segunda-feira, 16 de junho de 2008

A mulher do vilão



Outro dia eu e o meu filho mais velho, de cinco anos, estávamos vendo um desenho do Batman contra o Coringa. Muito legal, o desenho. E lá, de repente, aparece uma mocinha vestida de colombina com uma máscara de Zorro.

_Cacilda! – eu disse, espantado.
_Essa é a namorada do Coringa – esclareceu o meu filho. Ele sabe tudo de desenho animado.

E era mesmo a namorada do Coringa. Sou do tempo em que os vilões não tinham namoradas. Os vilões invejavam a namorada dos heróis. Acho que era uma regra. O vilão não tinha direito a ter mulher. Então ele roubava a dos outros. Como o palhaço daquela música. Para não ficar na mão, um vilão como o Brutus, perseguia a beldade do Popeye. E muito embora a Olívia Palito não representasse nenhum ideal de beleza, ela não queria ser mulher de bandido.

Nenhuma queria. A Margarida, do Donald e do Gastão, o pato mais sortudo do mundo. A Lois Lane do Superman, disputada pelo Lex Luthor. A Diana, do Fantasma, por um dos vilões maníacos por mulheres sem umbigo. E todo o resto. Homem-aranha e a mocinha de nome impronunciável. Era assim com o Tarzan. Toda a selva queria a Jane, a inglesa que gostava de ficar de tanga. Mas a Jane só queria um sujeito, o bom e decente Rei dos Gorilas e Macacos, o único e apenas ele, o herói do grito mais esquisito da selva, o Tarzan. Nessa época herói nem tinha filho. Era tudo sobrinho ou órfão adotado pelo herói.

Foi por isso que teve uma época em que os heróis começaram a se casar, para gerar os heroizinhos que herdariam a Terra. Lembro do casamento do Fantasma. E também do Homem-Aranha. Depois o Capitão América morreu. O Hulk ficou inteligente. Aí os roteiristas de quadrinhos embirutaram. O Homem-Aranha tinha um clone, que não era um clone, que era mesmo um clone e tudo não passava de uma grande tramóia. A coisa ficou tão confusa que eles tiveram que matar um monte de personagens em hecatombes e guerras fantásticas. Ficou tão ruim e chato que eu, um colecionador fanático de quadrinhos e gibis, parei de prestar atenção. Interrompi coleções de anos a fio. Desisti de tentar alcançar o fio da meada.

Mas até onde me lembro, a regra ainda era a mesma. Vilão não tinha namorada. No máximo, tinha uma vilã como parceira de maldades. Por isso, eu prestei atenção, mas não consegui descobrir o nome da namorada do Coringa, o palhaço do mau.

Aí remexi a memória e lembrei da Mulher-gato da série da TV. Aquela que tinha POU, SOC, TUM. Aquela Mulher-Gato era totalmente do mau e era maravilhosa. Acho que foi ali que a coisa começou a degringolar. Foi quando a gente viu, na TV, que se a mulher má podia se apaixonar pela Força do Bem, que era o Batman, porque não o contrário? E as mulheres de bem começaram a se apaixonar pelos malvados. E logo em seguida, Louis Lane se apaixonou por Lex Luthor.

Acho que as coisas são um pouco diferentes hoje em dia. Os vilões dos desenhos, das séries de heróis, têm namoradas. Algumas até bem bonitas. Ainda que de vez em quando elas se transformem em víboras.

4 comentários:

Paulo Bono disse...

cara, tenho um tesão da porra pelas vilãs.

ah, e quanto ao Fim dos Tempos (por sinal, prefiro título original "The Happening"), gostei do filme. Na verdade, gostei das cenas. fiquei com um medo da porra. Mas não curti muito a história.

abração

Anônimo disse...

Pois é, Careca... Descobriram agora que os brutos também amam... rsrsrs Adorei o texto, muito divertido! Abraços.

Careca disse...

Bono, a história também me incomodou e aí é que eu acho que está o toque do gênio. Você fica pensando numa maneira de acontecer diferente, de fazer uma coisa andar para outro lado. O gênio é instigante. Abração

Careca disse...

Janaína, esse filme também é muito bom. Abraços

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