quarta-feira, 9 de julho de 2008

Tucunaré assado com batatas



Marido serve para pouca coisa. Mas uma dessas coisas é socorrer a sua patroa. Para mim, essa é uma regra de ouro. Eu socorro a Patroa quando o carro pifa. Como aconteceu hoje. Era meio dia e quinze, a Patroa liga e lá está ela, na frente da escola alternativa, no meio do poeirão, com o carro pifado. Saí correndo para ajudar.

Nessas horas não adianta seguro. Não adianta o cartão de crédito, não adianta nada. Se você estiver por perto, largue tudo e faça você mesmo que é mais rápido. E era hora do almoço. Cheguei em quinze minutos. E lá estava ela, conforme eu havia imaginado. No meio do poeirão, com a dupla dinâmica nas cadeirinhas do banco de trás. Tentei empurrar o carro, mas tava um peso danado. Duas professoras me ajudaram a empurrar. Aí a Patroa puxou o freio de mão e eu assumi. Fiz pegar de tranco na ré.

Vrum. Vrum. Um minuto e trinta e sete segundos cravados de operação salva Patroa. Agradeci as professorinhas e me mandei atrás do carro da minha esposa. Conseguimos chegar em casa rapidinho e tratamos logo de almoçar. Hoje, a Rose, nossa cozinheira-governanta-babá-lavadeira-passadeira, fez tucunaré assado com farofa e batatas no almoço.

Ficou muito bom. E os filhotes amaram. Eu comi à beça. E é preciso contar aqui de onde veio esse tucunaré.

Na sexta-feira passada, meu pai, meu irmão e dois sobrinhos foram pescar em Serra da Mesa. Fica a quatro horas dessa cidade.Voltaram no domingo à noite, com duas caixas enormes, cheias de peixes. Piranhas, piaus, tucunarés e bicudas. Os sobrinhos, meninos menores de dez anos, presentearam os primos, meus filhos, com um tucunaré e um piau. Hoje comemos o tucunaré. O piau será o próximo, talvez na sexta-feira.

É raro comermos peixe assado em casa. Geralmente é uma posta frita, um filé de merluza, coisa que é mais rápida. Mas hoje a Rose caprichou. Ao final da refeição, as crianças estavam felizes e saltitantes. Comer peixe parece que deixa todo mundo bem humorado. Eu quase aplaudi a Rose. Devia ter aplaudido, todo mundo adora um elogio.

O tucunaré é um peixe voraz de água-doce. Ele adora isca viva. Antigamente, quando eu era um menino da beira do rio Araguaia, a melhor maneira de pescar o tucunaré era com uma coisa chamada “colher”, usada com uma boa vara equipada com molinete. A colher era um anzol com uma parte larga metálica, parecida com uma concha de colher. A isca era presa no anzol. A colher era lançada na água, o mais longe possível. Você então recolhia a colher rapidamente. A colher iria brilhar um bocado, dentro dágua, atuando como um perfeito chamariz para o tucunaré. O peixe viria com tudo para cima da colher e geralmente abocanhava o anzol inteiro.

Hoje já não se usa mais colher. As iscas americanas predominam. Mas o meu pai e meu irmão são tradicionalistas. Encheram os isopores usando vara, molinete e pedaços de piranha como isca.

O tucunaré tem uma bola preta na barbatana do rabo. É para confundir os predadores e as presas. É uma camuflagem esperta. Dentro da água, não se sabe se o rabo é cabeça ou se a cabeça é o rabo. Nunca se sabe se ele está indo para frente ou para trás.
Às vezes eu acho que eu tenho síndrome de tucunaré.

4 comentários:

Paulo Bono disse...

se eu pudesse comeria peixe todos os dias. sou vidrado em sardinha com farofa de dendê.

abraço

Careca disse...

Bono, quando eu for a Salvador vou experimentar essa sardinha. Abç

Anônimo disse...

Dei muitas gargalhadas, com o relato sobre a receita Tucunaré assado com batatas. Parabéns pelo seu bom humor!!!!!!

Careca disse...

Anônimo, obrigado!:)

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