quarta-feira, 13 de agosto de 2008

O que aprendi com os mexicanos do faroeste



O pouco que aprendi está se mostrando bem pouco, com muita rapidez. Tenho que aprender mais e mais rápido, todos os dias. E tenho que olhar para trás, porque atrás tem muita gente. E também para frente, de onde partem cotoveladas. Estou levando muita cotovelada, ultimamente. Só hoje levei umas três, nas costelas. Todas do Caçador de Recompensas.

_No Señor, no me mates, Señor, jô tengo mi mujer e hijos para criar– eu penso em dizer, como disseram todos os mexicanos antes de levar bala do Caçador de Recompensas.

Mas esse Caçador de Recompensas é escroto pra danar. Melhor ficar na minha. Deixar o bom humor de lado e proteger as costelas, os costados. Vou ficar colado, de bunda superbonder na parede. Talvez eu possa me refugiar no banheiro, quem sabe?

Eu corro para o banheiro, mas está ocupado. Ultimamente, as pessoas aqui do trabalho têm ficado muito tempo no banheiro. E isso não é vírus. É outra coisa. É medão. O Caçador de Recompensas está atirando para todos os lados. Por quê diabos estou chamando esse cara de Caçador de Recompensas? É porque não existia nada mais baixo no Velho Oeste. E esse cara é muito baixo.

Os caçadores de recompensas entregavam o sujeito vivo ou morto. Na maior parte das vezes, morto. E só agiam na base da tocaia. Da surpresa fulminante. Do ardil. Envenenavam antes e depois de morto é que atiravam. Passavam por gatilhos rápidos, mas eram uns covardões. Davam tiros pelas costas e depois disfarçavam o cadáver. Não existe nada pior do que um caçador de recompensas. É o melhor álbum do Lucky Lucke.

Conheço sujeitos perigosos quando vejo um. E o Caçador de Recompensas é um sujeito muito, muito perigoso. Ele é vaidoso ao extremo da vaidade. E isso significa que é capaz de tudo para satisfazer a si mesmo, sem pensar em nada nem em ninguém.

O Caçador de Recompensas é um monstro. É um Hannibal ególatra, que pega, mata e come tudo o que encontra pela frente. Não. Hannibal ainda tem umas desculpas bestas, de trauma disso e daquilo, de ser um vingador da irmã e dos pais, de ser um obcecado e maldito incompreendido pelo seu bizarro senso de estética. Não há incompreensão no Caçador de Recompensas. Ele simplesmente não quer saber de entender nada. Ele só quer a parte dele, rápido, em dinheiro, cash. O Caçador de Recompensas só quer saber de processos que impliquem em resultados rápidos. Matei, tá aqui, me dá a grana. E ele quer muito os resultados. La plata. Os fins, para ele, justificam todos os meios.

E quando eu vejo que o banheiro está lotado eu resolvo ir um pouco para fora. Sair um pouco para andar. E lá fora, bicho, como tem gente. Parece que existe um mar de gente tentando escapar do Caçador de Recompensas. Ai, todo mundo parece dizer, ai, ai, minha cabeça está a prêmio, Señor. Ninguém parece disfarçar. Essas coisas ficam pairando no ar, como as florezinhas do dente-de-leão, os fiapos de paina, os grãos de poeira, os pingos distraídos da chuva de verão.

E depois eu volto para o meu cúbi(é pequeno demais para chamar de cubículo). E não há mais ninguém, todos estão de férias, em viagens. Mesmo assim, está apertado. E logo que eu me sento, meu joelho encosta em uma coisa grudenta, debaixo da mesa, que não estava aqui ontem. É mesmo uma porcaria de um chiclete, que alguém deixou grudado debaixo da mesa. Ai, caramba, no me mates, Señor. E eu me lembro, de repente, que o Caçador de Recompensas vive mascando chicletes. Estou perdido. Estou perdido. E eu torço tanto para estar sonhando, mas eu sei que estou acordado. E por mais sabidos que fossem, não lembro de ver os mexicanos rindo em nenhum final de filme de faroeste.

10 comentários:

Anônimo disse...

Careca
Você fala com fluência e bom humor sobre uma doença contemporânea. Não sei que nome tem, mas deve ter algum, pois sempre há os mais doidos que a gente, que mergulham fundo nesses mundos mentais. Pode ser que, ao invés de doença, seja um esporte, pois tem uns caras onde eu trabalho que gostam de futebol e transportam as regras explícitas e tácitas daquele jogo para nossas relações. E o resultado é o mesmo: chute na canela e cotovelada na costela. Por isso, tenho me desviado do jornalismo e estudado psicologia das organizações, heurística, gestão est. Quero entender um pouco desse mar para navegar com menos risco. De perder o emprego e de ter um treco no corredor do cafezinho. Estou escrevendo sobre esses temas num blog que criei em maio, e fica no www.mariosalimon.com
alguns amigos leram e disseram que não se entende nada do que eu escrevo. Mas quem falou que escrevo só para os outros? Grande abraço!

Mwho disse...

Conheci uns caras assim... Melhor não abrir muito a guarda e procurar uma parede para se encostar...
Lembra daquele sorriso irônico?
É a criptonita que derruba esses "malas" metidos a super alguma coisa!

Anônimo disse...

Na sala que tem os cúbi tem câmera?
O prédio é de vidro? Alguma janela abre o suficiente pra que um corpo caia "acidentalmente" andares abaixo?
Há a possibilidade de uma conversa "amigável" com este caçador perto dessa janela (obviamente com todos os outros fora para o café ou alomoço: sem cúmplices é melhor...hahaha)? O carro dele é fácil de deslizar numa ribanceira sem freio...hehehehehe? Ele é alérgico a que? Nesse caso, nada que um doce ou um petisco não resolva (adorei essa). Não deixe rastros pro luminol, hein. Perdão, mas eu adoro o Grissom...hehehehe.
Caso precise de ajuda, mande um sinal de fumaça, estaremos aqui.
abração

Anônimo disse...

Ai, que medo desse caçador... Careca, compadre, estarei rezando por ti aqui de Sampa, pra que esse caçador não te ache. Abraços!

Anônimo disse...

Careca
Esses, que aí estão atravancando o teu caminho, eles passarão, tu passarinho...

O mundo do trabalho é um inferno de vaidades. Espaço onde as pessoas mais exercitam suas neuroses miseráveis. A busca insana de recompensas são atitudes desesperadas para compensar significantes buracos. Lacan chamava de objeto a. Os bandidos do seu faroeste não devem ter sido amamentados...

Lucke Lucky!!! Essa veio do fundão do baú, eu adorava esse quadrinho! Pegava escondido dos meus irmãos mais velhos.Também adorei a frase do dia!

É sempre um prazer ler os seus posts.
Sentimos a sua falta na festa da Dani.


Abração

Tina Salimon

Careca disse...

Salimon, achei muito legal o seu site. E obrigado pelas boas palavras. Acho que entendi muita coisa do você escreveu, sem querer parecer pretensioso. Vou visitar mais, para ler mais o www.mariosalimon.com . Um abração,

Careca disse...

Mwho, estou colado na parede e economizando sorrisos. Todo cuidado é pouco!

Careca disse...

Uai, tem câmera pra tudo quanto é lado. E gente à beça. Desconfio que coisas ruins como aquele sujeito sejam imunes até à radioatividade. Seria o caso para um acidente com um cofre gigante, ou um piano de cauda, despencando do alto do edifício meio burrinho onde trabalho. Quanto será o aluguel de um piano de cauda?

Careca disse...

Janaína, sem querer abusar, é caso para uma novena! Brincadeira, um abração,:)

Careca disse...

Tina, não tinha jeito, ou era uma ou era outra. Já não dá para cruzar a cidade e ir em duas festas na mesma noite. E você tem razão, acho que esse Caçador não mamou no peito e agora só quer saber de mamatas. Ugh!
Olha, sem querer me gabar, acho que tenho a Lucky Lucke quase completa, está às ordens. Um abração,

Frase do dia