O Rafael é o cãozinho de grife daqui de casa. É um shitsu. Tem uns cinco meses de vida. Minha mulher diz que ele nasceu em algum dia do mês de julho, está escrito em algum lugar do pedigree. Rafael agora disputa comigo o carinho das crianças. Se a minha filha vem me mostrar um desenho, ele rosna e late para mim. Se o meu filho vem me contar uma façanha do video-game, ele late para mim. Se a minha mulher começa a fazer cafuné em mim, ele morde o meu dedão do pé, justo aquele que dói. Às vezes, para evitar agressões caninas, eu tenho que dar atenção para as crianças às escondidas, de maneira disfarçada.
_Gostou do desenho, paiê?
_Gostei - eu digo, cochichando.
_O quê?
_Gostei muito. Cuidado para o Rafa não ouvir - eu falo.
_O quê?
_Adorei, filha! - e nhac!, Rafael me aplica uma dentada no dedão. É sempre no dedão que dói.
Com o meu filho é a mesma coisa, somos obrigados a cochichar sobre as melhores jogadas no video-game.
_Que massa, pai, eu tô zerando todas as fases do Batman Lego.
_O quê?
_Batman Lego, pai, eu sou fera.
_O quê?
_O Batman, pai, eu sou fera no Batman Lego.
E nhac!, levamos mordidas nós dois, porque o Rafael ama de paixão a minha filha e com o meu filho faz guerrinha de ciúmes.
_Amor, as crianças dormiram, finalmente. Quer ver um filme?
_Claro - eu digo. E nhac!, recebo outra mordida no dedão. No que dói.
Por isso, decidi abolir as meias, os pés descalços e os chinelos e passei a andar calçado em casa. É a maneira mais segura de evitar dentadas no meu dedão, no que dói. Durante duas semanas, meu estratagema funcionou às mil maravilhas. Mas Rafael é um cãozinho shitsu esperto. Ele roeu os cardaços dos sapatos. E eu nunca me lembro de comprar cardaços novos. Os cardaços estão em petição de miséria e para preservá-los, deixo os sapatos no armário, longe das dentadas de Rafael, o abominável.
Para piorar as coisas, descobri que além da minha filha, o Rafael morre de ciúmes de quem for para o computador. Se as crianças estão brincando, o Rafael fica rosnando e latindo para o PC. Se a minha mulher está no computador, ele range os dentes e late. Agora, além de falar baixo, eu também teclo baixo, para que ele não venha aqui, na mesa do computador e morda o meu dedão. No que dói. Ai.
2 comentários:
aqui em casa descobrimos que a sopa tem medo de guarda chuva. enfim, paz no dedão. você não imagina o que ela faz num pé numa sandália de salto alto.
Franka, eu não abro guarda-chuva dentro de casa nem com reza braba.
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