terça-feira, 26 de agosto de 2008

Tirante isso e aquilo

Uma das coisas mais difíceis para os seres humanos é dividir coisas. Simplesmente porque algumas coisas não são feitas para serem divididas. Isso é particularmente difícil no banheiro. Veja a escova de dente, por exemplo. Ninguém divide escova de dente. No máximo dá para compartilhar um fio dental, cada um corta um pedaço, usa e joga fora.

Escova não. Ninguém compartilha. E dá até engulho no estômago imaginar uma escova de dente compartilhada. Isso não se faz e pronto. A não ser em caso de emergência, eu jamais compartilhei uma escova de dente com outro ser humano. É, teve uma vez que usei a escova da Patroa escondido, sem ela saber, porque o cabo da minha escova quebrou e eu precisava ir trabalhar. Mas tirante essa vez, escova sempre foi algo exclusivo.

Outra coisa de banheiro que não gosto de dividir é toalha. Isso vem desde pequeno. Eu tenho um irmão e duas irmãs. Cada um tinha sua própria toalha no banheiro. Mas o meu irmão mais velho sempre usou o maior número possível de toalhas secas para se secar. Esse meu irmão sempre considerou um direito natural dele usar as toalhas dos outros, desde que estivessem secas. E, quase sempre, ele era o primeiro a tomar banho.

Eu não ligava muito se a toalha estava seca ou molhada, mas esse péssimo hábito do meu irmão incomodava muito minhas irmãs. Uma delas ficava particularmente histérica por encontrar todas as toalhas molhadas quando entrava no banheiro. Tirante isso, eu nem achava que estavam tão molhadas assim, afinal eu pensava que meu irmão usava quatro toalhas para se secar. Eu não sabia que ele, só para irritar a minha irmã mais propensa à histeria, secava-se quase todo com a toalha dela e só depois utilizava as outras. Isso é realmente de enlouquecer.

Obviamente, minha mãe encontrou uma solução rápida para o problema das toalhas. Minhas irmãs foram instruídas a não deixar suas toalhas no banheiro. Mas a partir desse dia, todo o problema ficou somente para mim. Eu não poderia fazer como as meninas e deixar a toalha no quarto. Não. Isso não seria masculino. Desse modo, eu passei rapidamente a detestar ver a minha toalha encharcada no banheiro. A única coisa que me impediu de ter ataques histéricos foi o fato de sempre encontrar, desprotegida e indefesa, a escova de dente do meu irmão. Tirante isso, no dia em que eu sugeri a ele que sua escova poderia ser utilizada para contribuir para a limpeza do vaso sanitário, minha toalha nunca mais apareceu molhada. E eu nunca disse a ele que durante uma semana sua escova tinha sido usada para deixar mais branco o rejunte dos azulejos.

Mas os dias de dividir o banheiro com os três irmãos já vão longe. Tirante isso, só divido o banheiro com ...três pessoas. Eu, a Patroa e as crianças temos hábitos sólidos e bem formados quanto ao uso do banheiro. E quando eu olho para o monte de coisas que existem no banheiro, penso em adiar o meu projeto de levar uma vida monástica e desligada do mundo material. Meu outro projeto de levar uma vida atada e conexa ao que é essencial também esbarra na coleção de shampoos e condicionadores da Patroa. No número absurdo de frascos virados de cabeça para baixo para coletar até a última gota de líquidos que não sei mais para que servem.

Felizmente, a hierarquia rígida e a alta disciplina imperam aqui em casa. Primeiro, vai a Patroa. Depois, a tropa. De elite, é claro. E nunca encontrei a minha toalha encharcada. Quero dizer, só uma vez, as crianças deixaram ela cair, sem querer, no piso do Box. Tirante isso...

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