sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Máquina de lavar roupa



The Mamas And The Papas - Words Of Love

Os eletrodomésticos daqui de casa estão esgotando o tempo de vida. As velharias começam a pifar e às vezes não há o que fazer. Foi assim com a minha saudosa cafeteira, com o fogão e agora, ao que parece, com a máquina de lavar roupa. A coitada estava fazendo mais zoada que um caminhão descendo a ladeira na banguela. Na terça-feira fez tanto barulho que eu pensei em correr para me abrigar daquele ataque aéreo. Nem as crianças aguentaram. Então eu chamei um técnico. Antes a minha mulher me fez recomendações expressas para não deixar os caras levarem a máquina para fazer o conserto.

_Lembre-se, não deixe o técnico levar a máquina. Eles sempre descobrem mais defeitos na oficina e o orçamento triplica. Sem falar na troca de peças novas por peças velhas - disse a minha mulher.

_Claro, lóviofmailaife, a máquina só sairá desta casa se passarem sobre o meu cadáver - eu disse, batendo no peito.

_Putzgrila - disse a minha mulher.


-Xácomigo - eu disse e dei tchauzinho para a minha mulher, que foi trabalhar na faculdade. Alguém tem que pagar as contas. A máquina de lavar é só uma delas.

Então eu liguei e marquei com um técnico que já tinha passado por aqui, no início do ano, logo que mudamos. Na ocasião, eu fiz tudo errado. Deixei o técnico levar a máquina e o orçamento triplicou. Mas isso é justificável, porque o vazamento era grande e eu estava com medo da Rose morrer eletrocutada. Para quem não sabe, Rose é a lavadeira-governanta-babá-cozinheira e universitária daqui de casa. Ela estuda Assistência Social à noite e deve se formar no próximo ano. Pois eu fiquei com medo da máquina de lavar, que esguichava água por baixo, bem perto do motor elétrico. Mas dessa vez, não, eu não iria vacilar.

O técnico chegou quase na hora do almoço. Examinou a máquina e decretou que o problema era sério e grande, e que ele só poderia dizer com certeza qual era a solução depois de abrir o motor na oficina.

-Jamé - eu disse.

_Como? -ele disse.

_Nunquinha. Nunca que você vai sair daqui com a máquina de lavar da minha mulher - eu disse.

_Doutor, só posso consertar na oficina. Aqui eu não tenho as peças - ele disse.

_Meu hum, Amigo, recebi instruções específicas e claras para não permitir a retirada deste aparelho dessa residência. Se eu aprovar o seu orçamento, o conserto terá que ser feito aqui - eu disse.

_Doutor, o conserto vai ficar em XXX real.

_Nossa! Mas isso é um terço do valor de uma máquina nova 2.0, ultra-mega-super-moderna que tem até ligação com a internet - eu disse.

_Mas não tem jeito de consertar aqui. Tenho que levar a máquina e desmontar tudo lá na oficina - ele disse.

_Never - eu disse. E dispensei o técnico.

Aí eu conversei com a minha mãe e ela me indicou um sujeito que sempre conserta as máquinas da casa dela. O sujeito veio, olhou tudo rapidinho, fez um orçamento super enxuto.

_Tudo bem, eu disse, pode consertar - eu disse.

_Mas vou precisar levar a máquina - ele disse.

_Alto lá. A máquina não sai daqui de casa. A última vez que fizeram isso, o técnico ligou dois dias depois de ter levado a máquina e quadruplicou a solucionática e o orçamento. Nem pensar - eu disse.

_Mas eu não preciso levar a máquina toda. Só o motor. Pode ser? - ele disse.

Examinei a questão com cuidado e percebi que ele não feria o meu juramento solene. Autorizei a manobra e o técnico se foi, carregando o motor da lavadora.

Funcionou. O técnico consertou a máquina. De quebra, e de brinde, ainda colocou uma tampa nova.

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