quarta-feira, 15 de abril de 2009

Eu, meu próprio horóscopo

Já escrevi sobre a Keri Smith várias vezes aqui, neste blog que os pixels hão de tragar. Ela é supercriativa e um estímulo à criatividade das outras pessoas. É lógico que a criatividade, como quase tudo na vida, exige um mínimo de boa vontade e humildade. Não me lembro como cheguei ao blog dela, mas todas as vezes que vou lá eu aprendo alguma coisa nova. Ou lembro de alguma coisa velha e boa. Ou as duas coisas acontecem e eu resolvo inverter tudo. Pois hoje foi mais ou menos isso que aconteceu.
Fui lá e encontrei aquela boa idéia, a de escrever uma carta para mim mesmo no futuro. Já fiz isso aqui há muito tempo. Escrevi uma carta para ser lida daqui a muitos anos, em 2018. Ainda é muito cedo para reler a carta. Tenho que esperar pelo menos mais uns nove anos. Então resolvi usar a mesma idéia ao contrário. Ou seja, escrever uma carta para mim mesmo no passado. O objetivo seria procurar passar uma idéia de quem eu sou, em 2009, para quem eu era, em 1999. Obviamente, aquele idiota que fui em 1999 jamais lerá essa carta. Mas o que é que uma pessoa pode dizer para si mesma que ela já não saiba?
Mesmo assim, resolvi escrever para aquele velho Careca.
“Prezado Careca, você, que sou eu mesmo há muito tempo atrás, ainda possui algo parecido com cabelo no topo do cocoruto. Preste atenção, isso vai acabar. E nada do que você faça poderá interromper o inevitável. Você vai ficar mais descabelado que uma maçaneta. E nos próximos dez anos ninguém vai conseguir inventar uma cura para isso. Mas não é para economizar a grana do shampoo que eu escrevo. Também não é para dizer que vem crise braba pela frente. O futuro é sempre uma incógnita e é assim que deve ser. O tédio é o pesadelo de quem tem todas as certezas do que virá. Por isso, posso lhe garantir que você não se sentirá nem um pouco entediado nos próximos dez anos.
Também posso garantir que muitas alegrias e tristezas virão. E você vai precisar ser forte. Felizmente, um monte de gente lhe estenderá a mão. Cuidado com uns babacas que aparecerão pelo caminho, fazendo o mal. Você é do bem, do time dos justos, mas também não precisa engolir sapos demais. Alguns boçais devem ser mandados de volta para as malditas máquinas que os chocaram.
Eu escrevo para dizer que você vai mudar, Careca. Sua empáfia vai diminuir. E você vai começar a fazer balanços diários. E check lists. E até uma lista de coisas para vender no site de leilões. Sua admiração por Dostoievsky não arrefecerá. Por outro lado, até hoje você ainda não terminou de ler a trilogia do Henry Miller : Sexus, Nexus e Plexus. Convém fazer um esforço maior para ler mais. Siga o seu instinto. Use fio dental. Faça mais flexões. Pule corda. Coma uma maçã por dia.”
Foi só então que eu percebi que estava falando comigo mesmo como se fosse um horóscopo de revista, um cartomante sem bola de cristal. Eu, Paulo Coelho de mim mesmo, rá, rá!!

Um comentário:

Paulo Bono disse...

Puta post, Carecone.
E sabe de uma? Acho uma carta ao passado muito mais significativa que a velha clichê e sem sentido carta ao futuro.
E passo por um momento,
que gostaria de dizer muitas coisas ao paulo bono de 10 anos atrás. Coisas fundamentais.

abraço

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