domingo, 20 de abril de 2008
O décimo sétimo mandamento do shopping
Uma aposta, por mais idiota que seja, é uma aposta. E regras são regras. Todo mundo precisa de regras. E nós estamos na entrada do shopping. Eu, a Patroa e os filhotes. O mais velho ensaia uma corrida. A mais nova ensaia uma birra, joga a sandália crock longe. Eu fico firme, na frente do painel que tem as regras do shopping. É um painel metalizado, até bonito. A Patroa se afasta um pouco, viu uma coisa legal numa vitrine.
_Não pode correr. Não pode ficar descalço. Não pode gritar. Não pode entrar com animais. Não pode andar de skate ... – eu tento ler, sem berrar. Mas estou perdendo a parada.
O shopping ganhou de Moisés por seis. São 16 mandamentos no shopping. E nenhum está funcionando com os meus pequenos pagãos. Felizmente é cedo e não tem quase ninguém. Se você quer ensinar uma coisa para alguém num shopping, escolha um horário onde vai encontrar pouca gente. Vá bem cedo. Por isso eu fui bem cedo ensinar as regras do shopping para meus filhos. Além disso, estou pagando uma aposta. A Patroa precisa fazer outra coisa, ela se despede.
_Tchau, amor! Apostou, está apostado! Uma manhã no shopping sozinho com as duas crianças. Rá, rá!
_Quero te dizer que apreciaria muito um gesto de solidariedade ... - eu começo a dizer.
_Mim ganhou! Rá! Tu perdeu! Rá! – ela despista, e se afasta, rápida.
_Onde está a compaixão? A piedade?
_Estou com o celular ligado! Vou para outro shopping! Rá, rá! – ela sai, rindo, rindo.
Estou ferrado. De fato, perdi a aposta. Num domingo eu disse que era capaz de tomar uma coca 1000 ml sem tirar a garrafa da boca. Ela disse que topava fazer uma aposta. O perdedor teria que encarar uma manhã no shopping, sozinho, com as duas crianças. As regras estavam claras? Estavam. Tudo compreendido? Tudo.
_Mim pode começar? eu perguntei, com minha ironia de homem primata.
_ Pode - ela respondeu.
E ela fez cócegas quando eu ainda estava na metade. Agora não adianta reclamar. As regras estavam claras e o Tarzan aqui perdeu.
Estou com as crianças no shopping e não vou dar o braço a torcer. Vou encarar essa, sozinho. Mesmo porque já cansei de pagar mico e vexame. Os dois são capazes de provocar uma avalanche seguida de um maremoto se as rédeas estiverem soltas. É preciso ensinar boas maneiras, bom comportamento. E vou começar nesse instante. Quer dizer, daqui a pouquinho. Porque agora meu filho vem correndo de longe e dá um carrinho na chegada. Desliza de bumbum até onde estou. Um sorriso ilumina o seu rosto. E a minha princesa brinca de chutar e chutar o crock. Tenho que rir também.
_Ó que massa, pai! – diz o meu filho. E ele desliza naquele chão. E eu acho massa! Droga! Eu deveria ter ficado sério. Nada de rir. Estou ferrado. Estou ferrado. Mantenha a calma. Mantenha a calma. Leia o cartaz, novamente. Não. Invente alguma coisa, rápido.
_Crianças, atenção, atenção. Vamos olhar aqui para o papai. Isso mesmo. ESTÁTUA!
E funcionou.
Por alguns segundos eles congelam.
E aí eu uso a psicologia barata de almanaque que eu uso para tudo. Eu cubro o painel com o corpo.
_Não pode ver. Não pode ver. Não pode ver. Nananinananinão.
E os dois prestam a maior atenção. E num instante estamos todos lendo as regras do shopping, atentamente. Os ícones que eles colocam ao lado do mandamento ajudam um bocado.E no instante seguinte, nós caminhamos como as pessoas dos comerciais de televisão. Todo mundo feliz, feliz.
Naquela manhã, nós seguimos todas as regras. E o meu filho, ele manda bem, inventou mais uma. Família anda de mão dada.
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