domingo, 31 de agosto de 2008

A escada caracol e o ouvido do Careca



Escadas. Devia existir uma lei contra a construção de casas com escadas. Elas ficam lindas, é verdade, mas com criança pequena por perto, uma escada é fonte permanente de preocupação. Veja a casa do meu sogro, por exemplo. Lá existe uma escada em caracol para o segundo andar. E obviamente, no domingo, a cada quinzena que vamos lá, eu cansei de pedir para as crianças não brincarem na escada. Cansei de falar para não deixar brinquedo na escada. Fiquei exausto de dizer para não descer a escada carregando coisa, especialmente copo, de falar para não descer a escada correndo. E o mesmo vale para as subidas.

_Sobe devagar! Desce sem copo! Não corre na escada! Olha o carrinho esquecido no degrau! Ô saco! – aí eu ficava de paciência torrada de dar aviso. De ser prevenido, precavido e cuidadoso.

Até que eu cansei de olhar para a cara dos outros adultos presentes e de ver a cara de não estou nem aí, de todo mundo. Eu lá, bancando o tio bravo, falando para todas as crianças tomar cuidado. E os outros ali, numa boa, fazendo cara de sonso, de não é comigo, de nem te ligo, que cara mala. Cansei.

Aí, neste domingo, as tropas de primos e primas reunidas começaram a correr para cima e para baixo. A pular, berrar e se esgoelar em volta da escada. A subir com profusões de copos. A descer pulando degraus. E eu fiquei mudo e em silêncio absoluto, prestando a maior atenção no dvd que estava rolando.

As crianças passavam, olhavam para mim e eu nada. Nem piscava. Elas viravam a cabeça e de repente desciam a escada caracol na maior velocidade. E eu nem olhava. Elas subiam com dezenas de carrinhos hot-wheels nas mãos e braços. Eu escutava os carrinhos escorregando pela escada. Quase dava para contar os que ainda tinham ficado ali, meio escondidos nos degraus, esperando um incauto se estabacar.

E eu continuei mudo e tranqüilo. Eu não disse nada. Eu não reprimi ninguém. E de repente as coisas foram realmente ficando mais calmas. As crianças ficaram mais quietas.

Começaram a desfilar na frente da TV. A passar uma a uma, olhando fixo para mim. E eu nem desviava os olhos da tela da TV. E aí todas elas se abraçaram, sentaram quietinhas ao meu lado e começaram a cantar “Imagine all the people...”

E você acreditou? Rá!Rá!

Quando as crianças começaram a desfilar na frente da TV eu corri atrás do meu primogênito e o peguei. Aí descobri uma fita adesiva, daquelas cinzas largas e grossas, e amarrei o garoto e o deixei debaixo do chuveiro de água fria, até o filme acabar.

E você acreditou? Rá!Rá!

Não rolou nenhuma dessas duas coisas, minha querida Kombi de leitores. Neste domingo eu realmente não esbravejei com menino nenhum. Deixei isso para os outros pais e avós presentes. E no próximo domingo, vou fazer melhor. Vou ficar de fone de ouvido. Todo mundo respeita fone de ouvido, ninguém fica berrando em volta. E nem vou estar escutando nada com o fone de ouvido. Acho que vai ser bem divertido.

4 comentários:

Rodrigo Carreiro disse...

Você é um pai muito coruja, cara eheeh

Mwho disse...

Certas atividades das crianças, melhor nem ver, não ouvir etc...

Careca disse...

Rodrigo, sim, mas estou melhorando. Depois que eu vi "Procurando Nemo" pela 23a vez eu percebi que estava bancando o palhaço com meus exageros, e nem era o peixe!

Anônimo disse...

Ai Careca, vai ser exagero até (bate na madeira) alguém se machucar. Daí vão olhar feio pra você por que você não fez nada pra prevenir... ou seja, vai sobrar pra vc de qualquer jeito.

Chris

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