sexta-feira, 18 de julho de 2008
Meninas lindas de manhã bem cedo
Hoje de manhã, minha filha de 3 anos estava toda carinhosa comigo. Mostrou orgulhosa a mamadeira, tinha tomado tudo. E alguns minutos antes tinha recusado a mamadeira e a minha presença. Tudo porque eu tinha os braços cobertos pela camisa de mangas compridas. Ela disse que queria a mãe, que a deixa mamar no colo e não usa camisas que impedem mexer no cotovelo. Ela gosta de mamar e mexer no cotovelo de quem a abraça. E com uma camisa de manga comprida tapando, não tem graça mexer no cotovelo.
É fato que meninas são diferentes. É bom que o sejam. O mundo seria muito chato se os assuntos se resumissem a futebol, carros e cerveja. As meninas, pelo simples fato de existirem, já trazem uma variedade enorme de assuntos com elas. Falam pelos cotovelos. Falam pelos cotovelos. Falam pelos cotovelos. Como falam. E como é difícil entender as meninas. E como elas são adoráveis.
Há muito tempo tenho essa dificuldade em entender meninas. Ela não é derivada somente do fato de eu ser homem. Quero dizer, isso não é só um fato decorrente da óbvia dicotomia masculino/feminino. Meninas são realmente difíceis de se entender. É fato que elas complicam o que é simples. É fato que possuem uma estranha maneira de conectar causas e efeitos. É fato que elas possuem uma lógica enviesada, em que a distância mais curta entre dois pontos é uma curva reta, um absurdo qualquer. É uma maravilha.
Posso falar de cadeira. Sou um observador de meninas desde a mais tenra infância. Tenho duas irmãs. Uma quatro anos mais velha e outra quatro anos mais nova. Nunca entendi o comportamento de nenhuma das duas. E, sobretudo, jamais consegui vislumbrar os motivos que levam as meninas a mudar de humor tão rapidamente. Acho lindo. De verdade.
É uma coisa impressionante, essa mudança de humor nas meninas. Ela obedece a estranhos eflúvios matinais ou vespertinos. Está regulada pela ondulação dos cabelos, pela inflexão de uma voz. Meninas passam da euforia à letargia em segundos. E sabem fazer beicinho com muito mais eficiência que os garotinhos. Meninas adoram valorizar uma ferida. Se você procurar um lugar sem uma mancha roxa na perna do meu filho, provavelmente não encontrará. Ele vive dando topada em alguma coisa, bate a perna em tudo quanto é lugar. E nem liga. A menina é o contrário. Pele imaculada. Um minúsculo micro-ponto que parece uma casquinhazinha de ferida é motivo para lágrimas ardentes e desesperadas. E tudo some num passe de mágica, depois de um sopro suave, de brisa leve. Meninas são fantásticas.
É bem verdade que as meninas são mais calmas, quietas e organizadas que os meninos. Mas quando enjoam e embirram, são piores que três ou quatro meninos endiabrados amarrados a gatos brigões. Meninas são guerreiras cruéis, quando guerreiam. Talvez por isso sejam descritas de maneira tão perversa pelos gregos. E troianos.
Minha menina é meio difícil de entender. Mas ela tem bastante paciência comigo e me explica as coisas, quando eu peço. E é nessas horas que eu adoro olhar para o sorriso bonito e os olhos brilhantes, orgulhosos de me explicar as coisas. Ela é bem didática, com seus três anos. Transmite muita segurança. Sobretudo, percebo nela uma estranha força benigna, uma extraordinária emanação que parece se enroscar nas minhas entranhas, atravessar os meus átomos e reverberar nas minhas moléculas. É uma urgência de fazer o bem, um poder irresistível que vai me movimentar para obter o melhor de mim. Minha menina é meu liquidificador de vontades, tenho que ter muito cuidado para evitar que ela obtenha uma dominação completa e inexorável. Embora a Patroa jure que isso já não seja mais possível. Talvez não seja mesmo.
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18 comentários:
Careca,
Não se engane: o mundo já é das meninas - algumas só não descobriram ainda...
Abraço,
Mwho.
Oi Careca!
Faz tempo que não vinha aqui.
Queria te convidar para visitar a comunidade Verso&Prosa:
"para os escritores e ou leitores fanáticos ou ocasionais, apreciadores de verso, prosa e toda a forma de escrita, passantes e afins."
http://versoeprosa.ning.com/
Passa lá pra conhecer!
Bjos!
M.J.
Mwho, isso é verdade desde aquele filme do Felinni, Cidade das Mulheres. Abç,
M.J., eu leio até bula de remédio, então vou lá sim. Bjs,
É, mulheres vão pra guerra com argumento e são as últimas a apagar a luz quando saem. E é lindo ver sua aceitação frente a frente com o poder feminino no auge dos 3 aninhos. Somos complicadérrimas, às vezes. E defendemos nossas famílias com unhas e dentes...risos.
Talvez a gente goste de ser dificil, embora todos saibam como somos previsíveis, né. Acho até que meu marido é um sobrevivente no meu vietnã de TPMs (mas eu sou boazinha, juro).
abração
e mesmo tendo muito mais que três anos, tomei seu texto como um puta elogio, uma lustrada em minha natureza feminina.
adorei! principalmente "lógica enviesada" e "liquidificador de vontades"... adorei.
eu já era tua fã, depois desse post sou tiete. Vou comprar uns pom-pons daqueles de torcida de futebol americano pra comemorar a tua existência: um homem que sabe que as mulheres têm lógica própria e ao invés de reclamar, acha fascinante! Ca-re-ca, Ca-re-ca, Ca-re-ca. Que bom saber que você existe - um é zilhões de vezes mais que zero.
Sobre memes: são idéias que se espalham. A analogia inicial é com os genes (daí o nome)e apareceu pela primeira vez no livro O Gene Egoísta, do Richard Dawkins (anos 70 se não me engano).
Entre blogs, quer dizer que alguém lança um desafio/ bola uma tarefa/faz uma pergunta, em seguida consegue/faz/responde no seu próprio blog e aí passa adiante para outros blogueiros. Como aquelas correntes 'se você fizer nossa-senhora-dos-blógis te dará um milhão de palavras, se não fizer teus comentaristas somem, aconteceu com um blogueiro de Timbuktu, etc - só que sem promessa, punição ou prêmio. Se topares o meme e passares adiante, ótimo, se não topares ou não passares adiante, tb sem problemas. É só uma brincadeira mesmo. Passei pra você porque fiquei curiosíssima o que vc responderia, mas não deixarei de ler o blog se não me contar
Uai, fiquei imaginando um Vietnã de TPMs...nem o Robin Williams tentaria dizer bom dia!
Anna, que bom!
Dani, aquele esquilo era enorme!!
Maroto, oba, agora já sei como o Caetano se sente!
Ai, mulher é muito complicada, nem eu, que sou menina, entendo direito esses seres... No fundo, no fundo, a gente é tudo bipolar, para resumir e simplificar bem a coisa. Jura que você acha isso fascinante?? Na boa, eu acho que você é daqueles que, quando está no inferno, abraça o capeta, né, não? rsrsrs Obrigada pelo maravilhoso texto. Abração!
nossa careca, que lindo. muito mesmo.
Janaína, abraço, mas não abraço apertado. Abração,
Leila, graças a você e seus blogs lembrei do Mano Chao, obrigado.
O post é um lindo elogio. Obrigada. Apesar de que a beleza está no filtro, no olhar do observador.
Adorei o texto mas discordo. Não são as mulheres que são complicadas e nem os homens uns trogloditas (tá bom, alguns são mesmo). É a humanidade inteira que é de uma complexidade enorme. E isso é lindo e intrigante. As pessoas são como quebra-cabeças de 5000 peças. Às vezes a gente se sente desafiado e quer decifrar, montar, sem se importar com o trabalho que dará. Outras vezes dá uma preguiça enorme de entender e a gente não quer nem abrir a caixa, como se sentisse que não vale a pena gastar o tempo com pessoas de alta manutenção.
Acho um monte de bobagens essa história de TPM. Tenho uma desconfiança de que esses ataques eventuais ocorrem com os homens também e, em alguns, com muito mais freqüência.
Pense em alguns chefes que já passaram na sua vida...
Abraço
Tina
Tina, essa pra mim é nova: pessoas de alta manutenção. Acho que eu sou de baixa manutenção. Qualquer cafezinho, chopp, balinha, já me deixam de bom humor. Abçs,
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