terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A morte do Tocha Humana

O Tocha vai morrer. Já estou perdendo a conta dos heróis que eu já vi partir desta para melhor. Teve o Capitão Marvel, uns dois ou três Robins, o Super-Homem, um clone do Homem-Aranha, o Capitão América, um herói que morreu de Aids(esqueci o nome), o Demolidor e uma miríade de heróis menos conhecidos e namoradas de super. O campeão de perdas era o herói aracnídeo.

Peter Parker perdeu o tio Ben, a Tia May, a namorada Gwen Stacy e umas duas outras que eu não me lembro o nome. E pensou ter perdido a si mesmo várias e várias vezes. Durante uma longa temporada, inventaram um clone para o Peter e o aposentaram. Virou uma bagunça tão confusa nessa época que deixei de comprar a revista.

Agora leio que o Tocha será incinerado, torpedeado, filetado e torrado. Por mim, tudo bem, nunca fui muito fã dos 4 Fantásticos nos quadrinhos. Só lamento porque o Tocha era um herói sem nenhuma modéstia, politicamente incorreto e mulherengo(pelo menos no cinema). Tocha era tão contador de vantagem quanto o Flash, o herói mais rápido do mundo. Era fogo. E vivia implicando com o Coisa, o monstrengo de pedra. As gozações e piadas de um com o outro eram frequentes nos quadrinhos, nos vídeos e no cinema. Tocha implicava com a grossura, a ignorância, o peso e o feiúra do Coisa. As situações às vezes terminavam em porrada. Eu gostava.

Para mim, a morte do Tocha significa mais uma vitória da turma politicamente correta e da chatice. Dizem que possivelmente é mais um golpe de marketing para esquentar as vendas dos quadrinhos. Duvido. A coisa degringolou. Agora os heróis não saem simplesmente de cena, desencarnam.

Já foi diferente, lembra? Batman aparentemente morria em todas as melhores capas da revista do herói, no início dos anos setenta. A fórmula funcionava super-bem. E foi mais do que usada e abusada, ainda muito tempo antes disso, nos primórdios da TV e do cinema, décadas antes das graphic novels. Zorro, Super-Homem, Spirit, Fantasma, Capitão Marvel, Tarzan, Flash, Jim das Selvas, Rin-tin-tin, Cabo Rust, Hulk, não importa, todos eles quase morriam em todos os episódios. Escapar da morte certa era o que fazia deles, afinal de contas, heróis. Ainda que fossem só um cachorro e um menino vestido com o uniforme da cavalaria. Eles escapavam da morte e faziam o bem, era o que bastava. E se escapavam de um jeito espetacular, sem revelar a identidade secreta, então, era super demais.

O Spirit, do Will Eisner , e o Fantasma, de Lee Falk nasceram evidentemente a partir desse princípio do imorrível. O Spirit monta o esconderijo na própria tumba. E o Fantasma,cujo símbolo é uma caveira, se esconde numa caverna onde repousam, secretamente, os ossos de todos os antepassados.

Ms tudo se relativiza e se enfastia. Os heróis ficam mais humanos e vulneráveis. Ficam mais transparentes e ganham sentimentos mais complexos. As coisas da infância permeiam o mundo adulto. As crianças torcem o nariz ou não? Difícil saber. As infâncias são diferentes, é óbvio, e as inocências e criancices também. Mesmo assim, aposto que não vão ligar a mínima para a morte do Tocha.

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