domingo, 17 de agosto de 2008
O troco de uma Nação
Como todo mundo anda acionando a Viúva para garantir uma aposentadoria, eu também vou querer. O difícil é que eu não sei contra o quê NÃO acionar a Viúva. O país está em dívida comigo. A Nação Peri me deve um troco. Coisa pouca. Não vai fazer falta nenhuma.
Estou me inspirando numa notícia de terceira mão, não é nem de segunda, que eu recebi por aí, via email. Falava de uma pessoa, ainda em gestação, que havia conseguido uma indenização porque a mãe foi perseguida. Ora, se for por esse caminho, eu também estou na mesma situação dessa pessoa e também quero o meu quinhão.
Em primeiro lugar, toda mulher é perseguida. Toda mulher, inclusive, tem perseguida. Embora algumas possam até fazer você mudar de calçada e ter sérias dúvidas, como uma lutadora de judô, que eu esqueci o nome. Em todo caso, se for assim, por perseguição à perseguida, também tenho direitcho, porque Mamãe também tem uma e é perseguida até hoje, tenho certeza, nunca vi, graças!, mas tenho certeza, pelo meu Pai. E tem Vovó também! Quase esqueci. Vovô devia perseguir uma barbaridade, porque teve sete filhas e morreu cedo, cedo. Então isso me dá direito a, no mí-ni-mo, indenização dupla.
Outra coisa a que tenho direitcho é a remuneração pelos prejuízos provocados na minha carreira devido aos problemas da pulítica. Eu não era amigo de militar. Mas também não era inimigo. E também não era amigo de comuna. Só tive um amigão comuna, o Cláudio Comuna, que era vermelho, vermelho, um problema de pele, não podia tomar sol que se avermelhava todo. Tirante Cláudio Comuna, mais ninguém. Mas também não era inimigo. Aliás, eu achava esse povo Libelu, PC isso, PC aquilo, um saco. Eu nunca tive pistolão, nem quem indica, nem nada. Ou seja, devido a esses problemas de falta de influências pulíticas, não progredi como os caras que têm pistolão e nem fui indenizado como os caras que eram do outro lado. Por questão de justiça cega, faca amolada, para a balança ficar bem equilibrada eu também mereço uma indenização.
Outra coisa que me daria direitcho a receber uma pensão generosa é o fato de ter ficado de fora da anistia ampla, geral e irrestrita. Todo mundo foi anistiado, os que jogaram bomba e os bombados, os que deram tiros e os atirados, os torturantes e os torturados. Muito embora só alguns dos que sofreram o pão que "el diablo hay amassado" tenham recebido uma grana da Viúva. É lógico que é super-injusto um torturador receber indenização. Mas fico super em dúvida se é justo um terrorista que jogou bomba, que matou, que mutilou, que seqüestrou e tal, receber indenização porque foi torturado. De qualquer jeito, eu, que quase levei bomba em química, não fui contemplado pela anistia. Tive que encarar noites e noites de estudos extras que deixaram seqüelas horríveis sob os meus olhos. Acho que foi por causa de química que comecei a perder cabelo.
Também tenho direitcho a reparação por propaganda enganosa. Desde que me entendo por gente, esse é o país do futuro. E o futuro já chegou e até agora, necas de pitibiriba. Aliás, amanhã mesmo é um futuro que chega e olha aí, necas, necas de grandeza de país. E essa propaganda foi cercada de muitos desfiles de sete de setembro, em que eu e mais alguns milhares éramos obrigados a desfilar sob o sol quente sem direito nem a amendoim da Gol, tamanha a penúria. E a gente cantava coisas como “Esse é um país que vai pra frente, ououououououou, de uma gente amiga e bem contente, ouououououououou, é um país que canta, trabalha e se agiganta, é ....”. Só pela beleza da letra e pela lavagem cerebral que me fizeram decorar essa coisa linda eu já merecia cesta básica pelo resto da vida.
Cesta básica?
Pensando bem, quero nada não, doutor.
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5 comentários:
Todo mundo quer amar nas tetas do estado, hein? até vc, careca?
hheeheh
No Brasil, as "vítimas" da ditadura só estão a fim de receber grana. Quando fui a Buenos Aires, fiquei irritado (inveja!) com os argentinos que comemoravam em rede nacional de televisão ter encontrado mais um neto das avós da Praça de Maio...
No Brasil, as "vítimas" da ditadura só querem saber de grana. Quando estive na Argentina, fiquei irritado (inveja mesmo!) com a comemoração em rede nacional de televisão de mais um neto das avós da Praça de Maio que tinha sido localizado...
Rodrigo, não, eu pensei melhor e renunciei aos meus direitchos a tetas. Abç
Mwho, desse jeito los hermanos vão pegar o seu Mercosul e chamar de macaquito...
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