sexta-feira, 4 de julho de 2008

Para não dizer que não falei de elevadores



Os cinco elevadores do edifício meio burrinho onde eu trabalho me odeiam. Eu já disse aqui que é preciso um diploma de pós-graduação para andar sem problemas naquelas máquinas. Mas não é só isso. Trata-se de conquistar o respeito e o apreço, coisa que só os bons modos, uma gravata combinando com o blazer e sapatos limpos não dão conta.

Os elevadores são bem bonitos. Aço escovado em tom grafite. Espelho grande, a partir da meia altura, em plano americano. A luz do teto é toda trabalhada, em quadradinhos e furos super bem transados. Você se sente um superstar quando entra num dos elevadores. Mas a coisa tem vida própria. Se você não apertar o botão do andar desejado, bem depressa, ele começará a definir o trajeto sozinho, para cima ou para baixo. Em geral, é o contrário do que você deseja. Para mim, é lógico que ele adivinha o que você quer fazer e vai na direção contrária. Coisa tinhosa.

Assim, se você estiver no quinto andar e quiser ir para o oitavo, ele irá para o terceiro subsolo. No terceiro subsolo, como você sabe que é impossível ir mais embaixo, você estará literalmente no fundo do poço e apertará o botão do oitavo andar. Então o elevador irá pingando, do terceiro subsolo para o segundo subsolo, depois para o primeiro, para o térreo, para o primeiro andar e assim por diante, até o sétimo. Mas aí o elevador pulará o oitavo e irá direto até o décimo sétimo andar, em alta velocidade. E lá, o elevador ficará parado e não responderá aos comandos. Não vai adiantar você ficar apertando os botões. O elevador vai ignorar você e os apertos dos seus dedos. E quando você desistir, e colocar um pé fora do elevador, alguma luz irá piscar no painel de botões. Você voltará a colocar o pé dentro do elevador. E a luz sumirá. Você voltará a apertar botões. E nada. Pô! Aí você sairá do elevador e a porta se fechará com estrondo, quase prendendo as costas do seu blazer. Zut!

E depois de dez minutos no décimo sétimo andar, um dos elevadores voltará. Não será jamais aquele primeiro elevador que enganou você. Será um outro, meio desavisado, que terá passado por ali por acaso. Entre rápido. Se você vacilar, vai demorar uma meia hora até outro elevador passar por ali. O décimo sétimo é o topo, não tem jeito de ir acima. Você volta a apertar o botão do oitavo andar e fecha os olhos.

Rá! Não pense que isso acontece só porque o Careca aqui é um pastel de elevador. Não senhor. Não senhora. A crueldade dos cinco elevadores é generalizada, e a desse elevador que eu estou falando, o mais do canto, à direita de quem olha para a estátua no térreo, a crueldade dele é com todo mundo, não é só comigo. E acontece também que a Voz desse elevador também ajuda a confusão. Você está no terceiro andar, o elevador lotado para no segundo andar. A Voz anuncia, profissional:
_Térreo!

Quatro sujeitos saltam depressa do elevador. Nós, os sobreviventes dos andares, nos entreolhamos. Os sujeitos que saltaram param e percebem que estão no segundo andar. Mas é tarde demais, as portas já se fecharam e descemos todos, apreensivos.

_Primeiro andar! – anuncia a Voz do Elevador.

Ninguém desce. Só uma loura bonitona. Quando eu olho para a parede em frente e vejo que aquele é o térreo, as portas batem. Quase perco minha gravata. E agora estamos todos no terceiro subsolo, invejando a esperteza da loura.

_Décimo sétimo andar! – afirma, categórica, a Voz do Elevador.

Eu desço do elevador, no terceiro subsolo. Eu desisto, por enquanto. Cansei desse elevador. Cansei dessa brincadeira, de fingir que está em andar diferente. De porta bater em gravata. Vou de escada. Subo mais de quatrocentos degraus. E lá fora já é noite, bate um vento frio, frio.

Haverá um dia, tenho certeza, que os elevadores sairão em diagonal, cruzarão andares inteiros e aparecerão na sala, de repente, piscando seus botões de emergência. Mas enquanto isso, eu tenho que aprender um jeito de ser mais esperto do que o elevador espertinho do prédio meio burrinho onde eu trabalho.

4 comentários:

Paulo Bono disse...

Carecone,
assisti ao Kung Fu Panda. Realmente é bem divertido. Achei a historinha bem simples e infantil. mas curti muito os personagens. Mas só uma correção, não é da Disney. É da PDI/DreamWorks.

Agora a dico da Bono: vá conferir Wall-E. Este sim da Disney/Pixar (A Pixar é fera). Wall-E é sensacional. Achei um dos melhores dos últimos tempos. Leve as crianças. Elas vão aprender bastante, e se divertir também. Mas acho que quem mais vai gostar é você.

Repito pra todo mundo:
Assistam Wall-E. Uma obra-prima de animação.

abração.

Anônimo disse...

uai...pra não dizer que eu não desconfiei que no elevador mora a alma penada do ascensorista...hehehe.
só pode! algo deve ter acontecido durante a construção do edifício!! ou...

Anônimo disse...

ou...sabe aquele aviso na plaquinha de metal pregado no corredor bem pertinho da porta do elevador? Pois é, lá fala sobre "o mesmo". Só entre no elevador se o mesmo estiver naquele andar, não é? Então, a gente nunca enxerga o dito cujo! Mas é ele, o "mesmo". Isso dá filme, hein!!
abração Careca.

Careca disse...

Bono, já está programado.

Uai, agora estou com medão do elevador...

Frase do dia