sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Narval e o santo de casa

As viagens rápidas de avião acabam por fazer a gente criar alguns hábitos. Eu aperfeiçoei a minha mania de moleskine. É só entrar no avião e eu abro o moleskine. Tenho sempre uma caneta gel preta 0.7 no bolso. E vou desenhando até chegar ao destino. Às vezes nem percebo a moça oferecendo balinha e refrigerante. Também não me incomodo de responder perguntas sobre o desenho. Em geral, são as crianças que perguntam.

_Moço, isso é o quê? - perguntou esse menino. Devia ter uns oito anos. Viajava com a avó.

_É um narval - eu disse. Acho que é assim. Nunca vi nenhum.

_Tem chifre de unicórnio?

_É. Na verdade, dizem que é um dente gigante, não sei direito.

_Parece uma baleia com chifre de unicórnio - disse o garoto.

_E é de marfim. Os chifres são muito valiosos.

_Posso desenhar também?

_Desculpe, mas neste caderno só eu desenho. Mas pode usar essa folha branca.

_Obrigado - era um menino muito educado.

Continuei desenhando. O menino pegou uma caneta com a avó. Não gosto de emprestar canetas. Quando terminei, pouco antes do avião pousar, olhei de esguelha para ver o que o menino havia desenhado. Um unicórnio. Muito bem feito. Muito bem feito até para um adulto. Fiquei boquiaberto. Falei para o menino que era um dos melhores desenhos de unicórnios que eu já havia visto. A avó do menino não foi da mesma opinião. Quando recebeu o desenho, dobrou a folha ao meio, fazendo vinco e guardou na bolsa.

_Ele vive desenhando animais, esse menino. Mas não consegue desenhar pessoas - disse a avó. E depois ela reclamou que ele havia mordido a tampa da caneta.

2 comentários:

Mwho disse...

Deviam ter jogado a avó lá de cima!!!

Careca disse...

Mwho, deve ser por essas coisas que não se pode abrir janela no avião.

Frase do dia