Eu aprendi a mergulhar quando tinha uns cinco anos de idade. Dentro d’água, meu pai me pegava por debaixo dos braços e me atirava perto, numa beirada de rio. Eu batia os pés no fundo e subia rápido, feliz da vida. Era a brincadeira preferida junto com os meus irmãos. Às vezes não conseguia bater o pé no fundo e isso me dava um desespero danado. Eu me sacudia todo dentro da água e quando achava que não ia conseguir, a mão salvadora do meu pai de repente aparecia do nada para me salvar. Ou meu irmão me ajudava. Ou minha irmã me ajudava. Havia sempre alguém a quem recorrer. Eu não me sentia inseguro.
A água do rio é turva e escura na minha lembrança. Eu não conseguia enxergar nada direito. Mas eu uso óculos para miopia desde os seis ou sete anos, não lembro quando comecei. E comecei com grau forte. Talvez eu já fosse míope naqueles mergulhos de rio, quando aprendi a nadar.
Na beira do rio, existe o mito de que se você engolir um peixinho vivo, você aprende a nadar. Eu lembro de ter tentado engolir uns filhotes de piau. Lembro de ter sonhado que havia engolido um peixe e que havia me transformado num menino peixe, meus olhos gigantes de peixe enxergando o mundo debaixo d’água. Lembro de ter vencido o nojo e de ter chupado uns ovos de tartaruga numa praia de rio, junto com um bando de outros meninos. Um deles, muito sabido, tinha até levado um saleiro. Lembro de ter passado mal.
Lembro da vez que a minha mãe levou uma ferroada de arraia de fogo. Lembro de que foi um índio que fez um corte fundo na batata da perna da minha mãe. E não sei se eu lembro ou se fantasio que ele, esse índio xavante, chupou o sangue e cuspiu no rio. Talvez seja fantasia, pois esse índio tem a mesma cara do índio que eu imagino do “Último dos Moicanos”, desde muito tempo antes do livro do F. Cooper ter virado filme com o Daniel Day Lewis.
Lembro de muitas coisas de quando eu tinha cinco anos de idade. E às vezes meu pai se surpreende com essas lembranças. E depois eu penso que talvez nem lembre de tanta coisa assim, de ter presenciado. Mas tenho uma boa memória de ouvido, de visto e de leitura. Lembro de coisas que outras pessoas me contaram baixinho, cochichando. O que também não é vantagem nenhuma. Eu esqueço de perguntas importantes que acabei de fazer para pessoas com que preciso falar.
Lembrei disso outro dia, na piscina, quando fazia a mesma coisa com os meus filhos e sobrinhos. Eu os atirava, um a um, na parte mais funda da piscina. Os meninos adoraram. Minha princesa não gostou muito. Não pediu para repetir. Meu filho adora essa brincadeira. Eu não vejo problema, desde que ele esteja de bóia ou colete. Ele aprendeu a mergulhar numa piscina rasa, abaixando a cabeça e jogando os pés para trás. E já está na aula de natação desde o início do ano.
Sempre fico admirado com o quanto ele é mais destemido do que eu jamais fui. Mas por outro lado, isso talvez seja só falta de juízo, comum a todo menino.
Ou talvez esteja na hora de engolir um peixe vivo.
2 comentários:
Engolindo peixe vivo ou não, os filhos são sempre o orgulho do pai.
Rodrigo, é verdade, e por eles engolimos todos os sapos.
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