quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Mangalô, mangalô, mangalô



A maior parte das pessoas me considera um cara esquisito. Eu sei disso. E a primeira impressão que eu causo nas pessoas é sempre estranha, com tendência a ser ruim. Eu também sei disso. Eu chamo essas primeiras impressões de “sacadas com viés de baixa”. É como se a pessoa olhasse para você meio de cima, te colocando um pouco para baixo. Aí você olha para a pessoa e ela disfarça um pouco, vira meio de lado, mas não muito. E solta uma risadinha. He!He! É o segundo Ré que denuncia a “sacada com viés de baixa”.

Alguns amigos já me falaram essas coisas. Muitos ex-amigos já me falaram as mesmas coisas. Os amigos de verdade sempre fazem uma volta longa para me falar sobre as impressões que eu causo. Os novos amigos também procuram me avisar. Isso aconteceu outro dia, lá no trabalho.

_Sabe Careca, preciso falar uma coisa com você. É importante, cara – falou o Mister Flowers, todo cheio de precauções.
_Pó falá.
_Olha, Careca, eu te conheço há pouco tempo...
_Diga.
_Não me leve a mal.
_Manda bala, Flowers.
_É o tipo da coisa chata de se dizer.
_De-sem-bu-cha.
_Você me desculpa, mas eu tenho que dizer.
_Solta o verbo, Flowers.
_Você conhece aquela piada do gato que subiu no telhado? Pois então, vamos dizer que sua reputação subiu no telhado.
_Qualé, Mister Flowers? Minha reputação está viva. E está onde sempre esteve, próxima ao limbo das organizações, no pântano refogado das mediocridades.
_É, mas agora parece que está bem pertinho, quase no ostracismo do limbo.
_Cacilda! Isso é grave, isso é grave, isso é muito grave.
_É, bicho. Ao invés de ser mais um no meio da planície dos ignorados, parece que atentaram para suas qualidades de alvo fácil e de boi de piranha. Você está na beirada do precipício. Te cuida, garoto!
_Valeu, Flowers. Tratarei de me proteger à penumbra. Buscarei o vale dos esquecidos. Vou submarinar.

E durante uma semana eu mergulhei.
Eu me afundei no trabalho.
E fiquei com o meu periscópio em posição de escoteiro, sempre alerta.
Procurei sinais de perigo.
Secretamente, aderi a todas as correntes de orações na Internet.
Busquei simpatias.
Mandei umas trezentas mensagens das correntes para o meu mailing de emergência. Andei com patuás. Ainda ando.
Não dispensei nenhum toque na madeira. Não dispenso.
Joguei sal atrás do meu ombro.
E parece que as coisas estão mais amainadas.
Valei-me.

10 comentários:

Anônimo disse...

Careca, tenho boas notícias! A Igreja Católica aboliu o limbo. A má notícia é que, neste caso, a sua reputação está perdida.

Anônimo disse...

Careca, ninguém escolhe um ser que é mais um na multidão para botar no limbo ou equivalentes. Não sei se entendi direito o lance, mas me soou como algo que está vindo de gente com uma tremenda dor de cotovelo. Talvez você não esteja no ostracismo nem na tal planície. Isso pode incomodar os incompetentes e afins... Abs!

Anônimo disse...

Nossa, pedirei proteção pra você, meu amigo. Tenha fé.
Quando a situação tá assim esquisita, eu peço logo pela manhã MUITA coragem pra enfrentar o dia. Mas coragem de verdade mesmo, sabe.
Respiro fundo, tomo banho, respiro fundo, troco de roupa, respiro fundo, tomo um café, respiro fundo e quando tranco a porta e saio, respiro bem profundamente. E começo o dia lá fora assim, respirando um ar não recomendável para o nosso nível saudável de vida. É, a gente encontra muita gente tipo esse ar no trabalho...rs.
As coisas se acalmam, você ficará bem.
E eu acho você muito bacana.
abração, meu amigo

Anônimo disse...

Durante um breve período me preocupei muito com a impressão que eu causava nas pessoas. Isso porque uma grande amiga me disse que, ao me conhecer, me achou insuportavelmente arrogante! Imagine, logo eu que era um poço de insegurança e timidez adolescente. Fiquei encucada e comecei a me esforçar para parecer humilde. Era muito estranho tentar ser menos do que eu já era. O que existe abaixo do poço do elevador? Logo desisti daquele exercício absurdo. Relaxei.
Adorei o verbo submarinar! É uma boa estratégia.
Abração
Tina

Mwho disse...

Esse Flowers, hein?!
Deve ser o cara que anda sempre com uma nuvem cinzenta sobre a cabeça e ainda fala:
- Ó céus, ó vida...

Careca disse...

Cynthia, aboliram mesmo? Caramba, vivemos num mundo sem limbo, sem lumpen...Mas no caso da minha reputação foi melhor assim, coitada, tinha muito anos de sofrimento. Vai poder descansar...

Careca disse...

Janaína, eu procurei a planície, junto com a manada, porque é mais segura. Mesmo assim, fui percebido. Agora estou mais visado e tenho que correr mais riscos. Mas não é culpa de ninguém, isso às vezes acontece. E quando acontece, é preciso cuidado.

Careca disse...

Uai, obrigado pelos pedidos de proteção, de coração, pela manifestação sincera. Hoje acordei de madrugada, com uma súbita inspiração, e desde então estou respirando com mais tranquilidade. Às vezes acho que tenho ataques de pânico, de paranóia. Mas aí converso com outras pessoas e percebo que elas também estão preocupadas. Valeu, Uai, abração,

Careca disse...

Tina, eu me preocupo até hoje, mas não chego a criar rugas. Acho que é isso que acaba me obrigando a submarinar, de vez em quando. E aí passo tanto tempo no low profile que acabo me diminuindo, sem querer. E depois tenho que emergir, lentamente. Abração,

Careca disse...

Mwho, acho que tem mesmo uma nuvenzinha, mas ele é do bem, super honesto e experiente. Tem me dado excelentes dicas de sobrevivência na organização. Abç,

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