Muitas coisas na vida da gente não dão certo. É como chegar do supermercado e perceber que aquele pacote com quatro lâminas de barbear que você comprou por uma ninharia não vão servir para nada. Você não tem o aparelho certo. As lâminas não encaixam. É uma sensação tão horrorosa quanto a perspectiva de ficar barbado para sempre. E justamente quando você achou que estaria levando a melhor sobre o sistema. Você volta ao supermercado e acaba comprando outro aparelho, porque não aceitam a devolução de produtos em promoção. Há sempre uma solução para tudo. E o mais importante é descobrir que as soluções que encontramos são absolutamente nossas. Sua e de quem te deu a idéia. Não dá para pensar em tudo, né?
Demorei muito a entender aquela coisa do livre arbítrio. Eu agora sei que muitas vezes não há uma recompensa para as decisões certas. Assim como muitas decisões erradas não acarretam punição, embora deixem uma sensação muito ruim no coração. Não há muita diferença entre Mach 3 e Sensor 3. Ambos servem para fazer a barba. Ou a careca. Mas é preciso ter o aparelho certo.
Tudo é metáfora. Tudo aquilo que aconteceu contigo no trote da faculdade deverá se repetir na sua vida profissional. Aquele ônibus errado que você pegou tem um significado extra. O motorista da sua vida não tem carteira de habilitação e está embriagado. Aqui se faz, aqui se enterra, diz o gato.
Adeus 2009, você já vai tarde.
Seja bem-vindo, 2010.
quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
Mach 3 e Sensor 3
Eu gosto de ir ao supermercado. Minha mulher não gosta. Mas adora fazer compras. Para ela, seria melhor se o supermercado viesse até ela. Embora não tenha nada contra uma saidinha para ir ao shopping.
Felizmente, consegui me livrar da minha obsessão por prateleiras. A minha mania de ferramentas também está contida pela minha meta de economia. Desde que estabeleci controle mais rígidos para os meus impulsos gastadores, ir ao supermercado se tornou mais prazeroso. Não é que eu seja masoquista. Mas a verdade é que me sinto super bem ao olhar para uma ferramenta multiuso mini-retífica Dremmel e nem parar para ler as especificações técnicas. Passo direto. Também parei de analisar alicates, parafusadeiras, lixadeiras, plainas, serras tico-tico e furadeiras. Não fico mais tanto tempo na seção de ferramentas. Não analiso a composição de colas, tintas e material de bric-a-brac como antes. Para não dizer que estou completamente curado, de vez em quando compro uma caixa, pequena, de parafusos com bucha e fita isolante. Tenho uma gaveta quase cheia de fita isolante. Devo ser o único sujeito do mundo com fita suficiente para se isolar, de corpo inteiro, do elétrico universo circundante.
Pura poesia, né? Na verdade, se fosse possível qualificar o meu instinto poético eu diria que eu sou do tipo desconfiado. Desconfio tão intensamente das coisas que eu sinto, que chego a sentir as coisas que desconfio. (continua)
Felizmente, consegui me livrar da minha obsessão por prateleiras. A minha mania de ferramentas também está contida pela minha meta de economia. Desde que estabeleci controle mais rígidos para os meus impulsos gastadores, ir ao supermercado se tornou mais prazeroso. Não é que eu seja masoquista. Mas a verdade é que me sinto super bem ao olhar para uma ferramenta multiuso mini-retífica Dremmel e nem parar para ler as especificações técnicas. Passo direto. Também parei de analisar alicates, parafusadeiras, lixadeiras, plainas, serras tico-tico e furadeiras. Não fico mais tanto tempo na seção de ferramentas. Não analiso a composição de colas, tintas e material de bric-a-brac como antes. Para não dizer que estou completamente curado, de vez em quando compro uma caixa, pequena, de parafusos com bucha e fita isolante. Tenho uma gaveta quase cheia de fita isolante. Devo ser o único sujeito do mundo com fita suficiente para se isolar, de corpo inteiro, do elétrico universo circundante.
Pura poesia, né? Na verdade, se fosse possível qualificar o meu instinto poético eu diria que eu sou do tipo desconfiado. Desconfio tão intensamente das coisas que eu sinto, que chego a sentir as coisas que desconfio. (continua)
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Coisas a fazer antes da virada
Fiz uma lista hoje. Falta um montão de coisas para fazer antes da virada. A maior parte é organizar as coisas desse ano, que já acabou e não admite. E também pequenos consertos.
Já arrumamos os armários da cozinha. A máquina de lavar louça (que foi detonada pelo cara que arrumou os armários da cozinha). As lâmpadas do banheiro. As lâmpadas dicróicas que estavam de reatores queimados. Pendurei os dois painéis de metal que usamos para pendurar recados, fotos e outras coisas legais no quarto do meu filho e no meu quarto. Disfarcei todas as mordidas do Rafael nos móveis da sala (usei graxa de sapato preta, e quase não se percebe os cantos roídos e os outros arranhões).
Hoje arrumei o meu pc. Fui no cara que sempre consertava, mas ele fechou a loja. Mudou de ramo. Agora o negócio dele é tatuagem. Eu não preciso consertar a minha tatuagem. Até mesmo porque não tenho tatuagem, já quis ter, mas faltou coragem. Ele também faz piercing. Mas eu também não tenho piercing. Já quis ter um piercing no nariz, mas de manhã eu espirro muito, teria sido um transtorno dolorido.
Seja como for, o cara mudou de ramo. Encontrei um outro cara que abriu uma loja pertinho. Expliquei para ele que o computador havia parado de funcionar. Que não reinicializava nem a pau. E que eu suspeitava de um problema elétrico, uma perda de pilha, ou um problema na fonte. O cara fez hum, hum, como só os informáticos sabem fazer. Mas foi profissional, não me olhou como se eu fosse uma ameba que só sabe mexer no teclado. E num instante ele encontrou o problema do pc.
_O que aconteceu? - eu perguntei.
_Não tenho a menor idéia. Primeiro não ligou com a sua fonte. Ligou com outra fonte. Depois ligou com a sua fonte. Depois não ligou. Testei a fonte mas ela está legal. Agora ligou. Não sei o que aconteceu. Juro.
Por via das dúvidas, ligamos e desligamos o computador umas vinte vezes. Não falhou nenhuma vez.
_E quanto foi? - eu perguntei.
_Nada. Não possou cobrar pelo que não sei se fiz.
_Cobre pelo seu tempo.
Ele cobrou. Cheguei em casa e testei o pc. Está funcionando. Fiz a lista de coisas que ainda preciso fazer nele, no velho e bom pc. Ainda falta muita coisa.
Já arrumamos os armários da cozinha. A máquina de lavar louça (que foi detonada pelo cara que arrumou os armários da cozinha). As lâmpadas do banheiro. As lâmpadas dicróicas que estavam de reatores queimados. Pendurei os dois painéis de metal que usamos para pendurar recados, fotos e outras coisas legais no quarto do meu filho e no meu quarto. Disfarcei todas as mordidas do Rafael nos móveis da sala (usei graxa de sapato preta, e quase não se percebe os cantos roídos e os outros arranhões).
Hoje arrumei o meu pc. Fui no cara que sempre consertava, mas ele fechou a loja. Mudou de ramo. Agora o negócio dele é tatuagem. Eu não preciso consertar a minha tatuagem. Até mesmo porque não tenho tatuagem, já quis ter, mas faltou coragem. Ele também faz piercing. Mas eu também não tenho piercing. Já quis ter um piercing no nariz, mas de manhã eu espirro muito, teria sido um transtorno dolorido.
Seja como for, o cara mudou de ramo. Encontrei um outro cara que abriu uma loja pertinho. Expliquei para ele que o computador havia parado de funcionar. Que não reinicializava nem a pau. E que eu suspeitava de um problema elétrico, uma perda de pilha, ou um problema na fonte. O cara fez hum, hum, como só os informáticos sabem fazer. Mas foi profissional, não me olhou como se eu fosse uma ameba que só sabe mexer no teclado. E num instante ele encontrou o problema do pc.
_O que aconteceu? - eu perguntei.
_Não tenho a menor idéia. Primeiro não ligou com a sua fonte. Ligou com outra fonte. Depois ligou com a sua fonte. Depois não ligou. Testei a fonte mas ela está legal. Agora ligou. Não sei o que aconteceu. Juro.
Por via das dúvidas, ligamos e desligamos o computador umas vinte vezes. Não falhou nenhuma vez.
_E quanto foi? - eu perguntei.
_Nada. Não possou cobrar pelo que não sei se fiz.
_Cobre pelo seu tempo.
Ele cobrou. Cheguei em casa e testei o pc. Está funcionando. Fiz a lista de coisas que ainda preciso fazer nele, no velho e bom pc. Ainda falta muita coisa.
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Rafael é um cão diferente
Choveu muito nesses dias de festa. E o Rafael, o cãozinho shi tsu daqui de casa, se esbaldou de correr para um lado e para outro. Especialmente no dia 25 de dezembro, quando ele passou o dia inteiro correndo atrás do Prince, um falso poodle-toy de propriedade da prima da minha filha. Rafa é só um filhote de seis meses, da mesma idade do poodle que não é toy, é um poodle normal. Mas que foi comprado como "toy". Pois o Rafa e o Prince passaram o dia correndo um atrás do outro, foi uma canseira danada.
_Careca, olha só o que o seu cachorro está fazendo com o cachorro da minha filha! - disse o meu co-cunhado.
_Caramba! Tapem os olhos das crianças! Isso é filme triple x!
_Desempata que é briga! - disse a minha cunhada.
_Não, repara bem. Love is in the air!
_E o Rafa é tão baixinho!
_Parece que o Prince deu pezinho pra ele alcançar!
_É safardanagem descarada!
_Quiéisso! São dois filhotes inocentes!
_É, é só uma sacanagem inocente!
_Inocente, nada. O Prince já está pedindo preservativos com sabor morango...
A coisa durou umas sete horas, no máximo, foi esse o tempo que passei na casa do meu co-cunhado. Na saída, ele ainda ofereceu para ficar com o Rafael, quando estivermos viajando. Minha mulher e eu agradecemos ao cunhado, mas nós achamos melhor deixar o Rafa em outro lugar.
De volta à casa, foi preciso lavar o Rafael com sabão de coco e secar bem. No dia seguinte, ele estava feliz e bem disposto. E acabou se molhando e ficando um bocado sujo com as crianças no parquinho. Hoje, segunda-feira, nós escoltamos o pequeno shitsu até o pet-shop para uma lavada caprichada.
Uma hora depois, eu fui buscá-lo no pet-shop. O atendente quis, primeiro, me empurrar um outro shitsu, com manchas amarelas e pinta de ser uma fêmea. O Rafa é inconfundível, com manchas pretas e um jeitão brincalhão. Rafa protestou na gaiola e só sossegou quando eu o peguei.
Mas alguma coisa aconteceu com o cãozinho. Ele está bem tristonho e sonolento. Brinquei com as crianças, dizendo que o Rafa de verdade tinha ficado no pet-shop, aquele era um falso Rafa.
_É mesmo, paiê. Esse não é o Rafa. O Rafa é mais alegre e me lambe quando eu abraço ele, assim,ó, viu? - disse a minha filha, dona do cãozinho.
Mas é mesmo o Rafa. Fizemos todos os testes possíveis de reconhecimento no bicho. E ele achou a tigela de comida rapidinho. Só está meio brocochô. Queria que fosse apenas saudades do Prince, mas acho que o pobrezinho foi maltratado no pet-shop. É muito triste, bicho triste.
_Careca, olha só o que o seu cachorro está fazendo com o cachorro da minha filha! - disse o meu co-cunhado.
_Caramba! Tapem os olhos das crianças! Isso é filme triple x!
_Desempata que é briga! - disse a minha cunhada.
_Não, repara bem. Love is in the air!
_E o Rafa é tão baixinho!
_Parece que o Prince deu pezinho pra ele alcançar!
_É safardanagem descarada!
_Quiéisso! São dois filhotes inocentes!
_É, é só uma sacanagem inocente!
_Inocente, nada. O Prince já está pedindo preservativos com sabor morango...
A coisa durou umas sete horas, no máximo, foi esse o tempo que passei na casa do meu co-cunhado. Na saída, ele ainda ofereceu para ficar com o Rafael, quando estivermos viajando. Minha mulher e eu agradecemos ao cunhado, mas nós achamos melhor deixar o Rafa em outro lugar.
De volta à casa, foi preciso lavar o Rafael com sabão de coco e secar bem. No dia seguinte, ele estava feliz e bem disposto. E acabou se molhando e ficando um bocado sujo com as crianças no parquinho. Hoje, segunda-feira, nós escoltamos o pequeno shitsu até o pet-shop para uma lavada caprichada.
Uma hora depois, eu fui buscá-lo no pet-shop. O atendente quis, primeiro, me empurrar um outro shitsu, com manchas amarelas e pinta de ser uma fêmea. O Rafa é inconfundível, com manchas pretas e um jeitão brincalhão. Rafa protestou na gaiola e só sossegou quando eu o peguei.
Mas alguma coisa aconteceu com o cãozinho. Ele está bem tristonho e sonolento. Brinquei com as crianças, dizendo que o Rafa de verdade tinha ficado no pet-shop, aquele era um falso Rafa.
_É mesmo, paiê. Esse não é o Rafa. O Rafa é mais alegre e me lambe quando eu abraço ele, assim,ó, viu? - disse a minha filha, dona do cãozinho.
Mas é mesmo o Rafa. Fizemos todos os testes possíveis de reconhecimento no bicho. E ele achou a tigela de comida rapidinho. Só está meio brocochô. Queria que fosse apenas saudades do Prince, mas acho que o pobrezinho foi maltratado no pet-shop. É muito triste, bicho triste.
domingo, 27 de dezembro de 2009
A virada está quase aí
Toda vez que eu penso em passagem de ano eu me lembro das viagens de automóvel, com a família. Nós ficávamos de olho nas placas das divisas entre os Estados e quando faltava cinco quilômetros para a divisa todo mundo começava a berrar a sigla do Estado de saída:
_DF,DF,DF,DF,DF,DF,DF,DF,DF,DF,DF,DF,DF,DF...
E assim que passávamos debaixo do arco de metal com a placa de divisa, na saída do Distrito Federal, o coro mudava para GO,GO,GO,GO. Era um prazer bem infantil. Uma bobagem divertida. Por isso mesmo mantida com o devido carinho com os meus filhos. Em toda viagem que fazemos de carro, o ato de berrar a sigla do estado "sainte" e a do estado "chegante" é exaustivamente repetido. Quanto mais longa a viagem, melhor.
Em final de ano eu fico quase do mesmo jeito. Fico com aquela expectativa infantil sobre o que pode surgir depois da badalada final de 2009. Felizmente, é uma expectativa positiva. E quando eu olho para trás, para o ano que passou, agradeço pelas coisas boas que aconteceram.
2009, 2009, 2009, 2009,2009, 2009, 2009, 2009,2009, 2009, 2009, 2009,...
_DF,DF,DF,DF,DF,DF,DF,DF,DF,DF,DF,DF,DF,DF...
E assim que passávamos debaixo do arco de metal com a placa de divisa, na saída do Distrito Federal, o coro mudava para GO,GO,GO,GO. Era um prazer bem infantil. Uma bobagem divertida. Por isso mesmo mantida com o devido carinho com os meus filhos. Em toda viagem que fazemos de carro, o ato de berrar a sigla do estado "sainte" e a do estado "chegante" é exaustivamente repetido. Quanto mais longa a viagem, melhor.
Em final de ano eu fico quase do mesmo jeito. Fico com aquela expectativa infantil sobre o que pode surgir depois da badalada final de 2009. Felizmente, é uma expectativa positiva. E quando eu olho para trás, para o ano que passou, agradeço pelas coisas boas que aconteceram.
2009, 2009, 2009, 2009,2009, 2009, 2009, 2009,2009, 2009, 2009, 2009,...
sábado, 26 de dezembro de 2009
Granadas no restaurante do shopping
Depois de tantos almoços e jantares espetaculares, nós hoje fomos almoçar no shopping. Não há nada de errado em almoçar no shopping, mas não faça essa besteira no dia 26 de dezembro. Não, senhor. Ficamos horas procurando um lugar para estacionar no estacionamento pago. Seguimos em fila indiana para entrar no shopping. Minha filha escolheu um restaurante que parecia caro e vazio. Fomos bem recebidos, mas o meu sentido de alerta emitia sinais inequívocos de que havia algum problema com o local. Descobrimos qual era o problema após a primeira das quase duas horas de espera para receber os pratos com a comida. Estava deliciosa, é verdade, mas fria. E na saída, para coroar a estadia, a conta veio a mais. Nem dá para dizer que fiquei com raiva. Só não volto mais lá.
Ao final, como sempre faço nessas ocasiões, eu simulei o ato de puxar o pino de uma granada imaginária na saída do restaurante. Atirei a granada imaginária com estilo, tapando os ouvidos na sequência. Mirei no caixa que trouxe a conta errada. Bum!
Minha mulher não viu. Só a minha filha.
_Pai, você é bem maluco, hein...
_
Ao final, como sempre faço nessas ocasiões, eu simulei o ato de puxar o pino de uma granada imaginária na saída do restaurante. Atirei a granada imaginária com estilo, tapando os ouvidos na sequência. Mirei no caixa que trouxe a conta errada. Bum!
Minha mulher não viu. Só a minha filha.
_Pai, você é bem maluco, hein...
_
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
Surge uma arara azul
A grande novidade do Natal deste ano foi um pássaro. Uma gigantesca arara azul apareceu na véspera de Natal no quintal da casa do meu pai. É uma ave impressionante. Pela manhã, após a enorme confusão da abertura dos presentes que o velho Noel deixou para as crianças que acreditam no bom velhinho, nós fomos alimentar a arara. Ela estava sobre a grade do canil e ficou particularmente contente com o pedaço de banana que meu pai estendeu. Despedaçou a fruta em alguns minutos. Estava faminta. E depois comeu um pedaço de maçã. As crianças depois me perguntaram se meu pai havia recebido a arara do velho Noel.
_Pode ter sido um presente provisório - eu disse. O vovô deve ficar com a arara até que o dono seja encontrado. Ela deve estar com saudades de casa.
_Pode ter sido um presente provisório - eu disse. O vovô deve ficar com a arara até que o dono seja encontrado. Ela deve estar com saudades de casa.
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
O ladrão de carrinhos II
"Trata-se de um tio, já meio idoso. Esse tio não gosta muito de fazer compras. Nunca gostou. Sempre fez muitas reclamações dos supermercados, que não é bem atendido e coisa e tal. E esse tio, com o passar do tempo, desenvolveu a técnica de "pegar o carrinho pronto". Tem sempre alguém que passa horas fazendo compras, no maior capricho, aí encosta o carrinho num lugar que passa pouca gente e descansa um pouco, em outro corredor, ou sai para ir ao banheiro, sei lá. Pois esse tio, na hora, passa ali e pega o carro pronto, indo direto para o caixa.
_E lá no caixa ele só vai tirando as coisas que não precisa levar de jeito nenhum do carrinho. Ai, meu Deus, onde é que eu estava com a cabeça quando peguei essa coisa? Camembert? Nunca comi isso, vou experimentar. E assim por diante.
E o melhor de fazer compras no estilo "carro pronto" é que as pessoas que encostam carrinhos costumam escolher muito bem as carnes, frutas, verduras e legumes.
_E esse tio nunca foi pego? - alguém sempre pergunta.
_Claro, mas ele sabe fazer uma cara de coitado de fazer dó em porteiro de boite. Nunca falha. "
E escutando a história, na casa do meu amigo, eu me lembrei de uma bem parecida com um tio meu, que também é famoso por fazer a mesma coisa. Aí depois, bem depois, eu pensei na cidadezinha pequena, no meu tio idoso, e nas diversas possibilidades de explicações.
_E lá no caixa ele só vai tirando as coisas que não precisa levar de jeito nenhum do carrinho. Ai, meu Deus, onde é que eu estava com a cabeça quando peguei essa coisa? Camembert? Nunca comi isso, vou experimentar. E assim por diante.
E o melhor de fazer compras no estilo "carro pronto" é que as pessoas que encostam carrinhos costumam escolher muito bem as carnes, frutas, verduras e legumes.
_E esse tio nunca foi pego? - alguém sempre pergunta.
_Claro, mas ele sabe fazer uma cara de coitado de fazer dó em porteiro de boite. Nunca falha. "
E escutando a história, na casa do meu amigo, eu me lembrei de uma bem parecida com um tio meu, que também é famoso por fazer a mesma coisa. Aí depois, bem depois, eu pensei na cidadezinha pequena, no meu tio idoso, e nas diversas possibilidades de explicações.
O ladrão de carrinhos
Eu sou do interior. As pessoas das cidades pequenas costumam contar as mesmas histórias, com pequenas variações. é natural. O que aconteceu com o meu vizinho, eu vi e contei. O vizinho por sua vez, também pode contar a mesma história. E o primo dele, que ouviu a história, vai acrescentar um ponto, como no telefone sem fio.
Mesmo assim, isso me surpreendeu. Na festa de aniversário de um amigo, na terça-feira, ouvi uma hístória que ouço desde criança, na minha família. Só que a pessoa que me contou não é da minha família. Mas a família desse cara é da mesma cidadezinha onde eu nasci.
Mesmo assim, isso me surpreendeu. Na festa de aniversário de um amigo, na terça-feira, ouvi uma hístória que ouço desde criança, na minha família. Só que a pessoa que me contou não é da minha família. Mas a família desse cara é da mesma cidadezinha onde eu nasci.
Veneza
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
Ainda não é Natal pra todo mundo
Sou um tolo que adora efemérides. Essa época do ano me influencia. Eu me sinto um aniversariante. Eu acredito na esperança. Na boa fé. Na tolerância. Na boa vontade. E isso me dá uma sensação de bem-estar comigo mesmo.
Mas no shopping, onde eu levo cotoveladas e pisões no dedão do pé de pessoas "distraídas", o espírito de Natal passou longe. No trânsito, onde o maluco que pisca o farol apressado atrás de mim e me xinga, do alto da caminhonete, o espírito de Natal não chegou perto.
Evito as manchetes lúgubres dessa época do ano. Não dá vontade de ler jornal. Nem internet. No trabalho, quem pode já se mandou.
Ainda não é Natal para todo mundo, eu sei. Mesmo assim, já é hora de começar!
Feliz Natal a todos.
E um recado: não pretendo folgar. Devo blogar todos os dias até a primeira semana de janeiro. Acompanhe.
Blim-blom. Jingle Bell!
Mas no shopping, onde eu levo cotoveladas e pisões no dedão do pé de pessoas "distraídas", o espírito de Natal passou longe. No trânsito, onde o maluco que pisca o farol apressado atrás de mim e me xinga, do alto da caminhonete, o espírito de Natal não chegou perto.
Evito as manchetes lúgubres dessa época do ano. Não dá vontade de ler jornal. Nem internet. No trabalho, quem pode já se mandou.
Ainda não é Natal para todo mundo, eu sei. Mesmo assim, já é hora de começar!
Feliz Natal a todos.
E um recado: não pretendo folgar. Devo blogar todos os dias até a primeira semana de janeiro. Acompanhe.
Blim-blom. Jingle Bell!
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
Duas observações de Ivam Lessa, da BBC
“Os comerciais para homens são geralmente em branco e preto e os para mulheres em cores.”
“As pessoas já se desejam Merry Christmas e não o tradicional e mui britânico Happy Christmas.”
“As pessoas já se desejam Merry Christmas e não o tradicional e mui britânico Happy Christmas.”
domingo, 20 de dezembro de 2009
O ano que passou e a carta anônima
Era uma festa de amigos. E começamos a falar das coisas que aconteceram no ano. A avaliação geral é de que foi um ano bom. Poderia ter sido melhor, mas não foi um ano ruim. Teve gente que fez mais ressalvas. Eu mesmo fiz algumas, pequenas. Sempre acho que poderia ter feito mais coisas. Ido a mais lugares. Conhecido mais gente. Aprendido mais. Mas agora acho que estou aquietando o facho. Só lamento não ter lido mais.
Fui hoje para a casa dos meus pais. Tenho ainda muitos livros espalhados pelas estantes de lá. Encontrei um livro velho, de oitenta e quatro, no banheiro. Era uma republicação de crônicas de Rubem Braga. Todas as crônicas foram escritas nos primeiros dos anos 50. E Rubem Braga fala em tom de saudades de um Brasil que já não existia mais, com uma melancolia e um saudosismo poético, bonito e viril, ao mesmo tempo.
Li, rapidamente, duas crônicas que escolhi, folheando o livro ao mesmo tempo que perscrutava a memória. Uma crônica falava de Rubem olhando pela janela e vendo um nadador atravessar a linha do horizonte. Em outra, a crônica é uma carta dirigida ao morador do 903, sendo Rubem o vizinho morador do apê 1003 que o perturba com música, pessoas, visitantes e alegria. Ao final da primeira crônica, Rubem exalta o nadador, que, no mínimo, serviu de pretexto para a criação de uma crônica. Na outra, Rubem faz uma apologia ao congraçamento humano para que o vizinho incomodado suba e se junte às próximas festas.
Resolvi imitar o Rubem. Cheguei em casa e olhei pela janela. Um homem passeava com o cachorro. Era um cachorro grande. O cara estava visivelmente entediado com o cachorro. O cachorro tentava arrastar o sujeito para todos os lados. O cachorro fez umas trinta marcas territoriais em poucos minutos. No final, fez o número dois. O sujeito não recolheu os inúmeros números dois.
Sei onde o sujeito mora. É um vizinho de prédio. Vou escrever uma carta para ele. Em nome do congraçamento humano vou pedir para que ele deixe de cachorrada e recolha o que o totó fizer da próxima vez.
Mas aí pensei melhor. O diabo mora nos detalhes. Talvez não fosse prudente assinar a carta. Por outro lado, é uma covardia enviar carta anônima. Sempre achei. Ainda estou nesse dilema. Talvez seja melhor ficar na minha.
Fui hoje para a casa dos meus pais. Tenho ainda muitos livros espalhados pelas estantes de lá. Encontrei um livro velho, de oitenta e quatro, no banheiro. Era uma republicação de crônicas de Rubem Braga. Todas as crônicas foram escritas nos primeiros dos anos 50. E Rubem Braga fala em tom de saudades de um Brasil que já não existia mais, com uma melancolia e um saudosismo poético, bonito e viril, ao mesmo tempo.
Li, rapidamente, duas crônicas que escolhi, folheando o livro ao mesmo tempo que perscrutava a memória. Uma crônica falava de Rubem olhando pela janela e vendo um nadador atravessar a linha do horizonte. Em outra, a crônica é uma carta dirigida ao morador do 903, sendo Rubem o vizinho morador do apê 1003 que o perturba com música, pessoas, visitantes e alegria. Ao final da primeira crônica, Rubem exalta o nadador, que, no mínimo, serviu de pretexto para a criação de uma crônica. Na outra, Rubem faz uma apologia ao congraçamento humano para que o vizinho incomodado suba e se junte às próximas festas.
Resolvi imitar o Rubem. Cheguei em casa e olhei pela janela. Um homem passeava com o cachorro. Era um cachorro grande. O cara estava visivelmente entediado com o cachorro. O cachorro tentava arrastar o sujeito para todos os lados. O cachorro fez umas trinta marcas territoriais em poucos minutos. No final, fez o número dois. O sujeito não recolheu os inúmeros números dois.
Sei onde o sujeito mora. É um vizinho de prédio. Vou escrever uma carta para ele. Em nome do congraçamento humano vou pedir para que ele deixe de cachorrada e recolha o que o totó fizer da próxima vez.
Mas aí pensei melhor. O diabo mora nos detalhes. Talvez não fosse prudente assinar a carta. Por outro lado, é uma covardia enviar carta anônima. Sempre achei. Ainda estou nesse dilema. Talvez seja melhor ficar na minha.
sábado, 19 de dezembro de 2009
The walking dead
Sim, é uma revista em quadrinhos.Já foram publicados 68 edições, com média de 20 páginas cada, em formato americano. Existem várias possibilidades de downloads na Internet. É ficção científica, no modelo da tradição de Matt Matherson, o cara de "Eu sou a lenda", que virou filme co Will Smith.
Se você não viu nem leu nada disso, o resumo é o seguinte: O mundo acabou. Está cheio de zumbis. Acompanhe as aventuras do sobrevivente, que tenta levar a vida nesse cenário apocalíptico.
Por enquanto, li vinte revistas. Os desenhos são simples e envolventes. A trama é uma isca tênue em anzol de linha curta, com enredo tenso. Num instante você está feito um peixe fisgado, se debatendo para encontrar logo a próxima revista, baixar e ler.
Se você não viu nem leu nada disso, o resumo é o seguinte: O mundo acabou. Está cheio de zumbis. Acompanhe as aventuras do sobrevivente, que tenta levar a vida nesse cenário apocalíptico.
Por enquanto, li vinte revistas. Os desenhos são simples e envolventes. A trama é uma isca tênue em anzol de linha curta, com enredo tenso. Num instante você está feito um peixe fisgado, se debatendo para encontrar logo a próxima revista, baixar e ler.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Narval e o santo de casa
As viagens rápidas de avião acabam por fazer a gente criar alguns hábitos. Eu aperfeiçoei a minha mania de moleskine. É só entrar no avião e eu abro o moleskine. Tenho sempre uma caneta gel preta 0.7 no bolso. E vou desenhando até chegar ao destino. Às vezes nem percebo a moça oferecendo balinha e refrigerante. Também não me incomodo de responder perguntas sobre o desenho. Em geral, são as crianças que perguntam.
_Moço, isso é o quê? - perguntou esse menino. Devia ter uns oito anos. Viajava com a avó.
_É um narval - eu disse. Acho que é assim. Nunca vi nenhum.
_Tem chifre de unicórnio?
_É. Na verdade, dizem que é um dente gigante, não sei direito.
_Parece uma baleia com chifre de unicórnio - disse o garoto.
_E é de marfim. Os chifres são muito valiosos.
_Posso desenhar também?
_Desculpe, mas neste caderno só eu desenho. Mas pode usar essa folha branca.
_Obrigado - era um menino muito educado.
Continuei desenhando. O menino pegou uma caneta com a avó. Não gosto de emprestar canetas. Quando terminei, pouco antes do avião pousar, olhei de esguelha para ver o que o menino havia desenhado. Um unicórnio. Muito bem feito. Muito bem feito até para um adulto. Fiquei boquiaberto. Falei para o menino que era um dos melhores desenhos de unicórnios que eu já havia visto. A avó do menino não foi da mesma opinião. Quando recebeu o desenho, dobrou a folha ao meio, fazendo vinco e guardou na bolsa.
_Ele vive desenhando animais, esse menino. Mas não consegue desenhar pessoas - disse a avó. E depois ela reclamou que ele havia mordido a tampa da caneta.
_Moço, isso é o quê? - perguntou esse menino. Devia ter uns oito anos. Viajava com a avó.
_É um narval - eu disse. Acho que é assim. Nunca vi nenhum.
_Tem chifre de unicórnio?
_É. Na verdade, dizem que é um dente gigante, não sei direito.
_Parece uma baleia com chifre de unicórnio - disse o garoto.
_E é de marfim. Os chifres são muito valiosos.
_Posso desenhar também?
_Desculpe, mas neste caderno só eu desenho. Mas pode usar essa folha branca.
_Obrigado - era um menino muito educado.
Continuei desenhando. O menino pegou uma caneta com a avó. Não gosto de emprestar canetas. Quando terminei, pouco antes do avião pousar, olhei de esguelha para ver o que o menino havia desenhado. Um unicórnio. Muito bem feito. Muito bem feito até para um adulto. Fiquei boquiaberto. Falei para o menino que era um dos melhores desenhos de unicórnios que eu já havia visto. A avó do menino não foi da mesma opinião. Quando recebeu o desenho, dobrou a folha ao meio, fazendo vinco e guardou na bolsa.
_Ele vive desenhando animais, esse menino. Mas não consegue desenhar pessoas - disse a avó. E depois ela reclamou que ele havia mordido a tampa da caneta.
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
"O Natal é triste pros pobres" e a preguiça de google
"O Natal é triste pros pobres".Esse é o título do primeiro conto de John Cheever que li. E tive o enorme de prazer de ler esse conto perto do Natal, depois de ler um artigo do Paulo Francis elogiando o escritor. Cheever se tornou um dos escritores prediletos do Careca desde então. Mas os romances dele são sofisticados demais para o meu pobre mau-gosto. Prefiro as histórias curtas.
O conto é uma brincadeira com o espírito de Natal. Conta a história de um ascensorista de um prédio de apartamentos ricos. Na véspera de Natal, vai contando as suas mazelas e recebendo as migalhas dos moradores. Mas a generosidade é tanta que o ascensorista perde as estribeiras.
Pelo menos é isso que ficou na minha cabeça. Estou tentando encontrar esse livro de contos há duas semanas, mas não há jeito. Esqueci o nome do livro. Sei que a capa é branca, da Companhia das Letras. O problema é que boa parte da minha estante tem a mesma aparência. Se não me engano, o livro se chama "O Mundo das Maçãs", um troço assim. Uma coletânea de histórias curtas que abriu a minha cabeça para uma parte da literatura americana de que ninguém falava. Nada de beatnicks, nada de Bukowski, nada de policiais e nem de ficção científica. Houve uma época em que eu consumia em larga escala os grandes escritores que apareciam na New Yorker. E Cheever era um campeão da revista.
E o que me surpreende é que escritores profundamente originais ainda surjam de vez em quando, como o grande Tibor Fischer, Hornby e Palatchuk. E também me surpreende o quanto os nomes estão ficando cada vez mais complicados e difíceis de soletrar.
Mesmo assim, estou adotando o hábito rudimentar de não gugar. Estou com uma síndrome de google que nem te conto. É que percebi que toda hora eu estava gugando e isso torrou. Cansei de usar essa muleta. Agora, só de pirraça, eu não entro no google. Fico cultivando a dúvida. Será que é isso? Será que não é? E não entro no corredor gugolês. Mas sempre quando estou no auge do meu anti-guguês, vem aquela vacilada básica. Se estou distraído nas minhas convicções pró-dúvidas, acabo gugando. Ô vício.
O conto é uma brincadeira com o espírito de Natal. Conta a história de um ascensorista de um prédio de apartamentos ricos. Na véspera de Natal, vai contando as suas mazelas e recebendo as migalhas dos moradores. Mas a generosidade é tanta que o ascensorista perde as estribeiras.
Pelo menos é isso que ficou na minha cabeça. Estou tentando encontrar esse livro de contos há duas semanas, mas não há jeito. Esqueci o nome do livro. Sei que a capa é branca, da Companhia das Letras. O problema é que boa parte da minha estante tem a mesma aparência. Se não me engano, o livro se chama "O Mundo das Maçãs", um troço assim. Uma coletânea de histórias curtas que abriu a minha cabeça para uma parte da literatura americana de que ninguém falava. Nada de beatnicks, nada de Bukowski, nada de policiais e nem de ficção científica. Houve uma época em que eu consumia em larga escala os grandes escritores que apareciam na New Yorker. E Cheever era um campeão da revista.
E o que me surpreende é que escritores profundamente originais ainda surjam de vez em quando, como o grande Tibor Fischer, Hornby e Palatchuk. E também me surpreende o quanto os nomes estão ficando cada vez mais complicados e difíceis de soletrar.
Mesmo assim, estou adotando o hábito rudimentar de não gugar. Estou com uma síndrome de google que nem te conto. É que percebi que toda hora eu estava gugando e isso torrou. Cansei de usar essa muleta. Agora, só de pirraça, eu não entro no google. Fico cultivando a dúvida. Será que é isso? Será que não é? E não entro no corredor gugolês. Mas sempre quando estou no auge do meu anti-guguês, vem aquela vacilada básica. Se estou distraído nas minhas convicções pró-dúvidas, acabo gugando. Ô vício.
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Elmore Leonard e o novo PC do Careca
Quando eu estou sem paciência de ler literatura que faz pensar, eu leio a literatura que é puro relaxamento. Elmore Leonard, um dos maiores mestres do romance policial, é uma escolha natural desses momentos. Nas duas últimas semanas, estou emplacando uma dobradinha de E.Leonard. Em primeiro lugar, li Cárcere Privado. Na sequência, emendei com Pronto. Agora estou no meio de um terceiro Elmore Leonard. Já li há milênios atrás, vi o filme também. Mesmo assim me divirto.
Estou estreiando hoje, com esse post, um novo computador HP, com o novo Janelas 7. Eles nem mandam CD com os computadores novos. E ao invés daquele monte de livretos, CDs, ofertas, softwares e coiserada, agora é tudo pouco, sem fio, econômico. Nem isopor eles colocam dentro da caixa de papelão. O plástico parece mais biodegradável. Tem pouco papel. Parece que tem menos lixo. A aparência do PC também é mais compacta, pesada, hermética. Ele é mais estreito e mais baixo, esse HD novo. Tem mais luzes, mais neon. Tem um prato de DVD que é vertical. Achei maneiro.
Daqui a alguns anos, vamos comprar monolitos negros hipersensíveis, iguais aos de 2001, de Stanley Kubric. Nossa idéia de futuro é moldada no nosso passado de crianças sonhadoras. Os leitores de Júlio Verne é que começaram essas revoluções.
Eu já quis sonhar o futuro. Hoje, não mais. O que está estampado nos livros é que me alegra. Como as coisas que escreve o Elmore Leonard.
Estou estreiando hoje, com esse post, um novo computador HP, com o novo Janelas 7. Eles nem mandam CD com os computadores novos. E ao invés daquele monte de livretos, CDs, ofertas, softwares e coiserada, agora é tudo pouco, sem fio, econômico. Nem isopor eles colocam dentro da caixa de papelão. O plástico parece mais biodegradável. Tem pouco papel. Parece que tem menos lixo. A aparência do PC também é mais compacta, pesada, hermética. Ele é mais estreito e mais baixo, esse HD novo. Tem mais luzes, mais neon. Tem um prato de DVD que é vertical. Achei maneiro.
Daqui a alguns anos, vamos comprar monolitos negros hipersensíveis, iguais aos de 2001, de Stanley Kubric. Nossa idéia de futuro é moldada no nosso passado de crianças sonhadoras. Os leitores de Júlio Verne é que começaram essas revoluções.
Eu já quis sonhar o futuro. Hoje, não mais. O que está estampado nos livros é que me alegra. Como as coisas que escreve o Elmore Leonard.
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Pimenta no prato dos outros
Eu adoro pimenta. E molho de pimenta também. Não sou um aficcionado, como o Simpson, o Scooby e o Salsicha, mas também me amarro em pimenta. E hoje, na hora do almoço, pedi o molho de pimenta para esquentar um pouco o bife com cebolas, o arroz com feijão e milho, a couve refogada e picada, a vagem e outras coisitas que desfrutamos. A Rose às vezes capricha. A Rose é a cozinheira-babá-faxineira e graduanda em assistência social que trabalha aqui em casa. Ela está cada vez mais perto do diploma. E distante dos velhos e bons serviços.
_Rose, por favor, traga aquele molho de pimenta - eu pedi.
_Está congelada, seu Careca - explicou a Rose, sacudindo o vidro do molho de pimenta na cozinha. Estava branco feito as melhores vodkas.
_Ponha no micro-ondas, oras - eu disse, bancando o valentão sabe-tudo.
Minha mulher olhou para mim, mas não falou nada. Meus filhos também olharam para mim, mas falaram de outras coisas. Num instante eu me distraí, falando de outros assuntos importantes.
_Puxa vida, o Rafael parece que está roxo. Não ele está bem roxinho, o que foi isso - eu perguntei.
_Foi canetinha - explicou uma das crianças. Essa é a primeira segunda-feira do período de férias, mas já pintaram o cachorrinho de roxo com canetinha.
_Expliquei a eles que não pode fazer isso - disse a minha mulher, me estendendo o vidro do molho de pimenta. Estava quente no fundo e gelado na parte de cima. Como sempre faço, dei uma sacudida básica no molho de pimenta destampei e borrifei delicadamente sobre o bife.
_Minha nossa! - disse o meu filho.
_Santa Cacilda Becker e Venerável Bibi Ferreira - eu disse, olhando para o vermelho vivo do molho de pimenta no meu prato.
_Pai, você fez uma piscina de pimenta!
Obviamente, depois que aconteceu, todos me lembraram que não se deve colocar o vidro do molho de pimenta no micro-ondas. O plástico que tem aquele furinho no centro se expande e depois encolhe, perde a firmeza.
Recoloquei a tampa de plástico no vidro e rosqueei a tampa externa, verde. Fui para o trabalho depois do almoço e nem pensei mais nisso.
Quando voltei, na hora do jantar, aconteceu novamente. Mas desta vez com o prato de sopa da minha mulher. A tampa de plástico com o furinho foi para o lixo, definitivamente. E a pimenta, excelente, está bem no finzinho.
_Rose, por favor, traga aquele molho de pimenta - eu pedi.
_Está congelada, seu Careca - explicou a Rose, sacudindo o vidro do molho de pimenta na cozinha. Estava branco feito as melhores vodkas.
_Ponha no micro-ondas, oras - eu disse, bancando o valentão sabe-tudo.
Minha mulher olhou para mim, mas não falou nada. Meus filhos também olharam para mim, mas falaram de outras coisas. Num instante eu me distraí, falando de outros assuntos importantes.
_Puxa vida, o Rafael parece que está roxo. Não ele está bem roxinho, o que foi isso - eu perguntei.
_Foi canetinha - explicou uma das crianças. Essa é a primeira segunda-feira do período de férias, mas já pintaram o cachorrinho de roxo com canetinha.
_Expliquei a eles que não pode fazer isso - disse a minha mulher, me estendendo o vidro do molho de pimenta. Estava quente no fundo e gelado na parte de cima. Como sempre faço, dei uma sacudida básica no molho de pimenta destampei e borrifei delicadamente sobre o bife.
_Minha nossa! - disse o meu filho.
_Santa Cacilda Becker e Venerável Bibi Ferreira - eu disse, olhando para o vermelho vivo do molho de pimenta no meu prato.
_Pai, você fez uma piscina de pimenta!
Obviamente, depois que aconteceu, todos me lembraram que não se deve colocar o vidro do molho de pimenta no micro-ondas. O plástico que tem aquele furinho no centro se expande e depois encolhe, perde a firmeza.
Recoloquei a tampa de plástico no vidro e rosqueei a tampa externa, verde. Fui para o trabalho depois do almoço e nem pensei mais nisso.
Quando voltei, na hora do jantar, aconteceu novamente. Mas desta vez com o prato de sopa da minha mulher. A tampa de plástico com o furinho foi para o lixo, definitivamente. E a pimenta, excelente, está bem no finzinho.
O clima mudou
Eu não sei nada sobre clima. Não sei nada sobre o tempo, também. Mas alguma coisa mudou e, em alguns lugares, foi para pior. Mas nem sempre. Veja o clima político, por exemplo. Altas temperaturas com possibilidades de mais chuvas e trovoadas no Distrito Federal. Muitos torcem para que raios atinjam alguns corruptos mais notórios. Eu também. O mar não está para meias e panetones, mas o clima é bom.
No Supremo Tribunal, nuvens negras deveriam pairar sobre as cabeças dos ministros que decidiram manter a censura sobre o Estadão. Daqui a pouco, as pautas serão decididas nos gabinetes dos juízes. Predominarão notícias sobre o clima? Tenho as minhas dúvidas. Mas nem vale mais a pena comentar decisão do Supremo. As supremas cabeças estão nas nuvens, há muito tempo. O clima é ruim.
No plano internacional, depois das sapatadas, agora é hora da chuva de porrada nos políticos boquirrotos. Começaram pelo italiano Berlusconi, que ficou conhecido por nocautear profissionais do sexo de todos os sexos. Torço para que a moda chegue aqui, já tenho uma lista de políticos que, na minha modesta opinião, deveriam ser nocauteados em público. Mas acho que vamos precisar importar boxeadores cubanos para dar conta do recado. O clima é ameno, até.
Desde já aviso que não sou a favor nem contra as mudanças climáticas. Elas acontecem, é tudo. Acho que a humanidade, tadinha, não está com essa bola toda. Não somos capazes de alterar a temperatura do planeta. Nosso nível de flatulência ainda não é elevado o bastante, embora alguns indivíduos da política já atinjam marcas elefantinas, diariamente. Somos, no entanto, capazes de provocar nossa própria destruição e também das espécies que nos circundam. Em geral, destruímos o que mais gostamos. Gente, água, árvore, bicho. O clima é de morte, eu sei.
O modo como as coisas estão indo é que não é legal. Falta tempo pra tudo. E não há clima para otimismo. As coisas, vistas do avesso, parecem fazer mais sentido. Daí porque não estranhei que o Nobel da Paz fosse para o presidente de um país que continua em guerra, que vai mandar mais 30 mil soldados para a guerra e que não fala mais em parar com a guerra. Ao contrário, deixa cada vez mais claro que se não der, pau vai comer. Está certo? Está errado? O clima é de não se discute.
Em todos os lugares, o pragmatismo vence a utopia de um mundo mais equilibrado, com mais oportunidades para todos. Estamos mais e mais distantes do “brotherhood of men”. E nem estou me lamentando, sempre achei essa conversa meio invertida. O clima é blasé.
No Supremo Tribunal, nuvens negras deveriam pairar sobre as cabeças dos ministros que decidiram manter a censura sobre o Estadão. Daqui a pouco, as pautas serão decididas nos gabinetes dos juízes. Predominarão notícias sobre o clima? Tenho as minhas dúvidas. Mas nem vale mais a pena comentar decisão do Supremo. As supremas cabeças estão nas nuvens, há muito tempo. O clima é ruim.
No plano internacional, depois das sapatadas, agora é hora da chuva de porrada nos políticos boquirrotos. Começaram pelo italiano Berlusconi, que ficou conhecido por nocautear profissionais do sexo de todos os sexos. Torço para que a moda chegue aqui, já tenho uma lista de políticos que, na minha modesta opinião, deveriam ser nocauteados em público. Mas acho que vamos precisar importar boxeadores cubanos para dar conta do recado. O clima é ameno, até.
Desde já aviso que não sou a favor nem contra as mudanças climáticas. Elas acontecem, é tudo. Acho que a humanidade, tadinha, não está com essa bola toda. Não somos capazes de alterar a temperatura do planeta. Nosso nível de flatulência ainda não é elevado o bastante, embora alguns indivíduos da política já atinjam marcas elefantinas, diariamente. Somos, no entanto, capazes de provocar nossa própria destruição e também das espécies que nos circundam. Em geral, destruímos o que mais gostamos. Gente, água, árvore, bicho. O clima é de morte, eu sei.
O modo como as coisas estão indo é que não é legal. Falta tempo pra tudo. E não há clima para otimismo. As coisas, vistas do avesso, parecem fazer mais sentido. Daí porque não estranhei que o Nobel da Paz fosse para o presidente de um país que continua em guerra, que vai mandar mais 30 mil soldados para a guerra e que não fala mais em parar com a guerra. Ao contrário, deixa cada vez mais claro que se não der, pau vai comer. Está certo? Está errado? O clima é de não se discute.
Em todos os lugares, o pragmatismo vence a utopia de um mundo mais equilibrado, com mais oportunidades para todos. Estamos mais e mais distantes do “brotherhood of men”. E nem estou me lamentando, sempre achei essa conversa meio invertida. O clima é blasé.
domingo, 13 de dezembro de 2009
De olhos bem fechados
Não é sobre o filme do Rober Altman. Meus olhos estão melhores, com tanto antibiótico que estou tomando. Mas remédio me deixa indisposto.
sábado, 12 de dezembro de 2009
Os olhos do Monstro Careca
Estou com os olhos inchados. Muito inchados. Amanheci na quinta-feira com os olhos irritados e embaçados. Quando olhei no espelho, levei um susto.
_Santa Limonada Azeda do Batman! - eu disse, quando vi o Monstro Careca refletido no espelho.
Minha mulher veio ver. Viu. Disfarçou uma careta.
_Está feio,heim!- ela disse.
Estava feio. E piorou. Na sexta-feira, fui ao médico pela terceira vez, nos últimos três meses. Ele também achou que a coisa estava feia.
_O que é que provoca isso, doutor - eu perguntei.
Ele enrolou. Ninguém sabe direito. Só se sabe que o terçol é a inflamação que resulta da descamação da pele abaixo dos cílios, que acaba por entupir as glândulazinhas que lubrificam os olhos. Não se sabe direito o que provoca a descamação da pele. Só se recomenda lavar os cílios com shampoo. E também tomar antibióticos, para combater os sintomas.
_Vou te receitar uma pomada, um colírio, um comprimido e shampoo para os cílios - disse o médico.
_Vai ser a primeira vez que eu vejo um shampoo numa receita - eu disse, rindo.
_Não, eu não vou colocar o shampoo na receita. Shampoo não é remédio - disse o doutor, entediado.
_Tudo bem. Estou só brincando.
_Queria manter o bom-humor de olhos inchados - disse o oftalmologista.
_É uma questão de ver a coisa com bons olhos - eu disse. Não foi o melhor dos trocadilhos, mas ele riu também.
À noite, minha filha, de cinco anos, finalmente reparou nos meus olhos. Os óculos que eu uso disfarçam um pouco o problema do terçol.
_Paiê, o que é isso no seu olho - ela perguntou.
_Papai está virando um Moonnnstroooo - eu disse, tirando os óculos.
Ela se encolheu e começou a chorar.
_É brincadeira, filha. É só uma coisa que vai passar - expliquei, abraçando a minha princesinha.
Mas ela ficou encolhida, me evitando.
Meu filho, no entanto, adorou a idéia.
_Monstro, uêbaaa! - e começamos a andar como os zumbis e múmias dos desenhos do Scooby Doo.
_Moonstroo, mooonstroooo! - as pernas duras, como as múmias dos desenhos, que não conseguem dobrar os joelhos. Como as bonecas Barbie, que minha filha adora. Opa.
_Eu não vou virar Monstro, filha. Amanhã ou depois, meus olhos já estarão normais. E míopes.
Mesmo assim, ela não quis mais saber de abraços comigo. Só para o Rafael, o cãozinho shitsu que disputa comigo os carinhos da princesa daqui de casa. Às vezes eu abraço a minha filha e sinto o cheiro do Rafael nos cachinhos dourados. Aí entendo alguns dos sofrimentos de Otelo.
Hoje de manhã, o terçol arrefeceu um pouco. E agora mesmo, quando escrevo essas linhas, minha filha se aproximou choramingando.
_Paiê, bati o cotovelo.
Foi um longo abraço. Durante ele, eu repeti dezenas de vezes que a dor ia passar. Depois ela disse que meus olhos estavam melhores.
_Paiê, eu sei que você não vai virar monstro - ela me falou, com uma dúvida ainda surgindo lá atrás, na entonação do voz.
_Vou siiiiiimmmmmmmm - eu disse. E saí andando atrás dela, como um Frankenstein de joelhos não-dobráveis.
_Santa Limonada Azeda do Batman! - eu disse, quando vi o Monstro Careca refletido no espelho.
Minha mulher veio ver. Viu. Disfarçou uma careta.
_Está feio,heim!- ela disse.
Estava feio. E piorou. Na sexta-feira, fui ao médico pela terceira vez, nos últimos três meses. Ele também achou que a coisa estava feia.
_O que é que provoca isso, doutor - eu perguntei.
Ele enrolou. Ninguém sabe direito. Só se sabe que o terçol é a inflamação que resulta da descamação da pele abaixo dos cílios, que acaba por entupir as glândulazinhas que lubrificam os olhos. Não se sabe direito o que provoca a descamação da pele. Só se recomenda lavar os cílios com shampoo. E também tomar antibióticos, para combater os sintomas.
_Vou te receitar uma pomada, um colírio, um comprimido e shampoo para os cílios - disse o médico.
_Vai ser a primeira vez que eu vejo um shampoo numa receita - eu disse, rindo.
_Não, eu não vou colocar o shampoo na receita. Shampoo não é remédio - disse o doutor, entediado.
_Tudo bem. Estou só brincando.
_Queria manter o bom-humor de olhos inchados - disse o oftalmologista.
_É uma questão de ver a coisa com bons olhos - eu disse. Não foi o melhor dos trocadilhos, mas ele riu também.
À noite, minha filha, de cinco anos, finalmente reparou nos meus olhos. Os óculos que eu uso disfarçam um pouco o problema do terçol.
_Paiê, o que é isso no seu olho - ela perguntou.
_Papai está virando um Moonnnstroooo - eu disse, tirando os óculos.
Ela se encolheu e começou a chorar.
_É brincadeira, filha. É só uma coisa que vai passar - expliquei, abraçando a minha princesinha.
Mas ela ficou encolhida, me evitando.
Meu filho, no entanto, adorou a idéia.
_Monstro, uêbaaa! - e começamos a andar como os zumbis e múmias dos desenhos do Scooby Doo.
_Moonstroo, mooonstroooo! - as pernas duras, como as múmias dos desenhos, que não conseguem dobrar os joelhos. Como as bonecas Barbie, que minha filha adora. Opa.
_Eu não vou virar Monstro, filha. Amanhã ou depois, meus olhos já estarão normais. E míopes.
Mesmo assim, ela não quis mais saber de abraços comigo. Só para o Rafael, o cãozinho shitsu que disputa comigo os carinhos da princesa daqui de casa. Às vezes eu abraço a minha filha e sinto o cheiro do Rafael nos cachinhos dourados. Aí entendo alguns dos sofrimentos de Otelo.
Hoje de manhã, o terçol arrefeceu um pouco. E agora mesmo, quando escrevo essas linhas, minha filha se aproximou choramingando.
_Paiê, bati o cotovelo.
Foi um longo abraço. Durante ele, eu repeti dezenas de vezes que a dor ia passar. Depois ela disse que meus olhos estavam melhores.
_Paiê, eu sei que você não vai virar monstro - ela me falou, com uma dúvida ainda surgindo lá atrás, na entonação do voz.
_Vou siiiiiimmmmmmmm - eu disse. E saí andando atrás dela, como um Frankenstein de joelhos não-dobráveis.
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
A propósito de nada
Uma vez a turma combinou de passar o reveillon na Ilha Grande, no Rio de Janeiro. Não pude ir, estava escalado para o trabalho. Eles ficaram acontonados num hotel japa que tem por lá e gostaram muito.
_Foi maravilhoso, Careca. Você perdeu - alguns deles me disseram.
_Foi lindo, Careca. Você devia ter ido com a gente - outros falaram.
Aí alguém me contou uma estranha história sobre um par de chinelos perdidos na areia. Outra pessoa me falou que não gostou muito da comida do hotel. Uma terceira me disse que a cama, de tatame, não era das mais confortáveis. Tinha muito mosquito. Não havia nada para fazer. Era muito isolado. Choveu horrores. Foi atacado por um monte de abelhas assassinas. Queimou as solas dos pés sem o par de chinelos.
Nada disso arrefeceu a minha vontade de ter ido naquela viagem. Se eu pudesse retroceder no tempo, eu arranjaria um jeito de estar naquela viagem, com a turma. Nem pela farra, nem nada. Só pela companhia.
Quando vai chegando o final do ano, eu fico nostálgico e com uma vontade louca de ir para a beira do mar. Fazer o quê.
_Foi maravilhoso, Careca. Você perdeu - alguns deles me disseram.
_Foi lindo, Careca. Você devia ter ido com a gente - outros falaram.
Aí alguém me contou uma estranha história sobre um par de chinelos perdidos na areia. Outra pessoa me falou que não gostou muito da comida do hotel. Uma terceira me disse que a cama, de tatame, não era das mais confortáveis. Tinha muito mosquito. Não havia nada para fazer. Era muito isolado. Choveu horrores. Foi atacado por um monte de abelhas assassinas. Queimou as solas dos pés sem o par de chinelos.
Nada disso arrefeceu a minha vontade de ter ido naquela viagem. Se eu pudesse retroceder no tempo, eu arranjaria um jeito de estar naquela viagem, com a turma. Nem pela farra, nem nada. Só pela companhia.
Quando vai chegando o final do ano, eu fico nostálgico e com uma vontade louca de ir para a beira do mar. Fazer o quê.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Quê qui há, velhinho
Ainda estou improvisando com o teclado do laptop da minha mulher. Isso explica a ausência total do ponto de interrogação. Inclusive no título desse post. Nunca consegui encontrar o ponto de interrogação no teclado do laptop. É bem verdade que também não procuro com muita paciência. Acho que posso passar sem o ponto de interrogação de vez em quando.
Vejam a situação da porrada na multidão que protestava, pacificamente, contra a corrupção no DF. As imagens são chocantes. Ninguém merece. Felizmente, no dia, evitei voltar para casa no almoço, senão teria sido um espectador preso no trânsito local. Mas posso escrever sem a menor hesitação quanto à pontuação que a PM não poderia ter distribuído porretadas e feito as cavaladas que fez. Sem vírgula nenhuma.
O governador se desfiliou, o que também é uma coisa que não exige interrogação. Nem ponto. Acho que deve continuar o processo e entregar o bastão.
Mas algumas dúvidas permanecem. O uso de palavras de baixo calão em discursos, por exemplo. Acho mais apropriado em comediantes. Dercy Gonçalves gostava muito de palavras de baixo calão. Eu não gosto. Acho deselegante. E também gosto de inventar eufemismos. O que foi dito no Maranhão, por exemplo, é "aquilo que o gato enterra". Ou "aquilo que o elefante não cheira". "O que bóia". Mesmo assim, é muita escatológico, né.
Né. Puxa vida, ponto de interrogação é essencial para sujeitos como eu, né.
Vejam a situação da porrada na multidão que protestava, pacificamente, contra a corrupção no DF. As imagens são chocantes. Ninguém merece. Felizmente, no dia, evitei voltar para casa no almoço, senão teria sido um espectador preso no trânsito local. Mas posso escrever sem a menor hesitação quanto à pontuação que a PM não poderia ter distribuído porretadas e feito as cavaladas que fez. Sem vírgula nenhuma.
O governador se desfiliou, o que também é uma coisa que não exige interrogação. Nem ponto. Acho que deve continuar o processo e entregar o bastão.
Mas algumas dúvidas permanecem. O uso de palavras de baixo calão em discursos, por exemplo. Acho mais apropriado em comediantes. Dercy Gonçalves gostava muito de palavras de baixo calão. Eu não gosto. Acho deselegante. E também gosto de inventar eufemismos. O que foi dito no Maranhão, por exemplo, é "aquilo que o gato enterra". Ou "aquilo que o elefante não cheira". "O que bóia". Mesmo assim, é muita escatológico, né.
Né. Puxa vida, ponto de interrogação é essencial para sujeitos como eu, né.
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
O piloto sumiu
Sempre tive fixação por aeromodelos. Montei dezenas de aeromodelos e ainda existe um monte deles espalhados aqui em casa. De vez em quando, a Rose(babá-cozinheira-graduanda-faxineira-passadeira-faz-tudo) vai tirar o pó de alguma estante e destroça uma asa, destrói um trem-de-pouso. Eu não ligo muito. É bom ter um pretexto para remontar um aeromodelo estático, consertar um pedaço, retocar a pintura. Mas os planadores, muitas vezes, não têm conserto. Os aviões de balsa e papel de seda com dope, de tão ressecados, se espatifam sozinhos. Ás vezes um menino se distrai e quebra um Spitfire. Eu conserto. Às vezes some uma roda. Depois eu a encontro, meses depois. Mas já não serve mais, pois substituí o trem de pouso por uma base para exposição em vôo, ou simplesmente desisti do aviãozinho. Tenho uma caixa pequena, só de pedaços de aviões.
Só tenho muito ciúme de um pequeno avião que pintei caprichosamente de azul escuro. É um Corsair. Do tipo usado em porta-aviões, com asas em ângulo e dobráveis. É um belo aeromodelo. Outro dia eu o remontei, cuidadosamente, usando um removedor de cola, lixando partes adaptadas. Pintei novamente, com retoques caprichados. Encontrei novos decalques e apliques. Ficou legal. Só não encontrei o pequeno piloto.
Havia um pequeno piloto dentro do aeromodelo estático. Tirei para retocar a pintura, para pintar o uniforme com a cor certa do uniforme, um bege amarronzado. Na hora de pintar, não encontrei mais o boneco.
Terminei os retoques e dei o trabalho por terminado. Isso foi há uma semana. Somente hoje me lembrei que Rafael, o cãozinho shitsu daqui de casa, me observava atentamente enquanto fazia os reparos no aeromodelo.
Caso tenha ocorrido o que penso que ocorreu, já que o bicho gosta de roer tudo e qualquer coisa, terei de providenciar um funeral digno para o piloto, caso encontre seus despojos.
Só tenho muito ciúme de um pequeno avião que pintei caprichosamente de azul escuro. É um Corsair. Do tipo usado em porta-aviões, com asas em ângulo e dobráveis. É um belo aeromodelo. Outro dia eu o remontei, cuidadosamente, usando um removedor de cola, lixando partes adaptadas. Pintei novamente, com retoques caprichados. Encontrei novos decalques e apliques. Ficou legal. Só não encontrei o pequeno piloto.
Havia um pequeno piloto dentro do aeromodelo estático. Tirei para retocar a pintura, para pintar o uniforme com a cor certa do uniforme, um bege amarronzado. Na hora de pintar, não encontrei mais o boneco.
Terminei os retoques e dei o trabalho por terminado. Isso foi há uma semana. Somente hoje me lembrei que Rafael, o cãozinho shitsu daqui de casa, me observava atentamente enquanto fazia os reparos no aeromodelo.
Caso tenha ocorrido o que penso que ocorreu, já que o bicho gosta de roer tudo e qualquer coisa, terei de providenciar um funeral digno para o piloto, caso encontre seus despojos.
Black Drawing Chalks
"My Favorite Way" by Black Drawing Chalks (OFFICIAL) from Marck Al on Vimeo.
Tentativa de colocar um vídeo ótimo de uma excelente banda de rock de ... Goiânia.
Dica excelente do Gravetos e Berlotas, aí do lado.
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
Uma campanha honesta
Sou um ingênuo. Gostaria de acreditar que se todos os candidatos recebessem dinheiro público para suas campanhas não haveria corrupção. Gostaria de acreditar que se os partidos fossem fortalecidos, não haveria troca-troca de partidos nem legendas de aluguel. Gostaria de acreditar que a existência de leis mais duras, com a previsão de penas severas, levaria alguém a pensar duas vezes antes de aceitar “panetones”.
Mas não acredito. Políticos são pessoas. E as pessoas agem de acordo com suas vontades e valores. Ninguém é levado a aceitar propina. Ninguém é corrupto porque está sendo chantageado. Ao contrário. Propina só aceita quem quer. É o corrupto que faz chantagem. Corruptor e corrompido são farinha do mesmo saco, ambos são corruptos.
As coisas são simples. As linhas retas existem. Existe o preto. Existe o branco. Quem pega pacote de dinheiro vivo para custear despesa de campanha não está cruzando uma nebulosa linha cinzenta. Está agindo de forma errada, criminosa.
É óbvio. Cristalino. Ululante.
Sou um ingênuo. Gostaria de acreditar que se o voto fosse distrital as coisas seriam diferentes. Gostaria de acreditar que se houvesse mais fiscalização antes e depois das eleições haveria uma diminuição do número de políticos corruptos. Gostaria de acreditar que se fosse exigida ficha limpa dos candidatos haveria redução da ladroagem e da safadeza na política.
Também gostaria de acreditar que a culpa é da lei de licitações, do excesso de arbítrio dos tribunais de contas, da fraqueza das nossas instituições, da ausência da reforma política, da falta do voto distrital, da história da nossa formação cultural e da baixa escolaridade do povo. Mas não acredito em nada disso.
Acho que a culpa da corrupção é de quem é corrupto. E com o corrupto deve ficar. Simples assim. Que pague, aqui, as penas pelos seus erros.
Sou um ingênuo, eu sei. Mesmo assim, parece que a gente honesta está calada ou não tem ninguém para atirar a primeira pedra.
Ou talvez estejam faltando pedras. Por via das dúvidas, ando com uma no bolso.
De qualquer maneira, no ano que vem, eu gostaria de ver um candidato ter a coragem de dizer todos os dias, na campanha da TV: "Olha, gente, até hoje nós gastamos tanto com a campanha. E está tudo registrado no banco tal. Não usamos dinheiro vivo. É tudo DOC. Não tem papel moeda de igreja, de culto, de grupo. Não tem grana de doleiro. Não tem bufunfa de empréstimo no Paraguai. Perfeitamente auditável e tudo na Internet. E tem mais: eu sou honesto.
Sou um ingênuo. Eu disse.
Mas não acredito. Políticos são pessoas. E as pessoas agem de acordo com suas vontades e valores. Ninguém é levado a aceitar propina. Ninguém é corrupto porque está sendo chantageado. Ao contrário. Propina só aceita quem quer. É o corrupto que faz chantagem. Corruptor e corrompido são farinha do mesmo saco, ambos são corruptos.
As coisas são simples. As linhas retas existem. Existe o preto. Existe o branco. Quem pega pacote de dinheiro vivo para custear despesa de campanha não está cruzando uma nebulosa linha cinzenta. Está agindo de forma errada, criminosa.
É óbvio. Cristalino. Ululante.
Sou um ingênuo. Gostaria de acreditar que se o voto fosse distrital as coisas seriam diferentes. Gostaria de acreditar que se houvesse mais fiscalização antes e depois das eleições haveria uma diminuição do número de políticos corruptos. Gostaria de acreditar que se fosse exigida ficha limpa dos candidatos haveria redução da ladroagem e da safadeza na política.
Também gostaria de acreditar que a culpa é da lei de licitações, do excesso de arbítrio dos tribunais de contas, da fraqueza das nossas instituições, da ausência da reforma política, da falta do voto distrital, da história da nossa formação cultural e da baixa escolaridade do povo. Mas não acredito em nada disso.
Acho que a culpa da corrupção é de quem é corrupto. E com o corrupto deve ficar. Simples assim. Que pague, aqui, as penas pelos seus erros.
Sou um ingênuo, eu sei. Mesmo assim, parece que a gente honesta está calada ou não tem ninguém para atirar a primeira pedra.
Ou talvez estejam faltando pedras. Por via das dúvidas, ando com uma no bolso.
De qualquer maneira, no ano que vem, eu gostaria de ver um candidato ter a coragem de dizer todos os dias, na campanha da TV: "Olha, gente, até hoje nós gastamos tanto com a campanha. E está tudo registrado no banco tal. Não usamos dinheiro vivo. É tudo DOC. Não tem papel moeda de igreja, de culto, de grupo. Não tem grana de doleiro. Não tem bufunfa de empréstimo no Paraguai. Perfeitamente auditável e tudo na Internet. E tem mais: eu sou honesto.
Sou um ingênuo. Eu disse.
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
Uma árvore de Natal caprichada
Terminamos de montar, finalmente, a árvore de Natal daqui de casa. É daquelas chinesas, compramos há uns cinco anos. E enchemos de bolas e enfeites baratos. Ela brilha, pisca e reluz, com dezenas de luzinhas piscantes. Minha mulher comprou guirlandas douradas. E estrelas. Ficou uma árvore super-carregada e kitsch. Mas ainda assim muito bonita. Os olhos das crianças brilhando quando a árvore está acesa é que foram determinantes para os enfeites. E também, é claro, o Rafael.
Como todos da minha kombi de leitores sabem, o Rafael é o cãozinho shitsu daqui de casa. Foi o presente de aniversário da minha filha, em setembro. Rafa, como o chamamos na intimidade do lar, já completou 4 meses. E agora tem uns 35 centímetros. Já consegue pular para o sofá. É um bebê brincalhão e roedor. Ele adora um canto de mesa. Uma perna de cadeira. Canto de estante.
Nós fingimos que não ligamos. E Rafa finge que não sabe que nós controlamos a vontade de espancá-lo com o jornal enrolado. Nós fazemos carinho no Rafa. E ele finge que não percebe que estamos controlando o instinto selvagem e assassino de vingarmos os móveis e demais prejuízos mobiliários. Rafa é uma espécie de roedor canino. Mas alguém disse que é melhor fingir que não nos importamos, senão ele roerá qualquer coisa sempre que desejar chamar a atenção.
Por isso, nós montamos a árvore de Natal numa mesinha de azulejos que a minha mulher adora. Foi a maneira que encontramos de evitar que o Rafa se pendure numa guirlanda e roa uma bola da árvore de Natal, ou uma lâmpada chinesa. Se bem que um choquinho não faria mal ao Rafa...
Como todos da minha kombi de leitores sabem, o Rafael é o cãozinho shitsu daqui de casa. Foi o presente de aniversário da minha filha, em setembro. Rafa, como o chamamos na intimidade do lar, já completou 4 meses. E agora tem uns 35 centímetros. Já consegue pular para o sofá. É um bebê brincalhão e roedor. Ele adora um canto de mesa. Uma perna de cadeira. Canto de estante.
Nós fingimos que não ligamos. E Rafa finge que não sabe que nós controlamos a vontade de espancá-lo com o jornal enrolado. Nós fazemos carinho no Rafa. E ele finge que não percebe que estamos controlando o instinto selvagem e assassino de vingarmos os móveis e demais prejuízos mobiliários. Rafa é uma espécie de roedor canino. Mas alguém disse que é melhor fingir que não nos importamos, senão ele roerá qualquer coisa sempre que desejar chamar a atenção.
Por isso, nós montamos a árvore de Natal numa mesinha de azulejos que a minha mulher adora. Foi a maneira que encontramos de evitar que o Rafa se pendure numa guirlanda e roa uma bola da árvore de Natal, ou uma lâmpada chinesa. Se bem que um choquinho não faria mal ao Rafa...
domingo, 6 de dezembro de 2009
Mais um crash
Pela terceira vez neste ano, meu PC foi para as cucuias. Está ficando cansativo recuperar arquivos, reintroduzir rotinas. Como sempre, isso acontece quando o retrabalho está quase concluído. Graças aos sucessivos crashes, não consegui concluir o livreto "O melhor do caminho do Careca", um pdf que pretendo disponibilizar para download. Vai ficar para o ano que vem.
Agradeço às dezenas de pessoas que mandaram e-mails preocupados com a falta de atualização do blog. A partir de segunda-feira, a normalidade estará retomada com o retorno do PC. Por hora, escrevo com a ajuda do laptop da minha mulher.
Agradeço às dezenas de pessoas que mandaram e-mails preocupados com a falta de atualização do blog. A partir de segunda-feira, a normalidade estará retomada com o retorno do PC. Por hora, escrevo com a ajuda do laptop da minha mulher.
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Tsunami de lama atinge o DF
Pessoal, o tsunami de lama no Distrito Federal é estarrecedor. Se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão!
domingo, 29 de novembro de 2009
O Careca e o Planeta 51
Fomos ao cinema neste sábado, com as crianças a bordo. Um desenho muito louco. Um astronauta humano visita um planeta onde os alienígenas se comportam como se fossem os americanos em 1951. Muito louco e divertido.
No desenho animado, os alienígenas do Planeta 51 morrem de medo dos humanos porque nós seríamos comedores de cérebro.
É verdade.
No desenho animado, os alienígenas do Planeta 51 morrem de medo dos humanos porque nós seríamos comedores de cérebro.
É verdade.
sábado, 28 de novembro de 2009
Eu sou o que sou
Graças à Franka e também às maravilhas das tecnologias modernas, consegui encontrar a minha verdadeira face em outro.
Descobri que eu sou a cara do Barry Manilow de antigamente, só que no presente e um pouco mais sem cabelo.
Veja aí em cima a simulação computadorizada de como eu poderia ser encontrado e facilmente reconhecido pela minha crescente Kombi de Leitores.
Valeu demais, Franka!
Compras de Natal genéricas
Este ano nós decidimos que não vamos ser atropelados pelo tempo e que vamos caprichar nas compras de Natal. Nada de comprar presentes em série, como quase sempre fizemos. Você sabe, entrar numa loja e comprar logo um monte de presentes, sem personalização, como quem cumpre uma obrigação. No ano passado, eu, por exemplo, resolvi a maior parte dos presentes masculinos numa loja de roupas. É bem verdade que aproveitei uma promoção excelente de camisetas. E também é bem verdade que durante o ano eu vi as camisetas várias vezes, sinal de que as pessoas gostaram.
Mesmo assim, eu e a minha mulher decidimos partir para a "customização" total e absoluta. Nada de repetir sequer o tipo de presente. Se um cunhado ganhar uma camiseta, o outro não póde ganhar camiseta. Se uma sogra ganhar vestido, os vestidos estarão vetados para a outra sogra. E assim por diante. Originalidade, especificidade, total fitness, no acochambration.
Para dar tempo, decidimos começar as compras de Natal neste sábado. E começamos pelos presentes das crianças.
_Amor, pode repetir brinquedo genérico?
_Brinquedo no sentido genérico de brinquedo, pode. O que não pode é comprar bola de futebol pra todo mundo.
_E pode uma bola de futebol para um, bola de basquete para outro?...
_Não, claro que não, né Careca.
_E Lego?
_Lego é bem genérico.
_Então acho que vamos terminar essas compras rapidinho. As crianças adoram Lego.
Isso foi antes de chegarmos no shopping. A coisa não estava lotada. Estava prá lá de lotada. E os preços pareciam ter sido alavancados pelos temores de Dubai. Eu levantei as duas mãos bem alto ao entrar na loja, para mostrar que não ia reagir. Os vendedores não acharam graça. Mas o chegar nas prateleira dos brinquedos Lego, minhas mãos, involuntariamente, foram atraídas para o alto.
_Eu me rendo. Sem violência. Sou de paz - eu dizia, olhando os preços nas etiquetas.
Talvez a minha personalidade seja do tipo genérica, anti-customização.
Mesmo assim, eu e a minha mulher decidimos partir para a "customização" total e absoluta. Nada de repetir sequer o tipo de presente. Se um cunhado ganhar uma camiseta, o outro não póde ganhar camiseta. Se uma sogra ganhar vestido, os vestidos estarão vetados para a outra sogra. E assim por diante. Originalidade, especificidade, total fitness, no acochambration.
Para dar tempo, decidimos começar as compras de Natal neste sábado. E começamos pelos presentes das crianças.
_Amor, pode repetir brinquedo genérico?
_Brinquedo no sentido genérico de brinquedo, pode. O que não pode é comprar bola de futebol pra todo mundo.
_E pode uma bola de futebol para um, bola de basquete para outro?...
_Não, claro que não, né Careca.
_E Lego?
_Lego é bem genérico.
_Então acho que vamos terminar essas compras rapidinho. As crianças adoram Lego.
Isso foi antes de chegarmos no shopping. A coisa não estava lotada. Estava prá lá de lotada. E os preços pareciam ter sido alavancados pelos temores de Dubai. Eu levantei as duas mãos bem alto ao entrar na loja, para mostrar que não ia reagir. Os vendedores não acharam graça. Mas o chegar nas prateleira dos brinquedos Lego, minhas mãos, involuntariamente, foram atraídas para o alto.
_Eu me rendo. Sem violência. Sou de paz - eu dizia, olhando os preços nas etiquetas.
Talvez a minha personalidade seja do tipo genérica, anti-customização.
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
O sucesso da educação moderna
Encontro o meu irmão na frente da sala de aula. Nossos filhos estudam no mesma escola nem-tão-esotérica-assim. Ele me conta que os seus dois filhos mais velhos entraram de férias nessa sexta-feira.
_Foi um prêmio para os garotos que tiraram nota maior do que 85 - ele me disse, encabulado.
_Uau, que legal - eu disse, sem entender a encabulação.
_O problema é que só ficamos sabendo essa semana, não deu tempo de planejar nada.
_Entendi. Duas semanas de ócio total e uma energia exorbitante de pré-adolescentes. É terrível.
_É. E como não estamos de férias, vou ter que dar tratos à bola para arrumar umas atividades para os meninos.
Quando eu era menino, dedicava boa parte das férias a ler. Nunca encarei a leitura ou a escrita como punição. Sempre foram atividades muito prazerosas, até hoje o tempo voa quando escrevo ou leio. Aí me lembrei de como meu pai fez todos nós gostarmos de ler. Primeiro, manteve pelo menos uma estante cheia de livros em casa - ninguém podia ficar sem ter o que ler, é alimento para o espírito. Segundo, meu pai lia na presença das crianças e sempre estudava muito(até hoje). Terceiro - meu pai fazia do livro uma recompensa. Quarto - ele mantinha alguns livros escolhidos fora do alcance, só para atiçar a curiosidade. Quinto - gibis, gibis a rodo para a meninada.
Aí me lembrei da minha enorme coleção de quadrinhos do Homem-Aranha, Tarzan, Capitão América, Hulk e Batman. Talvez eles curtam. Vou oferecer e ver no que dá.
_Foi um prêmio para os garotos que tiraram nota maior do que 85 - ele me disse, encabulado.
_Uau, que legal - eu disse, sem entender a encabulação.
_O problema é que só ficamos sabendo essa semana, não deu tempo de planejar nada.
_Entendi. Duas semanas de ócio total e uma energia exorbitante de pré-adolescentes. É terrível.
_É. E como não estamos de férias, vou ter que dar tratos à bola para arrumar umas atividades para os meninos.
Quando eu era menino, dedicava boa parte das férias a ler. Nunca encarei a leitura ou a escrita como punição. Sempre foram atividades muito prazerosas, até hoje o tempo voa quando escrevo ou leio. Aí me lembrei de como meu pai fez todos nós gostarmos de ler. Primeiro, manteve pelo menos uma estante cheia de livros em casa - ninguém podia ficar sem ter o que ler, é alimento para o espírito. Segundo, meu pai lia na presença das crianças e sempre estudava muito(até hoje). Terceiro - meu pai fazia do livro uma recompensa. Quarto - ele mantinha alguns livros escolhidos fora do alcance, só para atiçar a curiosidade. Quinto - gibis, gibis a rodo para a meninada.
Aí me lembrei da minha enorme coleção de quadrinhos do Homem-Aranha, Tarzan, Capitão América, Hulk e Batman. Talvez eles curtam. Vou oferecer e ver no que dá.
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
O verme passeia na lua cheia
Os prédios da vizinhança já estão todos enfeitados, mas aqui em casa ainda não começamos os arranjos para o Natal. As crianças ainda não estão de férias. E os adultos também não. Temos um monte de planos de férias, mas a experiência diz que é melhor ter somente um plano e segui-lo à risca. Quem tem um monte de planos acaba trabalhando. Como o processo de contenção de despesas ainda não está concluído, exatamente porque é um processo, existe o risco de tirarmos poucas férias.
Na segunda semana de dezembro é que será possível respirar um pouco mais devagar e burilar os planos com cuidado. Mesmo assim fico pensando nos enfeites de Natal. Não sei quando começamos com isso, de colocar as luzinhas, de enfeitar os pinheirinhos chineses de plástico. Lembro que na minha infância não era assim.
Em casa, as bolas de Natal eram cuidadosamente guardadas numa caixa com fitas de palha de madeira e serragem. Eram caras e frágeis, muito frágeis. As bases tinham uns anéis de arame, que enferrujavam. Quando uma bola caía, ela se espatifava em mil pedacinhos, super-cortantes.
Não havia árvore de Natal. Não me lembro. Não havia o costume de se usar pinheirinhos. Minha mãe fazia uns arranjos super-caprichados, gostava de usar velas grandes. Havia uma preocupação com a brasilidade. Com o não fingimento de neve.
O clima era sempre de oração, lá em casa. Minha mãe fazia novenas. E nós todos participávamos. E a gente cantava um bocado as músicas de Natal que se cantava na Igreja Católica, Apostólica e Romana.
No centro-oeste, com o sol e o poeirão, eu achava que a neve das histórias da Disney era uma benção especial para as crianças do Norte. Eu pedia a paz mundial nas minhas orações de menino. Eu pedia o fim da fome no mundo. Eu pedia agasalho para quem tivesse frio e aqui fazia um calorão danado, não era como hoje. Eu pedia perdão pelos meus pecados e também pelo dos outros. Também tinha meus interesses. Negociava minha santidade de menino com os céus. Eu pedia um autorama estrela e uma bicicleta caloi. Eu pedia kichute e bola de cobertão. O bom velhinho me ouvia. Eu ia até o açougue com o meu irmão pedir sebo para esfregar nas costuras da bola de cobertão. E também pedia coisas mais difíceis. Eu pedia para ser um craque do futebol que nem o meu irmão. Eu pedia para pelo menos deixar de ter os pés chatos feito um pato. E eu um dia fiquei de joelhos e rezei de mãos postas, igual a ilustração de santinho de missa, porque deixei de usar as botas ortopédicas. Deve ter sido, com certeza, depois do Natal.
E bem depois disso, eu cantei no coral da universidade, onde muitas moças cantavam. Eu pedi uma moça bonita em namoro, mas ela não quis. Eu pedi a uma moça mais ou menos, mas ela não topou. Tinha uma feinha de olho em mim, então eu desisti de vez da minha curta temporada no coral. Nunca fui bom cantor, mesmo. Só era bom em contar vantagem, em exagerar meus exageros. Mesmo assim tenho saudades. Mas não gosto de lembrar muito, as lembranças parecem reflexos numa bola de Natal daquelas antigas, mil facetas difíceis de remontar.
Na segunda semana de dezembro é que será possível respirar um pouco mais devagar e burilar os planos com cuidado. Mesmo assim fico pensando nos enfeites de Natal. Não sei quando começamos com isso, de colocar as luzinhas, de enfeitar os pinheirinhos chineses de plástico. Lembro que na minha infância não era assim.
Em casa, as bolas de Natal eram cuidadosamente guardadas numa caixa com fitas de palha de madeira e serragem. Eram caras e frágeis, muito frágeis. As bases tinham uns anéis de arame, que enferrujavam. Quando uma bola caía, ela se espatifava em mil pedacinhos, super-cortantes.
Não havia árvore de Natal. Não me lembro. Não havia o costume de se usar pinheirinhos. Minha mãe fazia uns arranjos super-caprichados, gostava de usar velas grandes. Havia uma preocupação com a brasilidade. Com o não fingimento de neve.
O clima era sempre de oração, lá em casa. Minha mãe fazia novenas. E nós todos participávamos. E a gente cantava um bocado as músicas de Natal que se cantava na Igreja Católica, Apostólica e Romana.
No centro-oeste, com o sol e o poeirão, eu achava que a neve das histórias da Disney era uma benção especial para as crianças do Norte. Eu pedia a paz mundial nas minhas orações de menino. Eu pedia o fim da fome no mundo. Eu pedia agasalho para quem tivesse frio e aqui fazia um calorão danado, não era como hoje. Eu pedia perdão pelos meus pecados e também pelo dos outros. Também tinha meus interesses. Negociava minha santidade de menino com os céus. Eu pedia um autorama estrela e uma bicicleta caloi. Eu pedia kichute e bola de cobertão. O bom velhinho me ouvia. Eu ia até o açougue com o meu irmão pedir sebo para esfregar nas costuras da bola de cobertão. E também pedia coisas mais difíceis. Eu pedia para ser um craque do futebol que nem o meu irmão. Eu pedia para pelo menos deixar de ter os pés chatos feito um pato. E eu um dia fiquei de joelhos e rezei de mãos postas, igual a ilustração de santinho de missa, porque deixei de usar as botas ortopédicas. Deve ter sido, com certeza, depois do Natal.
E bem depois disso, eu cantei no coral da universidade, onde muitas moças cantavam. Eu pedi uma moça bonita em namoro, mas ela não quis. Eu pedi a uma moça mais ou menos, mas ela não topou. Tinha uma feinha de olho em mim, então eu desisti de vez da minha curta temporada no coral. Nunca fui bom cantor, mesmo. Só era bom em contar vantagem, em exagerar meus exageros. Mesmo assim tenho saudades. Mas não gosto de lembrar muito, as lembranças parecem reflexos numa bola de Natal daquelas antigas, mil facetas difíceis de remontar.
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Um novo dia para a semana
Meu filho tem seis anos de idade e já quer implantar inovações na contagem do tempo. Ele não está satisfeito com a semana atual. Para ele, sete dias não é o bastante, falta pelo menos um dia na semana. Ficamos conversando no caminho para escola. A irmã cochilava, não prestava atenção na conversa. Depois de algumas perguntas, descobri que ele pretende a implantação de um dia novo entre o sábado e o domingo. Para ter um intervalo entre dois dias de muito video-game. Para descansar de ver TV e de mergulhar na piscina. Para passear com o Rafael. Para brincar só com a irmã. Para tomar sorvete, andar de bicicleta e jogar bola com os primos. Mas na hora de escolher um nome para o dia extra, pintou uma dúvida.
_Pai, que tal a gente chamar de camelo?
_Já é nome de bicho, filho. E dá a maior confusão ter um dia da semana com nome de bicho. As pessoas diriam "a gente se vê depois do camelo". Aí ficariam em dúvida se deveriam procurar um camelo, arrumar um banco e esperar sentado até encontrar as outras pessoas do combinado. Não daria certo.
_E que tal Juguduga?
_Blitika?
_Esponjura?
_Acablanca?
_Blastêmio?
_Balistra?
_Não.
_Pensando bem, juguduga é bem legal.
_É pai, e podia ter umas duas horas a mais.
_Podia ser na hora do almoço...
_Demais, véi.
Às vezes eu acho que consigo me comunicar com o meu filho.
_Pai, que tal a gente chamar de camelo?
_Já é nome de bicho, filho. E dá a maior confusão ter um dia da semana com nome de bicho. As pessoas diriam "a gente se vê depois do camelo". Aí ficariam em dúvida se deveriam procurar um camelo, arrumar um banco e esperar sentado até encontrar as outras pessoas do combinado. Não daria certo.
_E que tal Juguduga?
_Blitika?
_Esponjura?
_Acablanca?
_Blastêmio?
_Balistra?
_Não.
_Pensando bem, juguduga é bem legal.
_É pai, e podia ter umas duas horas a mais.
_Podia ser na hora do almoço...
_Demais, véi.
Às vezes eu acho que consigo me comunicar com o meu filho.
terça-feira, 24 de novembro de 2009
O nome do escritor
O nome dele é Isaac Bashevis Singer. Tenho de me lembrar de agradecer ao Cabeça por ter me presenteado com um exemplar de "42 Contos de Isaac Bashevis Singer". Ando meio esquecido. E é por isso que ando repetitivo.
Ganhei o exemplar da edição da Companhia das Letras. Boa edição. Eu tinha uma outra mais antiga, com menos contos, talvez de uma outra editora. Já faz um mês que ganhei o livro, mas ainda não li nem a metade dos contos. Para variar, quando esqueço de usar o meu estratagema, o livro some do banheiro e fico uns dias sem ler nada.
É muito chato deixar um conto pela metade, por isso estou lendo fora da ordem. Por tamanho. Conto os números de páginas. Algo que dê para ler em meia hora, no máximo. Dez ou doze páginas. Eu acordo às seis da manhã, às vezes uns 10, 15 minutos mais cedo. Aí corro para ler o livro no banheiro. Como todos da minha kombi de leitores sabem, para conseguir manter o livro no banheiro, eu tenho que colocar um outro livro ao lado. Desse modo, a Rose(a faxineira-graduanda-cozinheira-babá) pensa que um é meu e o outro é da minha mulher. Mas sem que ela saiba qual é de quem. Se eu esqueço o livro "fake", a Rose guarda o livro na estante. E na estante eu não acho nunca o livro que eu estou lendo.
Outro problema que pode acontecer também é que o "fake" acaba tomando lugar do livro que eu estava lendo de verdade e ao invés de "fake"(farso) passa a ser o "real one"(das real). Aí esqueço qual é qual e deixo só um no banheiro, que é levado para a estante e recomeça o ciclo.
Li uns dez contos do I.B.Singer. Todos ótimos. Um que achei sensacional é intitulado "Poderes". Conta a história muito louca de um encanador que tem poderes sobre as mulheres. É engraçado. Lembrei do meu amigo Humberto, o canalha. Ele também tinha poderes sobre as mulheres. Não sei se ainda tem, faz tempo que não vejo.
Em outro conto, Singer conta a hístória de um homem que também era muito bem sucedido com as mulheres. Esse personagem, Max Persky, tem uma frase ótima: "No amor, não se faz favor", que só é dito no final de nove páginas bem cadenciadas. A frase ficou estalando na minha cabeça, do jeito estranho como só alguns paradoxos costumam estalar na cachola da gente.
Talvez Max tenha razão. Talvez não. Singer tem a delicadeza de não se meter nas convicções dos seus personagens. Tenho muito a aprender com Isaac Bashevis Singer. Esse é o nome do escritor. Tenho de lembrar de agradecer ao Cabeça.
Ganhei o exemplar da edição da Companhia das Letras. Boa edição. Eu tinha uma outra mais antiga, com menos contos, talvez de uma outra editora. Já faz um mês que ganhei o livro, mas ainda não li nem a metade dos contos. Para variar, quando esqueço de usar o meu estratagema, o livro some do banheiro e fico uns dias sem ler nada.
É muito chato deixar um conto pela metade, por isso estou lendo fora da ordem. Por tamanho. Conto os números de páginas. Algo que dê para ler em meia hora, no máximo. Dez ou doze páginas. Eu acordo às seis da manhã, às vezes uns 10, 15 minutos mais cedo. Aí corro para ler o livro no banheiro. Como todos da minha kombi de leitores sabem, para conseguir manter o livro no banheiro, eu tenho que colocar um outro livro ao lado. Desse modo, a Rose(a faxineira-graduanda-cozinheira-babá) pensa que um é meu e o outro é da minha mulher. Mas sem que ela saiba qual é de quem. Se eu esqueço o livro "fake", a Rose guarda o livro na estante. E na estante eu não acho nunca o livro que eu estou lendo.
Outro problema que pode acontecer também é que o "fake" acaba tomando lugar do livro que eu estava lendo de verdade e ao invés de "fake"(farso) passa a ser o "real one"(das real). Aí esqueço qual é qual e deixo só um no banheiro, que é levado para a estante e recomeça o ciclo.
Li uns dez contos do I.B.Singer. Todos ótimos. Um que achei sensacional é intitulado "Poderes". Conta a história muito louca de um encanador que tem poderes sobre as mulheres. É engraçado. Lembrei do meu amigo Humberto, o canalha. Ele também tinha poderes sobre as mulheres. Não sei se ainda tem, faz tempo que não vejo.
Em outro conto, Singer conta a hístória de um homem que também era muito bem sucedido com as mulheres. Esse personagem, Max Persky, tem uma frase ótima: "No amor, não se faz favor", que só é dito no final de nove páginas bem cadenciadas. A frase ficou estalando na minha cabeça, do jeito estranho como só alguns paradoxos costumam estalar na cachola da gente.
Talvez Max tenha razão. Talvez não. Singer tem a delicadeza de não se meter nas convicções dos seus personagens. Tenho muito a aprender com Isaac Bashevis Singer. Esse é o nome do escritor. Tenho de lembrar de agradecer ao Cabeça.
And so this is christmas, de novo
As ruas já estão enfeitadas, de novo. E hoje eu fiquei ao lado de um carro, no semáforo, e o cara ouvia enlevado, como se fosse a primeira vez, aquela clássica, do Jhon Lennon e da Yoko Ono.
So this is Christmas.
And what have you done ?
Another year over
and a new one just begun.
And so this is Christmas.
I hope you have fun,
the near and the dear ones,
the old and the young.
A very merry Christmas
and a happy new year.
Let's hope it's a good one
without any fear.
And so this is Christmas
for weak and for strong,
for rich and the poor ones.
The road is so long.
And so happy Christmas
for black and for white,
for yellow and red ones.
Let's stop all the fight.
A very merry Christmas
and a happy new year.
Let's hope it's a good one
without any fear.
So this is Christmas.
And what have we done ?
Another year over
and a new one just begun.
And so happy Christmas.
We hope you have fun,
the near and the dear ones,
the old and the young.
A very merry Christmas
and a happy new year.
Let's hope it's a good one
without any fear.
War is over if you want it.
So this is Christmas.
And what have you done ?
Another year over
and a new one just begun.
And so this is Christmas.
I hope you have fun,
the near and the dear ones,
the old and the young.
A very merry Christmas
and a happy new year.
Let's hope it's a good one
without any fear.
And so this is Christmas
for weak and for strong,
for rich and the poor ones.
The road is so long.
And so happy Christmas
for black and for white,
for yellow and red ones.
Let's stop all the fight.
A very merry Christmas
and a happy new year.
Let's hope it's a good one
without any fear.
So this is Christmas.
And what have we done ?
Another year over
and a new one just begun.
And so happy Christmas.
We hope you have fun,
the near and the dear ones,
the old and the young.
A very merry Christmas
and a happy new year.
Let's hope it's a good one
without any fear.
War is over if you want it.
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Ovos orgânicos
Antes que você comece a pensar que eu aderi à pornografia da Internet, esclareço que falo mesmo dos ovos postos pelas galinhas, as cocós, galináceos, aves facilmente hipnotizáveis, que têm bico e penas.
Foi minha mulher que me perguntou hoje, à queima-roupa, na hora do almoço:
_Você sabe o que é um ovo orgânico?
Tive vontade de falar para ela não mencionar essas coisas na hora do almoço. E na frente das crianças. Mas um segundo depois aquele gene que não me deixa ouvir pergunta sem dar resposta se manifestou.
_Clara, né? Ovo inorgânico é aquele ovo espiritual, zen, que levita mesmo cozido...
_Não, chega, pare de deseducar as crianças. Ovo orgânico é o que é botado pela galinha que só come milho.
_Huuummmm – eu disse, enquanto mastigava o delicioso almoço feito pela Rose, a empregada-faxineira-babá-graduanda-cozinheira lá de casa. Hoje teve salada, purê de cenoura, arroz, feijão e aquelas coxinhas de asa que eu sempre esqueço o nome. As crianças adoraram.
_E ovo caipira? Você sabe a diferença entre o ovo orgânico e o caipira?
_Uai, o caipira num liga presses trem não sô, ele é largadão nesse mundão véio de...
_Careca, por favor, nada de piada de caipirês. Isso é intragável.
_Intragárvi? Mas...
_Ovo caipira...
_É aquele que não é de granja. E ovo de granja não faz dupla sertaneja, eu sei...
_Não, ovo caipira é o que é botado pela galinha caipira.
_Huummmm. Quer dizer que a galinha caipira que não come ração e que só come milho, bota ovo orgânico?
_Não. A galinha caipira bota ovo caipira.
_Discordo. Desse jeito você está impedindo a ascensão social dos ovíparos. E se o milho for transgênico, hein? Isso faz do ovo botado um ovo qualquer? Um mutante? Hã?Hã?
_(Suspiro).
_E se a galinha clonada comer só o que ela conseguir ciscar, com o suor do próprio bico...
_Careca, estou sem paciência...
_Foi você que perguntou. Por mim, prefiro ovos fritos.
Foi minha mulher que me perguntou hoje, à queima-roupa, na hora do almoço:
_Você sabe o que é um ovo orgânico?
Tive vontade de falar para ela não mencionar essas coisas na hora do almoço. E na frente das crianças. Mas um segundo depois aquele gene que não me deixa ouvir pergunta sem dar resposta se manifestou.
_Clara, né? Ovo inorgânico é aquele ovo espiritual, zen, que levita mesmo cozido...
_Não, chega, pare de deseducar as crianças. Ovo orgânico é o que é botado pela galinha que só come milho.
_Huuummmm – eu disse, enquanto mastigava o delicioso almoço feito pela Rose, a empregada-faxineira-babá-graduanda-cozinheira lá de casa. Hoje teve salada, purê de cenoura, arroz, feijão e aquelas coxinhas de asa que eu sempre esqueço o nome. As crianças adoraram.
_E ovo caipira? Você sabe a diferença entre o ovo orgânico e o caipira?
_Uai, o caipira num liga presses trem não sô, ele é largadão nesse mundão véio de...
_Careca, por favor, nada de piada de caipirês. Isso é intragável.
_Intragárvi? Mas...
_Ovo caipira...
_É aquele que não é de granja. E ovo de granja não faz dupla sertaneja, eu sei...
_Não, ovo caipira é o que é botado pela galinha caipira.
_Huummmm. Quer dizer que a galinha caipira que não come ração e que só come milho, bota ovo orgânico?
_Não. A galinha caipira bota ovo caipira.
_Discordo. Desse jeito você está impedindo a ascensão social dos ovíparos. E se o milho for transgênico, hein? Isso faz do ovo botado um ovo qualquer? Um mutante? Hã?Hã?
_(Suspiro).
_E se a galinha clonada comer só o que ela conseguir ciscar, com o suor do próprio bico...
_Careca, estou sem paciência...
_Foi você que perguntou. Por mim, prefiro ovos fritos.
domingo, 22 de novembro de 2009
sábado, 21 de novembro de 2009
Um cão cheiroso
Desde que chegou para ficar aqui em casa, no apê em que moramos, Rafael era banhado apenas por mim e pelas crianças. E na última semana, com o calor que fez, nosso cãozinho shitsu tinha ficado um bocado fedido. Hoje de manhã, resolvemos levar o Rafa para um lava-jato de cachorro que tem aqui perto. Ele foi escoltado por toda a família.
_Fica pronto em 40 minutos - disse a moça do lava~-bicho.
_Rá, rá. Eu não sobreviveria com um banho venezuelano, mas nem eu gasto tanto tempo no banho - eu disse, brincando.
A moça do expresso-auau me olhou como se eu fosse um consumidor voraz de entorpecentes. Não liguei. Acho que gente que ganha a vida lavando cachorro tem direito a olhar a gente com outros olhos.
Fomos comer e tomar suco. Passeamos. E depois fomos pegar o cãozinho.
Valeu a pena. Rafael está cheiroso.
_Fica pronto em 40 minutos - disse a moça do lava~-bicho.
_Rá, rá. Eu não sobreviveria com um banho venezuelano, mas nem eu gasto tanto tempo no banho - eu disse, brincando.
A moça do expresso-auau me olhou como se eu fosse um consumidor voraz de entorpecentes. Não liguei. Acho que gente que ganha a vida lavando cachorro tem direito a olhar a gente com outros olhos.
Fomos comer e tomar suco. Passeamos. E depois fomos pegar o cãozinho.
Valeu a pena. Rafael está cheiroso.
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
Salomão e o jus embromandus
O Supremo Tribunal Federal decidiu que, no caso Cesare Battisti, sua decisão pode ser seguida ou não pelo Presidente da República, a critério do próprio Presidente.
Legal, né? É como decidir sem o cumpra-se, o que na prática significa "faça o que bem entender". Eu não entendi chongas. Para mim, os ministros do STF se parecem cada vez mais com atores do teatro kabuqui. Com exceção, é claro, do Ministro GM, que se parece com um ator de teatro kabuqui que fala alemão.
O placar foi apertado, cinco a quatro. Há cerca de dois meses, um outro caso teve um placar igualmente apertado. Suas Excelências Meritíssimas também se atropelaram em erudições e pedidos de vistas ao recusar a receber a denúncia de um caseiro. Naquela ocasião, o Ministro GM foi o fiel da Suprema Balança. Graças ao seu voto, o STF negou foro e ouvidos ao humilde. E agora, o Ministro A. Britto foi quem chutou a ceguinha, ao ser obscuro até aos próprios pares sobre sua decisão. Britto partiu sua decisão em duas metades. Na primeira, ele disse que Battisti é um criminoso comum, e não político. Na segunda metadinha, ele fechou com os Ministros favoráveis a que o Presidente decida(ou não) pela extradição.
Com suas bandas metades, Britto entregou espada, balancim e toga para o PR. Ele é quem decide.
Como assim, GM? Como assim, Britto?
No caso do caseiro, escrevi aqui, na sequência do voto GM: "A decisão do Supremo foi acachapante e humilhante. Cinco contra quatro. O Meritíssimo foi um dos cinco que mandaram fatos às favas. Estranhamente, pelo voto do Meritíssimo, só um dos acusados do trio será processado por uma das metades do crime, embora estivesse sendo acusado de partícipe de um crime inteiro."
No caso Battisti, Britto seguiu a invencionice de GM, a divisão do voto decisivo somada a uma aritmética pra lá de bizarra. Inovam os Ministros? Não sei, não acompanho o Supremo com a devida atenção. Talvez estejam tentando fazer como Salomão. Com erros de cálculo. Estão dividindo a criança ao meio e jogando fora a água da bacia.
É triste. Mas olhando de longe, me parece covardia a Suprema Gangorra demorar dois anos para, na hora h, se recusar a examinar um caso. Também me parece pusilânime demorar dois anos no exame de um caso para, na vigésima quinta hora, decidir que a decisão não cabe ao Supremo Pêndulo.
Nossas Supremas Togas parecem gostar de acertar os próprios pés de barro.
Legal, né? É como decidir sem o cumpra-se, o que na prática significa "faça o que bem entender". Eu não entendi chongas. Para mim, os ministros do STF se parecem cada vez mais com atores do teatro kabuqui. Com exceção, é claro, do Ministro GM, que se parece com um ator de teatro kabuqui que fala alemão.
O placar foi apertado, cinco a quatro. Há cerca de dois meses, um outro caso teve um placar igualmente apertado. Suas Excelências Meritíssimas também se atropelaram em erudições e pedidos de vistas ao recusar a receber a denúncia de um caseiro. Naquela ocasião, o Ministro GM foi o fiel da Suprema Balança. Graças ao seu voto, o STF negou foro e ouvidos ao humilde. E agora, o Ministro A. Britto foi quem chutou a ceguinha, ao ser obscuro até aos próprios pares sobre sua decisão. Britto partiu sua decisão em duas metades. Na primeira, ele disse que Battisti é um criminoso comum, e não político. Na segunda metadinha, ele fechou com os Ministros favoráveis a que o Presidente decida(ou não) pela extradição.
Com suas bandas metades, Britto entregou espada, balancim e toga para o PR. Ele é quem decide.
Como assim, GM? Como assim, Britto?
No caso do caseiro, escrevi aqui, na sequência do voto GM: "A decisão do Supremo foi acachapante e humilhante. Cinco contra quatro. O Meritíssimo foi um dos cinco que mandaram fatos às favas. Estranhamente, pelo voto do Meritíssimo, só um dos acusados do trio será processado por uma das metades do crime, embora estivesse sendo acusado de partícipe de um crime inteiro."
No caso Battisti, Britto seguiu a invencionice de GM, a divisão do voto decisivo somada a uma aritmética pra lá de bizarra. Inovam os Ministros? Não sei, não acompanho o Supremo com a devida atenção. Talvez estejam tentando fazer como Salomão. Com erros de cálculo. Estão dividindo a criança ao meio e jogando fora a água da bacia.
É triste. Mas olhando de longe, me parece covardia a Suprema Gangorra demorar dois anos para, na hora h, se recusar a examinar um caso. Também me parece pusilânime demorar dois anos no exame de um caso para, na vigésima quinta hora, decidir que a decisão não cabe ao Supremo Pêndulo.
Nossas Supremas Togas parecem gostar de acertar os próprios pés de barro.
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Noel e a chuva
Está fazendo um calor infernal todos os dias. E depois chove quando volto para casa. Todo mundo fica doente no trabalho. Os humores também variam. Mas a chuva é um consolo para tudo. E depois nós, eu e as crianças, nos dedicamos a escrever cartas para o Papai Noel.
Querido Papai Noel,
eu quero ganhar uma máquina de fazer picolés das princesas.
Querido Papai Noel,
eu quero ganhar o video game novo do Naruto, mas só vou brincar com ele depois que fizer oito anos, porque a minha mãe não quer jogo de violência.
Querido Papai Noel,
muito obrigado.
Fiz três envelopes com papel azul. Endereçamos para o Pólo Norte, Avenida dos Ursos, Sem Número, Fábrica de Brinquedos do Papai Noel.
_Pai, qual é o CEP?
_Zero, zero, um.
Querido Papai Noel,
eu quero ganhar uma máquina de fazer picolés das princesas.
Querido Papai Noel,
eu quero ganhar o video game novo do Naruto, mas só vou brincar com ele depois que fizer oito anos, porque a minha mãe não quer jogo de violência.
Querido Papai Noel,
muito obrigado.
Fiz três envelopes com papel azul. Endereçamos para o Pólo Norte, Avenida dos Ursos, Sem Número, Fábrica de Brinquedos do Papai Noel.
_Pai, qual é o CEP?
_Zero, zero, um.
HINO À BANDEIRA NACIONAL
O mais bonito dos hinos, o que sempre me orgulhei de cantar.
HINO À BANDEIRA NACIONAL
Letra: Olavo Bilac
Música: Francisco Braga
Salve, lindo pendão da esperança,
Salve, símbolo augusto da paz!
Tua nobre presença à lembrança
A grandeza da pátria nos traz.
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil!
Em teu seio formoso retratas
Este céu de puríssimo azul,
A verdura sem par destas matas,
E o esplendor do cruzeiro do sul.
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil!
Contemplando o teu vulto sagrado,
Compreendemos o nosso dever;
E o Brasil, por seus filhos amado,
Poderoso e feliz há de ser.
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil!
Sobre a imensa nação brasileira,
Nos momentos de festa ou de dor,
Paira sempre, sagrada bandeira,
Pavilhão da justiça e do amor!
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil!
HINO À BANDEIRA NACIONAL
Letra: Olavo Bilac
Música: Francisco Braga
Salve, lindo pendão da esperança,
Salve, símbolo augusto da paz!
Tua nobre presença à lembrança
A grandeza da pátria nos traz.
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil!
Em teu seio formoso retratas
Este céu de puríssimo azul,
A verdura sem par destas matas,
E o esplendor do cruzeiro do sul.
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil!
Contemplando o teu vulto sagrado,
Compreendemos o nosso dever;
E o Brasil, por seus filhos amado,
Poderoso e feliz há de ser.
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil!
Sobre a imensa nação brasileira,
Nos momentos de festa ou de dor,
Paira sempre, sagrada bandeira,
Pavilhão da justiça e do amor!
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil!
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
O Careca posterga mais uma
Como é habitual, estou em regime de contenção de despesas. É uma dieta restrita, que consiste em gastar somente no que está previsto na coluna de gastos da PLANILHA, e assim mesmo com cortes. A PLANILHA foi elaborada por mim no mês passado, depois que eu ouvi dizer que a melhor maneira de não gastar é colocar no papel, de maneira bem objetiva e exaustiva, sua renda, as despesas fixas, as eventuais e as coisas que você deseja. Parece bem tolo, mas é um exercício bem interessante listar tudo, tudo o que você consome todos os dias de um mês, sem esquecer nada, inclusive o cafezinho free da máquina de café e os copos de água. É preciso anotar, anotar, anotar. E com tudo anotado, inclusive os produtos que desejei, percebi quão poucas são as minhas reais necessidades e a grande tolice que são os meus desejos de consumo. Trivial. As melhores coisas que você pode fazer muitas vezes são também as mais óbvias. Com a PLANILHA feita, percebi que posso passar muito bem sem ceder aos impulsos e à minha queda por gastos desnecessários.
Mas como nessa cidade não é de bom tom dizer que você está tentando economizar, eu digo que estou postergando gastos.
_Bom dia, vizinho - diz o meu vizinho, que é um cara simpático.
_Bom dia, vizinho - eu respondo.
_E aí, comprou aquela TV LCD? - ele pergunta.
_Não, ainda não, talvez no ano que vem - eu digo e realmente não consigo me lembrar de algum dia ter comentado alguma coisa sobre comprar TV com o vizinho.
_Está cheio de oferta. Se mudar de idéia, fale comigo - ele diz.
E só então me ocorre que o vizinho tem uma loja. E talvez seja de TVs.
_Pode deixar. Falo sim. No ano que vem.
E depois de deixar as crianças na escola, encontro um outro conhecido, com quem trabalhei há muito, muito tempo.
_E aí, Careca! Soube que está querendo mudar. Já fez negócio?
_Ainda não, acho que vou deixar para o ano que vem - eu digo, meio constrangido.
E eu realmente não me lembro de ter comentado com esse conhecido que tenho vontade de mudar. Aliás, eu não me lembro de ter comentado patavina com esse conhecido. Para falar a verdade, tinha uns dois anos que eu não via esse sujeito. O que está acontecendo?, eu pensei comigo. Estou sonambulando pela cidade com meus planos escancarados? Minha PLANILHA vazou na internet? Mas aí me recordo que esse conhecido havia mudado de ramo e virado corretor de imóveis.
E então chego no edifício meio burrinho onde eu trabalho e encontro o C3PO no elevador. Raios! Desde que passei a evitar a impressora, fazia um tempão que eu não encontrava o C3PO. Ele é o tipo de sujeito que faz muito bem não se encontrar. Mas sorte grande não pode durar muito, eu sei.
_Fala, Careca! Já comprou aquele carro que você queria?
_Não. Vou deixar para o ano que vem, esperar o imposto abaixar de novo.
_Rá!Rá! Não vai abaixar de novo.
_Como pode ter certeza?
_Um passarinho me contou.
_Foi o mesmo que fez esse ... trabalho no seu terno?
_Onde?
_Ombro esquerdo.
_Aaah! Meu terno novo - choramingou o C3PO.
E nessa hora eu até pensei em comprar milho e alpiste, em doar recursos para a sociedade protetora dos pombos, em fundar a ONG "Protejam as Fezes Que Caem do Céu". Decidi até registrar a possibilidade dessas doações na PLANILHA. Quem sabe no ano que vem?
Mas como nessa cidade não é de bom tom dizer que você está tentando economizar, eu digo que estou postergando gastos.
_Bom dia, vizinho - diz o meu vizinho, que é um cara simpático.
_Bom dia, vizinho - eu respondo.
_E aí, comprou aquela TV LCD? - ele pergunta.
_Não, ainda não, talvez no ano que vem - eu digo e realmente não consigo me lembrar de algum dia ter comentado alguma coisa sobre comprar TV com o vizinho.
_Está cheio de oferta. Se mudar de idéia, fale comigo - ele diz.
E só então me ocorre que o vizinho tem uma loja. E talvez seja de TVs.
_Pode deixar. Falo sim. No ano que vem.
E depois de deixar as crianças na escola, encontro um outro conhecido, com quem trabalhei há muito, muito tempo.
_E aí, Careca! Soube que está querendo mudar. Já fez negócio?
_Ainda não, acho que vou deixar para o ano que vem - eu digo, meio constrangido.
E eu realmente não me lembro de ter comentado com esse conhecido que tenho vontade de mudar. Aliás, eu não me lembro de ter comentado patavina com esse conhecido. Para falar a verdade, tinha uns dois anos que eu não via esse sujeito. O que está acontecendo?, eu pensei comigo. Estou sonambulando pela cidade com meus planos escancarados? Minha PLANILHA vazou na internet? Mas aí me recordo que esse conhecido havia mudado de ramo e virado corretor de imóveis.
E então chego no edifício meio burrinho onde eu trabalho e encontro o C3PO no elevador. Raios! Desde que passei a evitar a impressora, fazia um tempão que eu não encontrava o C3PO. Ele é o tipo de sujeito que faz muito bem não se encontrar. Mas sorte grande não pode durar muito, eu sei.
_Fala, Careca! Já comprou aquele carro que você queria?
_Não. Vou deixar para o ano que vem, esperar o imposto abaixar de novo.
_Rá!Rá! Não vai abaixar de novo.
_Como pode ter certeza?
_Um passarinho me contou.
_Foi o mesmo que fez esse ... trabalho no seu terno?
_Onde?
_Ombro esquerdo.
_Aaah! Meu terno novo - choramingou o C3PO.
E nessa hora eu até pensei em comprar milho e alpiste, em doar recursos para a sociedade protetora dos pombos, em fundar a ONG "Protejam as Fezes Que Caem do Céu". Decidi até registrar a possibilidade dessas doações na PLANILHA. Quem sabe no ano que vem?
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Dois posts num só
Crachás da vaidade
Outro dia almocei no shopping, perto do trabalho. Não dava tempo de ir a casa e voltar. Quando isso acontece, coloco o crachá no bolso por uma questão de pudor e parto para o almoço. Pudor porque não gosto de ficar desfilando com o meu nome e foto numa tabuleta pendurada no pescoço, por cima da gravata. Acho isso uma violação da privacidade. É o mesmo que pendurar a identidade no pescoço, como se fosse uma melancia. Além disso, o edifício meio burrinho onde eu trabalho tem roleta eletrônica movida a crachá. Se você esquece o crachá, os guardas estupidozinhos do edifício meio burrinho ficam super-felizes em emprestar um crachá provisório para você. Mentira, é claro. Então, por causa da roleta, eu vou para o almoço com o crachá no bolso da camisa. Saco o crachá quando preciso passar na roleta. No pescoço, o tempo todo continua pendurado o cordão do crachá e o jacaré que morde o crachá.
_Ué, cadê o seu crachá? – perguntou uma colega de trabalho assim que voltei do almoço.
Fiquei com preguiça de responder o parágrafo acima. Então eu disse:
_Tá no bolso.
_Ué, e por que você põe o crachá no bolso?
_Porque eu não quero que ninguém saiba onde o “Mané” aqui trabalha.
_Então por quê deixa o cordão do crachá no pescoço, ô Mané?
_Porque eu quero que as pessoas olhem para o cordão e se perguntem “nossa, onde será que esse Mané trabalha”?
É tudo vaidade. Né?
Eleição 2010
Este blog fala de política o tempo todo, inclusive quando não fala. Acredito na Constituição e também no famoso preâmbulo, abaixo reproduzido: “Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.”
No último dia 15, a Folha de São Paulo publicou um bom artigo do Prof. Mangabeira Unger, intitulado “A sucessão presidencial e o futuro do Brasil”.
Repito abaixo a primeira frase:
“O futuro, não o passado, é o tema de uma grande eleição, como será a de 2010. O assunto central há de ser como superar a contradição central do Brasil: uma vitalidade imensa ainda coexiste, para a maioria dos brasileiros, com a falta de instrumentos e de capacitações.”
Para googlar e conferir.
Outro dia almocei no shopping, perto do trabalho. Não dava tempo de ir a casa e voltar. Quando isso acontece, coloco o crachá no bolso por uma questão de pudor e parto para o almoço. Pudor porque não gosto de ficar desfilando com o meu nome e foto numa tabuleta pendurada no pescoço, por cima da gravata. Acho isso uma violação da privacidade. É o mesmo que pendurar a identidade no pescoço, como se fosse uma melancia. Além disso, o edifício meio burrinho onde eu trabalho tem roleta eletrônica movida a crachá. Se você esquece o crachá, os guardas estupidozinhos do edifício meio burrinho ficam super-felizes em emprestar um crachá provisório para você. Mentira, é claro. Então, por causa da roleta, eu vou para o almoço com o crachá no bolso da camisa. Saco o crachá quando preciso passar na roleta. No pescoço, o tempo todo continua pendurado o cordão do crachá e o jacaré que morde o crachá.
_Ué, cadê o seu crachá? – perguntou uma colega de trabalho assim que voltei do almoço.
Fiquei com preguiça de responder o parágrafo acima. Então eu disse:
_Tá no bolso.
_Ué, e por que você põe o crachá no bolso?
_Porque eu não quero que ninguém saiba onde o “Mané” aqui trabalha.
_Então por quê deixa o cordão do crachá no pescoço, ô Mané?
_Porque eu quero que as pessoas olhem para o cordão e se perguntem “nossa, onde será que esse Mané trabalha”?
É tudo vaidade. Né?
Eleição 2010
Este blog fala de política o tempo todo, inclusive quando não fala. Acredito na Constituição e também no famoso preâmbulo, abaixo reproduzido: “Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.”
No último dia 15, a Folha de São Paulo publicou um bom artigo do Prof. Mangabeira Unger, intitulado “A sucessão presidencial e o futuro do Brasil”.
Repito abaixo a primeira frase:
“O futuro, não o passado, é o tema de uma grande eleição, como será a de 2010. O assunto central há de ser como superar a contradição central do Brasil: uma vitalidade imensa ainda coexiste, para a maioria dos brasileiros, com a falta de instrumentos e de capacitações.”
Para googlar e conferir.
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
O Careca sem cardaços
O Rafael é o cãozinho de grife daqui de casa. É um shitsu. Tem uns cinco meses de vida. Minha mulher diz que ele nasceu em algum dia do mês de julho, está escrito em algum lugar do pedigree. Rafael agora disputa comigo o carinho das crianças. Se a minha filha vem me mostrar um desenho, ele rosna e late para mim. Se o meu filho vem me contar uma façanha do video-game, ele late para mim. Se a minha mulher começa a fazer cafuné em mim, ele morde o meu dedão do pé, justo aquele que dói. Às vezes, para evitar agressões caninas, eu tenho que dar atenção para as crianças às escondidas, de maneira disfarçada.
_Gostou do desenho, paiê?
_Gostei - eu digo, cochichando.
_O quê?
_Gostei muito. Cuidado para o Rafa não ouvir - eu falo.
_O quê?
_Adorei, filha! - e nhac!, Rafael me aplica uma dentada no dedão. É sempre no dedão que dói.
Com o meu filho é a mesma coisa, somos obrigados a cochichar sobre as melhores jogadas no video-game.
_Que massa, pai, eu tô zerando todas as fases do Batman Lego.
_O quê?
_Batman Lego, pai, eu sou fera.
_O quê?
_O Batman, pai, eu sou fera no Batman Lego.
E nhac!, levamos mordidas nós dois, porque o Rafael ama de paixão a minha filha e com o meu filho faz guerrinha de ciúmes.
_Amor, as crianças dormiram, finalmente. Quer ver um filme?
_Claro - eu digo. E nhac!, recebo outra mordida no dedão. No que dói.
Por isso, decidi abolir as meias, os pés descalços e os chinelos e passei a andar calçado em casa. É a maneira mais segura de evitar dentadas no meu dedão, no que dói. Durante duas semanas, meu estratagema funcionou às mil maravilhas. Mas Rafael é um cãozinho shitsu esperto. Ele roeu os cardaços dos sapatos. E eu nunca me lembro de comprar cardaços novos. Os cardaços estão em petição de miséria e para preservá-los, deixo os sapatos no armário, longe das dentadas de Rafael, o abominável.
Para piorar as coisas, descobri que além da minha filha, o Rafael morre de ciúmes de quem for para o computador. Se as crianças estão brincando, o Rafael fica rosnando e latindo para o PC. Se a minha mulher está no computador, ele range os dentes e late. Agora, além de falar baixo, eu também teclo baixo, para que ele não venha aqui, na mesa do computador e morda o meu dedão. No que dói. Ai.
_Gostou do desenho, paiê?
_Gostei - eu digo, cochichando.
_O quê?
_Gostei muito. Cuidado para o Rafa não ouvir - eu falo.
_O quê?
_Adorei, filha! - e nhac!, Rafael me aplica uma dentada no dedão. É sempre no dedão que dói.
Com o meu filho é a mesma coisa, somos obrigados a cochichar sobre as melhores jogadas no video-game.
_Que massa, pai, eu tô zerando todas as fases do Batman Lego.
_O quê?
_Batman Lego, pai, eu sou fera.
_O quê?
_O Batman, pai, eu sou fera no Batman Lego.
E nhac!, levamos mordidas nós dois, porque o Rafael ama de paixão a minha filha e com o meu filho faz guerrinha de ciúmes.
_Amor, as crianças dormiram, finalmente. Quer ver um filme?
_Claro - eu digo. E nhac!, recebo outra mordida no dedão. No que dói.
Por isso, decidi abolir as meias, os pés descalços e os chinelos e passei a andar calçado em casa. É a maneira mais segura de evitar dentadas no meu dedão, no que dói. Durante duas semanas, meu estratagema funcionou às mil maravilhas. Mas Rafael é um cãozinho shitsu esperto. Ele roeu os cardaços dos sapatos. E eu nunca me lembro de comprar cardaços novos. Os cardaços estão em petição de miséria e para preservá-los, deixo os sapatos no armário, longe das dentadas de Rafael, o abominável.
Para piorar as coisas, descobri que além da minha filha, o Rafael morre de ciúmes de quem for para o computador. Se as crianças estão brincando, o Rafael fica rosnando e latindo para o PC. Se a minha mulher está no computador, ele range os dentes e late. Agora, além de falar baixo, eu também teclo baixo, para que ele não venha aqui, na mesa do computador e morda o meu dedão. No que dói. Ai.
domingo, 15 de novembro de 2009
O Careca pimentão e os complôs interplanetários
Estou mais vermelho do que um pimentão, dos pimentões vermelhos. Sim, porque tem pimentão verde, amarelo e vermelho. Às vezes os pimentões amarelos são quase brancos. Desconfio que existe um complô universal dos cientistas para se modificar geneticamente as cores dos pimentões. Secretamente mancomunados, esses cientistas querem que os pimentões tenham as cores da bandeira do México, vermelho, verde e branco. Parte dos cientistas, inclusive, queriam que as cores fossem verde, vermelho e preto, as mesmas da bandeira da Alemanha. Mas descobriram que não há mercado para pimentões pretos e assim eles acabaram aderindo ao projeto México.
Existem outros complôs em andamento no mundo. Um dos mais terríveis é o que pretende impor o padrão de beleza de Tonga no mundo ocidental. O padrão masculino da ilha foi incorporado pelo Ronaldo Fenômeno, quando ele adotou aquele corte de cabelo parecido com o bigode de Hitler acima da testa. Existem poucas mulheres em Tonga, o que dificulta o estabelecimento de um padrão específico. Existem Tonguianas muito bonitas e feias, embora predominem as que se parecem com o Ronaldinho Gaúcho chegando de uma farra. Mas lembro de ter visto uma das moças de lá num concurso Miss Universo nos anos 90. Basta dizer que a candidata de Tonga ficou atrás da representante de Madagáscar, ali pelos centésimos. E que ela desfilou com um traje típico tão exuberante que foi adotado como fantasia de uma ala inteira da Mocidade Independente de Padre Miguel no carnaval do ano seguinte. E isso não é demérito. Vários trajes típicos de candidatas a miss já apareceram na Marquês de Sapucaí e algumas já ajudaram a vencer carnavais.
Um complô particularmente desprezível é o que pretende restringir o consumo de chicletes que fazem bola. Não tenho nada contra os chicletes que não fazem bola, inclusive costumo mascar alguns, desde que não sejam de hortelã. Mas daí a restringir os chicletes tipo "Ploc" há uma grande diferença. Os chicletes de hortelã sim, são desprezíveis e todas as pessoas deveriam evitar o seu consumo. Para o sabor hortelã, o melhor é aquela pastilha Garoto. Que é tão boa que está difícil de achar, repare. Tudo o que é bom dura pouco. Embora a pastilha de hortelã Garoto tenha pelo menos uns 40 anos de mercado. É uma pastilha inesquecível. Embora alguns críticos, como o Cabeça, digam que essa pastilha "não passa de pasta de dente solidificada."
Para tudo há um complô. Eu, inclusive, acho que sou vítima de um complô desde a manhã de sábado, quando fui para a piscina com as crianças. Esqueci de passar o protetor solar. Estou mais vermelho que a variedade genética da bandeira mexicana. Culpa de todos vocês, que acabaram com a camada de ozônio usando aqueles terríveis desodorantes spray de clorofluorcarboneto...
Existem outros complôs em andamento no mundo. Um dos mais terríveis é o que pretende impor o padrão de beleza de Tonga no mundo ocidental. O padrão masculino da ilha foi incorporado pelo Ronaldo Fenômeno, quando ele adotou aquele corte de cabelo parecido com o bigode de Hitler acima da testa. Existem poucas mulheres em Tonga, o que dificulta o estabelecimento de um padrão específico. Existem Tonguianas muito bonitas e feias, embora predominem as que se parecem com o Ronaldinho Gaúcho chegando de uma farra. Mas lembro de ter visto uma das moças de lá num concurso Miss Universo nos anos 90. Basta dizer que a candidata de Tonga ficou atrás da representante de Madagáscar, ali pelos centésimos. E que ela desfilou com um traje típico tão exuberante que foi adotado como fantasia de uma ala inteira da Mocidade Independente de Padre Miguel no carnaval do ano seguinte. E isso não é demérito. Vários trajes típicos de candidatas a miss já apareceram na Marquês de Sapucaí e algumas já ajudaram a vencer carnavais.
Um complô particularmente desprezível é o que pretende restringir o consumo de chicletes que fazem bola. Não tenho nada contra os chicletes que não fazem bola, inclusive costumo mascar alguns, desde que não sejam de hortelã. Mas daí a restringir os chicletes tipo "Ploc" há uma grande diferença. Os chicletes de hortelã sim, são desprezíveis e todas as pessoas deveriam evitar o seu consumo. Para o sabor hortelã, o melhor é aquela pastilha Garoto. Que é tão boa que está difícil de achar, repare. Tudo o que é bom dura pouco. Embora a pastilha de hortelã Garoto tenha pelo menos uns 40 anos de mercado. É uma pastilha inesquecível. Embora alguns críticos, como o Cabeça, digam que essa pastilha "não passa de pasta de dente solidificada."
Para tudo há um complô. Eu, inclusive, acho que sou vítima de um complô desde a manhã de sábado, quando fui para a piscina com as crianças. Esqueci de passar o protetor solar. Estou mais vermelho que a variedade genética da bandeira mexicana. Culpa de todos vocês, que acabaram com a camada de ozônio usando aqueles terríveis desodorantes spray de clorofluorcarboneto...
sábado, 14 de novembro de 2009
Os brazucas aparecem no mapa
O mundo dá muitas voltas. E parece que não vamos a lugar nenhum. Ainda outro dia, os brazucas estavam sendo barrados nos aeroportos da Europa. Agora, com a capa da The Economist, parece que estamos decolando para a prosperidade.
Mas não é bem assim. Já começamos a ver esse filme várias vezes. E acabamos do lado de fora, "estacionando os carros", como disse o Cazuza. Nossos problemas crônicos permanecem. Nossa ignorância. Nossas diferenças abissais.
Curiosamente, são nossos problemas que nos irmanam. São nossas deficiências e carências mútuas que sedimentam o nosso cadinho cultural. Nós somos brasileiros. Os desprezados orgulhosos. Os reis do improviso. Os pedros malasartes.
Somos nós. Nós que temos a solução de orelhada, a opinião do solavanco, o samba de breque, a batucada na caixa de fósforo, o jabuti na árvore, o doce de jabuticaba. Nós somos a nação do improvável, campeões do tiro no pé. Não desistimos nunca. Não cansamos de morrer na praia. Somos nós, os brazucas. Parecemos uma nação de crianças, que esperam a aprovação dos pais do norte. Somos infantis no riso, nosso humor é, no máximo, juvenil. Somos a nação de fraldas. Birrenta.
Ou então somos os tristes. Os melancólicos que o Scliar descreve, imitando Faulkner.
Desorganizados. Sem pensamento próprio. Deslocados. Somos de altos e baixos, mas aqui predomina o banzo, a tristeza do Jeca.
Mas não é bem assim. Já começamos a ver esse filme várias vezes. E acabamos do lado de fora, "estacionando os carros", como disse o Cazuza. Nossos problemas crônicos permanecem. Nossa ignorância. Nossas diferenças abissais.
Curiosamente, são nossos problemas que nos irmanam. São nossas deficiências e carências mútuas que sedimentam o nosso cadinho cultural. Nós somos brasileiros. Os desprezados orgulhosos. Os reis do improviso. Os pedros malasartes.
Somos nós. Nós que temos a solução de orelhada, a opinião do solavanco, o samba de breque, a batucada na caixa de fósforo, o jabuti na árvore, o doce de jabuticaba. Nós somos a nação do improvável, campeões do tiro no pé. Não desistimos nunca. Não cansamos de morrer na praia. Somos nós, os brazucas. Parecemos uma nação de crianças, que esperam a aprovação dos pais do norte. Somos infantis no riso, nosso humor é, no máximo, juvenil. Somos a nação de fraldas. Birrenta.
Ou então somos os tristes. Os melancólicos que o Scliar descreve, imitando Faulkner.
Desorganizados. Sem pensamento próprio. Deslocados. Somos de altos e baixos, mas aqui predomina o banzo, a tristeza do Jeca.
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Uma opinião comum
Eu nem vi nada do apagão de ontem, já estava dormindo quando aconteceu. Mas lá em casa ninguém deixa pergunta sem resposta. Então, encontrei o Silvino. O nome é fictício. É um colega de trabalho, esse Silvino. Ele adora o governo. Ele é incapaz de criticar o governo. Qualquer governo. O Silvino tem adoração pelas autoridades. Coleciona discurso de presidente. De qualquer presidente. E foi justamente o Silvino que me perguntou o que eu tinha achado do apagão.
_Sou contra - eu disse.
_Como assim? - perguntou o Silvino.
_Abaixo o apagão. Sou contra apagão.
_Mas ninguém é a favor do apagão...
_Ah, aí é que você se engana. Conheço uns caras aí que gostam de tudo. De fila. De juro alto. Até de apagão. Há opinião pra tudo, Silvino. Eu sou contra. Para mim, apagão não está com nada.
_É lógico que não está com nada. Quem é que gosta de escuro? - disse o Silvino. Ele acha que eu sou maluco. Eu faço questão de que ele ache que eu sou maluco.
_Epa! Aí não. Tem muita gente que gosta. Eu mesmo gosto de ficar no escuro, de vez em quando. Até para poder dormir.
_Sim, é lógico - disse o Silvino.
_O quê? - eu disse.
_O quê o quê? - ele perguntou.
_O que é que é lógico?- eu perguntei de volta.
_Dormir, sem luz - disse o Silvino, candidamente.
_Quer dizer, no escuro? Você também gosta de dormir no escuro? - perguntei.
_Claro, quero dizer, é - ele disse.
_Então você é a favor do apagão?
_Quem, eu? - falou o Silvino.
_Você, hem, está sempre a favor, fala a verdade...
_Não, muito pelo contrário...
_Então você é contra?
_O apagão?
-É, você é contra o apagão?
_Claro! - ele disse.
_Eu também! - eu disse.
E por um instante, ele ficou feliz por finalmente compartilhar a mesma opinião comigo. Mas aí fechou a cara e saiu, apressado e resmungando.
_Sou contra - eu disse.
_Como assim? - perguntou o Silvino.
_Abaixo o apagão. Sou contra apagão.
_Mas ninguém é a favor do apagão...
_Ah, aí é que você se engana. Conheço uns caras aí que gostam de tudo. De fila. De juro alto. Até de apagão. Há opinião pra tudo, Silvino. Eu sou contra. Para mim, apagão não está com nada.
_É lógico que não está com nada. Quem é que gosta de escuro? - disse o Silvino. Ele acha que eu sou maluco. Eu faço questão de que ele ache que eu sou maluco.
_Epa! Aí não. Tem muita gente que gosta. Eu mesmo gosto de ficar no escuro, de vez em quando. Até para poder dormir.
_Sim, é lógico - disse o Silvino.
_O quê? - eu disse.
_O quê o quê? - ele perguntou.
_O que é que é lógico?- eu perguntei de volta.
_Dormir, sem luz - disse o Silvino, candidamente.
_Quer dizer, no escuro? Você também gosta de dormir no escuro? - perguntei.
_Claro, quero dizer, é - ele disse.
_Então você é a favor do apagão?
_Quem, eu? - falou o Silvino.
_Você, hem, está sempre a favor, fala a verdade...
_Não, muito pelo contrário...
_Então você é contra?
_O apagão?
-É, você é contra o apagão?
_Claro! - ele disse.
_Eu também! - eu disse.
E por um instante, ele ficou feliz por finalmente compartilhar a mesma opinião comigo. Mas aí fechou a cara e saiu, apressado e resmungando.
terça-feira, 10 de novembro de 2009
Gravetos
Um dos mais dedicados blogueiros que eu acompanho é o do Gravetos e Berlotas, link aqui do lado. O cara que mantém o blog é super antenado e descola todos os discos de rock que você já ouviu falar e nunca conseguiu encontrar. E ele colocou, não faz muito tempo, a íntegra do novo disco de uma super cantora branca, Joss Stone. Vale conferir.
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
A estudante do vestido vermelho
Virou comoção a história da moça do micro-vestido vermelho-rosa. Também achei preconceito, expulsar a estudante por causa de mini-saia, decote e breguice. Acho que mau gosto não se discute, um mínimo de tolerância todo mundo deve ter. Até mesmo com as cores. Afinal de contas, é preciso reconhecer, a moça teve muita coragem para, acima do peso dessas difíceis decisões, usar cores berrantes para assistir aula.
Também achei uma hipocrisia grande daquela moçada vaiando. Aposto que na hora da onça beber água, de levantar e sentar, ou cruzar a perna, muitos dos que vaiaram procuraram um jeito de brechar a moçoila. Tanto os homens que gostam de fartura, quanto das mulheres que também invejam a opulência alheia, tanto em cima quanto na linha da cintura.
Para as pessoas que acham um exagero o assunto virar notícia nacional e internacional, recomendaria o esforço de tentar se colocar, nem que fosse por um minuto, naquele tubinho vermelho-rosa. Não é fácil. O preconceito é uma dieta difícil de se fazer, como teria dito Bussunda. É preciso firmeza, como teria dito Parkinson. É preciso abrir os olhos para ver, como teriam dito Borges e R. Charles. É preciso... preciso... o quê mesmo? teria dito Alzheimer.
Concordo com todos os sábios, inclusive o Paulo Bono, que também já falou sobre o preconceito. Tenho pouco ou nada a acrescentar. Eu só acho importante repetir, mais uma vez, o bom e velho clichê: nem tanto ao mar, nem tanto à saia.
Já lemos esse conto no Guy de Maupassant, em Bolinha de Sebo, já ouvimos essa música com a Geni, do Chico, já vimos centenas de vezes no cinema e na TV. E não cansamos de ver nos programas de auditório, onde o ridículo começa pelo apresentador e se espraia pela platéia, numa catarse coletiva de risos e exaltações para o que é extraordinário e também para o que é ordinário. Isso vale para o que nos deslumbra, o que nos encanta, o que nos ultraja e também o que nos causa horror. Essas cerimônias nos embevecem.
E nós gostamos, sobretudo, de escarnecer, é humano. Não é politicamente correto. E também gostamos da piedade com os escarnecidos. Coitado do escarnecido, que precisa fugir com escolta policial. Coitada da moça de mini-vestido vermelho-rosa, que foi esculachada, esculhambada, vaiada e expulsa da faculdade. Que botou a boca no trombone, recolocou o micro-vestido e falou para a TV. Coitada. Virou motivo de manifestação. De carro de som, de alto-falante. Coitada da moça, que foi, por fim, rematriculada.
Eu queria ver mais comoções assim. Mais carros de som assim. Queria mais dessas legítimas manifestações contra o que nos deixa indignados. Queria que elas não se limitassem à defesa do micro-vestido pinky-choque-protuberante. Queria que fosse além do apoio a quem descolore os cabelos, aos que precisam de cuidados alimentares. Mas nada de palavras de ordem. Nada de punhos fechados. Queria um pink-choque-maneiro de defesa da cidadania, cheio de gente bem-humorada. E com boa-vontade. Eu sei que eu quero demais.
Também achei uma hipocrisia grande daquela moçada vaiando. Aposto que na hora da onça beber água, de levantar e sentar, ou cruzar a perna, muitos dos que vaiaram procuraram um jeito de brechar a moçoila. Tanto os homens que gostam de fartura, quanto das mulheres que também invejam a opulência alheia, tanto em cima quanto na linha da cintura.
Para as pessoas que acham um exagero o assunto virar notícia nacional e internacional, recomendaria o esforço de tentar se colocar, nem que fosse por um minuto, naquele tubinho vermelho-rosa. Não é fácil. O preconceito é uma dieta difícil de se fazer, como teria dito Bussunda. É preciso firmeza, como teria dito Parkinson. É preciso abrir os olhos para ver, como teriam dito Borges e R. Charles. É preciso... preciso... o quê mesmo? teria dito Alzheimer.
Concordo com todos os sábios, inclusive o Paulo Bono, que também já falou sobre o preconceito. Tenho pouco ou nada a acrescentar. Eu só acho importante repetir, mais uma vez, o bom e velho clichê: nem tanto ao mar, nem tanto à saia.
Já lemos esse conto no Guy de Maupassant, em Bolinha de Sebo, já ouvimos essa música com a Geni, do Chico, já vimos centenas de vezes no cinema e na TV. E não cansamos de ver nos programas de auditório, onde o ridículo começa pelo apresentador e se espraia pela platéia, numa catarse coletiva de risos e exaltações para o que é extraordinário e também para o que é ordinário. Isso vale para o que nos deslumbra, o que nos encanta, o que nos ultraja e também o que nos causa horror. Essas cerimônias nos embevecem.
E nós gostamos, sobretudo, de escarnecer, é humano. Não é politicamente correto. E também gostamos da piedade com os escarnecidos. Coitado do escarnecido, que precisa fugir com escolta policial. Coitada da moça de mini-vestido vermelho-rosa, que foi esculachada, esculhambada, vaiada e expulsa da faculdade. Que botou a boca no trombone, recolocou o micro-vestido e falou para a TV. Coitada. Virou motivo de manifestação. De carro de som, de alto-falante. Coitada da moça, que foi, por fim, rematriculada.
Eu queria ver mais comoções assim. Mais carros de som assim. Queria mais dessas legítimas manifestações contra o que nos deixa indignados. Queria que elas não se limitassem à defesa do micro-vestido pinky-choque-protuberante. Queria que fosse além do apoio a quem descolore os cabelos, aos que precisam de cuidados alimentares. Mas nada de palavras de ordem. Nada de punhos fechados. Queria um pink-choque-maneiro de defesa da cidadania, cheio de gente bem-humorada. E com boa-vontade. Eu sei que eu quero demais.
domingo, 8 de novembro de 2009
Coelho
Fiquei lendo.
Existem um monte de autores que você lê e tem vontade de escrever.
Não é o caso do Ross Macdonald. Não é o caso de nenhum romance policial convencional.
É uma literatura que me deixa bem pastel. Tenho evitado ler romances policiais desde que descobri esse efeito narcótico que eles possuem sobre mim. Me sinto um Quixote lendo os romances da cavalaria, quando leio romances policiais. Mas de vez em quando, um desses livros me atrai e acabo sucumbindo. Foi o caso de "O Sorriso de Marfim". Que não tem nada a ver com a ilustração desse coelho.
sábado, 7 de novembro de 2009
Poses familiares para fotos
Um dos fenômenos mais inequívocos que acontecem com as mulheres da minha família é que elas "entortam o pé" para tirar fotografia. Minha mãe e minhas irmãs sentadas, em pé, fazendo pose para foto em ocasião especial, na piscina ou fora dela, em qualquer situação, as mulheres do meu lado da família embicam no mínimo um pé para dentro na hora do clic.
Esse fenômeno foi observado em auto-crítica fina, elegante e sincera pela minha própria mãe há algums milhares de anos.
_Olha, filho - ela me disse. Repara no meu pé. Viu? Eu tenho mania de "entortar" o pé para dentro. Na verdade, entorto os dois pés para dentro.
E fui ali, naquela foto de batizado, que eu reparei pela primeira vez nesse fenômeno. Minha mãe em pose e olhar completamente embevecidos pelo primeiro neto, com roupa elegante, colar de pérolas, coisa fina, foto de álbum de corretor de imóveis, daquelas para colocar em moldura de loja. Mas. Mas os pés da minha mãe estavam realmente apontando para dentro. Aliás, não estavam apenas apontando. Eles estavam curvados, arqueados e tensos, só que para dentro, como se fossem a expressão mais aguda de uma timidez de pés.
_É incrível, mãe. Seus pés parecem, hum, envergonhados? - eu falei, meio em dúvida sobre como definir aquela entortação de pés.
Desde que ela me mostrou aquela foto eu comecei a reparar nas outras fotos da minha mãe e também nas fotos das minhas irmãs. Com facilidade, localizei uma porção de fotos em que elas estavam ali, com os pés enviesados e tímidos, devidamente "entortados" para dentro.
E depois comecei a reparar nos pés delas quando conversavam, para ver se o fenômeno acontecia também distante das câmeras fotográficas. E não deu em nada. Aparentemente, a entortação de pés é um fenômeno exclusivamente fotográfico. Só espero também que seja feminino.
(A Franka fez um post super-engraçado sobre fotos. Será que ela também entorta os pés para tirar foto?)
Esse fenômeno foi observado em auto-crítica fina, elegante e sincera pela minha própria mãe há algums milhares de anos.
_Olha, filho - ela me disse. Repara no meu pé. Viu? Eu tenho mania de "entortar" o pé para dentro. Na verdade, entorto os dois pés para dentro.
E fui ali, naquela foto de batizado, que eu reparei pela primeira vez nesse fenômeno. Minha mãe em pose e olhar completamente embevecidos pelo primeiro neto, com roupa elegante, colar de pérolas, coisa fina, foto de álbum de corretor de imóveis, daquelas para colocar em moldura de loja. Mas. Mas os pés da minha mãe estavam realmente apontando para dentro. Aliás, não estavam apenas apontando. Eles estavam curvados, arqueados e tensos, só que para dentro, como se fossem a expressão mais aguda de uma timidez de pés.
_É incrível, mãe. Seus pés parecem, hum, envergonhados? - eu falei, meio em dúvida sobre como definir aquela entortação de pés.
Desde que ela me mostrou aquela foto eu comecei a reparar nas outras fotos da minha mãe e também nas fotos das minhas irmãs. Com facilidade, localizei uma porção de fotos em que elas estavam ali, com os pés enviesados e tímidos, devidamente "entortados" para dentro.
E depois comecei a reparar nos pés delas quando conversavam, para ver se o fenômeno acontecia também distante das câmeras fotográficas. E não deu em nada. Aparentemente, a entortação de pés é um fenômeno exclusivamente fotográfico. Só espero também que seja feminino.
(A Franka fez um post super-engraçado sobre fotos. Será que ela também entorta os pés para tirar foto?)
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
It´s a long way
Pessoas, tive duas semanas duríssimas, com pouco tempo para tudo. Vamos ver se agora normaliza.
Norma? Liza? Bengéu? Teilor?
Norma? Liza? Bengéu? Teilor?
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Sacações curtas de um feriado mínimo
A minha velha opinião sobre tudo
Sim, andei reparando bem, tenho uma velha opinião sobre quase tudo. Às vezes nem tenho opinião nenhuma. Não acho isso negativo. A maior parte das coisas já existe há muito tempo. Só mudaram algumas indumentárias. Às vezes, nem isso. Por isso, acho legal minhas opiniões estarem comigo há muito tempo. Minhas velhas opiniões estão envelhecendo com dignidade. Têm pequenos lapsos, claudicam um pouquinho, estão meio grisalhas, mas dão conta do recado. Outro dia mesmo, vieram me perguntar:
_Careca, o que você acha disso?
E então eu nem precisei raspar a garganta e pensar um pouquinho. Lá veio ela, minha velha opinião sobre isso e aquilo. Devagar, confiante em sua experiência, talvez até um pouco exagerada e rebuscada demais. Mas ainda assim, minha opinião, simples, elegante e sincera. Quem mandou perguntar?
O extraordinário instinto grupal
Quando mais jovem, muitas pessoas me chamavam de conservador. Agora, muitas das mesmas pessoas continuam a me chamar de conservador. Outros já não me chamam mais.
Terapia do grito
Conheci uma figura que fez a famigerada terapia do grito primal. Perguntei onde que era.
Era no mato? Um local isolado?
A figura me disse que era numa sala com tratamento acústico. Lá dentro você podia berrar à vontade. Funcionava numa sala no shopping do centro da cidade.
E como era? Era bom?
Não, era meio barulhento, ela me disse.
Sim, andei reparando bem, tenho uma velha opinião sobre quase tudo. Às vezes nem tenho opinião nenhuma. Não acho isso negativo. A maior parte das coisas já existe há muito tempo. Só mudaram algumas indumentárias. Às vezes, nem isso. Por isso, acho legal minhas opiniões estarem comigo há muito tempo. Minhas velhas opiniões estão envelhecendo com dignidade. Têm pequenos lapsos, claudicam um pouquinho, estão meio grisalhas, mas dão conta do recado. Outro dia mesmo, vieram me perguntar:
_Careca, o que você acha disso?
E então eu nem precisei raspar a garganta e pensar um pouquinho. Lá veio ela, minha velha opinião sobre isso e aquilo. Devagar, confiante em sua experiência, talvez até um pouco exagerada e rebuscada demais. Mas ainda assim, minha opinião, simples, elegante e sincera. Quem mandou perguntar?
O extraordinário instinto grupal
Quando mais jovem, muitas pessoas me chamavam de conservador. Agora, muitas das mesmas pessoas continuam a me chamar de conservador. Outros já não me chamam mais.
Terapia do grito
Conheci uma figura que fez a famigerada terapia do grito primal. Perguntei onde que era.
Era no mato? Um local isolado?
A figura me disse que era numa sala com tratamento acústico. Lá dentro você podia berrar à vontade. Funcionava numa sala no shopping do centro da cidade.
E como era? Era bom?
Não, era meio barulhento, ela me disse.
domingo, 1 de novembro de 2009
O Bobó do Borogodó
Ganhei um bermudão quadriculado de presente de aniversário da minha irmã mais nova. Achei bacana, o bermudão. Resolvi estrear hoje, no "Bobó de Camarão do Cabeção", um dos eventos mais tradicionais da alta gastronomia brasiliense.
O Bobó é um acontecimento para poucos e seletos. Você só consegue entrar na lista para acessar o edifício "chez Cabeçá", também chamado de "Maison de la Téte" se tiver pistolão ou se for da diretoria. A receita do "Bobó do Cabeção" segue a tradição oral dos iorubás morubixabas baianos e nordestinos e foi transmitida de boca de santo a orelha de virgem durante trocentos anos até que parou no ouvido do Cabeça. Diga-se de passagem, isso foi antes do Cabeça romper o tímpano. Ele diz que acrescentou um ou dois temperos secretos, que não revela nem sob tortura. Mas depois de umas cervejas geladas ele não se faz de rogado. O Cabeça é um cara generoso, ele gosta é da boa mesa. É por isso que ele está sempre de bem com a vida.
Quando o Cabeça nos convidou para essa fantástica tertúlia confesso que salivei em antecipação. O Bobó do Cabeça é o "ó do borogodó". Quem experimenta, repete, quer mais e come até que não se aguenta. E eu ainda coloco pimenta, que é para rimar mais um pouco. É muito bom. Portanto, considerei o Bobó como a ocasião mais que perfeita para estrear a minha bermuda nova.
_Você vai com essa bermuda? - perguntou a minha mulher.
_Vou sim, bermuda legal, tipo roqueiro. Vou arrasar.
E acho que o bermudão estreou muito bem, pois passou completamente despercebido pela nata da sociedade brasiliense presente ao evento. Enquanto estivemos lá, e foram mais de seis horas, tirando algumas abobrinhas, nós só falamos de comida de olho no Bobó. E depois do Bobó, só falamos do Bobó.
Não é exagero meu. Eu acho que deveria haver até um horário especial para quando se comesse o Bobó do Cabeção. É, sem dúvida, um marco do calendário. Uma referência no tempo. Pós-Bobó. Antes do Bobó. Eu, por exemplo, sempre vou saber que estreiei a minha bermuda quadriculada naquele dia primeiro de novembro de 2009. Uma bermuda tão bonita, que para comemorar, o Cabeça resolveu fazer Bobó de Camarão...
O Bobó é um acontecimento para poucos e seletos. Você só consegue entrar na lista para acessar o edifício "chez Cabeçá", também chamado de "Maison de la Téte" se tiver pistolão ou se for da diretoria. A receita do "Bobó do Cabeção" segue a tradição oral dos iorubás morubixabas baianos e nordestinos e foi transmitida de boca de santo a orelha de virgem durante trocentos anos até que parou no ouvido do Cabeça. Diga-se de passagem, isso foi antes do Cabeça romper o tímpano. Ele diz que acrescentou um ou dois temperos secretos, que não revela nem sob tortura. Mas depois de umas cervejas geladas ele não se faz de rogado. O Cabeça é um cara generoso, ele gosta é da boa mesa. É por isso que ele está sempre de bem com a vida.
Quando o Cabeça nos convidou para essa fantástica tertúlia confesso que salivei em antecipação. O Bobó do Cabeça é o "ó do borogodó". Quem experimenta, repete, quer mais e come até que não se aguenta. E eu ainda coloco pimenta, que é para rimar mais um pouco. É muito bom. Portanto, considerei o Bobó como a ocasião mais que perfeita para estrear a minha bermuda nova.
_Você vai com essa bermuda? - perguntou a minha mulher.
_Vou sim, bermuda legal, tipo roqueiro. Vou arrasar.
E acho que o bermudão estreou muito bem, pois passou completamente despercebido pela nata da sociedade brasiliense presente ao evento. Enquanto estivemos lá, e foram mais de seis horas, tirando algumas abobrinhas, nós só falamos de comida de olho no Bobó. E depois do Bobó, só falamos do Bobó.
Não é exagero meu. Eu acho que deveria haver até um horário especial para quando se comesse o Bobó do Cabeção. É, sem dúvida, um marco do calendário. Uma referência no tempo. Pós-Bobó. Antes do Bobó. Eu, por exemplo, sempre vou saber que estreiei a minha bermuda quadriculada naquele dia primeiro de novembro de 2009. Uma bermuda tão bonita, que para comemorar, o Cabeça resolveu fazer Bobó de Camarão...
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Mais um aniversário do Careca
Completei um calibre na quinta-feira da semana passada.
Estou numa correria tão grande que não consegui nem parar um pouco, para comemorar direito. Minha mulher fez uma surpresa anunciada, na sexta-feira. A Rose fez um jantar excelente. Todo mundo elogiou, inclusive minha mãe, que é uma cozinheira de mão cheia. Eu não cozinho nada, mas desenvolvi o sombrio senso crítico de quem não tem aptidão nenhuma para a cozinha. E é claro que elogiei, também. E agradeci.
Minha filha cantou para mim aquela música:
"Hoje eu sinto que cresci bastante,
Hoje sinto que sou um gigante,
Do tamanho de um elefante,
Porque hoje é meu aniversario,
E quando chega meu aniversário,
Eu me sinto bem maior, bem maior,
Do que eu era antes".
Foi realmente bonito.
E eu me senti bem maior, bem maior, do que eu era antes.
E bem piegas também.
Esta semana será mais corrida do que as anteriores. Estarei com um tempo reduzido, até para blogar. E espero que me perdonem, por estes dias, los muertos de mi felicidad...
Estou numa correria tão grande que não consegui nem parar um pouco, para comemorar direito. Minha mulher fez uma surpresa anunciada, na sexta-feira. A Rose fez um jantar excelente. Todo mundo elogiou, inclusive minha mãe, que é uma cozinheira de mão cheia. Eu não cozinho nada, mas desenvolvi o sombrio senso crítico de quem não tem aptidão nenhuma para a cozinha. E é claro que elogiei, também. E agradeci.
Minha filha cantou para mim aquela música:
"Hoje eu sinto que cresci bastante,
Hoje sinto que sou um gigante,
Do tamanho de um elefante,
Porque hoje é meu aniversario,
E quando chega meu aniversário,
Eu me sinto bem maior, bem maior,
Do que eu era antes".
Foi realmente bonito.
E eu me senti bem maior, bem maior, do que eu era antes.
E bem piegas também.
Esta semana será mais corrida do que as anteriores. Estarei com um tempo reduzido, até para blogar. E espero que me perdonem, por estes dias, los muertos de mi felicidad...
domingo, 25 de outubro de 2009
Rafael e as borboletas na parede
Minha mulher grudou umas borboletas de cerâmica na parede do quarto da minha filha. São lindas a borboletas. Elas têm umas anteninhas coloridas, lantejoulas, glitter, brilham no escuro. Não sei quantas borboletas estão grudadas. É mais de cinco, menos de dez. São muitas. E elas são apenas borboletas, quero dizer, minha filha não colocou nome nenhum nos bichinhos. Ela gosta de dar nomes. E quando ganham nomes, as coisas dela também ganham pai, mãe e irmão adotivos.
Vejam o Rafael, por exemplo. Rafael é o cachorrinho daqui de casa. É um shitsu, dizem que é "marca" legal. Ela ganhou no aniversário de cinco anos, em setembro. Desde então, em dois meses, o bicho dobrou de tamanho. Antes, cabia num copo. Hoje, já entope a vasilha do liquidificador. Ele também dobrou de preguiça. Parafraseando aquele ex-ministro do Trabalho, o único ser humano daqui de casa com mais preguiça que o cachorrinho sou eu. É uma companhia perfeita. Para assistir televisão. Para exercitar os olhos. Para suspirar de vontade de não fazer nada. Rafael é um convite para o livre ócio. Um estímulo para se ficar a tarde inteira grudado no sofá.
Desde que ganhou nome, Rafael também ganhou um pai(eu), um irmão(meu filho), e duas mães(minha filha e minha mulher). Meu filho o alimenta. Eu dou banho e cuido de alguns descuidos do Rafael. Minha mulher o penteia. Minha filha é quem o mima. E cobre de beijos.
Descobri depois de uma sessão prolongada de beijos e abraços que tenho ciúmes do Rafael. E que a recíproca também é verdadeira. Se eu me aproximo da minha filha quando o Rafael está com ela, o bicho muda a personalidade. De quadrúpede pacato e bonachão, companheiro da nobre arte de não fazer coisa alguma, Rafael passa a bancar o valentão. Late. Rosna. Chateia.
Como é um cachorrinho muito diminutivo, não dá para levar a sério. Mas ele se leva. Por isso, para não magoar o pequeno onívoro, procuro evitar recriminações a beijos e abraços no cachorro quando ele está por perto. Sim, eu achava que essas eram típicas recomendações higiênicas, mas não é nada disso. É ciúme. É ciúme disfarçado de recomendação higiênica. Sim, porque sou eu que dou banho no Rafael e posso garantir que o bicho é limpo. Uso um shampoo bem legal. Eu mesmo poderia dar beijos nesse cachorro. Mas não faço isso. Não dou beijo em bicho nenhum. Nem em peixe. Principalmente em peixe. Talvez seja por preconceito, ou por uma opção de vida diferente, hetero, mais recatada, sem grudação e exagero, coisas que são difíceis para se explicar para uma criança. Eu nem tento. Mas um cafuné eu faço, sem frescuras.
Então? Então é isso. Às vezes, é preciso admitir, tenho ciúmes do Rafael. Mas também entro na fila para fazer carinho nele. O que me consola é que, como qualquer outro ser humano, o Rafael também tem ciúmes de mim. E assim como acontece comigo, às vezes também espera na fila pelo carinho da minha filha. A única diferença é que late.
Vejam o Rafael, por exemplo. Rafael é o cachorrinho daqui de casa. É um shitsu, dizem que é "marca" legal. Ela ganhou no aniversário de cinco anos, em setembro. Desde então, em dois meses, o bicho dobrou de tamanho. Antes, cabia num copo. Hoje, já entope a vasilha do liquidificador. Ele também dobrou de preguiça. Parafraseando aquele ex-ministro do Trabalho, o único ser humano daqui de casa com mais preguiça que o cachorrinho sou eu. É uma companhia perfeita. Para assistir televisão. Para exercitar os olhos. Para suspirar de vontade de não fazer nada. Rafael é um convite para o livre ócio. Um estímulo para se ficar a tarde inteira grudado no sofá.
Desde que ganhou nome, Rafael também ganhou um pai(eu), um irmão(meu filho), e duas mães(minha filha e minha mulher). Meu filho o alimenta. Eu dou banho e cuido de alguns descuidos do Rafael. Minha mulher o penteia. Minha filha é quem o mima. E cobre de beijos.
Descobri depois de uma sessão prolongada de beijos e abraços que tenho ciúmes do Rafael. E que a recíproca também é verdadeira. Se eu me aproximo da minha filha quando o Rafael está com ela, o bicho muda a personalidade. De quadrúpede pacato e bonachão, companheiro da nobre arte de não fazer coisa alguma, Rafael passa a bancar o valentão. Late. Rosna. Chateia.
Como é um cachorrinho muito diminutivo, não dá para levar a sério. Mas ele se leva. Por isso, para não magoar o pequeno onívoro, procuro evitar recriminações a beijos e abraços no cachorro quando ele está por perto. Sim, eu achava que essas eram típicas recomendações higiênicas, mas não é nada disso. É ciúme. É ciúme disfarçado de recomendação higiênica. Sim, porque sou eu que dou banho no Rafael e posso garantir que o bicho é limpo. Uso um shampoo bem legal. Eu mesmo poderia dar beijos nesse cachorro. Mas não faço isso. Não dou beijo em bicho nenhum. Nem em peixe. Principalmente em peixe. Talvez seja por preconceito, ou por uma opção de vida diferente, hetero, mais recatada, sem grudação e exagero, coisas que são difíceis para se explicar para uma criança. Eu nem tento. Mas um cafuné eu faço, sem frescuras.
Então? Então é isso. Às vezes, é preciso admitir, tenho ciúmes do Rafael. Mas também entro na fila para fazer carinho nele. O que me consola é que, como qualquer outro ser humano, o Rafael também tem ciúmes de mim. E assim como acontece comigo, às vezes também espera na fila pelo carinho da minha filha. A única diferença é que late.
sábado, 24 de outubro de 2009
Gosto não se discute
Eu gosto de pão com macarrão. Tem gente que gosta de pão com feijão. Tem gente que gosta de bolacha maizena com chocolate e ketchup. Um monte de pessoas que eu conheço não suporta alcaparras. Eu gosto. E que dizer de alcachofras? Tem gente que nem olha para alcachofras. Eu mesmo posso passar anos sem perceber que fiquei mais de 365 dias sem comer alcachofras. O mesmo vale para aspargos. Posso ficar meses sem cogumelos. E adoro tomate. Um dia ainda vou para aquela festa do tomate, na Europa. Jogar tomate numa multidão deve ser divertido. É melhor do que pisar no tomate. Aliás, deixa pra lá...
Se você me perguntar eu terei prazer em lhe dizer que aprendi a gostar de pão com macarrão num acmpamento que fiz. Foi há muitos anos. Eu fui acampar com um monte de gente e as mochilas molharam. Estragou tudo. Os únicos comestíveis que sobraram foram o pão e o macarrão. Então eu comi pão com macarrão. E gostei. No dia seguinte, também só havia pão com macarrão. Era pegar ou largar. Eu peguei. No terceiro dia, ou você voltava para casa ou encarava o pão com macarrão. Eu encarei. No quarto dia, sim, eu já estava cansado daquilo. Mas era a única coisa que havia. E naquela época, não havia esses programas de sobrevivência na selva passando na TV. Eu não sabia como me alimentar de raízes e brotos, vermes e seres desprezíveis. Hoje também não sei, aliás, tenho o maior nojo dessas coisas. Ugh! Portanto, comi pão com macarrão.
Foi um acampamento memorável. Nunca esqueci daquele acampamento. E nem do pão com macarrão e da vodka. Natasha. Era o nome da vodka. A gente usou também para acender a fogueira. E também como repelente de mosquitos. E também para o motor a álcool. Era uma vodka polivalente. Nunca mais tomei vodka depois daquele acampamento. Fiquei anos sem comer pão com macarrão. Não podia. Me lembrava aquele acampamento. Outro dia, minha mulher e as crianças não estavam em casa. A Rose, a empregada-babá polivalente e graduanda lá de casa, não fez o jantar porque eu havia esquecido de comprar coisas básicas, tipo comida. Só tinha pão e macarrão. Estava muito bom.
Se você me perguntar eu terei prazer em lhe dizer que aprendi a gostar de pão com macarrão num acmpamento que fiz. Foi há muitos anos. Eu fui acampar com um monte de gente e as mochilas molharam. Estragou tudo. Os únicos comestíveis que sobraram foram o pão e o macarrão. Então eu comi pão com macarrão. E gostei. No dia seguinte, também só havia pão com macarrão. Era pegar ou largar. Eu peguei. No terceiro dia, ou você voltava para casa ou encarava o pão com macarrão. Eu encarei. No quarto dia, sim, eu já estava cansado daquilo. Mas era a única coisa que havia. E naquela época, não havia esses programas de sobrevivência na selva passando na TV. Eu não sabia como me alimentar de raízes e brotos, vermes e seres desprezíveis. Hoje também não sei, aliás, tenho o maior nojo dessas coisas. Ugh! Portanto, comi pão com macarrão.
Foi um acampamento memorável. Nunca esqueci daquele acampamento. E nem do pão com macarrão e da vodka. Natasha. Era o nome da vodka. A gente usou também para acender a fogueira. E também como repelente de mosquitos. E também para o motor a álcool. Era uma vodka polivalente. Nunca mais tomei vodka depois daquele acampamento. Fiquei anos sem comer pão com macarrão. Não podia. Me lembrava aquele acampamento. Outro dia, minha mulher e as crianças não estavam em casa. A Rose, a empregada-babá polivalente e graduanda lá de casa, não fez o jantar porque eu havia esquecido de comprar coisas básicas, tipo comida. Só tinha pão e macarrão. Estava muito bom.
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Cara a cara
Minha filha me esperou o dia inteiro para jogar "Cara a Cara". É um jogo de tabuleiro. Cada jogador recebe uma espécie de prancheta com 24 "crachás" de pessoas diferentes. Cada jogador escolhe uma carta entre as 24. A carta que você escolhe tem o rosto de uma das pessoas dos "crachás" da prancheta. Ganha o jogo quem conseguir adivinhar ou descobrir a carta do outro, por meio de perguntas.
Minha filha é muito boa nesse jogo. Ela ganhou as três primeiras partidas. Consegui empatar com dificuldades. Depois ela ganhou a quarta partida. Ainda me esforcei, mas ela ganhou a última das cinco partidas. Pedi a chance de uma revanche, mas ela não gosta de fazer nenhuma concessão.
Amanhã, ou talvez no sábado, eu sei que vou ter que esperar um tempão até que ela decida jogar uma nova partida comigo.
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Quem viver, viverá
Sempre achei que haviam economizado no ditado.
O certo é: quem viver, viverá.
Afinal, os cegos vivem. E muitos deles não enxergam patavina.
Por falar nisso, preciso ir ao oculista.
Essa é uma legítima frase de antigamente.
Hoje as pessoas vão no oftalmo, que é a abreviatura de oftalmologista.
Todo mundo tem preguiça de falar e de escrever.
É por isso que o cara do Tweeter ganha milhões.
Todo mundo tem pregui!
Inclusive eu.
terça-feira, 20 de outubro de 2009
Fantasma que anda
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
O mistério doido do sumiço das notas de 1
Sim, minha querida kombi de leitores, eu não gosto de andar com moedas. Não é que não goste de moedas. Pelo contrário. Gosto tanto de moedas que eu tenho uma coleção delas. Só moedas de dez centavos. Não vale nada, mas é feita com muito esmero. O fato é que não gosto de andar com moedas. Elas tilintam no bolso. Chacoalham. E uma moeda nunca está sozinha, vem sempre acompanhada. Por isso, tilintam. E por causa desse barulho irritante, eu me sinto desconfortável como um cofrinho participando de uma parada militar. Por isso, ao contrário da maioria das pessoas, quando falta troco eu não me importo de pegar os centavos que faltam em balinha. Com isso eu faço o dia da pessoa do caixa mais feliz. E eu gosto de balinhas. Elas não fazem barulho no bolso.
_Moço, não tem troco. Aceita balinha? - pergunta a moça do caixa.
_Hum, não sei não. Que balinha que cê tem aí? - eu digo. Eu gosto de quase tudo quanto é balinha, mas não é bom se fazer de fácil para a moça do caixa.
_Só tem bala de menta.
_Ah, bala de menta eu não gosto. Enjoei. Tem de canela?
_Não, senhor. Só tem de menta e uva. Vai aceitar? - e aí eu não gostei do tom de voz. Soou como se ela estivesse me fazendo um favor e não o contrário.
_Bala de uva deixa a lingua roxa. Bala de menta não tem quem aguenta. Então eu quero o troco em dinheiro, papel-moeda.
_Mas a minha menor nota é de dois reais, senhor.
_Não tem nota de um?
_Não senhor, faz tempo que eu nem vejo nota de um. Só tem moeda de um real.
_Então, me dê a moeda.
_Não, senhor. Eu não tenho moeda nenhuma.
_Mas você não disse que tinha uma moeda de um real.
_Não, senhor. Eu não disse isso. Eu disse...
_Não tem importância. Eu não levar nada - eu digo, e vejo a moça empalidecer. Ela já registrou e é um inferno desregistrar. Ela engole a raiva e inicia o discurso.
_Eu sei o que é isso, senhor. É o horário de verão. Deixa todo mundo irritado. O governo quer que a gente acorde mais cedo, trabalhe e gaste menos energia. Mas o que acontece é que todo mundo acorda mais cedo, trabalha mais e gasta o dobro da energia. Sim, porque quando eu acordo está escuro, não se enxerga nada. E quando eu volto pra casa, está escuro do mesmo jeito, é um horror. E o freguês tem sempre razão, então o senhor já é o terceiro freguês que fica irritado hoje porque eu não tenho troco, não posso fazer nada se aquele rapaz que sempre me ajuda a buscar troco hoje nem apareceu por causa desse maldito horário de verão...
_Não, moça. Você tem razão. Eu também odeio horário de verão. Eu vou levar bala de uva. Não tem a menor importância - e é extraordinário como a irritação mais profunda pode, de repente, se transformar num sorriso de cumplicidade e gratidão.
E as crianças gostaram das balas de uva.
_Pai, o bom da bala de uva é que ela deixa a boca roxa - eles me explicaram.
E o grande mistério permanece. Só acho nota de dois. Acabaram as notas de 1?
_Moço, não tem troco. Aceita balinha? - pergunta a moça do caixa.
_Hum, não sei não. Que balinha que cê tem aí? - eu digo. Eu gosto de quase tudo quanto é balinha, mas não é bom se fazer de fácil para a moça do caixa.
_Só tem bala de menta.
_Ah, bala de menta eu não gosto. Enjoei. Tem de canela?
_Não, senhor. Só tem de menta e uva. Vai aceitar? - e aí eu não gostei do tom de voz. Soou como se ela estivesse me fazendo um favor e não o contrário.
_Bala de uva deixa a lingua roxa. Bala de menta não tem quem aguenta. Então eu quero o troco em dinheiro, papel-moeda.
_Mas a minha menor nota é de dois reais, senhor.
_Não tem nota de um?
_Não senhor, faz tempo que eu nem vejo nota de um. Só tem moeda de um real.
_Então, me dê a moeda.
_Não, senhor. Eu não tenho moeda nenhuma.
_Mas você não disse que tinha uma moeda de um real.
_Não, senhor. Eu não disse isso. Eu disse...
_Não tem importância. Eu não levar nada - eu digo, e vejo a moça empalidecer. Ela já registrou e é um inferno desregistrar. Ela engole a raiva e inicia o discurso.
_Eu sei o que é isso, senhor. É o horário de verão. Deixa todo mundo irritado. O governo quer que a gente acorde mais cedo, trabalhe e gaste menos energia. Mas o que acontece é que todo mundo acorda mais cedo, trabalha mais e gasta o dobro da energia. Sim, porque quando eu acordo está escuro, não se enxerga nada. E quando eu volto pra casa, está escuro do mesmo jeito, é um horror. E o freguês tem sempre razão, então o senhor já é o terceiro freguês que fica irritado hoje porque eu não tenho troco, não posso fazer nada se aquele rapaz que sempre me ajuda a buscar troco hoje nem apareceu por causa desse maldito horário de verão...
_Não, moça. Você tem razão. Eu também odeio horário de verão. Eu vou levar bala de uva. Não tem a menor importância - e é extraordinário como a irritação mais profunda pode, de repente, se transformar num sorriso de cumplicidade e gratidão.
E as crianças gostaram das balas de uva.
_Pai, o bom da bala de uva é que ela deixa a boca roxa - eles me explicaram.
E o grande mistério permanece. Só acho nota de dois. Acabaram as notas de 1?
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