segunda-feira, 14 de abril de 2008
Douglas sem juízo na beira do lago
Eu estou na beirada do lago e olho para o píer. Tem uma coisa boiando ali perto. Parece um cachorro. Meu pai está ao meu lado.
_É um cachorro? – eu pergunto.
_É. Está aí desde ontem. Vou falar para o Douglas levar para longe – meu pai responde.
Douglas é o empregado da casa. Tem mais de vinte e um anos, mas em tudo que faz parece que acabou de completar doze anos. Tem o juízo das moscas. Só sai de perto se alguém espantar. O Douglas trabalha para o meu pai já tem quase um mês. E ainda é preciso explicar tudo dez vezes para que entenda o que deve ser feito. Tem um ótimo coração e boa vontade, mas é impulsivo e apressado demais. E invariavelmente se atrapalha com as coisas mais simples. Como levar um cachorro morto para longe do píer.
_Douglas, ponha o colete salva-vidas e pegue uma corda. Depois amarre a corda no bote, coloque o bote na água, amarre a outra ponta da corda no cachorro morto e reboque o bicho para longe daqui. O píer está ficando empestado com aqueles restos. Não se esqueça de amarrar a corda no bote, senão você não vai conseguir remar.
É sexta-feira de um feriado, faz um sol de rachar mamona. Os meninos estão dormindo depois do almoço, a Patroa está lendo. Uma tarde perfeita para não se fazer nada. Fico onde estou, ao lado do meu pai, de frente para o lago. Vai ser divertido de ver.
O Douglas coloca o bote dentro da água. Rema até o cachorro morto. Aí percebe que esqueceu a corda.
_Ó, esqueci a corda, ó – e rema de volta para a margem. Meu pai solta um suspiro de desânimo.
E lá vem o Douglas novamente. Está sem colete e a corda está desamarrada. Quando se aproxima do cachorro morto meu pai pergunta a ele, em voz alta:
_Você sabe nadar, Douglas?
_Não, senhor.
_Então volte e ponha o colete salva-vidas.
_Não precisa. Já vou terminar. É num instante.
_Os afogados também morreram num instante – eu digo.
O bote balança um pouco, depois quase vira. E o Douglas volta para a margem. E aí ele coloca o colete, mas esquece a corda desamarrada. E depois ele amarra a corda, mas o remo cai dentro dágua. Com um pouco de sorte, resgata o remo. Mas o bote vira. Felizmente, ele está de colete. Eu o resgato entre gargalhadas. Afinal, com tudo certo, ele se aproxima do cachorro. O cheiro é nauseante. Douglas recua um pouco e prende a respiração. Rápido, amarra o que parece ser o rabo do cachorro na corda. E então começa a puxar, muito rápido, com remadas fortes. Depois de cinco remadas, a corda se solta. Mas Douglas só percebe quando já está longe. Aí volta e amarra a corda novamente no cachorro. Por um triz não vira de novo. E aí consegue. E de onde estamos dá para ver que soltou o cachorro perto de onde estavam alguns pescadores.
_É igual a um menino, esse Douglas – diz o meu pai.
_É mesmo. Muito perigoso – eu digo.
_Vou precisar encontrar uma pessoa de confiança – acrescenta.
_Olha lá, o bote virou de novo – eu digo, rindo.
E saio correndo para ajudar o Douglas, antes que os pescadores o alcancem.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
9 comentários:
Ah...coitado. Fiquei com dó do Douglas. Mas também com alguém que faria tudo certo e rápido qual a graça iria ter? Você por exmplo não teria escrito esse post de um Douglas espertinho e eficiente, teria?
BjKas DollKa
Doll,
também fiquei com dó. Mas você empregaria o Carlitos, de Charlie Chaplin?
continua, seu careca.
conta mais dessas histórias.
Pensando bem não. Mas por outro lado acho que iria ser muito divertido, risadas o final de semana todo, e de graça. Se ele não quebrar nada claro....
BjKas Dollka
Como faz pra ficar uma fotinha assim ao lado como a do Paulo Bono?
Também quero.
Doll,
só dava prejuízo. Talvez tivesse valido a pena se a gente tivesse filmado e vendido as videocassetadas do cara...
Doll,
num sei. Também quiero.
douglas. nome putis engraçado.
Franka,
melhor que Douglas só Vasínguiton e Aquidauana, a cidade censurada!
Postar um comentário