quinta-feira, 5 de junho de 2008

Reunião é um parto



Eu já havia me esquecido da quantidade enorme de reuniões que são realizadas nos ambientes de trabalho. É uma coisa de louco.

Todos os dias, quando eu estou começando a ficar embalado no meu teléco, teléco, teléco o telefone toca.

_É reunião? Agora? Imediatamente? Mas é claro, estou subindo. Chego em dois minutos. Talvez três. Não, vou demorar pelo menos dez minutos. É. Preciso passar no banheiro e o elevador demora pacas. Tá bom? Ótimo. Daqui a pouco eu chego aí.

Aí eu aviso. Vou levantar, vou levantar, vou levantar. E levanto e saio correndo até o elevador. Aí eu paro. E volto até a máquina de café. Aperto o botão de capuccino puro. E volto correndo até o meu um quarto de cúbi (é pequeno demais para se chamar cubículo). Sempre esqueço alguma coisa importante para as reuniões. O lado bom é que eu também sempre lembro que eu me esqueci. E aí tenho que correr atrás de papel impresso. Dá tempo. Eu acho o papel. Passo na máquina. Pego o capuccino e vou para o elevador. É muito bom tomar capuccino no elevador.

Hoje tive reuniões o dia inteiro. Terminava uma, começava outra. Eu me amarro em reunião. Mas só em reunião pequena e curta. Tem que durar meia hora, com no máximo dez pessoas. Mais de três é comício para quem é de Minas Gerais. Eu não sou, mas concordo em parte com o raciocínio. Particularmente, acho oito um bom número. Nove também. A partir de dez participantes já tem que ter prisma na mesa. Senão eu não lembro os nomes.

Já melhorei a memória para participantes de reuniões. Antigamente eu não passava de sete, que é número de mentiroso e também a quantidade de anões que assediavam a Branca de Neve. Zangado, Mestre, Feliz, Soneca, Atchim, Dengoso e o técnico da Seleção Brasileira. É bem verdade que o Dunga nunca teve nada com a Branca, mas jogou com o Branco em alguma ocasião.

Estou enrolando, eu sei. É que hoje teve reunião demais. Nem consigo mais pensar. Vou tentar prosseguir.

As reuniões são realizadas com algum objetivo na cabeça de quem convoca a reunião. Se você convocou uma reunião, a melhor maneira de começar é explicar o objetivo da reunião. Se você foi chamado a uma reunião, a melhor coisa que você tem a fazer é entrar mudo e sair calado. Não demonstre interesse em nada, a não ser que você queira pegar um monte de coisa para fazer. Não encare ninguém. Demonstre enorme interesse em observar o conteúdo do seu copo. Olhe com atenção para a xícara de café. Mas não faça barulho com a colher. Seja infantil. Misture o café e arremate a mistura com a colher na boca. Faça boca de “delícia” e solte um “aahh” depois de tomar café. Ninguém nunca vai te entregar uma tarefa extra se você começar a girar a cadeira numa reunião. Mas talvez você perca o emprego.

Se você convocar uma reunião, faça exposições simples e diretas. E também faça perguntas diretas, sem embromação. Mas se perguntarem alguma coisa para você, responda assim: “Não tenho uma opinião formada sobre isso”. É desconcertante. É uma embromação de primeira. E parece que você realmente vai perder tempo pensando naquilo que a outra pessoa disse. Mas não vai. Rá. Rá. Você vai só parecer que vai se dar ao trabalho de analisar o assunto. Chamo isso de Teoria do Medalhão de Reunião, com o perdão de Machado de Assis.

Se, ao final da reunião, o seu chefe pedir para você ficar mais um pouco, isso é mau sinal. Você não deve ficar despreocupado. Você não deve ficar calmo. Na verdade, o melhor a fazer é entrar em pânico total e absoluto. Simule um acidente de trabalho com um grampeador e um tira clipes. Acione o extintor de incêndio. Se nada disso evitar o pior, que é perder a hora de almoço, ou sair mais tarde, apele para o velho truque do telefone celular. Comece a cantarolar “Hoje é festa lá no meu apê”, imitando um sintetizador moogie e saque o celular, rapidamente. Aí fale assim:
_Amor? Rompeu a bolsa? Agüente firme! Respire fundo! Muita calma nessa hora. Muita calma! Muita calma! Estou correndo praí! – e vá saindo rapidamente, sem fazer contato visual. Gire o corpo e suma para o elevador. Quando estiver no corredor você começa a gritar:
_Toalhas! Toalhas limpas! Água quente! Toalhas e água quente!

8 comentários:

Anônimo disse...

epa, epa, epa...comício de mineiro, né!!pensando bem, até qui nóis demora memo em reunião. mas isso porque a gente fala commmmmmprido! essa das toalhas é uma boa idéia. boa mesmo. fico imaginando o Careca interpretando o texto. imagina a cara do indivíduo (chefe) ouvindo isso. abração

Anônimo disse...

o pessoal lê seu blog aí (no cúbi)? eles desconfiam quem escreve isso tudo aqui no caminhodo...? gostaria de contar (pra franka) que tenho algumas pistas do Careca. mas não pode ser dito assim em público, não.hahahaha.um dia a gente descobre.Careca, um abração, tá.

Rodrigo Carreiro disse...

Reunião também é bom pra te salvar de várias situações, a saber:
- aquele trabalho chato que vc ta fazendo e nunca termina. A reunião é uma boa desculpa pra esquece-lo.
- namorada te liga e vc não quer atender. "Mô, eu estava em reunião". Ninguém discute isso.

abraço.

Careca disse...

Uai, mineiro quando dana a falar é comprido mesmo.

Careca disse...

Uai, eu não leio o blog no trabalho não. De vez em quando dá tempo de ver na hora do almoço, em casa. E minha vida é um livro de páginas coladas. Um abração,

Careca disse...

Rodrigo, você tem razão. Mas quando discute, o namoro acaba.

Mwho disse...

Careca,
Gostei de várias dicas que você deu. Preciso me lembrar delas...
Odeio reuniões de trabalho!
Abraço,

Careca disse...

Mwho, a gente acaba acostumando com reunião, como acontece com o aspartame.

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