sábado, 17 de maio de 2008
Para as vacas magras
Vocês, eu não sei, mas aqui em casa a gente guarda um monte de coisa para mais tarde. Eu mesmo sou mestre em deixar um pedaço de mortadela, parte do recheio, aquele pouquinho de suco lá para o final da refeição. E tem todos aqueles objetos, para depois. Tem aquelas coisas banais, mas de boa qualidade. Faqueiro. Louça fina. Copo de cristal. As coisas que se colocavam naquele móvel antigo, a cristaleira, que ninguém mais tem em casa.
Tem aquelas lembranças delicadas das pessoas que amamos e morreram. A bandeja com xícaras de café, pequenas, com uma toalhinha bordada, um presente da avó.
Tem os presentes que ganhamos e achamos tão bacanas que não temos coragem de usar e viram enfeites. Um conjunto de porta temperos que um casal amigo trouxe do exterior. Um negócio de porcelana do Gaudí, que outro amigo trouxe de Barcelona. Uma chaleira japonesa que usamos para enfeitar um móvel. Coisas que fazem a gente ficar emocionado só de pegar. E que a gente deixa em lugares bem altos para as crianças não se entusiasmarem.
Tem aqueles presentes que ganhamos no casamento e deixamos ali, numa prateleira também meio inacessível. Aliás, eu e a Patroa devemos ter casado num ano de abundância de queijos e vinhos. Ganhamos um monte de aparelhos para fazer “fondue”. Naquele ano, se a gente tivesse entrado num campeonato de colecionadores de aparelhos de fondue, nós teríamos ganhado, com certeza. E eram modelos de aparelhos absolutamente iguais. Conseguimos repassar um bocado, até que os amigos começaram a chamar a gente de “casal fondue”. Aí voltamos a dar relógios de parede. Voltamos a ser “da hora”. E ainda temos um bocado de aparelhos de fondue.
Mas tem as coisas não sentimentais, que fazem parte dos excessos de outros tempos. Roupa de cama. Toalha de banho. Edredons. Essas e outras coisas ficam nos fundos dos armários, muitas vezes dentro das embalagens originais. É como se esperássemos os sete anos de vacas magras. Só pode ser isso.
Eu não sei vocês, mas aqui em casa os anos de vacas gordas passaram em alguns dias, no máximo uns meses. Foram, sem dúvida alguma, as vacas gordas mais rápidas da história. Zum. E eu só via o rabo da vaca, zarpando. Zum. E lá se foi mais uma. Ainda bem que guardamos todas essas coisas para as vacas magras. Elas são muitas, essas vacas, a gente conta com os dedos das mãos e dos pés.
Pois foi pensando nas vaquinhas, magrinhas, coitadas, que não param de chegar, que eu dormi ontem a noite. E eu sonhava assim:
_Entre Dona Vaca. Está com frio? Espere aí que eu vou pegar um edredon super bom tri-fio que guardei especialmente para essa ocasião, lá no fundo do armário. Quer água? Vou servir naquela bandeja de prata especial, naquela taça de cristal gravado em jato de areia, do meu casamento. A jarra também é do casório. Ganhei de um primo que nunca mais vi. Se quiser tomar um banho quente, tenho uma toalha para esse exato momento. E sabão. Tenho quilos de sabão especial e até sais de banho. Se bem que aqui em casa eu não tenho banheira. E quando a senhora terminar, ponha um roupão daqueles embalados e venha para a mesa. Vamos ter “fondue”.
E então eu olho para a vaquinha suar, preocupada.
_Fica assim não, boba, é “fondue” de chocolate...
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6 comentários:
Careca,
Passe a usar o que está guardado antes que o mofo e as faxineiras acabem com tudo!
Abraço,
Mwho, vou fazer isso mesmo!
é isso. também detesto essas louças que ficam guardadas e ninguém usa. se bem que guardei um vinho do Flamengo que ganhei pra abri quando o time fosse campeão mundial no Japão. Mas aí a porra estragou.
abraço, careca
Paulo, é, vinho tem que beber logo. Se eu for esperar o meu time ser campeão mundial só vou beber vinagre.
Doe, doe tudo, se não for usar, doe!
De tempos em tempos eu faço uma varredura aqui e encho sacolas. Sempre ponho coisas desse tipo, novinhas em folha mas que NUNCA usaremos.
Quanto menos, melhor.
E os vinhos, beba. Vinho foi feito pra beber e não pra ficar dormindo na adega.
M.J., é isso aí.
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