segunda-feira, 19 de maio de 2008
A volta de Humberto
Uma vez falei aqui do Humberto. Ele é apresentador de TV e acha que ainda é boa pinta. Ele tem suas idiossincrasias. Às vezes é um bocado escroto. Todo mundo é. O único problema é que o Humberto acha que não é preciso maneirar um pouco. É o tipo do cara que você não chama para uma reunião de família, mas que faz todo mundo no boteco morrer de rir. Ele tem presença, o Humberto. É um canalha. Mas também sabe ser simpático. Já teve coleção de namoradas. Namorada da segunda. Namorada da terça. Namorada da quarta. Namorada da quinta. Sexta livre para repeteco. Sábado para a paquera desenfreada. Domingo, ninguém é de ferro, fugir de todas, ficar com a filha.Eu achava que era exagero, isso de ter uma namorada para cada dia da semana. Uma só já dava muito trabalho.
Eu e o Humberto almoçávamos sempre na mesma caverna. Aquilo era muito ruim para ser chamado de restaurante. A rigor, nem poderia ser chamado de caverna, era só um buraco. Um dia convenci o Humberto a ir para outro lugar. Aí fomos almoçar num restaurante que só servia camarão. Muito bom, aquele restaurante. Ficamos rodeando as grandes panelas de barro ferventes. Era camarão de tudo quanto é jeito. De repente, o Humberto paralisou.
_Careca, hoje é que dia mesmo? É quarta?
_Terça.
_Quarta está vindo para cá.
_Como é?
_Eu marquei de encontrar a Terça daqui a pouco. E a Quarta está aqui e já me viu.
_Pô, Humberto...
_É por isso que eu não queria trocar de restaurante. Agora você vai me ajudar a sair dessa.
_....? – nem deu tempo de falar nada e a Quarta já chegou para uma bitoca no Humberto.
Ele me apresentou. A Quarta era linda. Mais bonita que a Terça, que eu já conhecia desde a universidade. Cada um fez seu prato. Sentamos juntos. E eu sem saber o que fazer. Sem ter como combinar. E nada da Quarta ir ao banheiro. De repente, vejo Terça. Ela entra e acena para mim. O Humberto está ao lado da Quarta, de costas para Terça. Eu aceno de volta, mais para o Humberto perceber que a outra já chegou. Pensei que ele ia correr para o banheiro, sem olhar para trás. Mas nada. Continuou o almoço, numa boa. Terça veio, me cumprimentou, deu dois beijinhos. E aí virou para o Humberto.
_Oi, meu amor! Nem me dá um beijo?
_Olá, muito prazer, Humberto – formal como um político na tribuna.
_Ih, meu bem, que coisa mais boba. E quem é sua amiga? – perguntou Terça, desnorteada.
_Careca, você poderia nos apresentar sua amiga? – falou o Humberto. Todo empertigado. Terça olhava os dois, espantada. Quarta parecia estar corando.
_ Ué, pensei que vocês já se conheciam – eu disse, meio atônito. Fulana (Terça), esse é o Humberto e essa é a Beltrana(Quarta). Almoça com a gente, Fulana (Terça)?
Quarta, ou Beltrana, estava desconfiada, vermelhíssima. Terça estava furiosa.
_Humberto, você é um canalha! – ela berrou. Para uma Terça, ela berrava como se fosse a semana inteira.
_Careca, essa sua amiga é louca, hein? – disse o Humberto, frio como um atum. E eu fiquei calado como um camarão.
_Canalha! Canalha! Canalha! – Terça berrava.
_Garçom, por favor, tire essa pessoa daqui, por favor – dizia o Humberto, na maior calma.
__Canalha! Canalha! Canalha! – Terça espumava, derrubava pratos e copos e chutava o Humberto.
A coisa ia virar pancadaria. Felizmente, Beltrana (Quarta) descobriu ali, naquele dia e naquele instante, que era alérgica a camarão. Começou a ter um trelêlê tão espalhafatoso que Terça teve que parar. Como ficamos todos ocupados demais para correr para o hospital, a briga acabou adiada. Depois, inclusive, Beltrana e Fulana viraram amigas e deixaram de ser dias da semana para o Humberto. Foi a primeira vez que vi solidariedade entre traídos. É raro, mas acontece.
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12 comentários:
Sério que aconteceu isso? E você lá pra registrar a história, né. Sorte nossa (seus leitores)! abração
Uai, o Humberto é fogo! Depois eu conto mais histórias dele.
acho que essa parte que a Quarta era alérgica a camarão é mentira.
Franka, se foi, a Quarta merecia um Oscar de atriz e outro de efeitos especiais!
Humberto é um ídolo.
Paulo, a mulherada fazia fila, coisa de louco!
Esses Humbertos são uns angustiados crônicos e que tendem a piorar, principalmente quando começam a aparecer sinais do tempo!
Acho que as mulheres aceitam porque não agüentam o cara todos os dias...
Mwho, é diferente. O cara era meio Porfírio Rubirosa. As mulheres não o aceitavam, brigavam por ele.
Careca,
Como é que você põe aquele contador de acessos no blog?
Mwho, tem que preencher um cadastro lá no www.sitemeter.com e lembrar de marcar "deixar visível". Siga as instruções passo a passo do site. No final, você vai gerar um script html e copiar. No blogger, em layout, você dá um paste no script que copiou depois de "Adicionar um elemento de página".
Humberto salvo pelo camarão.
Será que ele não envenenou o camarão para tudo acabar em pizza?
M.J., não, jamais. O canalha é só um sujeito que quer ser amado demais.
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