sexta-feira, 13 de julho de 2012
O pona e o PIB
Nirvana - Dumb
Quando eu jogava bola de gude, coisa que fez minha alegria durante alguns anos no interior, às vezes era vantajoso jogar por último. A brincadeira começava com os jogadores tentando tirar uma bola grande de dentro de um círculo traçado no chão. Não bastava acertar a bola no centro do círculo, era preciso fazer isso com a força adequada para remover a bolona(que tinha um nome específico que me escapa) de lá. Quase sempre, as bolas dos primeiros a jogar ficavam em volta da bolona, dentro do círculo. Vencia o jogo quem conseguia tirar o maior número de bolas de gude de dentro de um círculo. Quem jogava por último, caso todos os jogadores anteriores fossem ruins, teoricamente levava vantagem por ter mais bolas de gude para tirar do círculo.
Para jogar finca, era o contrário. A finca era um prego sem cabeça ou um pedaço de metal limado, com ponta fina. A brincadeira consistia em seguir um caminho entre dois pontos procurando cercar o adversário. Era proibido cruzar uma linha por cima. Mas era permitido o uso do subterrâneo, desde que a finca não caísse e nem esburacasse demais o terreno. O primeiro a jogar é que tinha mais chances de ganhar o jogo, pois jogava em terreno limpo e sem marcas. Se errasse, no entanto, seria suplantado rapidamente pelo segundo colocado.
Por isso, para jogar finca, o importante era gritar "primeira, meira". Para jogar bola de gude, às vezes era bom gritar "pona, eu sou pona", e na base do grito, a primeira ou a última colocação era conquistada junto à criançada. Se houvesse alguma disputa de posições, ela poderia ainda ser discutida e decidida no braço, pela força.
Lembrei dessas coisas, não sei bem o motivo, depois de ouvir uma declaração da presidente sobre o PIB. A declaração me pareceu meio infantil, como uma disputa de posições entre crianças, uma tentativa de ganhar na base do grito.
Há nove anos, quando começou esse ciclo administrativo, uma das primeiras coisas que fizeram foi alterar toda a sistemática de cálculos e estatísticas do principal instituto do país. Em colunas alvissareiras, os economistas de plantão aplaudiram as mudanças, rasgando elogios para a correção das medidas adotadas. Agora, passados tantos anos, a presidente expressa insatisfação com a metodologia do cálculo. Ela não acha interessante que a riqueza seja medida em termos de PIB, mas pela assistência das crianças e famílias.
Nossos economistas de plantão não se manifestaram, o que é uma pena. Eu, na minha mais modesta opinião, acho que se vamos começar a medir a riqueza das nações pelo tratamento dispensado às famílias e as crianças, verdade seja dita, estamos mesmo condenados ao últimos lugares. Pois aqui todos nós somos muito maltratados, principalmente pelo governo.
Para mim, a presidente acaba de gritar "pona!". Para completar o malfeito, deveria também mudar o slogan do governo, alterando o que é muito ruim para o que é pior.
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