estou aqui olhando pra um pedaço de rodapé que nunca foi colocado...). quase dormi na sua história também, careca.
Franka, eu resumi um bocado para colocar no blog. Mesmo assim fiquei com um sono danado.
Ô Careca,
Você combinou com o Cabeça terminarem as reformas juntos?!?
Mwho, pelo que eu sei, a obra do Cabeça sofreu apenas uma pequena pausa, devido ao terremoto na Itália. Felizmente, o mármore importado de Carrara, com os autógrafos da marreta de Michelangelo, não trincou.
Careca, você devia escrever um livro de histórias infantis!!! Eu ia comprar pro meu sobrinho. Parabéns pela sala nova, deve ter ficado um lu-xo, como diria finado Clô!!! Abraços!
Janaína, estou pensando em escrever um livro infantil para fazer criança dormir, mas é só ler a lista telefônica devagar e com vozes diferentes que funciona do mesmo jeito. Rá,rá!Depois eu posto uma foto da nova sala, assim que a minha mulher definir a decoração e o rodapé chegar...
Ai Careca, se eu começar a ler a lista pro meu sobrinho, eu acabo é dormindo primeiro. Acho a idéia (ops, ideia) de comprar um livro seu mais divertida, viu? rsrs Abraços.
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