Amigos a vida inteira

Ele tem apenas cinco anos, que acabou de completar. Mas é valente. E agora ele me desafia. Nem sei bem o motivo. Mas é um claro gestual de desafio. Os braços estão cruzados com força. A linha da testa está franzida. O lábio inferior está projetado para baixo. As sobrancelhas estão franzidas, junto com a testa. E ele está expirando forte pelas narinas. Hum.

Decidi aceitar o desafio. Você não pode correr da raia com os meninos. Senão eles perdem o respeito.

_Videogame é só até as seis, filho. Agora não pode mais – eu digo.

_Então, não sou mais o seu amigo.

_Ih, nem adianta. Eu e você já fizemos o pacto do aperto de mão debaixo da onda, lembra? – e ele sacode os ombros, como se nem se importasse de se dar ao trabalho de lembrar. Foram quase duas semanas na praia. E à noite, no dia em que inventamos esse pacto, ele só dormiu depois que apertamos as mãos e juramos novamente. Amigos para sempre.

_Somos amigos a vida toda. Não tem jeito de desfazer – eu digo, só para continuar discutindo um pouco.

_ Nunca mais vou querer brincar com você.

_Amigos brincam juntos mesmo quando não querem – eu insisto.

_E nem vou conversar mais com você.

_Ótimo, que eu estou precisando de silêncio.

_...

_...

Eu pensei que era uma trégua. Mas ele voltou à carga.

_Um dia, sua mãe vai morrer – ele diz.

A voz carregada da mais terrível certeza. Talvez ele até tenha sentido a dor de imaginar essa coisa tão dolorosa de pensar. Foi um golpe baixo, é verdade. E eu até pensei em lembrar que a minha mãe é a avó dele. Mas não se responde a golpe baixo.

Por isso, eu tive que me render. Acontece até com o Batman. Então jogamos juntos, mais dez minutos, e voltamos a ser amigos para a vida inteira.