C3PO, o mala da impressora

Eu já havia me esquecido da quantidade enorme de reuniões que são realizadas nos ambientes de trabalho. É uma coisa de louco. Todos os dias, quando eu estou começando a ficar embalado no meu teléco, teléco, teléco o meu telefone toca.

_É reunião? Agora? Imediatamente? Mas é claro, estou subindo – eu tenho que subir porque a sala de reuniões é em outro andar.

Aí eu aviso.
_Vou levantar, vou levantar, vou levantar - e levanto, saio correndo até o elevador. Aí eu paro. E volto correndo até o meu cúbi (é pequeno demais para se chamar de cubículo).

Sempre esqueço alguma coisa importante para as reuniões. O lado bom é que eu também sempre lembro o que eu me esqueci. E outro lado melhor ainda é que eu não preciso checar as portas, já que elas são meio burrinhas e trancam sozinhas. Mas o lado ruim é que, invariavelmente, tenho que correr atrás de papel impresso na impressora.

-Lá vem o Careca! – berra o cara que está sempre ao lado da impressora.

Eu não sei porque aquele sujeito, que é um tipo assim, meio esquisito e magro, está sempre ao lado da impressora. É impressionante. Parece que está imprimindo extrato de conta bancária. Ou anúncio de oferta de bugiganga. Qualquer coisa, menos trabalho. Quando eu conheci esse cara, eu pensava que ainda acabaria derramando, sem querer, um copo cheio de café quente no pé dele. Eu cheguei a planejar um derrame acidental de capuccino três chaud no mocassim do figura quando ele gritasse “lá vem”. Pô, que cara chato! Mas nem precisou de atentado de cafeína.

_Lá vai o Careca! – berra o mesmo sujeito, depois que eu pego o papel.

Nas minhas primeiras duas semanas no trabalho esse cara irritante perguntou o meu nome todos os dias. E todos os dias, com a maior paciência, eu respondi. Por isso, como ele só me chamava de Careca, resolvi chamá-lo de C3PO.

_E aí, Careca?
_Fala, C3PO! Tudo Darth Vader?

O apelido grudou na aparência dele e se espalhou pelo prédio. Até os vigias agora chamam o mala de C3PO. E acho até que ele gostou, porque ele encolhe os braços, como o robô de Guerra nas Estrelas e inclina a cabeça. Faz do mesmo jeito estúpido que a máquina dourada de Lucas Skywalker faz no cinema. Agora eu nem ligo mais para o C3PO. Só chamo ele de C3. Outro dia tivemos um diálogo delirante, que esclareceu um pouco as coisas.

_Lá vem o Careca, lá vem o Careca...
_C3, C3, C3, C3, PO, PO, PO, PO.
_E aí, Careca? Hoje tem reunião?
_Tem sim, senhor! E você, vai levar a impressora pro cinema?
_Como?
_Isso é com você. Leva pra jantar primeiro, depois pro cinema e aí o céu é o limite...
_Careca, você é maluco!
_Qualé C3? Vocês namoram há muito tempo! Chega de Xerox e fac-símile! Vai logo pro que interessa.
_Lá vai o Careca! – ele disse, sem entusiasmo.
_C3, deixa de amor platônico, bicho! Se liga na tomada, cara! Você e essa impressora completam um ao outro. Ebony and Ivory, live toguether in perfect, harmony...

Hoje teve reunião e eu saí correndo, como sempre. E esqueci um papel na impressora. E não vi o C3PO quando fui pegar. Vai ver, brigou com a namorada.