Uma das melhores fontes de pequenas hastes metálicas que existem são os guarda-chuvas. E outro dia eu vi um guarda-chuva num contêiner de obra. Sem pensar muito, peguei a coisa e tratei de começar a retirar os arames e as varetas. Desse modo, consegui obter o material para a reconstrução do trem de pouso de um triplano que montei há uns quinze anos. O avião estava com o balanço todo empenado e coberto de diferentes tipos de cola. Tive que limpar tudo com cuidado e só depois disso é que descobri que foram tantas colagens e recolagens que as peças já não existiam, eram apenas superbonder e pequenos pedacinhos de plástico que formavam a estrutura.
Não era de se admirar que o aviãozinho estivesse tão torto e fragilizado. O eixo das rodas também era uma mistura de alfinetes e estilhaços, uma barafunda torta que alguém tinha pintado de vermelho. Tudo precário e ruim. Tratei de substituir o eixo por uma vareta do guarda-chuva, que cortei na medida certa com um alicate.
Eu poderia ter jogado o triplano no lixo, mas prefiro resgatá-lo aos poucos, com cuidado. O triplano não é o marco de um momento especial da minha vida, nem possui um significado simbólico para mim. É só um avião que montei, numa época em que eu gostava muito de ficar montando aviões de plástico e de madeira balsa com papel de seda.
Não estou querendo resgatar esse período da minha vida, nem ao menos reviver emoções e pensamentos. Não existe um motivo específico para que eu esteja fazendo isso. Talvez não seja muito fácil encontrar biplanos e triplanos nas lojas da cidade, mas hoje a internet facilita a aquisição de qualquer coisa. Eu poderia comprar outro triplano usando o cartão de crédito. Mas tenho o maior interesse em garantir uma aparência mais sólida para esse triplano específico. Acho que as partes de metal que tirei do guarda-chuva vão proporcionar essa sensação de solidez. Penso em deixar as hastes da cor em que as encontrei, prateadas. Talvez tenha que refazer algumas junções com massa e substituir algumas linhas partidas, vou ter avaliar isso mais tarde.
Não sei o que acontece quando estou em meio a algumas atividades. Lixar, cortar, pintar, desenhar e escrever sempre me deixaram um pouco inebriado, talvez eu tenha facilidade para a introspecção e a abstração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário