terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Uma campanha honesta

Sou um ingênuo. Gostaria de acreditar que se todos os candidatos recebessem dinheiro público para suas campanhas não haveria corrupção. Gostaria de acreditar que se os partidos fossem fortalecidos, não haveria troca-troca de partidos nem legendas de aluguel. Gostaria de acreditar que a existência de leis mais duras, com a previsão de penas severas, levaria alguém a pensar duas vezes antes de aceitar “panetones”.

Mas não acredito. Políticos são pessoas. E as pessoas agem de acordo com suas vontades e valores. Ninguém é levado a aceitar propina. Ninguém é corrupto porque está sendo chantageado. Ao contrário. Propina só aceita quem quer. É o corrupto que faz chantagem. Corruptor e corrompido são farinha do mesmo saco, ambos são corruptos.

As coisas são simples. As linhas retas existem. Existe o preto. Existe o branco. Quem pega pacote de dinheiro vivo para custear despesa de campanha não está cruzando uma nebulosa linha cinzenta. Está agindo de forma errada, criminosa.

É óbvio. Cristalino. Ululante.

Sou um ingênuo. Gostaria de acreditar que se o voto fosse distrital as coisas seriam diferentes. Gostaria de acreditar que se houvesse mais fiscalização antes e depois das eleições haveria uma diminuição do número de políticos corruptos. Gostaria de acreditar que se fosse exigida ficha limpa dos candidatos haveria redução da ladroagem e da safadeza na política.

Também gostaria de acreditar que a culpa é da lei de licitações, do excesso de arbítrio dos tribunais de contas, da fraqueza das nossas instituições, da ausência da reforma política, da falta do voto distrital, da história da nossa formação cultural e da baixa escolaridade do povo. Mas não acredito em nada disso.

Acho que a culpa da corrupção é de quem é corrupto. E com o corrupto deve ficar. Simples assim. Que pague, aqui, as penas pelos seus erros.
Sou um ingênuo, eu sei. Mesmo assim, parece que a gente honesta está calada ou não tem ninguém para atirar a primeira pedra.

Ou talvez estejam faltando pedras. Por via das dúvidas, ando com uma no bolso.

De qualquer maneira, no ano que vem, eu gostaria de ver um candidato ter a coragem de dizer todos os dias, na campanha da TV: "Olha, gente, até hoje nós gastamos tanto com a campanha. E está tudo registrado no banco tal. Não usamos dinheiro vivo. É tudo DOC. Não tem papel moeda de igreja, de culto, de grupo. Não tem grana de doleiro. Não tem bufunfa de empréstimo no Paraguai. Perfeitamente auditável e tudo na Internet. E tem mais: eu sou honesto.

Sou um ingênuo. Eu disse.

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