sábado, 5 de julho de 2008

Tudo para o Beleléu

Nós estamos brincando de uma brincadeira nova. Ninguém nunca jamais brincou de alguma coisa assim. Eu, a Patroa, meu filho, minha filha e um sobrinho, afilhado. Eu estou com uma raquete de frescobol, meu filho está com uma bola azul de frescobol, meu sobrinho tem uma bóia de piscina, daquelas de braço e minha filha tem uma capa de raquete de frescobol. Ela está do lado da Patroa, que está com um apito na mão.

_Agora, pai, corre e bate a bola – diz a menina.

Ela é a dona da brincadeira e sabe todas as regras. Embora eu tenha a impressão de que ela esteja inventando as regras agora. Mas isso ela não admite.

_Corre, pai! – ela é mandona, igual à mãe.

Eu corro, mas o meu menino é muito rápido e tem muito fôlego. Não alcanço de jeito nenhum. Com cinco anos, ele já me põe no chinelo. Não. Ele se cansa depressa. Eu peço a bola azul e bato nela, com a raquete.

_Bola má, bola má, comporta direito!
_Não, pai. É pra bater na bola pra mim.
_Então, pega aí.

E enquanto a bola azul quica e rola suavemente pelo gramado, nós ficamos parados, à espera das instruções da menina.

_Joga a bóia, joga a bóia – ela grita para o primo.

E o menino obedece. Mas sem sucesso. A pequena bóia de braço fica a um passo de distância da bola azul.

_Ah, vamos ter que fazer tudo outra vez! – ela diz, com um pouco de desânimo.

_Como chama esse jogo? – pergunta a Patroa.

_Beleléu – ela responde. Ela tem as respostas na ponta da língua. Não vacila.

_E pra que serve o apito? – pergunta a Patroa.

_Ué, é pra apitar! – responde a menina.

_E o que significa? – eu pergunta, tentando ajudar.

_Que foi falta, oras – ela explica, com evidente desprezo para mim, que faz perguntas sobre o que é óbvio.

_Tempo! Tempo!Tempo! – exclama o meu filho, as mãos desenhando um “T”, como ele já viu na TV.
_O que foi? – questiona a dona da brincadeira.

_Preciso ir ao banheiro – informa o irmão.

_Eu também! – diz o meu sobrinho.

_Eu também! – diz a Patroa.

_Eu também! – diz a dona da brincadeira.

E depois, quando todo mundo voltou eu havia escondido a bola azul, a bóia, a raquete, o apito e a capa da raquete.

_Foi tudo pro Beleléu! – eu expliquei E fui ao banheiro.

4 comentários:

Mwho disse...

Careca,
Os adultos precisam de explicações demais, não?
As crianças nos deixam confusos...
Abraço,
Mwho.
Obs.: Na historinha que postei hoje ("Só sei que não é nada disso!"), o autor da frase é o Cabeça!

Careca disse...

Mwho, deixam mesmo. E aí o melhor é confundir um pouco mais. Abç,

Anônimo disse...

Gostei do final, até porque o nome do jogo é bem sugestivo! Mas você, hein!!!qui idéia!! só pra não precisar correr, né. abração

Careca disse...

Uai, você me pegou, novamente, rs. Um abç,

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