Eu e a minha mulher de vez em quando vamos a um restaurante novo, com o Cabeça e a Mulher do Cabeça. E outro dia nós todos e mais um casal de grandes amigos fomos a um restaurante recém-inaugurado no shopping mais novo da cidade. Super chique, o restaurante. Bastou uma olhada na decoração para sentir uma estranha tensão no bolso da carteira, provavelmente uma onda transmitida pelo meu cartão-de-crédito. Eu e meu cartão-de-crédito temos uma relação simbiótica parecida com a daquele uniforme negro e o homem-aranha. Eu quero me livrar dele, mas vivo usando. Eu sei que o cartão me faz mal, que ele quer me destruir. Mas que alternativa eu tenho?
Sinais de alerta também foram emitidos enquanto nós seguíamos uma recepcionista até a mesa, onde já éramos esperados. Tinha um belo sorriso, a recepcionista. E andava super bem. Em geral, almoço em lugares onde é preciso disputar um local onde colocar a bandeja, em praças de alimentação. Nessas áreas é comum ficar equilibrando a comida num prato sobre um retângulo de plástico enquanto analiso a praça para tentar adivinhar onde esperar menos por uma vaga. Outro dia depois de conseguir o lugar, bastaram alguns segundos para que alguém ficasse em pé ao meu lado, batendo o pezinho, de leve no assoalho, secando o meu almoço e prejudicando a minha concentração. Era um pé até bem pequeno para um sujeito daqueles. Ele era, como diríamos no tempo pré-pc, gordo, dos grandes.
_Posso sentar aí? - disse o sujeito.
_Aí, onde? - eu disse.
_Aí, ao lado - ele disse.
Eu estava sentado no canto de um banco em L, no lado menor da letra. O cara se referia à quina, onde talvez fosse possível abrigar raios gama. Ao meu lado, de verdade, só caberia uma azeitona. Ou uma uva, das pequenas. Mas era um sujeito grande, dos gordos, eu estava com fome e não queria me meter em confusão.
-Mas é claro - eu disse.
O sujeito gordo, dos grandes, colocou a bandeja na ponta da mesa e empurrou um pouquinho. Mudei a posição da minha bandeja para vertical semi-inclinado e ele pôde se acomodar melhor. Toda a minha coragem me abandonou quando o grandalhão, dos gordos, se preparou para sentar. Sim, era muita coisa. E tudo aquilo exigia ritual e preparativos. A turma da outra perna do L já olhava para mim com comiseração. Um engraçadinho disse que ia telefonar para um padre. Eu estava prestes a reviver, depois de velho, o jogo da gata parida. E assim teria sido o meu triste fim, se no último segundo, um conhecido do cara grande e forte, dos gordos, não tivesse aparecido do nada e arrastado aquele dromedário dali.
Sim, minha querida kombi de leitores, eu me lembrei de tudo isso naquele restaurante chique onde estávamos eu, minha mulher, o Cabeça, a Mulher do Cabeça e um casal de grandes amigos. Ali, tudo era espaçoso, bonito, ventilado, agradável e convidativo. Para se ter uma idéia, a garrafa de azeite era linda, parecia conter uma bebida especial. Um dos garçons contou que uma vez um cliente se confundiu com a garrafa e encheu a taça de vinho. Gostou tanto que serviu outra taça para a companheira.
_Vai ver ele gostava "muitcho" dessa dona - eu disse.
_Ou então ela estava de regime - disse o Cabeça.
_É a dieta do azeite - disse meu outro amigo.
_Existe mesmo essa dieta? - eu disse.
_Tem dieta de tudo. Mas a melhor de todas é a do Tim Maia. Ele fez a dieta das duas semanas e perdeu 14 dias - disse o Cabeça.
E lá no fim do restaurante, enquanto eu dava risada, vi no final de uma perna enorme, um pequeno pé batendo, de leve, no magnífico assoalho.
2 comentários:
o bom de bandejão é que emagrece, não dá tempo de comer muito.
Franka, o ruim de bandejão é que é ruim.
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