sexta-feira, 16 de maio de 2008
O cuidado com as palavras
Aqui em casa é preciso cuidado com as palavras. Todo mundo se ofende facilmente.
Ele agora tem cinco anos de idade e hoje resolveu testar a minha paciência. Isso acontece muito. Ele atirou um dos brinquedos novos, do aniversário, no chão. Com toda a força. Eu avisei, mais uma vez, que o brinquedo poderia quebrar. Criança tem hora que é um saco.
Como todo mundo.
Eu respiro e conto até vinte e sete. É só o que dá tempo, porque ele jogou o brinquedo no chão, novamente.
_Pai, quebrou a perna! E agora?
_Eu avisei, agora nem adianta chorar.
_Conserta, pai!
_Esse aí não tem jeito. Não dá. Não pega cola nenhuma.
Não é má vontade. É que não pega mesmo. É um tipo de plástico que não pega super-bonder, nem cola branca, nem cola quente, nem pvc, nem cola de sapateiro, nada. Já tentei até derreter e costurar. Não dura nem um minuto. É brinquedo one-way. Um robô bacanérrimo, de um grupo de robôs super-bacanas. Mas se quebrar um pedaço, já era.
Tudo bem, acho que tem um pouco de preguiça no meio.
_Pai, não sou mais o seu amigo.
_Puxa vida, acho que já tivemos essa conversa antes, uma porção de vezes.
_É, só que agora é pra valer.
_O que vale é o nosso pacto de “amigos pra sempre”. Lembra?
_Pai, você compra outro?
_Ih, filho, você ganhou esse de presente. E aí fica ...
_Então, não sou mais o seu amigo.
_Acho que você está sendo repetitivo.
_O que é isso, pai?
_Repetitivo? É quando a gente diz a mesma coisa muitas e muitas vezes.
_Pai, você sempre diz não! Isso é muito “repetivo”!
_...!
Dei de ombros, concentrado na leitura de “Onde os velhos não têm vez”, que é excelente. Uns dez minutos depois, a minha filha, de três anos, vem chorando.
_Pai, meu irmão me xingou.
_Não precisa chorar. Conta o que aconteceu.
_A gente estava brincando de carrinho e ele me xingou.
_Do que foi que ele te xingou?
_De “repetiva”. Pai, eu sou “repetiva”? Sou? Hein, pai? Paiê?
É preciso cuidado com as palavras aqui em casa. Todo mundo é super sensível. Super.
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10 comentários:
ontem me disseram também que eu sou repetiva com algumas palavras. são elas: "esquisito" e "estremeci".
hahaha.
esquisito, né? estremeci.
Franka, é esquisito mesmo. Também tenho isso. É esquisito, mas aqui em casa eu estremeço pelo menos uma vez por dia. Quando vi, estremeci.
a filha de um amigo meu. quatro anos a danada. um dia a mãe estava dando a maior bronca nela, então ela jogou essa "Mãe, você tem a sua razão, eu tenho a minha".
juro por Deus.
abraço, Careca
Paulo, elas sempre surpreendem. Sempre, sempre.
E eu com o meu "né", "então,tá". Desde criança minha irmã tenta me tirar isso...
- mas D., não pode falar "então, tá"?
-poder, pode, mas você fala toda hora. Pára com isso!
- Então, tá, D.
Eu quebrava vassoura, caía de cima do armário, do guarda-roupa, tentando arrumar a casa. E arrumava, mas depois de quebrar algo, ela ficava UMA FERA e me mandava embora pra casa da mãe e eu dizia: "então tá, tô indo viu! Ela continua braba até hoje, e eu uso copos de masstomati (mais fortes).
Uai, aqui em casa só tem copo de masstomati e requeijão. Ah, tem os bons, do casamento. Mas esses a gente não usa.
do meu casamento, uns copinhos lindinhos,finiiiiinhos (só de olhar, dá dor no coração), ficam lá em cima do guarda-roupa, só pas visita, né. abração
Uai, é igualzinho aqui. Um abração.
Sorte sua que só os pequenos ficam ofendidos com suas palavras. Ou as minhas são muito cortantes ou vivo rodeado de pessoas sensíveis demais...
Abraço,
Mwho, não são só as crianças. Aliás, na maior parte das vezes, não tem nada a ver com as crianças. Abraços,
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