segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

domingo, 25 de dezembro de 2011

Um ano para ser esquecido - Marco Antônio Villa



The Walkmen - Woe Is Me

Neste ano, se eu usasse chapéu eu o tiraria para quatro ilustres articulistas: Augusto Nunes, Dora Kramer, Reinaldo Azevedo e Marco Antônio Villa. Durante todas as semanas de 2011 eu procurei acompanhar os textos de cada um destes feras, com suas análises lúcidas e opiniões claras sobre assuntos do arco da velha. Quando a verdadeira história desses tristes tempos for escrita, esses serão os artigos de referência.

Também tiraria o chapéu para o blogueiro Selva Brasilis, um sujeito atento ao que acontece no país e no mundo pensante, capaz de sintetizar textos enormes em manchetes acachapantes e duas ou três linhas de comentários ácidos.

Vale a pena ler o artigo reproduzido abaixo, do professor Marco Antônio Villa, disponível aqui.

Um ano para ser esquecido
25 de dezembro de 2011
Marco Antônio Villa - O Estado de S.Paulo

O governo Dilma Rousseff é absolutamente previsível. Não passa um mês sem uma crise no ministério. Dilma obteve um triste feito: é a administração que mais colecionou denúncias de corrupção no seu primeiro ano de gestão. Passou semanas e semanas escondendo os "malfeitos" dos seus ministros. Perdeu um tempo precioso tentado a todo custo sustentar no governo os acusados de corrupção. Nunca tomou a iniciativa de apurar um escândalo - e foram tantos. Muito menos de demitir imediatamente um ministro corrupto. Pelo contrário, defendeu o quanto pôde os acusados e só demitiu quando não era mais possível mantê-los nos cargos.


A história - até o momento - não deve reservar à presidente Dilma um bom lugar. É um governo anódino, sem identidade própria, que sempre anuncia que vai, finalmente, iniciar, para logo esquecer a promessa. Não há registro de nenhuma realização administrativa de monta. Desde d. Pedro I, é possível afirmar, sem medo de errar, que formou um dos piores ministérios da história. O leitor teria coragem de discutir algum assunto de energia com o ministro Lobão?

É um governo sem agenda. Administra o varejo. Vê o futuro do Brasil, no máximo, até o mês seguinte. Não consegue planejar nada, mesmo tendo um Ministério do Planejamento e uma Secretaria de Assuntos Estratégicos. Inexiste uma política industrial. Ignora que o agronegócio dá demostrações evidentes de que o modelo montado nos últimos 20 anos precisa ser remodelado. Proclama que a crise internacional não atingirá o Brasil. Em suma: é um governo sem ideias, irresponsável e que não pensa. Ou melhor, tem um só pensamento: manter-se, a qualquer custo, indefinidamente no poder.

Até agora, o crescimento econômico, mesmo com taxas muito inferiores às nossas possibilidades, deu ao governo apoio popular. Contudo, esse ciclo está terminando. Basta ver os péssimos resultados do último trimestre. Na inexistência de um projeto para o País, a solução foi a adoção de medidas pontuais que só devem agravar, no futuro, os problemas econômicos. Em outras palavras: o governo (entenda-se, as presidências Lula-Dilma) não soube aproveitar os ventos favoráveis da economia internacional e realizar as reformas e os investimentos necessários para uma nova etapa de crescimento.

Se a economia não vai bem, a política vai ainda pior. Excetuando o esforço solitário de alguns deputados e senadores - não mais que uma dúzia -, o governo age como se o Congresso fosse uma extensão do Palácio do Planalto. Aprova o que quer. Desde projetos de pouca relevância, até questões importantes, como a Desvinculação de Receitas da União (DRU). A maioria congressual age como no regime militar. A base governamental é uma versão moderna da Arena. Não é acidental que, hoje, a figura mais expressiva é o senador José Sarney, o mesmo que presidiu o partido do regime militar.

Nenhuma discussão relevante prospera no Parlamento. As grandes questões nacionais, a crise econômica internacional, o papel do Brasil no mundo. Nada. Silêncio absoluto no plenário e nas comissões. A desmoralização do Congresso chegou ao ponto de não podermos sequer confiar nas atas das suas reuniões. Daqui a meio século, um historiador, ao consultar a documentação sobre a sessão do último dia 6, lá não encontrará a altercação entre os senadores José Sarney e Demóstenes Torres. Tudo porque Sarney determinou, sem consultar nenhum dos seus pares, que a expressão "torpe" fosse retirada dos anais. Ou seja, alterou a ata como mudou o seu próprio nome, sem nenhum pudor. Desta forma, naquela Casa, até as atas são falsas.

Para demonstrar o alheamento do Congresso dos temas nacionais, basta recordar as recentes reportagens do Estadão sobre a paralisação das obras da transposição das águas do Rio São Francisco. O Nordeste tem 27 senadores e mais de uma centena de deputados federais. Nenhum deles, antes das reportagens, tinha denunciado o abandono e o desperdício de milhões de reais. Inclusive o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra, que representa o Estado de Pernambuco. Guerra, presumo, deve estar preocupado com questões mais importantes. Quais?

Falando em oposição, vale destacar o PSDB. Governou o Brasil por oito anos vencendo por duas vezes a eleição presidencial no primeiro turno. Nas últimas três eleições chegou ao segundo turno. Hoje governa importantes Estados. Porém, o partido inexiste. Inexiste como partido, no sentido moderno. O PSDB é um agrupamento, quase um ajuntamento. Não se sabe o que pensa sobre absolutamente nada. Um ou outro líder emite uma opinião crítica - mas não é secundado pelos companheiros. Bem, chamar de companheiros é um tremendo exagero. Mas, deixando de lado a pequena política, o que interessa é que o partido passou o ano inteiro sem ter uma oposição firme, clara, propositiva sobre os rumos do Brasil. E não pode ser dito que o governo Dilma tenha obtido tal êxito, que não deixou espaço para a ação oposicionista. Muito pelo contrário. A paralisia do PSDB é de tal ordem que o Conselho Político - que deveria pautar o partido no debate nacional - simplesmente sumiu. Ninguém sabe onde está. Fez uma reunião e ponto final. Morreu. Alguém reclamou? A grande realização da direção nacional foi organizar um seminário sobre economia num hotel cinco estrelas do Rio de Janeiro, algo bem popular, diga-se. E de um dia. Afinal, discutir as alternativas para o nosso país deve ser algo muito cansativo.

Para o Brasil, 2011 é um ano para ser esquecido. Foi marcado pela irrelevância no debate dos grandes temas, pela desmoralização das instituições republicanas e por uma absoluta incapacidade governamental para gerir o presente, pensar e construir o futuro do País.

Marco Antônio Villa
Historiador, é professor da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar)

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Feliz Natal com ou sem rúcula



Mr Bean -Merry Christmas


Essa minha amiga vai fazer a ceia de natal em casa, pela primeira vez. Isso implica em receber a sogra e o sogro e mais os cunhados. Ela é corajosa.

_Tem dois dias que estou limpando a casa. Estou me sentindo um pouco tensa - disse a minha amiga.

_O que vocês vão servir? - eu disse.

_Um prato muito chique - ela disse.

_Faisões e caviar? - eu disse.

_Aham, claro, caviar com ouro - ela disse.

_Puxa, é um jantar com troco? - eu disse.

_Não, nós vamos servir bacalhau - ela disse.

_Hum, vai ser bom demais.

_Não sei, os convidados são muito exigentes.

_Então é preciso um plano B.

_Você quis dizer um prato B. Vai ter salada - ela disse.

_Perfeito - eu disse.

_Mas e se alguém for alérgico a bacalhau? - ela disse.

_Sempre pode apelar para a rúcula. Nunca ouvi falar de alguém alérgico a rúcula - eu disse.

_Rúcula não precisa de alérgicos, ela já é ruim sozinha.

Desejei boa sorte. Eu e a minha mulher ainda não estamos preparados para a ceia em casa. Ainda estamos ensaiando churrascos, na verdade. Ceia de Natal é uma responsabilidade muito grande, com ou sem rúcula.

Será você?



Smith - Baby It's You - Top 5 hit in 1969 - cover of the song "Baby It's You"(a 1961hit by The Shirelles that won a Beatles version), with the lead vocals sung by Gayle McCormick.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Oração de fim de ano 1



The London Souls - She's so Mad - Dica do Gravetos e Berlotas.

Todo mundo com sorte tem pelo menos uma pessoa especial, uma espécie de catalisador vivo, que é altamente inspirador e provocador de boas idéias e sentimentos. Talvez seja pecado acreditar em sorte, não sei, mas eu agradeço pela minha boa sorte, por estar vivo, com saúde e bem disposto para encarar o próximo ano, e por estar cercado por pessoas maravilhosas, que também estão ótimas e que me inspiram e despertam o melhor de mim. Durante a minha vida sempre procurei estar cercado de pessoas assim, então peço que me ajude a encontrar aquelas outras pessoas maravilhosas que sumiram, se escafederam e não dão mais notícias, pode até ser pelo facebook, valeu.

Livrai-me das pessoas broxantes, negativas e podadoras. Livrai-me numa boa, nem preciso dizer. Dai um branco na mente dessas pessoas para que elas esqueçam que eu existo e não me façam mal e nem aos que amo. Façai com que eu também suma até das fotos que porventura tenham comigo.

Neste ano, logo no início, tive a sorte de ser desligado imediatamente da empresa em que eu trabalhei por três anos. Com isso, fiquei privado do contato com várias pessoas inspiradoras e totalmente de bem com a vida. Lamento muito. Desejo tudo de bom para essas pessoas legais, etc. Também fiquei com uma carência salarial esvaziadora de poupança que persiste até hoje, mas grana é um tema tabu em oração e mero detalhe tosco da nossa existência, não é mesmo? Agradeço também pela carência, que me ensina a ser mais cuidadoso e menos perdulário.

Entretanto, e muito felizmente, o desligamento também me privou do contato e convívio com pessoas altamente destrutivas, pernósticas e canalhas. Delas não guardo um pingo de saudade e só não desejo que ardam rapidamente no fogo do inferno porque fui educado para cultivar a bondade e a compaixão. Então, esqueça essa parte, por favor, por favor, só peço que entregue a cada uma dessas pessoas o dobro redobrado do que fizeram aos outros. Aqui se faz, aqui se paga, amém.

Eu paro por aqui, porque oração longa é um saco. Amém de novo.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Do tempo das cavernas



Joni Mitchell - River

Meu vizinho de trás colocou luzes coloridas piscantes numa árvore. À noite fica bonito. Mas da primeira vez que vi, pensei que estava revivendo um pedaço apagado de Contatos Imediatos do Terceiro Grau. Corri para a cerca já preparado para repetir trechos musicais. Contatos Imediatos. Caramba, como sou antigo.

Desde que falei que a Internet não existia quando eu era menino, meu filho finge que sou do tempo das cavernas.

_Pai, no seu tempo como vocês faziam fogo? - ele provoca.

_Ih, era difícil. Nunca consegui fazer fogo com arco e graveto. Tínhamos que procurar pedras especiais para fazer faíscas, além de catar grama seca e papel. Se chovesse, era um horror - eu disse.

_Nossa, e vocês comiam carne crua?

_Você está brincando?! Eu como carne crua até hoje, sua mãe é que gosta de bife bem passado - eu disse.

_Não, pai, fala sério. Vocês caçavam o quê? - ele disse.

_Eu não caçava nada. Criança só pescava e ajudava a fazer roupas com o couro da caça.

_E televisão, vocês tinham?

_Lá na caverna do vovô tinha uma, mas a antena era bem ruim...

Às vezes eu acho que o sarcasmo é uma coisa hereditária.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Está tudo bem



Elvis Presley - Thats Alright Mama

Está tudo bem, está tudo bem, juro.
Só parece que não está.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Subiram no telhado



ZAZ - "Dans ma rue" acoustique

Terminei a mesa que comecei a construir na semana passada. Fiz de ripas, com sobras de um ex-telhado. Envernizei com cuidado, mas terei que passar pelo menos mais uma demão. Choveu o dia inteiro, tive que improvisar um ladrão para a piscina com duas mangueiras. O cara do telhado veio ver a goteira. Pensei que ia precisar de um rufo, mas ele disse que o problema era provocado por apenas uma telha quebrada. Ele subiu no telhado, com chuva e tudo, e trocou a telha. Não quis cobrar nada e eu fiquei me achando muito estúpido. Como não vi que era apenas uma telha? Depois pensei que se eu tivesse subido no telhado durante a chuva também teria identificado o problema.

Estou cansado e com sono. Acordei de madrugada para buscar minha mãe na rodoviária. Meu tio louco está muito doente numa cidade do interior. Ele não reconhece as pessoas e só fica de fraldão. Ele recusa alimentos sólidos, toda a comida tem que ser batida no liquidificador. Perdeu muitos quilos.

Há um mês tudo era diferente. Tudo ia muito bem para o meu tio até o dia em que resolveu implantar um dente. Ele ignorou a medicação e entrou em crise. Destruiu a casa onde morava e ficou agressivo. Os vizinhos chamaram os bombeiros. Mas não há onde internar uma pessoa com doença mental na região. Medicado, ele foi morar com uma outra tia enquanto sua casa é reconstruída. Para ajudar, foi necessário contratar duas enfermeiras. Uma terceira pessoa será necessária para um revezamento mais adequado nos finais de semana. Ou seja, um paciente mobiliza três ou mais pessoas para que tenha uma vida com um mínimo de dignidade. Os custos serão rateados entre todos os familiares.

Fico imaginando quantos loucos à solta não existirão por aí, inofensivos abandonados à própria sorte ou potenciais riscos para a vida das outras pessoas.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Os dois leitores imaginários do Careca



Parov Stelar - The Mojo Radio Gang

Aprendo devagar. Algumas coisas demoram a entrar na minha cabeça. E aprendo melhor se eu posso usar as mãos para ajudar. Depois de vinte anos tentando, acho que consegui aprender a escrever. Faço isso com segurança, ainda que a minha escolha de temas seja quase sempre uma bobagem.

Os escritores que gosto também já me deram dicas preciosas. Uma delas é escrever sobre o que ou quem já se conhece. Mas é preciso que esse conhecimento também fuja um pouco da banalidade e do senso comum. A forma não é tão importante quanto o que se tem a dizer, a não ser que você não tenha nada a dizer. Demorei a internalizar essas duas coisas simples. Outra dica importante é pensar no seu leitor, na pessoa que lê o que você rabisca. Lembre-se, você não escreve para qualquer um e não é qualquer pessoa que irá se dar ao trabalho de ler você, é preciso escolher para quem se escreve.

Sim, é verdade, se você escrever pensando em quem irá ler, fica mais fácil. Então eu procuro pensar em leitores imaginários quando escrevo. Mas não sou muito bom nisso. Um dos meus leitores imaginários mais recorrentes é o João Alfredo. Era meu amigo imaginário dos tempos da adolescência, quando todos os nossos monstros despertam. Sumiu por um longo período. Um dia me lembrei do João Alfredo e achei que ele deveria ser promovido a leitor imaginário.

João Alfredo é um sujeito muito enigmático. Tem o estopim curto e é inteligente, mas na maioria das vezes tem o estopim curto. É meio careca, fuma escondido, bebe além da conta e deve no cartão de crédito. É dominado pela mulher, mas acha que manda. Tem um filho no interior, fruto de um namoro de carnaval, a quem vê de vez em quando. Ele lê como quem procura respostas para a sua vida.

Também cultivo uma leitora imaginária. O nome dela é Flávia Tatiana. Sim, é o mesmo nome daquela Flávia Tatiana, a menina da terceira série do primeiro grau por quem fui apaixonado até o segundo grau. Flávia Tatiana é separada e não teve filhos. É gerente de uma empresa que presta serviços de limpeza. Flávia lê para passar o tempo e também para se divertir.

Meus dois leitores imaginários não se conhecem. Sim, uma vez quase deixei que os dois se encontrassem num café, no meio da tarde de domingo, mas fiquei com medo do que poderia acontecer. Achei que seria uma injustiça com a mulher do João, embora nem tenha me dado ao trabalho de imaginá-la. Também, confesso, fiquei com uma ponta de ciúmes da Flávia Tatiana, acho que ainda é cedo para que ela tenha um novo relacionamento, ainda que imaginário.

Sim, tenho medo de abandonar a minha zona de conforto. Talvez meus leitores imaginários acabem me obrigando a isso.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Reconstruindo o Careca



Bob Dylan - Shelter From The Storm

Ainda não comecei os preparativos para o próximo ano. Em outros anos, esvaziei gavetas e armários, fiz promessas de evitar o acúmulo de coisas desnecessárias. Neste ano está sendo um pouco diferente. Antes da mudança, já havíamos feito uma geral nos guarda-roupas. Nos livramos de muita coisa à tôa. Sempre sobra alguma coisa, mas de fato, acumulamos menos. E sempre é possível organizar melhor e de uma maneira mais inteligente o que sobrou.

No escritório, onde passo boa parte da noite, dois armários continuam à espera de muita arrumação. Deixarei para a próxima semana, é claro. Dos trabalhos prometidos de marcenaria, ainda falta fazer um carrinho de apoio para churrasco. Toda a madeira está cortada e lixada, talvez consiga montar tudo neste final de semana. Fiz dois banquinhos e terminei hoje a montagem de uma mesa de apoio. Os banquinhos serão pintados de branco. A mesa receberá um verniz transparene, à base de água, que seca em menos de duas horas. Esse verniz é menos durável, deve ser repetido todos os anos, mas não tem cheiro e não embrulha o estômago.

Está sendo um ano de reconstrução. Estou reaproveitando madeira, lixando, pintando e renovando as partes velhas da casa onde moro.

A verdade é que existe muita coisa para reconstruir. No escritório também existe uma prateleira cheia de plastimodelos quebrados. É a minha coleção de aviões. Quase todos se quebraram na mudança. Coloquei todos na mesma estante, incluindo os biplanos e triplanos, que eram tão bonitos. Ainda não tive ânimo de reconstruí-los, têm surgido outras coisas mais urgentes para fazer.

Nessa estante também está a antiga aparelhagem de som, que inclui o toca-discos com luz estroboscópica. Falta o cabeamento, as caixas de som e paciência, muita paciência, para colocar tudo em ordem e em perfeito funcionamento. Por enquanto, para escutar música uso o ipod acoplado ao uma caixa que parece um porquinho ou então fones de ouvido.

Entre as coisas para reconstruir incluo a minha vida e o meu caminho. Essa minha trajetória, tão curvilínea, tão cheia de altos e baixos, só não é monótona. Tenho uma vida boa, embora o meu tom de voz pareça tão depressivo e soturno de vez em quando. Talvez eu tenha simplesmente mudado. Já fui mais eufórico e expansivo. Hoje estou mais contido, me sinto melhor desse jeito. Talvez mude de novo, quem sabe não volto a dar risada de tudo?

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Noves fora zero



The Staple Singers - A Hard Rain's Gonna Fall

Uma vez levei um tombo de skate numa descida na Asa Norte. Eu tentava seguir o André Damasceno, também chamado de Damassa. Ele era um louco de treze anos de idade. Gostava de se arriscar. Pegava carona segurando no parachoque dos carros que passavam perto. Eu não tinha coragem. Da única vez que fiz isso levei esse tombo no meio da descida. Me esfolei todo e tive sorte de não quebrar nenhum osso. Meus óculos se foram, é claro. Meu braço esquerdo ficou muito machucado, todo esfolado de um lado. O impacto com o asfalto praticamente arrancou a pele desse braço. Também bati o quadril, machuquei muito as duas palmas das mãos e esfolei a coxa e o joelho esquerdo. Devia estar a 40 por hora.

O Damassa veio correndo, preocupado. Quando viu que eu não tinha quebrado nada, começou a rir. Ele me estendeu os óculos amassados. Uma lente se fora, a outra estava partida ao meio.

_Você é louco! Não pode segurar tanto tempo no parachoque. É só um pouco, só até o início da descida - ele disse.

_Prendi a minha mão no parachoque, não conseguia soltar. O carro quase me arrastou - eu disse, segurando as lágrimas e controlando a voz por causa da dor.

_E esse skate? Você nem apertou os eixos!! De longe eu vi você vibrando em cima do shape. Olha só isso aqui, você teve sorte de não quebrar o pescoço - ele disse.

Tive mesmo. Não me lembro de como voltei para casa. Sei que tomei um banho muito dolorido. Fiquei cuidando das feridas mais de um mês. Vivia com pó antiséptico no bolso, tomava cuidado para não apoiar o braço em qualquer lugar. Não conseguia segurar um garfo sem sentir dor. Levei esse tombo no início das férias do meio do ano e quando elas acabaram eu ainda estava cheio de não-me-toques.

Nessa época eu tinha um "esquente" preto com três listras, um conjunto de moleton para ginástica que todo mundo queria ter. Tinha sido presente de aniversário, esperado com ansiedade, eu tomava o maior cuidado com aquela roupa. O tombo do skate inutilizou o moleton. Minhas férias também foram muito afetadas, fiquei praticamente em casa, porque era onde doía menos. Escutava Rita Lee no rádio(Meu bem você me dá, água na boca...) e treinava partidas com os livros de xadrez do meu pai.

Depois fiquei um pouco receioso com o skate, mas voltei a andar normalmente. Nunca mais tentei imitar o Damassa. No ano passado, comprei skates para as crianças e também para mim. Hoje meu filho levou um tombo e ralou o braço, bem forte. Eu estava no oficina quando ele se machucou. Correu para mostrar a ferida.

_Olha, pai, doeu muito mas eu não chorei - ele disse.

_Puxa, vai ser preciso lavar com água e sabão - eu disse.

_Mas assim vai doer mais - ele disse.

_É melhor lavar e sarar depressa do que ficar doente - eu disse.

_Não tem outro jeito? - ele disse.

_Tem, mas aí tem que tomar injeção de anestesia. Não sente dor na hora, mas depois a dor é pior - eu disse.

_Vou pensar - ele disse.

Aí fiquei pensando também e me lembrei desse meu tombo. Pensei em contar para o meu filho, mas não é uma história educativa, fiquei com medo dele querer me imitar, pegando carona em parachoques. Pensei em dizer que éramos puxados por bicicletas, mas isso também é perigoso. Talvez o melhor seja mesmo ficar na minha, guardar essa história para depois. Nunca se sabe o que fica das histórias que a gente conta.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Só vale o que está escrito



Hackney Colliery Band - No Diggity

Meus filhos acreditam em Papai Noel. O mais velho, de oito anos, tem lá suas dúvidas, anda conversando com os primos, está desconfiado. A menina, não. Com sete anos, minha menina escreve bilhetes para o bom velhinho e depois dá um jeito de amarrá-los na árvore de Natal.

_E como o Papai Noel vai encontrar o bilhete? - eu disse.

_Mágica, paiê. Ele faz tudo com mágica - ela me disse.

E eu tenho que ajudar, é claro.

Tenho dó de jogar as cartinhas fora e nunca me lembro de comprar envelopes para enviar as cartas de verdade, pelo Correio. Voluntários respondem as cartas por todo o país. Eu mesmo já respondi cartas ao Papai Noel. Uma resposta eu lembro até hoje. Era de um menino de onze anos, que dizia que tinha sido um bom menino e pedia um playstation para o velhinho.

_Querido menino, que bom que você tem onze anos e ainda acredita em mim. Os duendes não fabricam playstation para evitar processos contra a pirataria por parte da fábrica japonesa. Fico feliz por você ser um bom menino, mas está na hora de cair na real. Peça um presente mais em conta para o seu pai porque a crise não está de brincadeira. Um abraço do Papai Noel.

No ano passado, achei que estava inventando e chamei os meninos para mandar um e-mail para o Papai Noel. É claro que já havia uma porção de twitters, blogs, sites e e-mails oficiais para o Papai Noel e até para duendes e renas do Pólo Norte. Por isso decidimos manter a comunicação tradicional com a turma do ártico: só vale coisa escrita no papel.

Na segunda-feira encontrei uma porção de bilhetinhos com pedidos de outros natais. Num deles, meu filho pede a paz no mundo. Em outro, pede um dinossauro do Jurassic Park. Bom, eu ajudei um pouco e consegui entregar o dinossauro.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Memória de imaginação



Ocote Soul Sounds - La Reja

Terminei o grande aparador para a sala. Foi feito com ripas e os últimos grandes pedaços de madeira de um ex-telhado. Fiquei com medo de ter feito um aparador grande demais, mas ele não deixou o sofá da sala constrangido. Pedi ajuda da minha filha para escolher o melhor lugar. Foi ela que encontrou o lugar certo. Meu filho não fez nenhum comentário e minha mulher deu a palavra final, dizendo que ficou bom. Rafa, o cãozinho shi-tsu já havia demonstrado ciúmes antes do aparador ser colocado dentro de casa. Tive que lavar o móvel e passar um desinfetante.

Estamos perto do Natal, as crianças estão de férias e a minha rotina mudou pouco. De manhã, depois do café, passo uma vassoura rápida na varanda e recolho as folhas e flores da pérgula. Depois passo a rede na piscina e recolho as folhas, flores e insetos que caíram durante a noite. Depois sigo para a oficina para dar conta dos projetos que ainda faltam para este ano: uma grande mesa de ripas, duas banquetas brancas e um novo carrinho de apoio para a churrasqueira. Todos serão presentes, então é preciso agir depressa.

Além da oficina, também procuro fazer os pequenos trabalhos de conservação da casa. Existem dois pequenos problemas no telhado, ainda é preciso uma mão de pintura na cerca de metal e um poste de iluminação do quintal terá de ser consertado. Esses trabalhos são simples mas exigem tempo bom. E parece até perseguição, basta eu pegar na tinta para que o tempo feche. Os especialistas que tenho convocado por telefone também estão me deixando na mão. Nenhum dos caras que chamei para consertar o telhado apareceram. E a chuva frequente, transforma em risco subir no telhado. As telhas ficam muito frágeis e o estrago com a subida acaba ficando maior. As telhas devem estar secas. Aprendi isso do pior jeito, é claro.

Tenho escrito pouco. Aqui também. Tenho um monte de desculpas. A principal é que estou lendo pouco. Ainda não terminei o Don Corleone, estou encompridando a leitura ao máximo. Há um enorme capítulo do livro sobre o cantor Jhonny Fontanne e sua relação com a Família Corleone. Eu havia me esquecido completamente disso. Mas quando comecei a leitura me lembrei de um artigo do Paulo Francis que falava exatamente dessa lacuna no filme. Ou talvez minha memória tenha inventado essa parte. Alguém já disse, acho que foi o Feijó, que a minha memória é cheia de imaginação.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Pergunte que o Careca responde



Mountain Mocha Kilimanjaro



_Por que será que as propagandas de telefone falam tanto em namoro? - disse a minha mulher.

_Essa é fácil: namorada fala à beça pelo telefone. E além de ligar para o bacana, ainda liga para todas as amigas para contar como anda a coisa - eu disse.

_Paiê, posso jogar videogame? - disse o meu filho.

_Não, vá brincar no quintal - eu disse.

_Paiê, você viu a minha roupa de Cinderela? - disse a minha filha.

_Vi - eu disse.

_Ué, e onde está? - disse a minha filha.

_Eu vi mas não me lembro onde - eu disse.

_Amor, já terminamos as compras de Natal? - disse a minha mulher.

_Ainda não, faltam três presentes - eu disse.

_Paiê, posso entrar na piscina? - disse o meu filho.

_Claro, mas de cueca não, vá colocar um calção de banho - eu disse.

_...

Hoje foi o primeiro dia de férias das crianças. Terminaram os meus dias de mutismo e solilóquios. Respondi perguntas o dia inteiro, eu estava melhor do que o Fábio Júnior nos tempos de Qual É a Música. As crianças estavam precisando de férias. Eu estava precisando ficar mais com as crianças. Mas acabei ficando viciado em responder perguntas. Deixe a sua na área de comentários que eu respondo.

domingo, 11 de dezembro de 2011

No canto do assoalho



Mr President - The Best Is Yet to Come

Às vezes, não é sempre, tenho a impressão de que perdi todas as minhas fichas e chances, cheguei ao fundo do poço. E como estou lá embaixo, trato de olhar para cima e começar a me erguer lentamente. Faço um grande esforço, mas nada vem à minha mente, tudo me escapa, meus sentidos falham, meu instinto fraqueja. Nessas horas procuro escutar uma música, ver alguma coisa bonita, uma foto, um quadro, uma pintura. Recupero uma lembrança, busco um sonho numa gaveta. Procuro um livro na estante, folheio um deles ao acaso. Faço dessas coisas companhia. Ficar sozinho é uma questão de escolha, e eu mesmo fiz todas as minhas escolhas, ninguém me obrigou a isso. É assim que me acalmo, quando percebo que o caminho que eu faço, sou eu mesmo que traço todos os dias, sou o único responsável. Depois de me encarar no espelho, é que procuro vencer meus medos. Nem sempre consigo.

Noutras vezes, acredito em milagres, que as coisas vão se resolver sozinhas e que não existem motivos óbvios para os exageros do meu bruxismo. É lógico que nada se resolve por si mesmo.

Logo que nos mudamos, montei dois grandes armários no escritório. Eles pareciam absolutamente necessários para acomodar um sem número de objetos e documentos. Mesmo assim ficaram praticamente vazios por algum tempo. Nesse período, eu os abria todos os dias à procura de papéis e objetos que me eram muito úteis e imprescindíveis. Depois, a pretexto de organizar as coisas, comecei a enchê-los de coisas que não poderiam ficar em outros lugares. Rapidamente os dois armários ficaram lotados de bugigangas. Hoje percebi que não abro esses armários há pelo menos dois meses.

Ás vezes temo que este blog tenha se tornado algo parecido com aqueles armários, uma espécie de depósito de frivolidades e coisinhas sem importância e insignificantes. Outras vezes temo que a minha vida esteja se tornando também muito frívola e insignificante. É nessas horas que me vejo no fundo do poço e procuro olhar para cima. Talvez seja tudo verdade, todas essas coisas desimportantes jamais me levarão a lugar algum. São apenas murmúrios e lamentos sobre os meus fracassos. Mas quando só uma coisa nos resta, será que é possível prescindir justamente dessa coisa? Para mim, não.

Já estive em diversas encruzilhadas e talvez essa seja a pior. Acabaram as cartas na manga, a esperança de uma reviravolta, a confiança em um resgate, coisas que me salvaram em outras ocasiões. Estou como aquele sujeito que enverniza o assoalho da casa e se vê espremido no canto, sem ter como sair do corner. Tenho que esperar o verniz secar.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Prontos para o Natal



You're Sensational - High Society - Classe os dois tinham de sobra.

As crianças ajudaram e hoje conseguimos montar a árvore de Natal. Finalmente. Também montamos o trenzinho da Fisher Price, que meu filho ganhou no seu primeiro Natal. O vagão elétrico pifou e não consegui consertar. Fomos almoçar com os amigos e na saída do restaurante uma velha gritava por ajuda. Ela esmolava com raiva, xingava quem não olhasse para ela. No início não entendi, fui ajudá-la a atravessar a rua.

_Não, não quero atravessar a rua. Eu tenho elefantíase, não está vendo? Eu preciso de uma condução para casa. Preciso de ajuda para ir para casa - ela disse, com raiva, muita raiva.

Só então olhei para a perna que ela apontava. Estava toda enfaixada e com talas, alguns poucos trechos visíveis revelavam uma perna inchada e porosa, sem cor e meio cinzenta como a pele do elefante.

Tirei um trocado do bolso para ela. Ela agarrou a nota com raiva.

_Já trabalhei nessa rua, sou cozinheira, muito boa cozinheira, hoje ninguém olha mais para a minha cara só porque fiquei doente. Obrigado, Deus te guie - ela disse, antes de se virar e berrar por ajuda para mais uma pessoa que passava pela calçada.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Máquina de lavar roupa



The Mamas And The Papas - Words Of Love

Os eletrodomésticos daqui de casa estão esgotando o tempo de vida. As velharias começam a pifar e às vezes não há o que fazer. Foi assim com a minha saudosa cafeteira, com o fogão e agora, ao que parece, com a máquina de lavar roupa. A coitada estava fazendo mais zoada que um caminhão descendo a ladeira na banguela. Na terça-feira fez tanto barulho que eu pensei em correr para me abrigar daquele ataque aéreo. Nem as crianças aguentaram. Então eu chamei um técnico. Antes a minha mulher me fez recomendações expressas para não deixar os caras levarem a máquina para fazer o conserto.

_Lembre-se, não deixe o técnico levar a máquina. Eles sempre descobrem mais defeitos na oficina e o orçamento triplica. Sem falar na troca de peças novas por peças velhas - disse a minha mulher.

_Claro, lóviofmailaife, a máquina só sairá desta casa se passarem sobre o meu cadáver - eu disse, batendo no peito.

_Putzgrila - disse a minha mulher.


-Xácomigo - eu disse e dei tchauzinho para a minha mulher, que foi trabalhar na faculdade. Alguém tem que pagar as contas. A máquina de lavar é só uma delas.

Então eu liguei e marquei com um técnico que já tinha passado por aqui, no início do ano, logo que mudamos. Na ocasião, eu fiz tudo errado. Deixei o técnico levar a máquina e o orçamento triplicou. Mas isso é justificável, porque o vazamento era grande e eu estava com medo da Rose morrer eletrocutada. Para quem não sabe, Rose é a lavadeira-governanta-babá-cozinheira e universitária daqui de casa. Ela estuda Assistência Social à noite e deve se formar no próximo ano. Pois eu fiquei com medo da máquina de lavar, que esguichava água por baixo, bem perto do motor elétrico. Mas dessa vez, não, eu não iria vacilar.

O técnico chegou quase na hora do almoço. Examinou a máquina e decretou que o problema era sério e grande, e que ele só poderia dizer com certeza qual era a solução depois de abrir o motor na oficina.

-Jamé - eu disse.

_Como? -ele disse.

_Nunquinha. Nunca que você vai sair daqui com a máquina de lavar da minha mulher - eu disse.

_Doutor, só posso consertar na oficina. Aqui eu não tenho as peças - ele disse.

_Meu hum, Amigo, recebi instruções específicas e claras para não permitir a retirada deste aparelho dessa residência. Se eu aprovar o seu orçamento, o conserto terá que ser feito aqui - eu disse.

_Doutor, o conserto vai ficar em XXX real.

_Nossa! Mas isso é um terço do valor de uma máquina nova 2.0, ultra-mega-super-moderna que tem até ligação com a internet - eu disse.

_Mas não tem jeito de consertar aqui. Tenho que levar a máquina e desmontar tudo lá na oficina - ele disse.

_Never - eu disse. E dispensei o técnico.

Aí eu conversei com a minha mãe e ela me indicou um sujeito que sempre conserta as máquinas da casa dela. O sujeito veio, olhou tudo rapidinho, fez um orçamento super enxuto.

_Tudo bem, eu disse, pode consertar - eu disse.

_Mas vou precisar levar a máquina - ele disse.

_Alto lá. A máquina não sai daqui de casa. A última vez que fizeram isso, o técnico ligou dois dias depois de ter levado a máquina e quadruplicou a solucionática e o orçamento. Nem pensar - eu disse.

_Mas eu não preciso levar a máquina toda. Só o motor. Pode ser? - ele disse.

Examinei a questão com cuidado e percebi que ele não feria o meu juramento solene. Autorizei a manobra e o técnico se foi, carregando o motor da lavadora.

Funcionou. O técnico consertou a máquina. De quebra, e de brinde, ainda colocou uma tampa nova.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

As chuteiras do campeão



Trombone Shorty - Do To Me

Leio que mais um ministro está mais enrolado que linha de carretel por causa do seu estrondoso sucesso como consultor de empresas. Falam que, tal qual o Palóffi, esse ministro também não consultava por escrito, só por fora. O negócio dele era no fio do bigode, palestra sem powerpoint e projetor, no gogó.

Eu sinceramente admiro o desprendimento desses ministros que abrem mãos e cofres de milhões de reais, grana certa a ser angariada à custa de saliva e expertise de bons conselhos ao pé do ouvido ou em palestras exclusivas.

Tudo bem, ministro tem status, motorista, reunião, mordomia, etc, mas nada se compara a um ou dois milhões por um cochicho bem cochichado, não é mesmo? Pensa bem, se o sujeito for aplicado, bom cochichador, em um mês ele tira bem uns dez salários anuais de ministro. É ou não é querer muito servir à cota da presidente ou à cota do condomínio partidário? Sim, porque eu acredito na honestidade desses caras.

Por outro lado, acho que é esse idealismo exagerado desses ministros honestos que põe tudo a perder. Pensa bem. Esses caras não ligam pra dinheiro, gente. Não ligam. E aí eles se descuidam e danam a fazer convênio com ONG do mal. Sim, porque existem trocentas ONGs do bem e só umas pouquinhazinhas que são do mal. É complicado identificar. As do bem são não-governamentais e não fazem convênio com governo. As do mal são neo-governamentais e só existem para fazer convênio com governo. É difícil demais. As do bem conquistaram uma boa reputação depois de longos anos de bons serviços prestados. As do mal foram criadas pouco antes da celebração do convênio por um PM amigo. É muitcho.

E o que tem chuteiras a ver com tudo isso? Nada. Mas você reparou na foto oficial do campeão e do vice-campeão do campeonato? Não aparecem as chuteiras. Elas foram tapadas por um painel com a logo da CBF. Acho que alguém não pagou o patrocínio, né?

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Nada aconteceu



The Cactus Channel ~ The Colour of Don Don


Faltam só 18 dias para o Natal e ainda não terminamos de fazer as compras de presentes. No ano passado, as coisas já estavam perfeitamente definidas por essa época. Também deixei passar mais um dia sem montar a árvore de Natal. Fica para amanhã. Hoje tentei arrumar outro poste do quintal, mas não consegui fazê-lo funcionar. Levei alguns choques no chuveiro quando era menino e desde então não gosto muito de mexer com fios e instalações elétricas. Quando me animo, faço o que tem que ser feito bem lentamente para não ser eletrocutado.

De fato, demorei uma hora para trocar o soquete do poste e uma lâmpada. Testei a luz e nada aconteceu. Depois de outra hora, consegui trocar toda a fiação e nada aconteceu. Só então me ocorreu que o problema pode estar no interruptor, que fica no quadro de luz do chuveiro da área externa. Aí fiquei com preguiça de trocar o interruptor(ou o faraday). Nada aconteceu.

Tive que ir ao supermercado porque já tinha acabado tudo, do arroz ao detergente. À tarde não quis saber mais de eletricidade. Fiquei tão cheio que esqueci completamente da árvore de Natal.

Vi um vídeo no Selva Brasilis e tive a idéia para uma história sobre um taxidermista. Sim, sempre detestei aquela coisa de se fazer uma distinção entre história e estória. A verdade é que as duas sempre se confundem em algum ponto. Em geral, prefiro as estórias, embora algumas histórias sejam do arco da velha.

Mas voltando à minha idéia, esse sujeito trabalha duro para empalhar animais e mantê-los bem conservados e com boa aparência. Ele começou seu ofício com pequenos animais, ratos, peixes, lagartos e cobras. Por necessidade e para atender ao grande mercado, os gatos e cães de estimação se tornaram sua especialidade. De vez em quando, um cliente quebrava a rotina e Bonasera(vamos chamá-lo assim?) empalhava uma ovelha, um mastim ou um exótico guepardo. Seu recorde foi um elefante, é claro. Mas isso só até o dia em que aquela mulher entrou na sua oficina de taxidermista e perguntou se ele poderia embalsamar seu falecido marido.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Solda, Rafa e mudança de faixa



White Cowbell Oklahoma - Packin' My Bags - Outra dica excelente do Gravetos e Berlotas.


Aqui em casa ainda não arrumamos a árvore de Natal. Falha minha, é claro. A minha desculpa é que apareceram coisas mais urgentes. Hoje, por exemplo, banquei o ajudante de serralheiro com o conserto do basculante do portão e a solda de um poste do jardim, que simplesmente desabou na última quinta-feira. O basculante foi corroído pela ferrugem e o poste, suspeito, ruiu devido a xixi de cachorro.

Todo mundo sabe que xixi de cachorro é altamente corrosivo, isso já foi documentado pela ciência. Além disso, Rafa, o cachorrinho shi-tsu da minha filha, acompanhou o trabalho com o maior interesse e preocupação. Montou guarda o tempo inteiro ao lado do poste enquanto trabalhávamos e só depois, quando tudo já estava terminado, é que saiu de perto. E quando eu e o serralheiro nos afastamos foi a vez do Rafa se aproximar e avaliar o serviço. Satisfeito, tratou logo de inaugurar a peça.

Na parte da tarde, eu havia me esquecido, eu e a minha mulher fomos assistir ao exame para mudança de faixa das crianças na aula de judô. Os dois foram muito bem. O sensei foi rigoroso e ao mesmo tempo simpático e amigável. Ao final de uma longa série de exercícios e demonstrações de golpes, as crianças passavam por uma sabatina de perguntas sobre a história do judô e vocabulário da luta, em japonês. Depois cada criança fazia sua auto-avaliação.

_Nove. Não, sete - disse a minha filha.

_Nove ou sete? Escolha - disse o sensei.

_Sete e meio - disse a minha filha, com modéstia genuína.

E o sensei anotou a nota com cuidado. Acredito que passará para a faixa azul.

_E você? Qual é a nota que você merece? - perguntou o sensei.

_Nove vírgula nove - disse o meu filho, sem titubear.

-Você é uma figuraça - disse o sensei.

E também anotou com cuidado. Acho que ganhará um novo dan na mesma faixa azul, apesar de ter feito todos os exercícios e demonstrações com rapidez e segurança. Na minha opinião de não-iniciado ainda precisa de mais força e peso para subir de faixa. Mas talvez eu mesmo seja surpreendido.

Os dois estavam orgulhosos e felizes por estarmos ali, o único casal, vendo o exame de faixa. Havia um outro pai e três mães, mas casal completo, só eu e minha mulher. Fomos comemorar com jantar e sorvete, mas todos nós comemos tanto que não conseguimos pedir a sobremesa. Com isso, o sorvete ficou para a próxima vez. E foi exatamente quando voltávamos é que surgiu a pergunta sobre a montagem da árvore de Natal.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O meu distanciamento de futebol e Sócrates



Sócrates morreu e o Corínthians é campeão. Em 1982 eu torci muito por Sócrates e companhia. Mas Toninho Cerezzo, com o sinal secreto de entregar o jogo abaixando o meião e facilitando tudo para os italianos, partiu o meu coração e o de todos os brasileiros que queriam muito aquela Copa do Mundo. Depois daquele jogo contra a Itália nunca mais torci do mesmo jeito, como se não houvesse nada mais importante, como se não houvesse amanhã. Eu era o próprio Pacheco Camisa 12 e virei um torcedor comedido, chinfrim, jogo era só um pretexto para tomar muita cerveja. Hoje, nem isso. Nem sei explicar a tabela do campeonato, preciso ver ideográfico para entender.

Creio que com o passar do tempo, mesmo depois da conquista de duas copas do mundo, esse distanciamento das coisas do futebol tenha se ampliado um pouco. Já faz anos que não sei escalar meu time de futebol. Quero dizer, o time para o qual digo que torço. Sei o nome do técnico e do goleiro, um zagueiro, um atacante. Só. É um time estagnado, que não faz nenhum adversário tremer dentro das chuteiras. A falta de sucessos desse meu time também contribuiu para o meu distanciamento do futebol.

Mas eu sei bem que futebol é uma coisa de gênero. Sei que é importante saber coisas de futebol para ter o que conversar nas rodas de conhecidos ou das pessoas com as quais não temos assunto. É uma necessidade social. É sabido que futebol gera bem mais diálogo do que temas como o clima, café, vinho, os males do tabagismo, educação das crianças, novela, cinema, política, economia e lugares para passar as férias. Particularmente, eu curto bastante esse último tema, sempre surgem boas dicas de onde menos se espera. Uma vez descolei o endereço de uma pousada sensacional no Rio Grande do Norte depois de um papo desses. Mas tergiverso.

Eu suporto bem uma conversa mole sobre futebol. Na maioria das vezes acho chato, mas não corto. É um assunto. Mas algumas pessoas, é fácil notar, sabem bem do que estão falando quando falam sobre futebol. É uma paixão. Essas eu gosto de escutar. Mas às vezes um apaixonado pelo futebol vira enciclopedista, e a coisa começa a se complicar. Existem pessoas que adoram futebol e gostam de rememorar lances fantásticos que guardam na memória, cinematograficamente. Pessoas assim lembram não só a escalação do seu time, mas também das equipes rivais. Se brincar, sabem dizer se o gramado estava em boas condições ou se a chuva atrapalhou um pouco. Para esses, tenho pouca paciência e procuro mudar de assunto.

Minha memória de futebol é uma droga. Sempre foi. É lógico que existem algumas poucas exceções. Tem aqueles episódios que todos sabem, já viram o vídeo, o gol que Pelé não fez do meio do campo, la mano de Dios, o pênalti perdido pelo Zico, gols do Ronaldo, Taffarel defendendo aquele pênalti, mas nada excepcional. Às vezes até me sinto estrangeiro por causa disso.

A verdade é que existem milhões de sumidades em futebol na Terra Brasilis. Perto desses caras, sou um alienígena analfabeto. Ponho a culpa, é claro, em Sócrates e na seleção canarinho, aquela, de 82, que o Júnior do Flamengo cantou em versos assim: Voa canarinho, voa... . Sim, eles voaram de volta para casa sem o caneco e eu enterrei ali a minha proximidade com o futebol.

Mas uma coisa eu lembro bem do Sócrates, do jeito como ele comemorava o gol, o punho direito fechado e o pulso à mostra, reto. O braço esquerdo dobrado nas costas, também com o punho fechado. Era o gesto dos Panteras Negras, dos negros norte-americanos. Sócrates, não sei bem porquê, inventou a comemoração e o gol protesto e, dizem, foi o ideólogo da famosa democracia corinthiana. Felizmente, gostava de cerveja. Descanse em paz.

domingo, 4 de dezembro de 2011

O prêmio anti-gíria

As crianças estavam falando gíria a dar com pau. Então os avós resolveram instituir o primeiro campeonato de quem não fala gíria entre os netos. A premiação seria feita em espécie para a criança que deixasse a gíria de lado durante os três meses de competição.

_Adulto pode entrar nesse torneio? - eu disse.

_Não, a competição é restrita aos nove netos. Os pais vão ter que ajudar é claro, porque o campeonato é de não falar gíria na escola, em casa, aqui e em qualquer lugar - disse a minha mãe.

_Putz, caramba, mãe, que competição legal, véi. Vai ser massa ver esses meninos sem falar gíria o tempo todo. E o prêmio é muitcho bom, caraca! - eu disse.

Minha mãe me olhou com aquele ar de bronca.

_Fica fria, santa. Nem rola de estressar por causa de umas giriazinhas. Só estou fazendo isso para passar a vontade, véi. Achei dez essa idéia do jabá - eu disse.

E durante três meses os meninos e meninas se empenharam em mudar o vocabulário, com ótimos resultados. Hoje, depois de uma avaliação geral, todos passaram para a próxima fase. A cerimônia de premiação final terá lugar no ano que vem.

J'attendrai Swing



Django Reinhardt e Stephane Grappelli - J'attendrai Swing (1939)

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Miriam Makeba-The Click Song



Miriam Makeba-The Click Song


Os estalos fazem parte da língua de Míriam, sul-africana e militante histórica anti-apartheid. As canções mais bonitas são também muito tristes.

Hoje não vou postar, tem festa de formatura do meu afilhado. Amanhã vou postar sobre faixas e cartazes que ando vendo. Até.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Baixaria em alta



The Clash - Police on my back

A presidente que não quer saber de faxina se encontrou hoje com o ministro que disse que a amava. Havia grandes expectativas de que o tal ministro fosse enxotado do palácio e do ministério a vassouradas. Afinal de contas, por unanimidade, a comissão de estética pública havia recomendado com todos os pingos nos is a exoneração imediata do ministro lupino.

Mas para surpresa de todos os que ainda acreditam que esse governo será implacável contra a corrupção no ano que vem ou talvez depois, a presidente achou a recomendação malfeita e solicitou o envio dos “elementos que embasaram a decisão e a sugestão encaminhada”. Uó.
_Queru vê asprova, cadê? – disse a presidente em seu dialeto.

O ex-ministro das Supremes e presidente da comissão de etiqueta e boas maneiras não ficou com vergonha na cara e continuou no cargo que lhe garante a maior mamata. Seupulha, uma vez por mês, descola um jeton maneiro para participar de um churrasco regado a chivas numa reunião com outros sete juristas achados na rua.

Só neste ano, a comissão não se pronunciou outras cinco vezes pedindo a exoneração de larápios e gatunos alojados no governo. E na primeira vez que resolveu mostrar serviço, sujou na saída, lambrecou tudo.

_ Mas ele acumulou cargos públicos remunerados inúmeras vezes - disse Seu Pulha.

O ministro lupino deve estar rindo às pampas. Em menos de um mês, foi dado como cozido, frito e despachado umas cinco vezes. Escapou de todas. A cada escapada, uma declaração debochada. Nessa última, dizem que chutou a porta do palácio e só faltou limpar na cortina.

_Larga desse corpo que ele não te pertence! – disse o ministro.

A bordo do Vassourão 1, com quase 110% de aprovação de acordo com pesquisas fidedignas (só perde para o Apedeuta, que tinha 171% fora a comissão), a presidente viajou para a Venezuela, onde discutirá com outros líderes latinos a melhor forma de se pentear uma peruca.

Sim, tudo isso é uma baixaria. Mas, meu amigo, acredite, a despeito do malfeito, nunca antes neste país a baixaria esteve tão alto.

E falando sério, quem terá a bala de prata?

Onde estou no livro?



Godfather - Paulie Gatto execution

Frase do dia