quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Porque não tenho uma barriga tanquinho

Há anos tenho uma barra adaptável para fazer exercícios físicos. É de metal, é lógico. Um dos lados gira e "aparafusa", aumentando ou diminuindo a barra, e com isso você consegue colocá-la entre dois batentes de porta para fazer exercícios. Essa barra fica bem no alto da porta do quarto do meu filho e de vez em quando eu a uso para me exercitar. Houve uma época em que não havia o menor problema em fazer três séries seguidas de dez flexões. Hoje em dia, só consigo fazer séries de cinco, com intervalos de três minutos.

O que dificulta a realização dos exercícios não é a musculatura dos braços. É a musculatura da barriga. Sempre detestei fazer abdominais, mas sem o fortalecimento dos músculos da barriga estou condenado ao vexame de fazer apenas uma série de cinco barras a cada três minutos. Tudo bem, não sou nenhum atleta, mas isso é pouco mesmo para um sujeito sedentário.

A minha preocupação com os músculos da barriga começou quando li uma reportagem numa revista feminina que pretendia ensinar homens a ter uma barriga de “tanquinho”. Achei aquilo duplamente esquisito. Obviamente, eu não sabia o que era uma barriga dessas. E provavelmente nem teria lido a matéria se eu não tivesse perguntado para a minha mulher o que era aquilo e o que estava fazendo numa revista para mulheres.

_ Homens também sabem ler, oras. E tanquinho é uma barriga toda dividida por músculos fortes. É comum em homens jovens, bonitos e sarados. É coisa muito rara em homens com a sua idade – ela disse.

Na reportagem, estava escrito que o melhor exercício para ficar com barriga tanquinho era feito com a barra fixa. Era simples. As mãos deveriam agarrar a barra com os polegares para fora. Isso aumentaria a tensão da musculatura do pescoço, dos braços, do abdômen e até de vários músculos das pernas. Depois era só fazer força e erguer o corpo até que o queixo chegasse à altura da barra. A reportagem informava que o mesmo exercício também poderia ser feito com os polegares para dentro. E não havia nenhuma menção sobre as vantagens de se fazer o exercício com os polegares para dentro ou para fora. Com isso, deduzi que os benefícios seriam iguais.

Também estava escrito que a maioria das mulheres preferem os homens com barriga tanquinho. Pela resposta da minha mulher, não posso dizer que ela também está incluída nessa categoria. Afinal de contas, tenho essa barriga há muitos anos, desde os tempos de solteiro, e ela nunca reclamou dela. Nem é mesmo uma barriga do tamanho para se criar uma obsessão. É só uma barriga comum. Nem muito grande, que me impeça de colocar as meias ou de ver as pontas dos sapatos, nem muito pequena, daquelas barriguinhas ridículas, que parecem que o sujeito engoliu uma bola de meia.

Li essa reportagem há um bom tempo. Desde então, tenho olhado para a minha barra de fazer exercícios físicos e planejado a realização de séries gigantescas. Mas até mesmo na minha imaginação, a minha barriga flácida tem impedido todos os progressos. Nesse ponto eu tenho de confessar que não é só a minha barriga que impede o meu programa de exercícios. A barra é antiga e as espumas rijas nos pontos de apoio das mãos estão ressecadas. Em conseqüência, fazer esses exercícios é cansativo e provoca calos nas mãos. Com a prática, descobri que para mim é mais cômodo fazer o exercício da barra com os polegares para dentro. Mas não sou muito assíduo e costumo adiar o ímpeto de me pendurar na barra para me exercitar.

O melhor que faço é somente me pendurar ali, porque isso é ótimo para esticar a coluna e eliminar dores nas costas. Então eu me penduro ali praticamente todos os dias e me balanço um pouco, para frente e para trás. Não elimina a barriga, mas a perspectiva das coisas fica um pouco mais clara quando estou ali, pendurado. Entretanto, isso só acontece quando já estou ali há alguns minutos, com os músculos dos braços esticados e cansados. Quase sempre penso na mesma coisa. Estou suspenso sobre um enorme abismo e minha única chance de salvação está em fazer uma série de 10subidas rápidas, com as pernas cruzadas e sem balançar o corpo. Mesmo com esse pensamento, não passo de 5 subidas, a última quase me deixa sem fôlego. Então eu estico as pontas dos pés e apoio o peso triplicado do meu corpo sobre as minhas pernas. Deixo passar alguns minutos e volto a me pendurar.

Ontem fui examinar a barra de exercícios, porque da última vez que a usei, no início da semana, ela escorregou um pouco. Retirei a barra com cuidado. A borracha do lado que gira e “aparafusa” está mais ressacada. Depois eu recoloquei a barra e aproveitei para me pendurar um pouco. Enquanto estava ali fiquei pensando que estou sempre me auto-sabotando e que o melhor era esquecer essa coisa idiota de barriga tanquinho e simplesmente deixar pra lá. Aí fechei os olhos e me deixei cair no enorme abismo de mim mesmo.

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