domingo, 6 de julho de 2008

Carmem, de Prosper Merimée



Eu comprei quadrinhos durante muitos anos. Era um bom comprador, assíduo em banca. E sempre busquei o quadrinho nacional. Era uma época boa, da revista Circo, da Chiclete com Banana, da Rê Bordosa, Los Três Amigos. Tinha Luiz Ge, Glauco, Laerte e Angeli arrebentando na virtuosidade, cada qual sendo mais criativo que o outro. Correndo por fora, vinha o Gonzalez com o Níquel Náusea numa revista excelente, e a Mad nacional.

Tinha também os álbuns dos desenhistas de fora, as graphic novels, “Batman, o Cavaleiro das Trevas”, “Ronin”, “Watchmen”, “Maus”, os clássicos do Will Eisner, os prodígios europeus, com destaque para a turma da Metal Hurlant, com Moebius(Incal), Manara, Pichard e os super-clássicos Tintim, do Hergé, Asterix, do Goscinny. Dezenas, dezenas de revistas. E eu comprava. Torrei grana pacas com revistinhas. E ainda tenho muitas revistas. Embaladas em plástico, bom estado de conservação. Algumas em estado de banca. Outras no mesmo estado que eu encontrei na banca. Eu comprava muita revista usada. Eu conhecia três bancas que lidavam com as usadas. E, pelo menos uma vez por semestre, eu passava nas três.

Lembrei dessas coisas hoje à tarde, na casa dos meus pais. Minha antiga estante, na parte de baixo, ainda está com alguns pacotes de revistas que resistiram ao tempo. Estavam lá as revistas “Animal” e “Grandes Coleções Animal”, as “Aventura e Ficção”, um monte de revistas nacionais que tiveram dois ou três números, as especiais de fotonovelas do Casseta e Planeta, as primeiras edições do Lobo Solitário, ainda nas versões da Cedibra e da Sampa. Um lote grande de revistas do Tex. Um monte de coisa velha, embalada em plástico.

Eu era um colecionador metido a sério. Criava caso à toa por conta de capa estragada, entrega atrasada. Achava um absurdo o modo como o consumidor de quadrinhos era tratado. Algumas revistas simplesmente desapareciam depois de três números. Algumas só escapavam ao lançamento do número inaugural, depois até a editora sumia.

Li, inteira, uma versão de Pichard para “Carmem”, de Prosper Merimée. E me lembrei que havia comprado a versão em quadrinhos depois de ter lido o livro e também de ler uma graphic novel dele, chamada “Blanche Epiphanie”. Fiquei apaixonado pelo jeito simples desse cara, que nasceu em 1920 e morreu em 2003, desenhar tudo de forma tão marcante. Fiquei espantado com a capacidade do Pichard em compactar a história da cigana de Don José. Então, depois de uns 15 anos sem abrir aquela revista, fiquei maravilhado, novamente, com o Pichard e com a Carmem.

Aí me lembrei que eu havia conseguido comprar, depois de muito procurar em sebos, alguns outros álbuns do Pichard. Procurei em caixas velhas. Coisas empoeiradas. Mas não consegui encontrar nenhum. Em compensação, estava espirrando feito louco.

Quando desisti de caçar mais revistas, no meio de umas pastas velhas, de desenhos embolorados, encontrei um Pato Donald meio amarrotado, de 1982. Nem tive coragem de abrir.

6 comentários:

Mwho disse...

Careca,
Na minha infância e adolescência, os quadrinhos foram marcantes...
Muito do que você citou, eu também lia...
Doei para outras pessoas que não devem ter guardado...
Acho que o pessoal mais novo prefere a tecnologia.
Não sabem o que estão perdendo!
Abraço,
Mwho.

Rodrigo Carreiro disse...

Nunca fiu fã de HQs. Poucas foram as vezes em que li uma.

Careca disse...

Mwho, teve uma época que pensei em doar os quadrinhos, até para o CA da Universidade. Ainda é uma idéia. Mas vou esperar mais um pouco, pelos meus pequenos, quem sabe eles se entusiasmam...

Careca disse...

Carreiro, ainda tá em tempo. Existem algumas HQs realmente muito boas e você encontra coleções inteiras na Internet. O Bono, fã de animação, com certeza deve ter algumas aí em Salvador.

Daisy disse...

Tb lia e guardei todas essas aí, não consigo doá-las, ainda bem que meu filho de 5 anos tá indo pelo mesmo caminho e adora, tenho encontrado pra ele aquelas bem antigas do quarteto fantástico, hulk, thor... vamos ver!!
Abraço,
Daisy

Careca disse...

Daisy, tenho umas clássicas do meu tempo de menino, uns Tarzan Lança de Ouro, Batman Especial em Cores, tudo da Ebal. O mais incrível é que dessas eles também gostam...

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