segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A imprensa golpista e o Careca

Eu procuro a imprensa golpista desde que a expressão foi cunhada por aquele jornalista que foi da Grobo. Eu passo todos os dias na banca e fico lendo as manchetes dos jornais e não encontro a imprensa golpista. Mas acho fácil, muito fácil, um monte de jornais e revistas cheios de manchetes bajuladoras e artigos baba-ovo.

No meio de cadernos e mais cadernos de folhas derivadas de press-releases e de artigos lambedores, de vez em quando leio uma coluna modesta e humilde com alguma conexão com a realidade. Mas, na maioria das vezes, ler os jornais é um exercício de abandono à propaganda oficial ou ao simples jabaculê de interesses mercantis.

Não tenho nada contra os interesses mercantis, por sinal. Considero muitos deles legítimos. O que mais encontro e acho chato é o jabaculê, a mentira descarada sobre uma coisa ou alguém que sabidamente não vale o que o gato enterra. Com alguma sorte encontro um simulacro de informação precisa e bem apresentada. É bem melhor do que nada. Em geral, no entanto, é só casquinha de notícia, fulano disse, beltrano falou, não valem um nariz de cera furado com piercing.

Estou sempre mal-informado, mas otimamente desinformado e contra-informado. A imprensa golpista, penso eu, poderia me ajudar a desvendar os mistérios de tantos interesses ocultos e o motivo de tanta coisa estar sendo apresentada sem eira nem beira, sem que se procure localizar os porquês, causas, motivos e consequências. Essa imprensa desnudaria a verdade sobre um monte de coisas, revelaria dossiês inauditos. Sem nenhum pudor, a imprensa golpista despojaria mitos e exibiria orgulhosamente as partes mais íntimas de complôs e insurreições.

Eu procuro a imprensa golpista com essa esperança, mas acho que para encontrá-la é necessário adotar algum tipo de procedimento especial ou um utensílio diferente.

Outro dia vi numa loja uma TV 3D, com óculos especiais. Fiquei encantado. Pensei comigo que talvez a imprensa golpista só fosse visível com um óculos especial desse tipo, bem escuro ou em 4D. Mas é lógico que fantasiei. A imprensa golpista existe e é uma coisa bem palpável, um monte de gente no governo vive se referindo a ela. Alguns caras do governo, os mais espertos e sagazes, conseguem enxergá-la muito bem nas entrelinhas do que não consigo ver nem ler. Eu sou um pateta, é claro. Nessas horas em que os sujeitos mais geniais do governo - ou mesmo experientes jornalistas avessos ao jabaculê e ao patrocínio estatal - apontam para a imprensa golpista eu corro para ver se pego a danada.

_Isso é coisa da imprensa golpista - disse, outro dia, um sujeito muito importante do governo num telejornal.

Eu olhei, olhei, olhei e não vi nada. Mas eu estava longe da TV quando a notícia começou. Por isso, esperei outro telejornal para ver a mesma reportagem em outro canal. Lá estava o mesmo figurão muito importante falando da imprensa golpista. Eu olhei e nada. No último telejornal da noite eu estava lá, firme. E novamente, o figurão dizia alhos e bugalhos sobre a imprensa golpista. Não consegui ver nada da imprensa golpista. Nem rastro. Ou então eu sou míope de golpismo.

Comecei a pensar que só vou ver essa imprensa quando ela me acertar um karatê ou me passar uma rasteira. Depois percebi que só gente do governo ou quem é governista que fala da imprensa golpista, já viu, ouviu, leu e não gostou e sabe que ela existe de verdade. E é terrível. Avassaladora. Mentirosa. Traiçoeira. Gostosa! Caramba! Com um bom photoshop, tenho certeza de que ainda vou vê-la nas páginas centrais de uma revista masculina. De outro país, é claro.

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