Estou lendo “O leitor apaixonado”, uma coletânea de crônicas sobre livros, revistas e escritores do inigualável Ruy Castro. Conta histórias do arco-da-velha sobre os autores que ele aprendeu a ler, sobre os escritores com quem conviveu e sobre os outros e outras que admirou e continua a ler até hoje.
Ruy Castro é um campeão da escrita. Ele escreve tão bem que deixa a gente com o beicinho pendurado, igual ao do Daniel Craig, o ator que faz o James Bond.
Castro desfia belas e gostosas histórias sobre seus amigos, como Carlos Heitor Cony e Paulo Francis. Conta, por exemplo, que Paulo Francis foi morar de favor em Nova York em 1971 porque não agüentava mais ser preso. Eram prisões kafkanianas, ele nunca soube porque o prendiam, ninguém lhe dizia nada, só o "teje preso". Tinha sido um esquerdossauro chinfrim e estava mais para esnobe da direita do que qualquer outra coisa.
No auto-exílio, Francis se reinventou e criou o personagem que falaria na TV com aquela pose sarcástica e o pendantismo arrastado. Ruy Castro atribui a morte de Paulo Francis a uma conjugação de fatores, inclusive displicência pessoal, mas destacou um vilão: o processo de US$ 100 milhões que Francis enfrentava na justiça norte-americana, movida pelo ex-presidente da Petrobrás, Joel Maria Rennó.
As crônicas reunidas são entusiasmadas, elogiosas, puro mel. Castro não desanca ninguém, coisa que mais acontece nas igrejinhas da literatura brasileira. Muito pelo contrário, ele exercita cânticos realmente apaixonados e apaixonantes sobre os livros e escritores que desfilam por ali.
Um deles é Luís Martins, de quem traça a fantástica biografia: do jovem jornalista/taxista/romancista que se apaixona por Tarsila do Amaral (com o dobro de sua idade, famosa, rica e casada) por quem é também correspondido. Tarsila fica com o garotão. Martins abandona o romance e vira o maior crítico de arte do país. Depois, a história se repete ao inverso, com Luís Martins tendo uma paixão fulminante por uma prima de Tarsila, que tinha a metade de sua idade. No final, Castro explica que está tudo ali, nas Cartas de Amor que as duas mulheres dirigiram a Luís Martins. Dá vontade de procurar o livro imediatamente e ler as cartas apaixonadas uma a uma, sem parar.
E aí descubro o problema de ler os livros que remetem prosaicamente e com tantos elogios a outros livros. Livros assim parecem bonecas russas, você tira uma boneca de dentro da outra, até cansar. Dá vontade de ler todos os livros e autores mencionados e de comparar opiniões e impressões.
Daria, porque agora já não acho o livro. Rose, a governanta-universitária-cozinheira-babá-faz-tudo daqui de casa, deve ter guardado o livro em algum ponto esquisito da estante. Passo horas procurando e nunca encontro.
Quando vejo, estou folheando outros livros, afoito, como se procurasse uma frase, um parágrafo, que eu não sei mais o que é. É um sentimento recorrente. Batizei isso de "angústia Nome da Rosa", porque parece a busca desesperada de um livro que terá resposta para o maior dos mistérios. Mas eu sei que se o encontrar, estará envenenado ou todas as outras coisas cairão entre escombros e chamas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário