sexta-feira, 27 de junho de 2008
Literatura como remédio
Eu estava lendo o terceiro e último discurso de “A Maleta do Meu Pai”, um livrinho do Orhan Pamuk. Ele é turco, esse Orhan. E antes de virar escritor, ele quis ser pintor. Tentou pintar quadros e viver como pintor até os 22 anos de idade. Depois viu que não dava pé. Aí tentou ser escritor. Quando completou 30 anos tentando ser escritor, alguém da Academia Sueca ligou para ele e falou que naquele ano de 2006 ele tinha sido escolhido para receber o Prêmio Nobel de Literatura em reconhecimento pelos 30 anos de literatura e bons serviços prestados.
_Bacana, estou mesmo com umas prestações atrasadas e o prêmio vem bem a calhar – disse o Orhan.
_Ótimo, então vai preparando um discurso aí, que a entrega do prêmio é daqui a uma semana – disse o sujeito que faz os cheques do Nobel.
_E vocês vão mandar um carro me pegar aqui em Istambul?
_Carro? Não, mandaremos uma passagem de avião.
_Executivo ou econômica?
É lógico que esse é um diálogo fictício. Na verdade, como todo bom escritor, o Orhan perguntou ao cara dos cheques se ele não poderia adiantar uns trocados, no que foi negado.
Então o Orhan fez o discurso título do livrinho. Que é bem bacana. A certa altura do terceiro e último discurso ele afirma que “a literatura é remédio”. Achei interessante a frase. Apesar de fora do contexto, ela é bastante aplicável a um monte de situações da minha vida, em que estive doente. E ela é bastante aplicável ao resto de situações da minha vida, em que não estive doente, mas também não podia me considerar muito são.
Eu não sou médico, nem nada, mas vivo prescrevendo algumas páginas para mim mesmo. Acho até que nem tenho mais cura na minha mania doentia de enxergar defeito num monte de coisas. Por isso, mesmo que em doses homeopáticas diárias, eu leio umas coisinhas para ver se recupero a saúde da minha alma.
Voltaire, por exemplo, é um clássico que eu sempre procuro ler quando tenho meus ataques de “metido a besta”. Voltaire é ótimo para dar piparote em nariz levantado e fazer a gente espirrar com mais humildade. Balzac eu sempre leio quando estou com “raivite”. Dostoiévsky é um remédio milagroso para todas as angústias, para as dores profundas e difíceis de localizar. Júlio Verne é igual a Biotônico, deixa você mais emocionado, na ponta dos cascos. Machado de Assis é um anti-depressivo sutil. Edgar Rice Burroughs é uma injeção de “imaginação” na veia. E por aí vai.
Tem gente que tem farmacinha em casa. Eu também. Só que é na minha estante.
Como prevenir é o melhor remédio, eu procuro ler um pouco, todos os dias. É tão bom quanto vitamina. Só que eu gosto de coisas mais fortes que "Pílulas de Sabedoria".
E você? Se fosse remédio, o seu autor favorito seria o quê?
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14 comentários:
Damu pa kmu to?.. Nano ni klase blog man?
It could widen my imagination towards the things that you are posting.
This is a nice blog. I like it!
Yugs, daw nabasahan ko naman ni sa iban nga blog?
Oi Careca!
Eu me curo com poesia, de tempos em tempos vou à livraria e acabo escolhendo um livro de algum poeta e fico lendo e relendo. Funciona como remédio ou como oráculo.
O último foi "Macau" do Paulo Henriques Britto.
Ontem recebi de um amigo "A maleta do meu pai", comecei a ler à noite. Tô adorando. Esse tá sendo remédio também.
Beijos!
Careca,
Acho que você é um médico de palavras!
Abraço,
Sempre gostei de Machado de Assis. Depois de formada, lidando com povão de verdade, ali cutucando sempre as feridas nossas de todo dia, eu descobri o Machado como um remédio sim. Pra manter meu português intacto, pra olhar e rir de mim mesma, pra olhar e fritar alguém só com o olhar (risos) e pra uma saúde mental completa. Entre outros.
??? O que acontece? Não entra comentário mas entra essas loterias...
M.J., poesia é um dos remédios mais fortes que existem. E só não cura alma careca!
Mwho, obrigado. Eu procuro estudar todos os dias ...
Uai, Machado de Assis pode até provocar dependência. É medicação que requer cuidados. Igual a Guimarães Rosa.
M.J., também não entendi. Vou ver se consigo deletar as loterias.
Perguntinha difícil. Para alucinações olfativas e visuais, Oscar Wilde, que descreve cores e cheiros como ninguém. John Irving, Zadie Smith e Hanif Kureishi (especialmente O Buda de Subúrbio) como anti-depressivos. Jeffrey Eugenides, para a compreensão das diferenças. Flaubert e Maupassant, para curar toda espécie de mal da alma.
Cynthia, boas lembranças, Flaubert e Maupassant, com certeza. Moravia também, para quando estivermos descuidados.
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