quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O Careca não é daltônico

Tenho alguns amigos que são daltônicos. Dizendo assim parece que são muitos, mas são só três amigos. E um deles nem é tão amigo assim, é mais um conhecido de longa data. Todos os três ficaram constrangidos quando me contaram que eram daltônicos. Para os três eu disse a mesma coisa, que ser daltônico não é motivo para constrangimento. Também contei a mesma mentira, de que conhecia um montão de daltônicos e que nenhum deles ficava constrangido só porque confundia o verde com o vermelho. Também menti que grandes gênios da humanidade eram conhecidos daltônicos.

_Sir Isaac Newton, por exemplo, era um tremendo daltônico e mesmo assim era maluco por maçãs. Comia tudo verde - eu disse.

_Mozart e Einstein se confundiam com os morangos - eu disse.

_Napoleão achava que tinha sangue verde - eu disse.


Nessa hora do Napoleão, os caras me olhavam sério. Era a partir daí que os amigos se libertavam do constrangimento e se propunham a contar o verdadeiro drama que é ser daltônico. Muita gente só começa a conversar sério se alguém fizer papel de bobo. Para começar, todos eles faziam questão de me explicar que o daltonismo é uma incapacidade de perceber diferenças entre algumas cores, em geral, o vermelho e o verde. Eu já sabia, mesmo sem ter olhado no google. É como se o arco-íris da pessoa não tivesse sete cores, só umas cinco, com as mais próximas se misturando e se tornando indistinguíveis. Pelo menos foi assim que eu entendi, posso estar enganado.

Um deles me disse que a cor da bandeira brasileira e a cor de uma maçã madura, para ele era a mesma coisa. Achei falta de patriotismo mas talvez fosse só uma incapacidade comparativa. Um outro me disse que sempre quis conhecer uma ruiva de verdade, mas o oftalmologista já havia dito que isso era impossível. Nessa hora eu também fiz cara de triste e disse que isso também era impossível para mim e eu nem sou daltônico. O terceiro dos daltônicos que eu conheço me disse que o drama era maior quando ele dirigia.

_Sei que o vermelho é o de cima e o verde é o que fica embaixo. Mas as três cores para mim são bem parecidas.

_Três? Você também confunde o amarelo? - eu disse.

_Eu confundo todas, acho elas bem parecidas.

_E como você faz? - eu disse.

_Eu ando devagar e faço igual ao motorista que está no carro do meu lado - ele disse.

_E se ele furar o sinal? - eu disse.

_Eu furo também, ué.

_Caramba! E você nunca se envolveu num acidente? - eu disse.

_Nunca, sempre fugi antes que me envolvessem - ele disse.

_?

_É piada. Tenho tido sorte. De qualquer modo, serei obrigado a parar de dirigir. A legislação agora impede que os daltônicos dirijam. Não vou conseguir renovar a carteira de habilitação. É tremendamente injusto, não acha?

_É terrível. Mas lei é lei - eu disse.

Fiquei com vontade de soltar foguetes. Depois fiquei pensando que esses amigos daltônicos não devem gostar de Fórmula 1. Eles só distinguiriam uma Lotus de uma Ferrari se dessem um close no cavalinho. E também não devem fazer questão de variedade na salada verde. Eles confundem o chiclete de menta com o de hortelã. O sorvete de pistache com o de abacate.

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