sexta-feira, 25 de julho de 2008

Coisas bestas sem o menor sentido



Ao mesmo tempo em que eu procuro me concentrar nas coisas banais para tirar algum proveito maior dos afazeres cotidianos, eu também me pego fazendo coisas bestas sem o menor sentido. Por exemplo, descobri outro dia que eu faço caretas para o espelho antes e depois de escovar. São caretas caprichadas, de verdade, com a língua para fora, olho arregalado, dá pra ver aquele sino da garganta. Aí pratico um pouco de portunhol. "Basta ponar la lengua para fuera"! Não tem o menor sentido fazer caretas sozinho, no banheiro, mas faço. Agora o portunhol faz o maior sentido. Todo mundo diz que o portunhol é "la lengua del futulo". Talvez as caretas sirvam para espantar alguma coisa. O sono. Ou o meu portunhol.

Outra coisa esquisita é a minha mania de checar portas. É normal uma pessoa verificar se fechou mesmo a porta do carro, se trancou de verdade a porta de casa. Mas eu faço isso pelo menos umas três vezes seguidas. Se eu estou sozinho e já estou na porta do carro e me bater a dúvida sobre a porta de casa, só vou sossegar se subir para checar. Às vezes o que me salva é que estou voltando para checar a porta de casa, mas aí volto para verificar se eu havia mesmo fechado a porta do carro. Aí eu olho para o relógio, falo “que se dane” e me mando, senão chego atrasado.

Besteira também é a minha mania de emendar clips. E eu nem sabia que eu tinha essa mania. Foi uma pessoa lá do cúbi (é pequeno demais para se chamar de cubículo) que me alertou para essa mania. Acontece que eu não consigo chegar perto de um monte de clips sem, insconscientemente, começar a emendar os clips. Faço cadeias de clips quilométricas e nem percebo. Mas os outros caras ficam putos. Toda hora que precisam de um clips, puxam uma fila gigantesca, que são obrigados a desmontar. Perde-se um tempo danado com isso. Então, agora fico me policiando para não emendar clips. Dos outros. Que ninguém é de ferro. Os meus clips, eu vivo emendando.

Depois eu me lembrei que já obtive algum avanço com os clips. Teve uma época, mais longínqua, em que eu retorcia os clips, fazendo pequenas esculturas: homenzinhos, mulherzinhas, dinossaurinhos, pterodáctilos, a nave espacial de Luke Skywalker, a ponta da orelha do Spock, coisas assim. Aí parei com isso no dia em que espetei o dedão numa tentativa de entortar um clip. Sangrou um bocado. Doeu à beça. E eu desisti de um futuro grandioso na escultura de clips.

Superei os clips porque eu fiz que nem a pauta brasileira de importações. Substituí. Troquei os clips pelas esculturas em papel de balinha. Depois substituí o papel de balinha pelo papel do post-it, aproveitando a parte que é mais grossa por causa da cola. Depois substituí o post-it pelo papel de balinha, num verdadeiro retorno ao expressionismo mais original da minha arte de esculpir em papel. Aí minha mulher fez um Tsuru (Grou) com papel de origami para dar de presente a alguém. Quando uma pessoa está doente, é costume oferecer mil dobraduras de Grou para que ela se restabeleça o quanto antes. Nesse dia, só um Grou já foi capaz de me restabelecer. Eu me curei de achar que sabia alguma coisa de escultura. E eu me convenci do meu amadorismo rudimentar. Parti para outra.

Foi assim, graças a coisas bestas e sem o menor sentido, que um dia eu resolvi que faria um blog. Agora, com licença que eu vou checar se eu tranquei a porta de casa. Mas, primeiro, preciso checar a porta da geladeira. "Puertas!"

2 comentários:

Anônimo disse...

Portas de carro são o meu calo também! Depois dessa trava eletrica nunca sei se apertei o maldito botão de travar, ou não? Ó dúvida cruel de minha vida... Sempre preciso voltar para ter "certeza" que travei mesmo a dita!!

Careca disse...

Liliane, muito obrigado pelo comentário. Como ninguém ainda havia dito nada, eu pensei que era o único sujeito do mundo a ter essa dúvida com a porta do carro. Valeu!

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