terça-feira, 29 de julho de 2008

Os pais ficam com os pébas



O Dia dos Pais está chegando e eu resolvi fazer uma lista de coisas que eu quero ganhar. Resolvi fazer isso para facilitar a vida dos outros. Eu gosto muito de facilitar as coisas para os outros, especialmente quando o beneficiado, em última instância, soy jo.Na verdade, ao invés de lista, resolvi fazer uma tabela, com três colunas. De um lado, eu ponho o nome da pessoa. E na outra coluna, eu coloco o presente que eu quero ganhar daquela pessoa. Na última coluna, eu coloco um presente que eu acho a cara daquela pessoa, uma coisa que eu tenho certeza de que ela gostaria muito de receber de presente. Essas tabelas são legais se são "esquecidas" em locais estratégicos da casa, para que sejam encontradas "por acaso".

Obviamente, a tabela começa com os nomes dos meus filhos. Do menino, eu gostaria de ganhar um monte de beijo e abraço. Da menina, eu gostaria de ganhar um monte de abraço e beijo. É a mais pura verdade. Não tem a menor demagogia. Adoro ganhar beijo e abraço de presente das crianças.

Na coluna dos presentes que eles gostariam de receber, eu escrevo boneco do Mutano e Poly. Em Mutano eu coloco um asterisco, porque meu filhote muda muito de idéia. A cada semana, a inicial do nome do boneco predileto coincide com as letras do alfabeto. E também com alguns números. Em Poly, eu coloco dois asteriscos, porque minha filha também troca muito de pensamento e amanhã pode ser que ela queira um cavalinho com rabo de arco-íris. Ela oscila muito entre cavalinhos e bonequinhas Poly.

Começa então a parte complicada da tabela. Em Patroa, eu coloco Meias. Aí eu risco e coloco Gravata. Aí eu penso melhor e escrevo Abraço e Beijo de Língua(French Kiss). Na coluna de presentes a dar, eu coloco Jóias e desenho uma carinha sorrindo. Rá!Rá! É brincadeira, claro. Se eu tivesse grana para jóias eu estaria aplicando minha fortuna em obturações dentais, ou em coisas menos voláteis, como o supermercado. Mas aqui estou eu, tentando a sorte na mega-sena.

Não tem mais ninguém para dar presente para mim. É engraçado, porque mãe ganha presente de tudo quanto é lado da paróquia. Mas pai não tem a mesma sorte. A gente só ganha um, se ganhar, da companheira. E nem dos meninos a gente ganha nada, porque em agosto as escolas estão recomeçando as aulas e não dá tempo para preparar cartãozinho de coração, ensaiar jogral, declamar poesia e aquela coiserada toda que as mães recebem.

Aliás, é até sacanagem comparar dia dos pais com dia das mães. Mãe ganha flor na rua, de sujeitos que nunca viu. E todo mundo acha legal. Agora nunca vi um pai ganhar flor, de mocinhas vestidas de biquíni, no meio da rua. E nem precisava ser de biquíni. Podia ser de mini-saia. Nunca vi. Eu acharia muito singelo ganhar flores de mocinhas na rua, de mocinhas na padaria, de mulheres guapas nos shoppings. Guardaria essas flores com o maior carinho, juro. Ou talvez escondesse, para a Patroa não ficar com muita raiva.

Bom, o que acontece é que os pais ficam com aquelas coisinhas pébas, improvisadas. Pébas, para quem não sabe, é um adjetivo que significa chulé, chué, chinfrim ou modesto. E não adianta o comércio investir na publicidade. Pais não alavancam o setor igual às mães. Pais, no máximo, garantem um troco. Aliás, não sei se você já reparou, mas assim que acaba o dia dos pais, uma hora antes da virada, já começam as propagandas do Dia das Crianças. Com Mãe é diferente. A rebarba do comércio dura umas quatro semanas, só para troca de mercadorias. Presente de pai? Você tem 24 horas pra trocar, contando do domingo. E invariavelmente, se você ganhou alguma coisa trocável, aquele conjunto do Boticário era de uma promoção que “já acabou, moço, se quiser outro tem que inteirar a diferença”. E a diferença é o dobro do preço do treco que você ganhou.

Mas isso é raro de acontecer. Isso, que eu digo, é ganhar uma coisa trocável. Em geral a coisa péba é de um improviso total e irrecorrível. Eu mesmo cansei de dar cinzeiro, carteira, pulseira, cartão e uma porção de coisas pébas para o meu pai. Coitado. E ele fazia cara boa, atrás do bigode. Uma vez fiz um treco feio pra dedéu com um pedaço de couro e dei para o meu pai. Disse que era pra ele levar para o escritório. Eu deveria era ter levado uma surra. Mas ele me deu um abraço que eu nunca esqueci, de tão bom. Até hoje, quando quero lembrar de abraço bom eu lembro daquele presente péba que eu fiz.


É fogo. Os pebas ficam para nós. Mas um pai não se deixa abalar por causa disso. Falando sério, a única coisa que abala a gente, de verdade, é não ganhar o abraço e o beijo dos filhos. Por isso, a parte mais fácil da tabela fica por último. O vovô já sabe o que vai ganhar. Depois daqueles montes de presentes pébas, só dou abraço e beijo no meu pai, no dia dos pais. Coisa que ele nem pode trocar.

6 comentários:

Anônimo disse...

Oba, aprendi uma palavra nova hoje, pébas! Isso tá em alguma lista da Keri Smith, aprender uma palavra nova por dia, ou apenas nas apresentações animadas e correntes dos amigos, em textos "assinados" por Dalai Lama ou Jabor??! rsrs Olha, Careca, os papais eram pessoas responsáveis por botar dinheiro em casa pras mamys cuidarem dos filhotes. Fora que elas carregam os bebês nove (ou sete, oito) meses, sofrem as dores de parto, amamentam, enquanto os pobres dos pais ficam de lado, igual noivo em casório (toda a atenção é pra noiva, já reparou?) Então, a mulher é a figura central. Meu pai, por exemplo, nunca trocou fralda, deu mamadeira ou banho na gente quando éramos crianças. Nem me levava na escola, porque tava trabalhando. Hoje, o pai moderno faz tudo o que a mãe sempre fez - tirando gravidez, parto e amamentar, claro! Então, é muito injusto mesmo o dia dos pais ser menos valorizado. Precisa mudar isso! Campanha para equiparação do dia dos pais ao dia das mães já! Abraços!

leila disse...

ei careca! tá adiantado, mas feliz dia dos pais!
gostei da rádio :)

Careca disse...

Janaína, estou contigo e não abro. Precisamos iniciar essa campanha rapidamente, pois o Dia dos Pais está chegando! Abração,

Careca disse...

Leila, eu estou é muito atrasado! Tenho que espalhar as listas pela casa, introduzir o assunto nas conversas em casa, leva tempo preparar o terreno para ganhar presentes. Mesmo que seja abraço e beijo. Obrigado.:)

Rodrigo Carreiro disse...

Se eu fosse pai eu também ficaria irritado...

Careca disse...

Rodrigo, dois pesos e duas medidas.

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