“Eu tenho o maior respeito pelo Rei Roberto Carlos. O cabra é bom mesmo. Sempre liderou, né? É o campeão dos campeões, “a”, number one, top of the hit. Mas já faz tempo que eu não escuto uma música “nova” de sua majestade. Curto as clássicas. Curto aquelas que o Caetano fez pra ele, recuperando a idéia do Torquato Neto de fazer uma simbiose entre a Tropicália e o Iê-iê-iê. Houve uma época em que até o mais simples dos sincretismos tinha que ser teorizado em vigorosas colunas de jornal, antes de ser colocado em prática. Foi o caso. Mesmo assim, Caetano só fez as composições depois que Torquato se matou, com gás. E são essas as músicas que eu sempre vejo, na minha cabeça, o Rei Roberto cantar. “
Nem sei se isso é verdade mesmo. Apenas repito uma conversa que eu tive, uma vez, quando eu ainda freqüentava boteco, com um fã do Rei. Achei convincente essa conversa. Parece fazer sentido, embora talvez seja apenas uma lenga-lenga para tapear incautos. Como a maioria das músicas que eu curto do Rei parecem ter sido feitas pelo Caetano, eu engoli direitinho essa pantomina. Mas, ao que parece, o Rei gravou apenas uma música do Caetano, chamada “Como dois e dois” e a célebre declaração de amor ao então cabeludo “Debaixo dos caracóis dos seus cabelos”. Isso foi em 1971. Eu tinha seis anos. E onde eu morava nem pegava televisão direito. Aliás, eu só via televisão na casa da minha avó, durante as férias escolares.
Tenho medo de que no futuro as coisas sejam como essa história que eu engoli sobre o Rei Roberto. Uma multitude de confusões e meias verdades repetidas e triplicadas à exaustão pelos meios de difusão de informações. E as pessoas perdidas no meio, sem ter como saber o que realmente aconteceu, com as imagens editadas e truncadas pela reedição, adição e contradição proporcionadas pelas facilidades midiáticas.
Tenho medo de que o futuro, que hoje nos parece a promessa do acesso fácil e horizontal à informação e ao conhecimento, nos reserve apenas o desconhecimento e a desinformação. Tenho medo de que fiquemos perdidos no meio de todas as bibliotecas do mundo, sem que saibamos o que é bom e o que é ruim. Talvez seja essa a sociedade do futuro: a sociedade sem lastro, flutuando nas nuvens, com suas máquinas de criar livros automáticos e sem sentido. Não foi isso que Jonathan Swift imaginou, nas Viagens de Gulliver? As pessoas imortais, perdidas no meio de engenhocas que deveriam lhes dar tudo o que quisessem, mas sem saber o que querer.
Ou talvez eu só esteja sendo pessimista. E vamos mesmo entrar no período do leite e do mel farto, com todos vivendo bem e em paz.
Voltando ao Roberto, a cultura brasileira não é uma panelinha de vaidades, é um caldeirão de variedades. Caras como ele, que fez a trilha sonora dos namorados desse país por mais de trinta anos, são pérolas nativas, raridades imensas. E embora pouco saiba, ou sequer me interesse, pela sua personalidade, pelo que tem de chato na sua celebridade, um dia quero ir ao show do Rei do Roberto. Vai ser uma emoção.
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