sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Precisamos de um novo Jimmy

Era isso que falavam na TV, na série “Dinossauros”, de Jim Henson, o doido genial que inventou a Vila Sésamo e os Muppets. Em todos os episódios, Baby - um bebê dinossauro aparecia vendo TV, onde eram exibidos programas ainda mais loucos do que os amalucados episódios de uma típica família de dinossauros norte-americanos dos jurássicos anos oitenta.

Um deles era o Blarney, uma gozação com o Barney, um programa infantil chatíssimo que a NET exibia até pouco tempo no Brasil. Ambos, Barney e Blarney, cantavam músicas imbecis e ficavam passeando na frente da câmera imóvel, sem parar de se mexer e soltando interjeições idiotas o tempo todo: Oohhh, aaahahah, Gossh, hyyyyypppp, etc. Na série de Henson, estava ali, mais do que evidente, o gigantesco apelo comercial de Blarney e a pavorosa lavagem cerebral consumista que promovia nos bebês dinos e demais coadjuvantes. Coisa que os bonecos de Henson também faziam, mas com grandes doses de auto-ironia e gozação no meio.

Na minha opinião, Baby, o Bebê Dino é o melhor personagem criado pelo Jim Henson, depois do Animal. No Muppet Show, o baterista heavy metal ensandecido, com seus grunhidos e gritos aleatórios, as reações mais surpreendentes e o absoluto desdém para qualquer tipo de autoridade, sempre me levou às gargalhadas. O Animal era o lado mais selvagem, rebelde e engraçado que toda criança tem dentro de si e eu me identificava totalmente com aquele monstrinho, embora fosse um pouco mais pacato e menos espalhafatoso quando menino.

Baby, com seu egocentrismo absoluto e seu imediatismo furioso, também me fazia rir gargalhadas homéricas. Eu já era adulto, mas minha identificação com o Bebê era total e absoluta. Houve uma época relativamente longa em que EU só me importava absolutamente com o que EU fazia, com o que Eu queria, e com o que EU achava de tudo. E tudo tinha que ser AGORA. Hoje em dia tudo mudou uns dois por cento.

O Bebê Dino adorava ver a destruição diária de um eterno figurante dos programas de TV dos dinossauros, o Pequeno Jimmy. A TV que os olhos gulosos do dinossaurinho engoliam mostrava, por exemplo, um modesto programa de culinária . Nele, um dinossauro cozinheiro vestido de cientista maluco ensinaria a fazer prosaicos omeletes com a ajuda do Pequeno Jimmy. Porém, antes que a receita terminasse, Babyssauro já sabia que um triste fim esperava por Jimmy. O filhote de dinossauro assistia deliciado Jimmy ser explodido, fatiado, congelado, fervido, cozido e espremido e gritava junto com o cientista:

_Precisamos de um outro Jimmy!!

Quando estou de bom humor, acho que o Pequeno Jimmy era uma forma gozada que Henson tinha inventado para nos alertar sobre a exposição das crianças à violência gratuita da TV. Quando estou de mau humor, acho que Henson estava apenas praticando uma forma de humor mais escrachada e livre, com uma abordagem irônica sobre a violência a que todos estamos expostos, principalmente as crianças. Quando estou me sentindo bem reptiliano, acho tudo uma coisa muito engraçada, sem um propósito definido, ou seja, um barato.

Algumas vezes, no trabalho, eu olho para diversas pessoas, a quem chamo mentalmente de Pequenos Jimmys. Daí a pouco, quando uma dessas pessoas se aproxima, eu penso que o cientista lagarto bem que poderia aparecer a qualquer momento para me ensinar uma receita culinária bem simples. E mesmo quando ele não aparece, eu digo bem baixinho para mim mesmo:

_Precisamos de um novo Jimmy!

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