sexta-feira, 4 de abril de 2008

O liquidificador de azeitonas maquiavélicas - Final



_ Te peguei, “Egberto”. Vou te “Gismontar”, seu “loro” filho duma figa – eu dizia, entredentes.E estava pronto para agarrar o pequeno Róca quando eu olho para a porta da cozinha.
_ Te peguei, Careca! - disse a Ariene, filha do dono da casa e co-proprietária da ave que eu queria degolar.
- Oh! Você me pegou! – eu disse, fingindo tão completamente a minha surpresa que cheguei a sentir que era surpresa, a surpresa que deveras sentia.
_ Você queria matar esse papagaio, não é Careca?
_ Quêisso? Não. É. Caramba, como você adivinhou?
_ É que você está segurando uma frigideira e uma machadinha.
_ Hã.? Isso é para fritar um ovo.
_ Eu também odeio esse bicho. Mas não vai ser agora que vamos nos livrar dele. E com uma risada maléfica, Ariene me explicou o perverso plano que ela havia arquitetado para se livrar do “loro”.
_Desculpa perguntar, mas o que foi que essa ave infeliz fez para merecer tanto ódio?
_Isso! – ela respondeu, e me mostrou uma enorme cicatriz de um centímetro na axila direita. Era uma cicatriz muito bonita e sensual. Até o cheiro era legal.
_Nossa! – eu exclamei. Como foi que essa ave conseguiu te bicar debaixo do braço?
_É uma longa e terrível história – disse a Ariene, com outra risada maléfica.
_Huá,huá,huá.– eu disse, imitando o Mancha Negra.
E ela me contou coisas impublicáveis. Só posso dizer uma coisa. Aquela Ariene era louca de pedra. Era de nadar na areia. Era de engolir sabão. Bom, acabei dizendo três coisas. Mas o plano dela era uma porcaria infalível. Ela e eu iríamos liquidar o “loro”, no final da festa, com um simples apertar de botões. Diríamos que o Bandite, ave viciada em cachaça, tinha ficado tróleibus e mergulhado dentro do suco de tomate enquanto a gente fazia blood mary.  Mas não deu certo, é lógico. Planos infalíveis são feitos para o fracasso.
Em resumo, fomos flagrados tentando liquidificar o “Bandite”. Na confusão do flagrante, o Cabeça salvou o “Bandite”. O Seu Fulano, pai da Ariene, ficou tão agradecido que o recompensou com um liquidificador. Ariene levou um sabão e foi mandada para um internato para virar freira. Eu peguei uma infecção de tantas bicadas que levei daquele pássaro dos infernos. O Cabeça, ex-namorado de uma futura freira, ficou tão puto comigo que jogou o liquidificador na minha cabeça. Eu, com uma sorte incrível, conseguir pegar aquela tralha sem que ela caísse no chão. E como lá em casa já tinha um, eu acabei dando o “Liqui” de presente para o Natalício e a minha amiga de nome omitido. Foi logo que eu saí do hospital recuperado da infecção.
Pois é isso. Além da birita, o resto era música. E a música, meu amigo, minha amiga, a música era sensacional.  E eu achava que sabia escolher música. Eu achava que tinha um excelente gosto musical. Eu achava que era um DiJêi de primeira linha. Eu achava que fazia e acontecia no comando da pick-up, do toca-fitas e do cd-player. Eu me achava o mixer humano da transição musical eletrizante. Eu achava que era o máximo. Mas os meus amigos não achavam nada disso. E o meu amigo barbudo do Itamaraty puxou o corinho do título para me lembrar disso. Só porque eu tirei uma música dos Secos e Molhados, quando estava na metade. Foi um crime, reconheço. Todo mundo cantando Sangue Latino e eu interrompo para colocar o quê, acho que foi Jimmy Hendrix.
Ninguém quis explicações. Aliás, quanto mais eu tentava explicar, mais o corinho aumentava. Depois daquela festa, eu nunca mais pude chegar perto do aparelho de som. Alguém sempre começava a puxar o corinho. Acabei me conformando em ser pedinte de DiJêi, aquele mala que levava CD e pedia para outros colocarem.
_Pô, vai lá e coloca você, ô Careca!
_Sabe o quê que é? Se eu for lá, o povo vai fazer corinho e eu detesto corinho e jogral. 
_Corinho? Preguiça mudou de nome?E eu cansava de pedir e ia colocar o CD.
Aí o povo começava:
_Matem o Dijêi! Matem o Dijêi! 
O Natalício, para variar, demorou a chegar no próprio aniversário, na própria casa. Ele sempre demorava. Às vezes, quando era churrasco, o churrasco acabava antes dele chegar. E ele é que tinha convidado. Para se ter uma idéia, o Natalício foi padrinho de casamento do barbudo do Itamaraty. Chegou depois da noiva, é claro. Na entrada da Igreja, a noiva quase acabou com o buquê de flores na cabeça do Natalício. Tenho uma foto que mostra o buquê original, esfacelado, nas mãos da noiva. O Natalício se desculpou.
_Pô, acabou a gasolina da moto! Os caras do posto fizeram fiado, na confiança, senão eu nem tinha chegado!
Pessoal legal. Até hoje não sei como conseguimos, todos, sobreviver.  Todos, menos o “Bandite”. Aquele animal acabou devorado por um triturador de pia. Dizem que estava bêbado.

4 comentários:

anna disse...

eu disse, 10 a zero prô bandite!!!!

Careca disse...

Anna,
é verdade. Ele morreu sem dor.

macost disse...

careca
acho que vc é um dj frustado, to achando...;)

Careca disse...

Maria,
é tudo culpa daquele psicitacídeo!

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