quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Nada do que foi, será



Uma das coisas que eu mais gostava das aulas de física e química era a resolução dos problemas. Eu não achava nada fácil, errava muito, mas gostava do exercício mental. E nos problemas de física, química quase sempre estava escrito CNTP – Condições Normais de Temperatura e Pressão. Eu queria que todos os meus problemas tivessem isso escrito, hoje em dia. Mas a temperatura está altíssima. E a pressão é enorme.

Era super legal resolver problema de física e química. Embora eu não gostasse muito dos professores. Eles não eram muito simpáticos. Sou incapaz de lembrar o nome do professor de física. O nome do professor de química eu me lembro. O nome do professor de física não vem à minha cabeça de jeito nenhum.

E eu não lembro do nome, mas eu me lembro muito bem do Batatinha.

Poucas vezes arrumei um apelido tão adequado a um ser humano quanto o do Batatinha. Era professor de biologia. Também era baixinho, meio arredondado, igual ao Batatinha do desenho animado “Top Cat”, que aqui se chamava “Turma do Manda-Chuva”. Esse desenho tinha um gato líder de um bando de gatos de rua, chamado Bacana, que era dublado pelo Lima Duarte. O Lima também fazia as vozes do jacaré Wally Gator, o amigo da tartaruga Touché chamado Dum-Dum, e a hiena Hardy. Um dublador chamado Gastão Rener é que fazia a voz do Batatinha e do Guarda Belo. A voz do dublador para o Batatinha também era parecida com a voz do professor de biologia. Lembro da voz. Mas não me lembro do nome do professor.

O Batatinha não gostava de mim. Não sei o motivo. Eu era indiferente ao professor. Não gostava, nem desgostava. Não fedia nem cheirava. Eu e um colega, o Mauro, gostávamos de implicar com alguns professores. E com o Batatinha era muito fácil implicar. Tudo o que precisávamos fazer para irritar o Batatinha era sorrir. Sorríamos sorrisos fenomenais, de ver cáries, para o Batatinha. Ele se virava para o quadro negro e nós fechávamos o sorriso. Ele olhava para a classe e lá estávamos nós, com belos e enormes sorrisos no rosto. Ele olhava para o quadro. Recolhíamos. Para nós. Sorrisos gigantescos. Olha. Sorriso. Quadro. Fecha. Olha. E pronto, ele mandava eu e o meu colega para fora. Não sei como passamos no vestibular. Eu e esse meu amigo fomos expulsos de sala umas trocentas vezes. Bastava sorrir.

Que fim levou o Mauro? Deve morar no Ceará. A família dele era de lá, de Fortaleza. Fortaleza é muito legal. Tem a praia do Futuro. Você está na praia do Futuro e começa a andar. Aí anda, anda, anda, anda e continua na praia do Futuro. Você pode andar o dia inteiro que vai continuar na praia do Futuro. Ô praia comprida. É a praia com o melhor nome jamais colocado numa praia. Você sempre vai estar nela, a não ser que você se acabe. Aí você será um sujeito sem futuro na praia.

Outra praia com nome bacana é a praia de Atalaia, em Aracaju. Esse nome significa sentinela, ou posto de vigia. E a praia também é enorme. Você anda, anda, anda, anda e já torrou, bicho. A margem de areia é gigantesca e quase não tem sombra em lugar nenhum. Vá de guarda-chuva. Passe um litro de protetor de pele. Não esquece o boné. E em Atalaia, você anda, anda, anda e chega num lugar bem longe e pergunta onde está. A pessoa vai dizer: em Atalaia, ué. E aí você anda, anda, anda, anda e chega em Atalaia Velha, que é quase igual a Atalaia, só um pouco mais ... enrrugada, eu diria. E se você for a Barra dos Coqueiros, que é colado, você vai acabar em Atalaia Nova. Que também é bem legal, e quase igual a Atalaia Velha e a Atalaia. A diferença é bem dialética. Você sabe: nada do que foi, será, igual ao que foi há um segundo, tudo passa, tudo sempre, passará...

Dialética. Lulu Santos. Uma vez vi o Lulu Santos numa outra praia, numa sorveteria, no Rio de Janeiro. Ele pediu uma casquinha de creme. Com cobertura de chocolate. O jeito que ele pediu a cobertura de chocolate nunca mais saiu da minha cabeça. Nem pedi autógrafo para o Lulu Santos. Achava ele legal. Mas nada do que foi, será...

8 comentários:

Mwho disse...

Um sorriso irônico incomoda mais do que palavras...

Paulo Bono disse...

sempre fu péssimo em física, matemática e química. mas também tive um professor com apelido Batatinha. (parecia mesmo)
Era de matemática.

abração

Ana Lucia Franco disse...

Oi, achei teu blog lá no Frankamente. Uma divertida análise dos nomes de praia. Ri muito. Aliás, o blog é muito bem humorado.

abrs!

Careca disse...

Mwho, ao Batatinha, com certeza, incomodava.

Careca disse...

Bono, ao vencedor, os Batatas...

Careca disse...

Ana Lúcia, mais da metade da minha kombi de leitores vem aqui só por causa da generosidade da Franka. Seja bem-vinda. Abç,

Anônimo disse...

Careca, você é mestre em começar um tema, entrar em outro, em outro e outro... mas nesse você se superou. O que você tava tomando ou comendo quando escreveu esse post hein? Eu encontro pra comprar aqui em Sampa? rsrsrs Muito bom, adorei o texto! Abraços.

Careca disse...

Janaína, mexirica. Eu adoro comer mexirica na frente do computador. Mas depois tenho que passar um baby-wipes no teclado. Abç,

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