É raro acontecer alguma coisa diferente no caminho para o trabalho. Ou talvez sempre aconteça alguma coisa, mas na maioria das vezes eu estou de caraminholas e acabo não reparando em nada. Hoje, por mero acaso, reparei.
Enquanto o sinal estava fechado eu olhei para um terreno que existe no caminho, por causa de uma bela árvore do cerrado. Era uma daquelas árvores todas retorcidas, com poucas folhas. Essas árvores ficam vermelhas de poeira nessa época do ano. E porque era uma bela manhã de sol, a árvore estava vermelha e dourada. E logo acima dela, havia um gavião, batendo as asas com força para ficar parado no ar.
É raro acontecer desses momentos em que alguns segundos parecem se encompridar. Daqueles em que a gente usaria câmera lenta, se a vida da gente fosse cinema. Pois eu usei uma câmera lenta de cabeça, vendo aquele gavião. Para mim, não foram apenas alguns segundos que aquele pássaro pareceu ficar parado, mas minutos. E de repente, ele mergulhou, um par de garras esticadas para baixo, um raio de penas flamejantes. E eu despertei daquele transe.
Tentei lembrar de outras vezes em que esses “momentos congelados” aconteceram. Não consegui lembrar de nenhum e já estava parado em outro semáforo. Olhei para o lado e, à minha direita, uma caminhonete preta, enorme, impedia qualquer visão lateral. De repente, o vidro se abre e uma loura bonita me chama a atenção.
_Moço, moço, posso falar com você?
_Mas é claro!
_Olha, eu não costumo fazer isso, mas é que eu sou psíquica, sabe? Eu vejo coisas...
_Eu também, eu vejo que o sinal vai abrir!
_Me liga no meu celular, eu tenho uma coisa muito importante para lhe dizer – ela disse e mostrou um número anotado num papel, em letra caprichada. Senti um arrepio percorrer a minha espinha.
_Moça, eu não tenho a menor vontade de saber o que é – eu disse, e fechei o vidro.
O sinal abriu e eu deixei aquela caminhonete se afastar. E meu coração dava pulos dentro do meu peito. Senti um medo danado. E enquanto a caminhonete se afastava eu fiquei tentando imaginar em quantas pessoas aquela loura e o motorista impossível de ver já haviam aplicado esse golpe da coisa importante, do não costumo fazer isso, de anote o meu celular.
Depois é que eu me toquei. O gavião deve ter pegado um rato ou um outro bicho qualquer.
8 comentários:
Careca,
Será que não tinha uma faixa escrito "Herbalife" na lateral da caminhonete?
o gavião pegou a caça, enquanto você escapou de ser caçado, meu caro. ou não...
eu já fingi de surda na rua. detalhe: uma senhora surgiu do nada ficou parada na minha frente esperando eu dar dinheiro pra ela. e ainda disse que eu tinha que dar porque ela precisava. oras,se eu puder até ajudo procurar trabalho, mas dar dinheiro? se tem saúde pra andar pra pedir então vamos trabalhar.na maioria das vezes, eu me assusto com essas abordagens.
abração
Mwho, não era marketing agressivo, era uma outra forma qualquer de agressão.
Marcio, escapei sim. Quando eu fico com medo, eu acredito no medo e sigo o instinto.
Uai, não era pedinte. Era uma outra coisa, mais agressiva, mais fóbica, deu um medão danado. Abçs,
Que sinistro... eu hein, as pessoas podiam usar a criatividade para fazer coisas mais produtivas, ao invés de dar golpe nos outros. E eu que achava que Sampa é que tinha tudo que era tipo de vigarista. Ainda bem que você foi esperto! Abraços.
Janaína, é preciso ficar atento. Tem um ditado velho que diz: "goiabeira carregada, na beira da estrada, ou tá bichada, Zé, ou tem marimbondo no pé".
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