O melhor filme do Batman

Eu sou fã do Arnaldo Jabor. E outro dia eu escutei ele no rádio, elogiando horrores o novo filme do Batman. E não foi só por causa da performance do ator que morreu. Ele gostou mesmo do filme. E eu pensei:

_Pô, o Jabor é muito cabeça! Esse filme deve ser duca!Ele em geral desce a lenha em Hollywood. Se ele elogiou, o filme deve ser bom pra dedéu! Tenho que ver esse filme o mais rápido possível!

E assim que pensei em tomar essa decisão, eu também arquitetei uma estratégia para fazer valer a minha vontade. É, minha querida Kombi de leitores. Se eu simplesmente chamasse a Patroa para ir ao cinema ver o novo filme do Batman, meu projeto naufragaria. Eu conheço a mulher com quem eu me casei. Ela é legal. Ela é bacana. Ela é o amor da minha vida. Mas ela é do contra! Se eu digo verde, ela diz vermelho! Se ela diz baixo e magro, eu digo alto e gordo. Ela quer chuveiro quente e eu prefiro água gelada. Ela é Beatles e eu sou Rolling Stones. Na verdade, tudo pode ser vice-versa também. É só uma questão de oposição permanente, só para ampliar as possibilidades de chegarmos a uma síntese, embora algumas vezes a gente termine em impasses homéricos, cheios de melancolia rancorosa. O que também é bom, pois adoramos fazer as pazes.

Pois então eu ontem, durante o almoço, fiz uma sugestão bem sutil de que gostaria muito de fazer um programa diferente, como ir à pista de aeromodelismo da cidade.

_Amor, que tal a gente ir ao aeroporto, passear um pouco. Sei lá, ver uns aviões decolando, ficar de olho numas telinhas com horários de vôo, ver gente puxar mala, assistir despedida, testemunhar reencontro, coisas legais, sei lá. Quê que cê acha?
_Ujlknçahçdoaaeadflkjfldsooo – ela respondeu, tentando engolir uma carne de costela com molho de churrasco.
_Claro, meu amor, eu entendo. E que tal a gente ir ver o nosso querido cunhado jogar bola com a turma de peladeiros dele. Hein? Hein? Eu posso pedir a filmadora emprestado e tentar gravar alguma coisa para mandar para o Faustão, para o Fantástico. Hein? Hein?
_Uljalkoiajçlkhjep totalmente pataxó nhá-nhã-nhãeim – ela respondeu, sugerindo, com algum sarcasmo, que eu propunha um programa ao melhor estilo pele-vermelha.
_Certamente, minha querida. Talvez fosse melhor nós encararmos uma fila de oitocentos metros sob o sol inclemente do planalto para subir até o alto da Torre de TV. Ou, quem sabe, nós pudéssemos fazer compras num supermercado?
_Pô, Careca! Arruma um programa de gente.
_Benzinho, e que tal a gente pegar o carro? A gente podia ir para o posto, aquele, que tem lava-jato. E com sorte, a fila, nessa hora, está bem pequena.
_Não, você não vai estragar a minha tarde de sábado. Eu quero ir para algum lugar, quem sabe um cinema?
_Não, cinema eu não estou a fim. De jeito nenhum. Nem amarrado – eu disse, cruzando os dedos atrás das costas, com a alma já se derramando em sorrisos.
_Ah, sim, cinema sim! E eu é que vou escolher o filme.
_Pôxa, isso não, de jeito nenhum, pelo amor d...
_E nós vamos ver é o filme do Batman, que até o Jabor elogiou. E você adora o Jabor.
_O Jabor elogiou? Filme do Batman? Tá maluca! Agora é que eu não vou. O Jabor virou jabazeiro? E de Hollywood?
_Ah, nós vamos sim, senhor. Nós vamos ao cinema ver o novo filme do Batman – ela disse e encerrou a conversa.
Minha alma dava risadas escandalosas de alegria.

E na saída do filme, eu escondi da Patroa a minha felicidade por ter participado de um momento histórico na platéia de um filme que consegue juntar ação, filosofia e a melhor performance de um ator desde “O Poderoso Chefão”.

_Gostou?
_Mais ou menos. Talvez o aeroporto estivesse melhor. Mas os efeitos especiais são maneiros – eu disse, cauteloso. Sei lá, algum dia posso precisar de um ás na manga. E voltamos para a casa dos avós, para pegar as crianças.

_Pôxa, Pai, você foi ver um filme do Batman e nem me chamou? – lamentou o meu filho, de cinco anos. Estou sempre desagradando alguém. Especialmente quando estou me agradando.