domingo, 13 de abril de 2008

Um história para a princesa dormir II



_E aí, o Pastrami disse que queria casar com a Pequena Sereia. Continua, pai.
Continuo. Os dois já estavam namorando em segredo, fazia um tempão, Pastrami contou. Mas agora não dava mais. Eles tinham que casar. Ou então ela iria cantar “Levantou Poeira” todos os dias, o dia inteiro, onde o Pastrami fosse pescar.
Os pescadores decidiram parar com a pescaria durante uma semana. Nesse prazo eles fariam de tudo para achar alguém que pudesse casar o Pastrami com a Pequena Sereia. Para isso, eles precisavam achar um mágico que transformasse o Pastrami num sereio. Ou um mágico que transformasse a Pequena Sereia numa mulher. E só havia uma pessoa na face da terra com a capacidade mental, magical e poderosal para isso. Era o Zezeca.

O Zezeca era um mágico de festa de aniversário que havia virado mágico de verdade por acaso. Foi assim. O Zezeca estava andando numa praia, depois de ter sido expulso de uma festa de aniversário em São José da Coroa Grande. Na festa, ao invés de tirar um pombo do chapéu, o Zezeca tirou um baralho. E na hora de tirar o coelho, tirou outro baralho. E na hora do baralho, o Zezeca não tirou nada. Errou feio. Até o truque do lenço ele fez errado. E nem conseguiu fingir que tirava uma moeda da orelha de uma menina. E depois chamou o aniversariante de pestinha, porque o menino estava mexendo no coelho. E aí, quando o menino mexeu com o pombo, o Zezeca gritou com ele. O pai do menino aniversariante não gostou e puxou o Zezeca pelas orelhas pra fora da festa.

Pois ali, na metade da Coroa, ele tropeçou num robalo gigantesco na areia da praia. Sem parar para pensar, ele ficou com tanta raiva do bicho que atirou ele longe, dentro dágua. E acontece que era o Robalo Encantado dos Sete Mares, que de tão agradecido, deu ao Zezeca uma concha mágica. O Zezeca só precisava pensar numa mágica e encostar a concha no ouvido. Dali de dentro, bem baixinho, a concha dizia o segredo da mágica para o Zezeca.

Foi assim, com a mágica da Concha Mágica, que naquela noite o Zezeca transformou uma Maria Farinha numa bela lagosta assada na mesa do Restaurante Remela. Foi assim, que no dia seguinte, no mesmo restaurante, o ajudante de cozinheiro virou um fio de cabelo numa porção de camarões que foi servido à doré, para o dono do restaurante. De ajudante, Zezeca virou grande e reconhecido cozinheiro de frutos do mar num instante. Pois tudo o que ele precisava fazer era encostar o ouvido na concha e repetir as palavras mágicas. E o Restaurante Remela ficou famoso. E o Zezeca também. Mas um dia, assim, num passe de mágica, o Zezeca sumiu. E o restaurante também.

E agora, 40 pescadores estavam atrás do Zezeca. Eles procuraram, procuraram, procuraram. E nada. E quando só faltava um dia para acabar a semana, o Simão encontrou o Zezeca e o Restaurante Remela ali mesmo, na praia de São José da Coroa Grande. O restaurante estava depois de uma duna na praia que ele nunca tinha visto antes. Parecia que tinha surgido ali durante a noite. Pura mágica.

O Simão procurou o Zezeca no restaurante e explicou a história para ele. Aí o Zezeca falou que não fazia mais aquilo, que tinha perdido a concha mágica. As únicas duas mágicas que ele ainda conseguia fazer era mudar o restaurante de lugar e um congro rosa com cebolas. Ele disse que agora só mexia com restaurante. Que o negócio era a gorjeta. Ele lamentava muito e um abraço.

Mesmo assim, o Simão levou o Pastrami e a Pequena Sereia para o Zezeca ver. O Zezeca ficou com muita dó do casal apaixonado mas disse que não poderia fazer nada. Os dois choraram. E a Pequena Sereia cantou “Levantou Poeira” duas vezes. Aí o Zezeca chorou duas vezes. E de pura raiva daquela música chata ele tentou transformar a Pequena Sereia em mulher, com mágica. Mas tudo que ele conseguiu foi transformar a parte que era peixe em mulher. E a parte que era mulher virou peixe. Inverteu tudo.

E o Pastrami ficou desesperado. Enlouquecido. Queria matar aquele mágico de araque. E partiu para cima do Zezeca com um anzol gigante. O Zezeca imediatamente o transformou num sereio do avesso, pernas de homem, tronco e cabeça de peixe. E pimba. Os dois eram um casal, agora. Cabeças de peixe e as pernas de gente. Mas fora dágua não respiravam e dentro dágua não conseguiam nadar. Eram monstros nos dois mundos. Mas se amavam. Muito. Sshhh. E eles estavam quase dormindo.

Aí o Zezeca ficou com dó e lembrou de um feitiço de concha antigo, para transformar os dois em tainhas. E três dias depois, Pastrami e a Sereia foram pescados por 39 pescadores, junto com duzentas e cinqüenta e quatro tainhas. E no dia seguinte, tinham virado jantar no Restaurante Remela, na praia de São José da Coroa Grande. E quem comeu foi aquele menino, do aniversário, que mexeu no pombo do Zezeca.
_Credo! Os dois viraram tainha! Que horror! – disse a Patroa.
_Nessa parte ela já tinha dormido – eu disse, tranqüilo e infalível como Bruce Lee.

Mas é lógico que a minha menina princesa teve pesadelo. E nós deixamos ela dormir com a gente.

7 comentários:

Anônimo disse...

Meu querido Pedro Camacho,

Quase não dormi de ansiedade! Bom saber que você não transformou Pequena numa "moça de família", não publicou sua foto na playboy, nem abriu mão da perversão e da crueldade que fazem os contos de fada. Acho que a Princesa vai crescer e se transformar numa mulher independente e equilibrada. Mas, só por precaução, talvez fosse bom manter a Patroa por perto durante as sessões de história. Sei lá, né? Vai que você erra a mão na crueldade...

Maína Junqueira disse...

Ahahahah, sei... "M.J.,
é uma historinha para a minha filha dormir!"
Pode rebobinar a fita e dê um jeito nesse Zezeca que tem que achar a maldita concha, transformar os dois em gente ou sereios e assim eles serão felizes para sempre ou quase sempre. Bem, o resto você explica.

Doll Kinha disse...

Muito empolgante, mas o final é trágico...ainda bem que a Princesa estava adormecida e não ouviu o final senão ela iria ficar com raiva do pestinha.
Abraço Careca
Doll Kinha

Careca disse...

Cynthia Júlia Escrevinhadora,
a Patroa de vez em quando interfere, de tanta crueldade minha...

Careca disse...

M.J.,
estou pensando numa versão mais soft. O Zezeca transforma a dupla em lesmas do mar e os dois sobrevivem ao restaurante, mas acabam na boca do Robalo mágico. Que tal?

Careca disse...

Doll,
não teve jeito, ela ficou com raiva de mim.

Paulo Bono disse...

careca, meu filho. manda essa história pra Pixar. muito bom

Frase do dia